Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Uma corrida de obstáculos é o que uma cuidadora enfrenta a cada consulta médica de um familiar com demência.
Isso ocorre no atendimento particular, no convênio ou na rede pública.
Há inúmeros desafios. Seja de locomoção, seja para administrar a agitação da pessoa enferma nas longas esperas pela consulta.
Ou ainda nos momentos prévios à saída de casa com alguém que tenha demência, pois envolvem preparar e levar lanche, água, fraldas e medicamentos, etc.
A maratona não termina ao final de consulta médica, com receitas e pedidos de exames em mãos.
Até mesmo exames simples de urina e sangue podem ser aterrorizantes para o familiar com demência. O mesmo vale para crianças e adultos especiais.
Na maioria dos laboratórios e clínicas de exames falta conhecimento sobre as diferentes enfermidades. E, sem formação, faltam os cuidados necessários com essas pessoas.
A pressa em concluir os procedimentos nem sempre permite um atendimento respeitoso.
O cardiologista da mãe da Ana desistiu de pedir mapeamento do coração pela dificuldade de manter o aparelho Holter na paciente por 24 horas.
Exames de imagem que exigem colaboração da paciente eram sofridos para mãe e filha. E ainda tinham que vencer a proibição de acompanhante.
Comandos simples como subir na maca, segurar a respiração, ficar imóvel, não fazem sentido para a maioria dos pacientes.
Há pacientes que ficam agressivos, como as vezes ocorria com a mãe da Cosette. Outros gritam, denunciam agressões imaginárias.
Nem todos os prestadores de serviço entendem que cada ser humano é único e precisa ser tratado de acordo com sua realidade.
Mariane cuida há 20 anos da mãe com demência vascular e há 45 do filho adulto, com Síndrome de Down. Ela conhece essa dura realidade.
Foi no SUS que encontrou suporte qualificado há 5 anos quando a mãe passou a ser atendida pelo Núcleo de Atenção Domiciliar (NRAD).
O NRAD é um programa do Governo do Distrito Federal que presta serviço na casa de pacientes acamados. Técnicas de enfermagem, enfermeiras e médicas treinadas e hábeis conseguem atender, colher material fazer exames na cama da paciente.
“Me sinto muito segura. Fez diferença na vida de toda a família ” diz Mariane ao contar que a mãe rejeitava se deitar nas consultas e exames por sofrer de dor na coluna.
“Mesmo pelo plano de saúde, são poucos os profissionais que encontramos com preparo, nas consultas e internações. A maioria não dedica cuidado e paciência para atender as pessoas com necessidades especiais e demências”, relata.
Mariane encontrou a sensibilidade de uma cardiologista que ajudou o filho a perder o medo das agulhas. “Eram necessárias 4 a 5 pessoas para imobilizarem o Paulo”, lembra.
Foi o que ocorreu com a mãe da Cosette, que precisava de manter a cabeça elevada por conta da queda brusca de pressão. E apesar dos avisos a cada mudança de equipe, dos avisos nos prontuários, mesmo em UTI, baixavam a cama para os procedimentos.
Nas internações, muitos técnicos recorrem à coleta de urina por sonda na primeira dificuldade. Não levam em conta nem a vergonha da paciente idosa pela exposição nem a dor que vão causar.
A ginecologista Gislaine nem sempre consegue impedir que façam coleta dessa forma nas muitas idas da Dona Lelinha aos hospitais. Pelo risco de infecção e pelo trauma.
Cuidadora em tempo integral da mãe, a médica consegue amostras de urina com ajuda de uma “comadre” após uma boa higienização da área genital.
Já Ana e Cosette recorriam aos coletores de urina para criança, que aderem à genitailia.
No Coletivo Filhas da Mãe, através de sua rede de troca de informação, as cuidadoras descobrem e compartilham jeitinhos de obter amostra de fezes nas fraldas, dicas para retirar sangue, dar vacina , entre outros desafios cotidianos.
O avanço das demências exige que profissionais da saúde sejam capacitados a lidar com elas e suas especificidades.
Exige também que novas tecnologias permitam formas menos invasivas de exames. Raio x em macas altas, estreitas e geladas são desumanas para um paciente idoso, com pneumonia. E com demência, aumenta o sofrimento.
Essa era uma das brigas da Ana a cada internação do padrasto com problemas pulmonares. Um exame de vídeo colonoscopia exigia internação hospitalar. E os de bexiga, bastante invasivos, estressavam paciente e acompanhantes.
Há avanços no reconhecimento dos direitos dos pacientes. Mas, para pessoas com necessidades especiais ou com algum tipo de demência, ainda há um longo caminho a trilhar.
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