Coluna Eixo Capital, publicada em 24 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni (interino)
À Queima-Roupa com Erika Kokay (PT), deputada federal pelo Distrito Federal
“O momento, porém, pede primeiro a construção de uma aliança e de um programa capazes de dar ao DF uma alternativa democrática e popular contra o bolsonarismo”
Há uma expectativa crescente em torno de sua possível candidatura ao Senado ou ao Governo do Distrito Federal em 2026. A senhora considera essa possibilidade ou ainda acredita que é cedo para se posicionar?
Para 2026, tenho uma certeza: não serei candidata a deputada novamente. Após seis mandatos consecutivos — dois distritais e quatro federais — considero esse ciclo prestes a se encerrar. Fico feliz em ser lembrada para um cargo majoritário. É o reconhecimento do trabalho que venho construindo desde 1976, sempre lutando pela democracia, pela liberdade, pelos direitos e guardando uma coerência muito grande com o que me levou à vida pública. O momento, porém, pede primeiro a construção de uma aliança e de um programa capazes de dar ao DF uma alternativa democrática e popular contra o bolsonarismo de Ibaneis Rocha e Celina Leão. Os nomes serão,
naturalmente, discutidos depois.
A esquerda enfrentou desafios consideráveis, nas últimas eleições majoritárias no DF, com um governador reeleito em primeiro turno e uma senadora eleita com votação recorde. Caso venha a disputar um desses cargos em 2026, como pretende reverter esse cenário e mobilizar o eleitorado?
Nós enfrentamos uma conjuntura muito difícil. O golpe contra Dilma, a prisão injusta de Lula e o governo Bolsonaro. Mesmo assim, os três deputados mais votados para a CLDF, na última eleição, são da esquerda. O Brasil está vivenciando uma experiência positiva, com o sucesso no combate à fome, com a volta dos empregos e com a liderança de um presidente que não fomenta o ódio e a agressividade entre os brasileiros e brasileiras. Isso, por si só, é um diferencial em relação às experiências recentes e indica que outra realidade é possível. A população daqui também vai querer um DF melhor, um DF que não tenha o quarto maior desemprego do país, e que cuide da saúde, da educação e das pessoas de forma digna.
Existe a possibilidade de uma aliança sólida entre os partidos de esquerda para fortalecer uma candidatura competitiva em 2026? Até o momento, nomes como o do ex-interventor de Segurança Ricardo Cappelli são considerados para a disputa pelo Palácio do Buriti. Como a senhora vê essa articulação?
Todos os partidos têm a legitimidade de indicar nomes aos cargos majoritários. Isso não é empecilho para uma aliança, que será construída com base em um programa. É muito importante que o nosso campo esteja unido. O DF teve a maior inflação do Brasil, em 2023, e o desemprego está bem acima da média nacional. Temos o maior percentual de população em situação de rua do país, um dos piores índices de cobertura da saúde bucal e mental, e um governo que flerta, constantemente, com a extrema-direita, que quer fazer de Brasília o cenário para um golpe de Estado. Não se pode naturalizar isso.
Recentemente, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas por suposto planejamento de um golpe de Estado, entre outros crimes. Como a senhora avalia o impacto desse caso no cenário político nacional?
As denúncias são gravíssimas, contundentes e com materialidade. A extrema-direita — com suas fardas manchadas de sangue do povo brasileiro durante a ditadura — mostra, mais uma vez, a sua cara, se utilizando do Estado contra a democracia e a soberania popular. Vivenciamos uma série de atentados, desde as depredações no dia da diplomação da chapa presidencial eleita, passando pela tentativa de explosão do Aeroporto de Brasília dias antes da posse, o 8 de janeiro de 2023, as bombas na Câmara e no STF na última semana e, finalmente, a descoberta do plano para assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. A resistência das nossas instituições a todos esses ataques à democracia prenuncia um isolamento cada vez maior da extrema-direita, além do fortalecimento do campo democrático e do repúdio da população a um movimento político autoritário, que quer legitimar e perpetuar o golpismo com o projeto da anistia.
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