Depois de críticas, delegado é paz e amor

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O delegado Mauro Cezar Lima deixou o cargo de diretor da PDF I atirando. Depois da fuga de 10 presos perigosos, ele criticou as atuações da Polícia Militar e da Polícia Civil na captura dos bandidos. Duas semanas depois da exoneração, ele procurou ontem (08) o Correio para explicar sua posição sobre o episódio. Disse que, ao longo do ano em que esteve no cargo, fez vários alertas sobre a situação dos presídios do DF ao governo, Ministério Público e ao Judiciário. E sai de consciência tranquila.

Na entrevista, Mauro Cezar ressalta a ajuda do Tenente-coronel Evaldo Costa, do Batalhão da Polícia Militar do Lago Sul, na captura e afirma que o problema com a Polícia Civil foi falta de comunicação. Apesar do tom mais contemporizador, ele jura que não está de olho nas próximas eleições. “O meu momento na política já passou”, disse.

Quanto a um embate com o diretor da Polícia Civil, Eric Seba, Mauro Cezar afirma que nunca houve. “Eu votei no Eric para a lista tríplice”, aponta.

Veja o que ele disse:

Logo depois da fuga de presos da Papuda, você declarou que as Policias Militar e Civil falharam na captura dos criminosos. Você se arrepende dessas críticas?

No dia da fuga, de sábado para domingo, fui informado logo pela manhã e vi que se tratavam de 10 internos de alta periculosidade, com 90, 70 anos de prisão. Então, entrei em contato com a Polícia Civil para a gente fazer um comitê de gerenciamento de crise. Houve uma dificuldade na comunicação e infelizmente também tivemos um problema em relação às guaritas da PM desabitadas, com exceção de três. Foi um conjunto de fatores que contribuíram para essa fuga: o baixo efetivo, a superlotação, as guaritas desabitadas, falhas no sistema de monitoramento de câmera, de iluminação. Isso tudo contribuiu.

Você foi mal interpretado naquele dia?

Na verdade, participei diretamente da captura junto com os agentes de atividades penitenciárias. Eu até acredito que deve ter tido ajuda de policiais civis como eu tive uma grande ajuda da Polícia Militar, com o coronel Evaldo, do Lago Sul. Acredito que houve ajuda. Mas eu queria uma coisa mais em sintonia, um comitê permanente de crise. Eu via a população em pânico… Queria realmente mais policiais civis na rua e sobrevoando mais de helicóptero.

Mas a Polícia Civil errou ou não?

Houve um erro de comunicação. Eu só queria, como delegado, mais policiais ali. A recaptura é uma atribuição da Polícia Civil também.

Existiu algum embate entre grupos na Polícia Civil? O delegado Lóssio, que comandou a Sesipe, e é seu amigo e aliado, disputou o comando da Polícia Civil com o atual diretor, Eric Seba. Isso provocou algum embate entre o sistema penitenciário e policiais civis?

Não acredito. Eu votei no Dr. Eric Seba na lista tríplice. O Dr. Lóssio, em momento algum, comentava comigo que queria ser diretor de polícia. Nosso comentário, meu e dele, é que iríamos nos aposentar. Tanto que no ano passado, em 2015, nós colocamos nossos cargos à disposição porque estávamos cansados de trabalhar na Polícia, no serviço público e era o tempo de sair. Eu não acredito que houve esse embate, mesmo que velado. Percebo que tanto a Sesipe quanto a Polícia Civil lutam por mais estrutura, porque ambos precisam.

A forma como houve as exonerações na Sesipe e na Secretaria de Justiça atropelou vocês?

A grande verdade é que não sei quais foram os motivos que levaram o governador a fazer a exoneração dessa forma, principalmente do secretário Souto e do Lóssio. Acho que ele tem os seus motivos. Um dia ele vai explicar. Acho que foi uma forma muito abrupta.

Acha que o governador Rodrigo Rollemberg já queria mudar o comando da Secretaria de Justiça e aproveitou a oportunidade com a fuga dos presos da Papuda?

Na verdade, não fizemos concurso para trabalhar em penitenciária ou como subsecretário ou secretário. Todos os cargos são do governador. Faça uma pesquisa e veja quantos delegados querem ser diretor de penitenciária. Eu aceitei um desafio. Tentei fazer o melhor. Mas é preciso ter um respeito pelos servidores. Foi feito um trabalho sério, embora os cargos sejam do governador. Há décadas, os governos não investem no sistema prisional. A pergunta que precisa ser feita é: por que esses presídios não foram interditados?

Teme ser prejudicado com o resultado das investigações da Polícia Civil?

Não temo. Por meio de relatórios, eu venho alertando o governo desde fevereiro de 2015, no mês que eu tomei posse, sobre o baixo efetivo e a superlotação. Agora, eu tenho a tranquilidade de falar que fiz o melhor, com a minha equipe. Se houver alguma responsabilidade, será apurada de forma isenta. Eu não tenho o menor receio de responder porque não dei causa a isso. Alertei o Ministério Público e a Justiça sobre o temor de uma fuga e da fragilidade do sistema.

Você quer se candidatar a distrital de novo?

A minha família sempre foi contra, minha esposa é apolítica. Eu sacrifiquei muito a minha família ao participar das eleições do Sindicato dos Delegados, embora eu tenha tentado fazer o melhor. Mas eu não quero mais isso para a minha vida. Eu busco a aposentadoria. Queria fazer alguma coisa como parlamentar, mas Deus é quem sabe. Não sou mais filiado a nenhum partido. O meu momento na política já passou. Combati o bom combate.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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Ana Maria Campos

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