Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Vivemos em um país onde apenas 1% das pessoas idosas moram em uma instituição de longa permanência
Isso ocorre pela falta de ILPIs públicas e pelos baixos salários dos aposentados no Brasil.
Não significa que, após os 60 anos, as pessoas idosas não necessitem de cuidados. Ao contrário, muitas delas, mentalmente saudáveis, necessitam de ajuda física ou acompanhamento para as atividades do cotidiano.
Esse trabalho de cuidado – invisível e não remunerado – em 82% dos casos fica a cargo das mulheres da família.
Em apenas 17% dos casos as famílias brasileiras têm condições financeiras para contratar uma cuidadora profissional. Esta profissional em geral é mal remunerada e não teve a profissão reconhecida pelo governo. Além disso, não há piso para a categoria e o salário é equiparado ao das empregadas domésticas.
Isso faz com que algumas famílias tentem fazer contratos 2 X 1 (cuidado do familiar + atividades domésticas). Uma proposta que deveria vir com um salário compatível, mas aumentaria a carga de trabalho das cuidadoras. E deixaria a atividade de cuidado em segundo plano.
A situação nas ILPIs privadas no Brasil é diferente. Em geral pagam pouco para os funcionários e cobram altos preços para manter as pessoas idosas em um quarto coletivo e/ou individual.
Tal situação estrangula os orçamentos daqueles que decidiram institucionalizar seus idosos,. Ou inviabiliza o pagamento das mensalidades daqueles que dependem da aposentadoria por tempo de serviço ou por idade.
A falta de ILPIs públicas no Brasil comprova a falta de políticas de cuidado voltadas para as pessoas idosas. E aponta para a necessidade de adaptar as cidades para que se tornem sustentáveis e inclusivas para os mais de 37 milhões de pessoas 60+ que vivem no país.
Sequer a Capital Federal dispõe de ILPIs públicas. E conta com poucas filantrópicas. Como se a cidade estivesse voltada apenas para aquelas pessoas que podem pagar.
A fila de espera por uma vaga em uma ILPI conveniada com o governo do Distrito Federal passa de atualmente 150 pessoas, segundo dados de 2020 da Central Judicial do Idoso. As vagas não aumentam por conta da falta de investimentos públicos. E somadas as vagas das instituições privadas, chegam a cerca de 2.000.
Esta é uma lógica perversa que aumenta o desamparo e o desespero das famílias. Principalmente daquelas com pacientes demenciados violentos ou com outras necessidades específicas.
Enquanto isso, o governo holandês mostra algumas boas práticas que poderiam ser adotadas no Brasil, caso os dirigentes realmente apostassem no envelhecimento ativo e em políticas públicas que estimulem a vida saudável para os 60+.
Quem conta uma experiência holandesa é o presidente da Aliança Demência Brasil, Fernando Aguzzoli. Ele que está fazendo um mês de imersão em uma ILPI no norte europeu.
Segundo Aguzzoli, trata-se de uma empresa privada sem fins lucrativos. São cerca de 400 pessoas idosas vivendo em dois prédios. Cerca de 70% são independentes e pagam em torno de 600 euros por um apartamento com quarto, sala, cozinha, varanda e banheiro. Isso equivale a cerca de 3.500 reais/mês, preço inexistente em uma ILPI de qualidade no Brasil.
Paradoxalmente, no Brasil o salário mínimo é de pouco mais que R$ 1.100,00 e uma ILPI pode custar 4 vezes esse valor (ou mais). Na Holanda, o salário mínimo é cerca de 1.600,00 euros (cerca de 11 mil reais). Ou seja, torna mais acessível a adesão a esse estilo de moradia. E ainda sobra dinheiro para outros gastos.
Já a ala da demência é financiada quase 100% pelo governo, mas o idoso deve abrir mão de sua aposentadoria, independente do valor que recebe. Isso faz parte de uma política pública que começa no plano de saúde mandatório: todos pagam – da infância ao envelhecimento – o mesmo valor, independente do grau de utilização.
No Brasil, foi lançado o livro “Moradia 60+” , organizado por Inês Riotto, Aurea Barroso e Edgard Viana. O livro apresenta um panorama das ILPIs no Brasil, além de relatar boas práticas internacionais.
Entre as experiências brasileiras está a da cidade de Piracicaba, em São Paulo, considerada a primeira cidade geriátrica do país. A experiência de um condomínio para idosos com uma ILPI filantrópica no mesmo local, o Lar dos Velhinhos de Piracicaba, pode ser uma experiência a ser levada em conta.
Já no Distrito Federal não há nenhuma experiência de condomínios para pessoas idosas, como em São Paulo e Paraíba. Nem república para terceira idade, como em Santos (SP). Ou moradias coletivas para pessoas idosas. Muito menos bairros intergeracionais.
Sim, é preciso pensar no convívio intergeracional, sob o risco das pessoas idosas ficarem segregadas, convivendo apenas com outros idosos. Um convívio saudável inclui crianças, adolescentes, adultos, pessoas idosas, animais, plantas e contato com a natureza. Como já ocorre em diversos países.
Até o momento, não há nenhuma política pública para as pessoas 60+ que não querem depender da família. Nem para as pessoas que não têm mais família.
Enquanto isso não ocorre, o Coletivo Filhas da Mãe segue propondo políticas públicas para garantir um envelhecimento ativo e digno para todas as pessoas idosas, independente de classe social.
#outubromêsdapessoaidosa #envelhecimentonãoédoença
2 thoughts on “Depois dos 60, Onde Vamos Morar?”
“Quem conta uma experiência holandesa é o presidente da Aliança Demência Brasil, Fernando Aguzzoli. Ele que está fazendo um mês de imersão em uma ILPI no norte europeu”. Quem sabe ele implanta/incentiva/dá condições para +60 viverem experiência de imersão nas ILPIs brasileiras? E ele incentivar/buscar recursos etc. para que os aprendizados de lá caibam cá.
Oi Cristina. Seu comentário veio truncado. Você poderia enviar outra vez? Um abraço,