Drácon: Liliane Roriz reforça irregularidades na destinação de R$ 30 milhões à Saúde

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Em depoimento à 8ª Vara Criminal de Brasília, nesta segunda-feira (19/02), a distrital Liliane Roriz (PTB) manteve a versão prestada ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), há um ano e meio, sobre as irregularidades na destinação de sobras orçamentárias da Câmara Legislativa em 2015, investigadas na Operação Drácon. De acordo com a parlamentar, há divergências entre o projeto assinado por ela, à época em que era vice-presidente da Mesa Diretora, e o aprovado em plenário.

A deputada, que prestou esclarecimentos como testemunha de acusação, explicou que a exposição de motivos da proposta entregue em suas mãos no dia da votação mudou por algumas vezes. Ainda assim, a versão final do projeto previa que R$ 30 milhões fossem usados na quitação de dívidas do GDF com funcionários públicos. “Achei a justificação para pagar servidores muito boa, muito louvável”, lembrou. No fim das contas, contudo, o montante acabou repassado a prestadores de serviços em UTIs e o R$ 1 milhão remanescente, a reformas em escolas. Liliane classificou a votação da emenda como “açodada”. “No dia, foi tudo muito confuso”, resumiu.

Segundo as investigações do MPDFT, a destinação da cifra milionária à Saúde deu-se em troca de propina. As declarações de Liliane desta quinta-feira foram prestadas no âmbito do processo por corrupção passiva contra o ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves; o ex-diretor do Fundo de Saúde do DF Ricardo Cardoso; e o ex-secretário da 3ª Secretaria Executiva da Câmara Legislativa Alexandre Braga Cerqueira.

Também supostos integrantes do conluio, os distritais Celina Leão (PPS), Bispo Renato Andrade (PR), Cristiano Araújo (PSD), Julio Cesar (PRB) e Raimundo Ribeiro (PPS) não constam na ação, porque detêm foro privilegiado e respondem às acusações no Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT).

Os investigados foram denunciados duas vezes por corrupção passiva, pois a negociata sobre a propina aconteceu em duas oportunidades distintas. A princípio, em troca dos valores ilícitos, a emenda parlamentar seria destinada ao custeio de reformas de escolas públicas — o presidente da Associação Brasiliense de Construtores (Asbraco), contudo, teria negado o acordo. Dessa forma, a negociação da sobra orçamentária chegou à Saúde.

Áudios

A parlamentar é responsável pela gravação dos áudios que embasaram a deflagração da Drácon. Em uma das conversas, captada no dia seguinte à votação das sobras orçamentárias, a então chefe da cúpula do Legislativo local, Celina Leão (PPS), procura Liliane e fala que ela também “está no projeto”. Segundo a denúncia do MP, neste momento, Celina referiu-se ao esquema que beneficiaria os deputados distritais.

Questionada sobre o que havia compreendido da abordagem, a caçula de Roriz supôs que tratava-se de uma tentativa de aproximação. “Naquela época, tinha uma discussão para que ela fosse reconduzida à presidência. Nesse meio, precisaria que eu estivesse ao lado dela”, justificou.

Sobre a motivação das gravações, Liliane afirmou que decidiu fazê-las após uma ligação de Celina Leão. “Era muito estranho a deputada Celina me procurar para uma conversa ou vir atrás de mim. Ainda mais depois do que já tinha acontecido [a sessão]. Por precaução, gravei”, declarou. E complementou: “Era claro que ela estava ali para falar sobre o que tinha acontecido no dia anterior. Não tinha outra razão para me procurar”.

Logo depois, Liliane fala sobre a conversa com o ex-secretário-geral do Legislativo local Valério Neves, no dia subsequente ao diálogo com Celina. “Sabia que a conversa dela ia ter uma sequência com ele”, pontuou. Na gravação, Valério aborda “que Julio Cesar e Bispo Renato sentaram com Afonso e nada do compromisso do grupo”. “O doutor Valério estava como uma pessoa que dava uma informação que a deputada Celina mandou. Ele estava obedecendo uma ordem. O que ele sabia, relatou”, ponderou a caçula de Roriz.

A parlamentar acrescentou que foi procurada por Afonso Assad, que relatou a cobrança de valores indevidos. Sobre o lapso de tempo entre a gravação dos áudios, em dezembro de 2015, e a entrega dos dados ao MPDFT, em agosto de 2016, Liliane afirmou que teve de pensar sobre a iniciativa: “Eu não queria ter uma atitude que pudesse me arrepender, fazer uma acusação sem provas e mudar a vida da pessoas. Eu tinha que avaliar muito os riscos”.

Arquivos

Uma perícia da Coordenadoria de Modernização e Informática (CMI) da Câmara Legislativa revelou a exclusão de, pelo menos, 54,2 mil arquivos de computadores do gabinete da integrante de Liliane entre 17 e 22 de agosto. A data inicial corresponde à entrega dos áudios gravados pela distrital, e a final, a momentos prévios à deflagração da primeira etapa da Operação Drácon. Sobre o episódio, a deputada esclareceu que “100% dos dados foram recuperados”.

Confira a íntegra do depoimento:

Ana Viriato

Publicado por
Ana Viriato
Tags: bispo renato andrade celina leão Cristiano Araújo Dracon júlio cesar justiça liliane roriz MPDFT Raimundo Ribeiro

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