Morre sociólogo Fernando Jorge Caldas Pereira, aos 70 anos, de covid-19

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ANA MARIA CAMPOS
WALDER GALVÃO

Brasília perdeu ontem (19/08) um cidadão apaixonado pela análise política e pela cidade. O sociólogo Fernando Jorge Caldas Pereira, 70 anos, morreu em decorrência da covid-19.

Dono do instituto de pesquisas O&P Brasil, Fernando Jorge estava internado na UTI do Hospital Santa Lúcia, intubado, havia um mês. Na manhã de ontem, os amigos e familiares foram avisados de que o quadro era irreversível por falência múltipla dos órgãos. O coração parou de bater por volta de 19 horas.

Fernando Jorge sabia que a contaminação pelo novo coronavírus poderia ser fatal, caso fosse infectado. Ele passou por duas longas internações no ano passado, com quadro de infecções graves. Por isso, tomava cuidados e estava em quarentena. Mesmo assim, pegou a doença.

Os amigos estão inconformados, da política, da vida em Brasília e do aeródromo Botelho, que frequentava como piloto de ultraleve. A mãe, Dona Lígia, de 102 anos, foi avisada nesta manhã, com os cuidados que uma notícia como essa precisa ter.

Fernando Jorge era irmão do ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira. Deixa um filho, Arthur Brant, e um neto de cinco anos, além de um outro filho que criou.

Campanhas

Com experiência na análise de pesquisas, ele trabalhou em campanhas eleitorais de Fernando Henrique Cardoso, ao lado do Antônio Lavareda.

No DF, fez pesquisas para o último governo Roriz (2002/2006) e para o governo Rolllemberg (2014/2018). Isso mostra como era capaz de lidar com diferentes espectros ideológicos.

Com Rodrigo Rollemberg, mantinha uma amizade muita além da política. Fernando Jorge era um conselheiro desde os tempos de deputado distrital, até o governo e na campanha à reeleição. Era um admirador do trabalho de Rollemberg. “Não tenho dúvidas de que esse foi o melhor governo do DF. Os moradores ainda vão reconhecer”, costumava dizer.

Rollemberg acompanhou toda a internação e está muito abatido. “Fernando Jorge era muito mais que um amigo muito querido. Era um conselheiro. Poucas pessoas conheciam tão bem a realidade social e política do DF como ele. Eu, Márcia e toda minha família estamos muito tristes. Deus o receberá de braços abertos“, disse o ex-governador.

Amigo do sociólogo, o ex-presidente da Câmara Legislativa Fábio Barcellos também está consternado: “Dizer que perdi um amigo é egoísmo diante da perda de sua família e de nossa Brasília. Exato no questionamento e preciso na explanação, deixará um vácuo em nossas prosas, hoje, preenchidas pela saudade. Muita luz pra você e que Deus de forças a sua família“.

O jornalista Paulo Fona também lamentou muito. Eram muito amigos: “Fernando Jorge partiu deixando entre nós um imenso sentimento de dor. Ele era um grande amigo, espirituoso, engraçado e muito inteligente. Profundo conhecedor da política nacional e mais ainda da política local. Com suas análises e pesquisas, Fernando tinha a capacidade de nos convencer do melhor caminho a ser percorrido, numa campanha ou num governo. Muita tristeza!”

Questionador

Guilherme Sigmaringa Seixas, 35 anos, conhecia Fernando desde a infância. Ele descreve o amigo como atento e muito leal. “Uma das marcas dele é ser uma pessoa muito questionadora e crítica, que nunca se atinha às primeira evidências e gostava de ir a fundo. Ele era assim até mesmo nas amizades”, ressaltou.

Filho do ex-deputado Luiz Carlos Sigmaringa Seixas, Guilherme relata que Fernando trabalhou em dois mandatos com o pai e teve participação muito importante no gabinete. “Ele era sociólogo, mas fazia pesquisas de marketing. Assessorou inúmeros governadores e parlamentares. Fernando era de uma inteligência ímpar e de conhecimento invejável, que o tornava um interlocutor privilegiado”, destacou.

Guilherme lamentou a morte do amigo e disse que ele fará “uma falta imensa”. Ao longo de toda trajetória em Brasília, meu pai foi relator da subcomissão que redigiu o processo de autonomia política do Distrito Federal. Fernando estava envolvido nisso também”, lembrou.

Outra curiosidade sobre Fernando é que, além do trabalho desenvolvido, ele se aventurou em outras áreas. “Ele virou piloto desportivo e brincava que o espaço aéreo de Brasília nunca mais foi seguro depois disso. A gente era muito próximo e se falava todos os dias”, disse emocionado.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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