Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – O que é envelhecer para você? Esta é uma pergunta difícil de responder em um país onde a maioria das mulheres ainda tem vergonha de dizer a idade e onde quem passou dos 60 anos, em geral não se reconhece como pessoa idosa.
Este não é o caso da Ana Castro, uma das criadoras do Coletivo Filhas da Mãe. Aos 66 anos, ela vem mostrando que o envelhecimento faz parte da vida, ainda que haja perdas, como as que ocorrem com ela.
Baiana de nascimento, morou anos em São Paulo e hoje vive em Brasília, Ana Castro tem uma longa história de acolhimento. Seja em ONGs, na diretoria da ABRAz-DF ou no Coletivo Filhas da Mãe. Além de ter sido cuidadora familiar, ela segue acolhendo carinhosamente cuidadoras familiares e compartilhando experiências.
Na semana passada, deu um depoimento inspirador ao site 50emais, comentando sobre o seu processo de envelhecimento. Tão inspirador que decidimos reproduzir a fala da Ana Castro.
Ana Castro – “Tenho dificuldade de dizer o que é envelhecer. Nunca pensei que iria ter limitações. Sempre cuidei de mim e dos outros desde cedo. Fui independente da minha mãe desde pequena, quando aprendi a cozinhar.
Sou uma pessoa acolhedora das pessoas que passaram ou passam o que eu passei. No meu caso, cuidei de uma mãe com demência por 14 anos e, em paralelo, cuidei do meu padrasto que também teve demência. Minha mãe, com demência, era cuidadora do marido que também tinha demência.
O que acho mais difícil é que os outros vejam a minha fragilidade, principalmente porque tenho uma vida autônoma e independente.
É difícil e é um equilíbrio delicado não ficar magoada quando os filhos não ligam. Quando as pessoas não percebem que não sou mais a mesma. Quando não se dão conta que está mais difícil abaixar e levantar. Ou que não consigo fazer mais as coisas que fazia com a mesma velocidade.
O preconceito dos outros e o meu contra o envelhecimento é um desafio a ser superado. Eu, aos 66 anos, as vezes não tenho paciência com alguém com mais de 70 ou com mais de 80 anos. É a mesma impaciência que as pessoas de 40 anos têm comigo.
Nosso país não está preparado para envelhecer. Nós não temos uma cultura que valorize o envelhecimento.
Da pra perceber o preconceito. A primeira vez que usei cabelo grisalho trabalhava com redes sociais digitais e levava tanta patada dos colegas mais jovens que fiz umas mechas vermelhas para mostrar que eu não era uma vovozinha ou tiazinha inapta.
Percebi essa mudança depois dos 60 e poucos. As pessoas tendem a ser mais condescendentes. Mas não é legal essa condescendência. Antes de ser uma velha, eu sou uma pessoa. A mesma Ana, por dentro, de quando era criança, jovem, adulta. De quando eu passei a ser madura e agora que sou velha.
Eu tenho muito orgulho de ser velha. Significa que sobrevivi. Na minha geração, por exemplo, sobrevivemos a uma ditadura. Sobrevivemos a doenças. Sobrevivemos às dificuldades financeiras que eram muito diferentes da época em que eu era criança, da época dos meus filhos e agora, na época dos meus netos.
Um dos segredos de sobreviver e envelhecer bem é manter os contatos, os amigos, se ocupar. Hoje em dia falam em ter propósito. Faz todo sentido acordar e dormir fazendo planos, sejam eles profissionais, de turismo, amorosos, culturais. Não importa quais são os planos. O importante é ter planos até o último dia da vida.
Tem algo que eu sempre comentava com a minha mãe. É sobre a importância de rir. Temos de ter motivo pra rir pelo menos algumas vezes ao dia. E se emocionar, seja ouvindo uma música ou compartilhando alguma coisa legal nas redes sociais digitais.
Ao invés de compartilhar bom dia, boa tarde ou boa noite da pra compartilhar materiais com conteúdo. Vídeos e informações, desde que sejam checadas antes para garantir que não estão sendo multiplicadas notícias falsas, as fake news.
Tem muita gente boa nesse planeta. Tem muita gente legal neste país e tem muita gente legal ao nosso redor. É preciso descobrir essas pessoas e construir redes de apoio. Construir redes de compartilhar inspirações e tentar aprender todos os dias. Eu estou reaprendendo a usar redes sociais digitais e eu dava consultoria disso há alguns anos. É um desafio. Embora os programas sejam intuitivos, eu tenho medo de errar.
Uma das coisas que me propus em 2022 foi perder o medo. Perder o medo de mostrar a cara com rugas, com manchas. E mesmo com a minha dificuldade de lembrar números, lembrar nomes, estou disposta a aprender. Se possível até o fim”.
E pra você, o que é o envelhecimento?
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