Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Combinamos com nossas leitoras e leitores de publicar hoje mais um pouco sobre atividades lúdicas para pessoas com demências.
Para contribuir na qualidade de vida dos pacientes, a música é uma grande aliada no cuidado diário. Estudos sobre demências indicam que a memória musical é uma das últimas a serem perdidas.
Sugerimos baixar as músicas da juventude do seu familiar para que escute ou assista vídeos. Mas nada de música alta. Isso incomoda pacientes com demências, assim como gritos, berros ou risadas exageradas. De quebra, você pode aproveitar e cantar junto.
Já pensou na possibilidade de dançar com seu familiar? Sugerimos deixar a vergonha de lado e brincar a vontade. Convidar crianças e adolescentes para dançar também é uma boa ideia e reúne a família. Além da diversão, é um bom momento para relaxar. Vale lembrar: autocuidado é fundamental.
Sugerimos construir um quebra-cabeças personalizado utilizando fotos de toda família. Recorte pela metade ou em diferentes formatos, escreva atrás informações sobre a foto e plastifique. É possível passar bons momentos recordando as histórias de cada foto. Se filhos e netos estiverem por perto, também poderão conhecer mais familiares e suas histórias.
Outra experiência interessante foi realizada pela fotógrafa brasileira, Rosângela Andrade, de São Paulo. Ela colocou uma câmera na mão da mãe, de 87 anos, que tem Alzheimer e a levou à rua para fotografar. Dali para criar um jogo da memória com as fotos, foi um passo. Neste caso, não se tratava apenas de juntar as fotos de uma mesma saída, mas estimulá-la a recordar um passeio recente.
E você, como estimula a memória do seu familiar com demência? Caso tenha alguma experiência para contar, faça contato conosco aqui no blog ou pelas nossas redes sociais digitais no Facebook (Filhas da Mãe Coletivo) ou no Instagram (@blocofilhasdamãe).
Ainda Pensando o Cuidado
Aproveitamos o espaço de hoje para comentar também sobre os desafios do cuidar.
Um dos desafios de quem cuida é a necessidade de se tornar cuidadora da noite para o dia. Isso ocorre sem preparo emocional prévio ou conhecimento suficiente sobre as demências e suas características.
Notamos que algo está diferente. O familiar anda esquecido. Se perde na rua, no bairro ou na cidade (caminhando, no transporte público ou dirigindo). Esquece com frequência a senha bancária, a chave de casa, o dia da semana ou o ano. Compra objetos repetidos ou erra em receitas tradicionais.
No entanto, poucos familiares têm noção da grande avalanche que está por vir.
As perdas não ocorrem apenas na vida da pessoa enferma que tem uma crescente perda cognitiva, física, de linguagem, de memória. E principalmente, de autonomia.
Em paralelo, ocorrem transformações profundas na vida de quem se torna cuidadora e também no entorno familiar, envolvendo filhos e parceiros afetivos. É preciso adaptar a casa, a rotina e os hábitos de todos em função da pessoa enferma.
Em meio a tudo isso, há falta de informações sobre as demências. Existe um desconhecimento generalizado sobre o tema, inclusive entre profissionais da saúde. Tampouco existe previsão de formação massiva nessa área.
Há ainda no meio social uma cultura do silêncio sobre doenças incapacitantes e sem cura, como é o caso das demências, entre elas o Alzheimer.
Isso ocorre no nível do Estado, que se desresponsabiliza sobre o cuidado em todas as suas fases. E também entre as famílias, muitas vezes envergonhadas pela “falta de normalidade” do parente.
Falta no Brasil uma cultura do cuidado, principalmente quando se trata de cuidar de pessoas idosas. Imaginem então, pessoas idosas com demências, fragilizadas e dependentes.
Não é por acaso que junho é o mês da consciência sobre a violência contra a pessoa idosa, conhecido como junho violeta. Falta cultura do cuidado individual e coletivo. Já voltaremos ao tema nos próximos posts.