O Desafio das Festas de Fim de Ano

Publicado em Cuidado e Autocuidado, Sem categoria

Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Estamos nos aproximando das festas de Natal e Ano Novo e este período é um desafio para cuidadoras familiares. Especialmente nas casas que mantém a tradição de comemorar o Natal.

De um lado, há a expectativa da família para jantares ou almoços. De outro, cuidadoras familiares têm receios por conta da pandemia e os riscos da nova variante. E fica o vazio, no caso das mães que já não são mais capazes de comandar os eventos.

Há cuidadoras familiares que se esmeram para manter as tradições, até porque os aromas da cozinha e a decoração costumam alegrar as pessoas com demência. Normita, mãe da Ana , comemorou com alegria até o último Natal, elogiando os detalhes ou apreciando as comidinhas. Carmencita,  mãe da Cosette, sempre gostou de reunir a família nas festas de Natal, até não reconhecer mais as pessoas.

Não é fácil esse período. Há o custo financeiro, o trabalho braçal envolvido e o custo emocional, mais difícil de mensurar, porque não é palpável e nem sempre é visível. Mas está lá.

Em geral, as famílias têm dificuldade de aceitar as perdas da pessoa com demência que se manifestam nas festas. Por exemplo, elas não reconhecem a família. Rejeitam cumprimentos. Não conseguem esperar ceias tardias .

Ao contrário do tempo em que eram saudáveis, ficam confusas com entregas de presente. Em geral ignoram o  que recebem, porque já não fazem sentido para a pessoa enferma. Isso  pode ser frustrante para quem escolheu um presente com carinho.

Presentar pessoas com demência é um capítulo a parte. Não se deve pensar no que gostaríamos de receber, mas no que seria bom para a pessoa com demência. Dicas: presentes lúdicos, macios, encantadores. cheirosos ou gostosos costumam agradar. Mas cada pessoa é diferente da outra e a doença também se apresenta de forma diferenciada. Não há garantia que vá dar certo.

Pessoas com demências também podem se irritar com barulho, música alta, muita gente ou agitação. Uma festa mais cedo para poucos convidados ou realizada em duas ou mais etapas é uma alternativa para respeitar as condições da pessoa enferma e, ao mesmo tempo, incluí-la na festa.

Uma comemoração natalina pode proporcionar bons momentos a pessoa de quem cuidamos. Muitos podem curtir os aromas de assados e especiarias, a decoração e as luzinhas de Natal. Da mesma forma como eles proporcionaram momentos mágicos na infância.

O fim de ano também se aproxima e nem sempre é fácil. Existe a solidão de muitas cuidadoras familiares. É uma época difícil para quem conta com alguma ajuda profissional, pois há pouca disponibilidade e é difícil  organizar os plantões. O transporte das cuidadoras profissionais, em geral mulheres negras ou pardas que vivem na periferia, também fica mais escasso. Com a pandemia, há ainda os cuidados a tomar, pois continua o receio de que nosso familiar seja contaminado.

A escolha de fazer ou não um jantar, almoço ou algum lanche é outra decisão que merece ser pensada com carinho. É preciso levar em conta o estágio da doença e o ganho afetivo para o familiar e também para a cuidadora. Uma alternativa é comemorar antes do dia, pois diminui o estresse.

Outra boa ideia é pedir ajuda à família para que cada um contribua com um prato. Isso reduz trabalho e gastos. E se tiver crianças na família, costuma ser um encontro de gerações rico para todos. Até para que os mais jovens conheçam e convivam com as fragilidades do envelhecimento. Em geral, os risos e brincadeiras das crianças alegram pessoas com demência, incluindo o Alzheimer.

Velhice Não É Doença

Esta semana foi especial para as pessoas idosas e seus familiares. Na terça-feira, 14, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que vai retirar a proposta de considerar  velhice como doença da Classificação Internacional de Doenças, a CID número 11. A medida, caso aprovada, deveria entrar em vigor em janeiro de 2022.

A campanha mundial contra esse preconceito foi lançada no Brasil e em outros países latino-americanos com protagonismo do médico e gerontólogo brasileiro Alexandre Kalache na metade do ano. E o Coletivo Filhas da Mãe rapidamente aderiu a campanha “Velhice Não é Doença”. Defendemos o envelhecimento ativo e com dignidade.

Como diz Kalache,  especialista em envelhecimento com reconhecimento internacional, “se trata de uma grande vitória da sociedade civil”. A classificação de velhice como doença causaria uma grande confusão em diagnósticos em doenças de pessoas idosas. Isso sem contar o preconceito, também chamado de ageismo, idadismo, etarismo ou velhofobia.

Em tempo – Nós, do Coletivo Filhas da Mãe, desejamos a você Boas Festas, com  saúde, amor e paz. E enviamos nossa solidariedade aos milhões de brasileiros que não tem o que comer nem a chance de planejar o Natal.

 

 

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