Ana Castro & Cosette Castro
Em tempos de pandemia, isolamento social e espera para se vacinar, as cuidadoras familiares têm se deparado com uma sobrecarga muito maior de trabalho. Isso tem causado sofrimento e refletido na saúde física e mental.
Estudo realizado em 2020 pelo projeto Embracing Carers (algo como “Acolhendo Cuidadores”) em 12 países ouviu 9 mil cuidadoras familiares e informais (amigas e vizinhas) que atuam gratuitamente, inclusive no Brasil.
Cuidadoras sem remuneração foram escutadas. Elas e eles contaram suas rotinas nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Austrália, Taiwan, Índia e China.
Em todos os países afirmaram que a vida piorou muito: 64%. No Brasil a queda da qualidade de vida foi maior: piorou para 68% das pessoas que cuidam.
O número de horas dedicadas ao cuidado familiar cresceu 46% nos períodos de pico da pandemia. E com isso, o cansaço também aumentou. Entre os países pesquisados o cansaço excessivo cresceu 76%. No Brasil, foi apontado por 83% das pessoas pesquisadas.
Afinal, a vida mudou radicalmente. Desde o começo da pandemia, cuidadoras sem remuneração precisaram, rapidamente, aprender a ficar mais em casa e aumentar suas habilidades tecnológicas.
Elas precisaram de treinamento para usar telemedicina e para usar salas de reuniões virtuais. Para praticar exercícios online. Para fazer compras e pedir comida por aplicativos. Ou para usar banco online, entre várias outras atividades.
O uso de tecnologias digitais pode causar cansaço mental, dores de cabeça e nos olhos pelo aumento do tempo em frente às telas. E também pelo mar de informações que não para de circular em redes sociais digitais como grupos do WhatsApp, Facebook e Instagram.
Em função da pandemia, as pessoas ficaram ainda mais sozinhas pelo medo de contaminação. Apesar da solidão e do cansaço bater na porta todos os dias, elas deixaram de chamar cuidadoras profissionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais e até diaristas. Isso ocorreu tanto pelo risco de contaminação quanto pela crescente precariedade econômica das famílias.
Com mais de 383 mil brasileiros mortos até quinta-feira, 22 de abril, e baixíssimo índice de pessoas totalmente vacinadas (4,3%) aumentou o medo do vírus e de suas variantes. É grande o medo de ir para o hospital para levar um ente querido e também de ser contaminada. Há o receio de não ter vaga nos hospitais e ficar em fila de espera. E, em tendo vaga, de não ter oxigênio e medicações de suporte.
A falta de perspectivas de vacinação em massa até 2022, gera mais estresse e insegurança na vida das cuidadoras sem remuneração. A piora da qualidade de vida inclui também questões econômicas, acrescentando medos e inseguranças de outros níveis. Como o medo do futuro. A situação financeira piorou para 54% das pessoas pesquisadas.
Em Meio a Tantos Problemas, Que Fazer?
É verdade que aumentaram os problemas e que existem situações desafiantes pela frente. Por outro lado, as redes de apoio online não param de crescer. E com elas também aumentou a troca de informações e a busca de soluções individuais e coletivas.
Na internet, há muito mais dicas, lives e mesas de debates sobre cuidado voltado para pessoas com demências e sobre Covid-19. Há também mais ofertas gratuitas de espaços virtuais de autocuidado para as cuidadoras, essenciais para proteger a saúde física e mental.
Mesmo sem muita experiência anterior, elas descobriram o mundo virtual e suas possibilidades de novos conhecimentos, a maioria através dos celulares. Em meio à pandemia, ao sono e ao cansaço, muitas casas ficaram mais verdes e floridas.
Mas se você estiver passando por dificuldades, busque ajuda. Ajuda profissional. Ela pode ser virtual, por telemedicina. Ou terapia online. Ser escutada semanalmente faz toda a diferença.
E aproveite para marcar encontros virtuais semanais com suas amigas ou com parentes que moram longe. Ou para conhecer novas pessoas. Viva um dia de cada vez. E já é mais do que o suficiente.
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