Merecemos Envelhecer Bem

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Ana Castro, Cosette Castro  & Convidado

Brasília – O Brasil é um dos países que  envelhece mais rapidamente no mundo, mas não está se preparando para a nova realidade.

No primeiro texto de 2022 abrimos espaço para o  professor e pesquisador Vicente Falheiros,  uma referência em envelhecimento.

Vicente Faleiros – “No Século XXI há um aumento significativo da população com 60 anos ou mais no Brasil. São 37 milhões de pessoas, configurando 14% da população.

No mundo, em 2050 haverá 1, 5 bilhão de pessoas com 65 anos ou mais, a maioria de mulheres.  Com menos bebês nascendo, a proporção de crianças vai diminuindo.

Aqui, a esperança de vida ao nascer é de 76,8 anos. Depois dos 65 anos, a expectativa de vida é de 18,7 anos. Essa longevidade propicia  mais convivência entre gerações, entre avós e netos e bisavós e bisnetos.

Os economistas catastrofistas dizem que é caro demais  viver muito e os neoliberais, que querem reduzir o Estado em favor do mercado.

Dizem que a velhice e a previdência são  um peso para  as finanças públicas, sendo a morte de idosos uma bênção para aliviar o orçamento. 

Esquecem que são ou ficarão idosos, como se a sociedade fosse um batalhão  em guerra competitiva para que  a apropriação da riqueza seja concentrada nas mãos de jovens ricos e poderosos. A desigualdade social é a lógica do mercado capitalista.

Nessa sociedade, são disseminados preconceitos contra as pessoas mais velhas, consideradas inativas, destinadas aos aposentos (aposentados), vistas como improdutivas e inúteis.

Pessoas idosas são consideradas feias, por perderem o viço jovem, considerado padrão de beleza.  Não é à  toa  que as redes de televisão e de publicidade estejam demitindo pessoas idosas competentes nos seus papeis.

É possível envelhecer bem nessa sociedade onde não há lugar para velhos e velhas? 

Este segmento se torna nômade, sem lugar, ou mesmo considerado vagabundo, segundo a fala de um Ex-presidente da República. Quando os mais velhos e mais velhas são acometidos de demência, tornam-se ainda mais excluídos e discriminados.

A velhice é um desafio no desejo de se viver muito tempo e em boas condições. No entanto, como defende o mercado, isso não se efetiva  somente  com o esforço individual para fazer exercícios físicos, como caminhadas, comer frugalmente,  dormir suficientemente e ter boa convivência.

O mercado culpa os indivíduos  por morrerem cedo, ao mesmo tempo  que negam  políticas públicas, a história social e o direito à vida.

Não se chega à velhice sem uma história de contribuições financeiras à produção e à geração de renda. Também existem contribuições sociais, culturais e afetivas familiares, essenciais  ao coletivo da existência.

A sociedade sobrevive porque existem contribuições ao longo da vida, inclusive para o caixa da previdência social e do Fundo de Garantia para o Tempo de Serviço ( FGTS). Eles pertencem  à população e  não aos governos. 

Os fundos públicos são patrimônio coletivo do povo, obra de muitas gerações. 

A geração mais velha é credora e não devedora  do Estado, não precisando de favor e compaixão.  O  preconceito contra ela é a negação da sociedade do futuro e do presente.

A  Organização Mundial da Saúde  (OMS) definiu a Década de 2021 a 2030 como a Década do Envelhecimento Saudável. E constatou que a desigualdade e a pobreza afetam profundamente a qualidade de vida dessas pessoas. 

As condições para envelhecer bem dependem da redução da pobreza e da desigualdade. E também  da promoção do respeito aos direitos e de políticas públicas efetivas. Em especial de saúde e de garantia de renda,  assim como da participação das pessoas idosas em todas as dimensões da vida social.

É possível envelhecer bem, apesar das dificuldades funcionais próprias do avanço da idade. 

Os cuidados propiciam a geração de serviços de curto e de longo prazo, traduzindo-se numa oportunidade de consumo, de investimentos e de geração de empregos.

Desmontar preconceitos é propiciar o reconhecimento da heterogeneidade, da diversidade e da multidimensionalidade da velhice e do envelhecimento. 

Envelhecer significa abertura de novas oportunidades, às quais a sociedade, a família e o Estado devem estar se adaptando permanentemente. Inclusive com novas formas de financiamento da previdência social.

Envelhecer bem exige  a garantia de direitos, fundos públicos e políticas públicas. E ainda a  participação das pessoas idosas como suporte para iniciativas individuais para uma vida saudável”.

Em 2022, seguiremos na campanha pelo envelhecimento ativo, pelo fim do preconceito contra pessoas  idosas e por políticas públicas de cuidado.

Feliz Ano Novo!

Cosette Castro

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