Cosette Castro
Brasília – Esta semana mais uma pessoa da minha pequena família descansou.
Foi a terceira despedida do lado materno em 2024. A sétima perda, se incluir os dois lados da família desde 2020, entre elas a minha mãe.
Na quarta-feira, faleceu aos 80 anos o tio Ico, irmão querido da minha mãe. Ele era um ano mais moço que Carmencita. Os dois tiveram diagnóstico de Alzheimer.
Lembro dele brincando comigo e me fazendo rir na infância. Dos churrascos no Rio Grande do Sul. Da torcida pelo Internacional. E me representando legalmente enquanto morava fora do país.
De longe ou de perto, não é fácil se despedir. Mas não imaginava que fosse tão difícil. Foi como reviver a morte da minha mãe.
Um sentimento de orfandade tomou conta do dia. E o que era sol de repente se tornou cinza. Mesmo depois de tantos anos de doença. Mesmo sabendo que ele descansou.
Não pude me despedir pessoalmente. Nem abraçar minha pequena família nesse momento.
As consequências das enchentes ainda se fazem sentir no Rio Grande do Sul. E repercutem na vida de quem tanta sair. Ou chegar no Sul do país.
O aeroporto de Porto Alegre segue fechado. A previsão é reabrir em outubro. Então fui atrás de outras possibilidades.
A segunda opção foi tentar vôo para Canoas, cidade que faz parte da Grande Porto Alegre. Mas só havia lugar para voos a partir de 19 de agosto pagando algo em torno de 4 mil reais por uma passagem.
A terceira opção seria voar para Caxias do Sul, na serra gaúcha, há duas horas de distância da Capital. No entanto, só há voos disponíveis para 2025.
A quarta opção seria viajar até Florianópolis e depois pegar dois ônibus até Porto Alegre. Uma viagem que demora 12h para chegar com valores acima de 5,8 mil reais. Isso para voos dois ou três dias depois do velório e da cerimônia de cremação.
De carro, sem parar, a viagem duraria 26 horas. E de ônibus, 37 horas. Só de ida. Impossível chegar a tempo.
Ainda bem que a internet encurta as distâncias. Foi possível chorar junto pelo telefone.
Conversei com meu primo mais novo sobre a sensação de orfandade. Ele contou que quando minha mãe faleceu, em 2021, ele teve a mesma sensação em relação à madrinha.
Após falar com a minha família, desisti de viajar neste momento. A realidade impõe limites. A morte é um deles. A distância, os desastres naturais, a falta de voos e os preços abusivos também.
Assim como em 2021, posso esperar.
Há três anos, em plena pandemia, esperei de janeiro a dezembro para viajar a Porto Alegre. Esperei os mais jovens da família tomarem vacina e não correrem risco de vida.
Somente depois disso levei a urna da minha mãe para as despedidas da família. Fizemos um passeio familiar pelas águas do Guaíba. Todos puderam jogar um pouco das cinzas na água e dizer as últimas palavras.
Nesse momento, não é fácil ser filha unica. Mas posso esperar. Enquanto isso, vou me despedindo aos poucos e prestando pequenas homenagens ao meu tio. Como este relato.
Em Brasília, tem sol lá fora. E a melhor maneira de honrar os que já se foram é viver e aproveitar cada dia.
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