Não Podemos Normalizar a Violência Contra as Mulheres

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Cosette Castro

Brasília – O Brasil é um país violento para as mulheres. Este não é um tema fácil, pois onde há violência, não há cuidado.

Em todos os bairros há mulheres que têm medo de sair de casa. Mas, sem opção, elas saem para estudar e trabalhar todos os dias.

Maria, Joana e Rosana caminham na rua olhando para trás. Andreia, Patrícia e Helena não caminham sozinhas a noite. Eliana,  Alessandra e Paula não saem mais sozinhas. Nem de dia nem a noite.

Esses são pequenos exemplos de cenas que se repetem todos os dias de Norte a Sul no Brasil. Tampouco a casa é sinônimo de segurança. É dentro de casa, entre aqueles que deveriam proteger, onde ocorrem os maiores índices de estupro.

Vivemos em um país em que uma menina ou mulher é estuprada a cada seis minutos. O mesmo tempo que se leva para preparar um café enquanto pensamos nas atividades do dia.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023 aconteceu um estupro a cada seis horas no país. A maioria com crianças e  adolescentes entre 10 e 13 anos, mas também com bebês e crianças de zero a quatro anos.

Nesse contexto de violência, há estupros que culminam em gravidez colocando em risco a vida de crianças e adolescentes. É preciso lembrar e repetir em alto e bom tom que CRIANÇA NÃO É MÃE! Não podemos permitir que, apesar da legislação que protege, muitas delas sejam obrigadas a ter filhos de seus violadores por questões religiosas e pela coerção de adultos.

As diversas camadas das violências não param por aí. O Brasil é um país violento para mulheres desde o nascimento.

O medo da violência sexual é uma característica comum das mulheres citadas no texto. E de outras milhares sem nome aqui representadas que nem  ousam falar do que doi, do que têm medo. Nem sobre os diferentes tipos de abusos que já sofreram.

Estou me referindo a  meninas, adolescentes e mulheres de todas as idades, inclusive aquelas com 60 anos ou mais. Sim, mulheres idosas também sofrem violência sexual.

Os  assediadores, os abusadores sexuais e os estupradores não medem idade. Eles  “caçam” corpos femininos.

Mulheres têm medo desde a barriga da mãe. E da sua própria gestação, apesar da alegria em gerar outra vida quando se trata de uma escolha pessoal.

É um medo ancestral, transgeracional, em geral inconsciente. Mesmo que as mulheres mais velhas não falem sobre o tema violência.

As mulheres têm medo por si e por suas filhas. Têm medo do horror dos diferentes tipos de violência.  Medo de não conseguir se proteger e proteger as filhas da brutalidade.  E medo pela própria vida.

Além dos estupros, a cada seis horas uma mulher é assassinada no Brasil pelo simples fato de ser mulher. E se forem mulheres negras, a violência é ainda maior.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023 houve um aumento nos casos de feminicídos. Aconteceram 1.467 assassinatos de mulheres no Brasil. Destas, mais de 63% eram negras, 64% morreram dentro de casa e 71,1% tinha entre 18 e 44 anos.

Isso não pode continuar.

Por isso, o governo federal lançou em agosto a Campanha “Articulação Nacional Feminicídio Zero” com várias ações para enfrentar os assassinatos de mulheres. E a campanha já está presente, por exemplo, nos estádios de futebol.

Agosto Lilás

A campanha “Agosto Lilás” começou em  2022, quando o governo federal  criou a campanha para conscientizar a população sobre as violências contra meninas e  mulheres. E também para chamar atenção para os locais de denúncia e apoio.

Onde procurar ajuda:
– Ligue 190 para Polícia Militar. Eles  enviam uma viatura para o local de atendimento

– Ligue 180, o canal de atendimento da mulher, oferece escuta e acolhida e também registra a ocorrencia. Também atende pelo WhatsApp 61 996565008

– Delegacia da Mulher – busque ajuda na delegacia especializada de sua cidade. Caso não exista, busque ajuda em uma delegacia comum.

– Caso seja necessário, você pode pedir uma medida protetiva de urgência contra o agressor, mesmo sem advogado. O pedido pode ser feito nas delegacias especializadas, no Ministério Público ou na Defensoria Pública.

A Coletivo Filhas da Mãe, como rede de acolhimento, apoia as medidas do governo federal que defendem a vida e a segurança das meninas e mulheres brasileiras. E que garantem a vida digna após situações de violência.

Esperamos que os homens brasileiros se juntem às mulheres participando ativamente da Articulação Nacional Contra a Violência de Gênero e o Feminicídio.

Cosette Castro

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