A semana é marcada por duas datas que unem a história de muitas mulheres. Amanhã, 19/11, é dia mundial do empreendedorismo feminino, e na sexta, 20, da consciência negra. Na coluna, já contamos diversas histórias de mulheres que se tornaram pequenas e grandes empresárias, nos mais variados segmentos. Entre elas, mulheres negras que imprimiram em suas atividades profissionais a luta pelo respeito à igualdade.
“Empreender pode ser solução das mulheres ao desemprego, para estar mais perto dos filhos, para poder sair de relações abusivas, conquistando o próprio sustento; ou representar a simples realização de um sonho. De qualquer forma, é muito importante que elas tenham apoio da legislação para isso”, aponta a advogada especialista-sênior em gênero do Banco Mundial, Paula Tavares.
Ter a chance de tocar o próprio negócio é algo que pode fazer grande diferença na vida das mulheres. Confeitaria, agronegócio, supermercados, postos de combustíveis e até oficina mecânica. Elas estão à frente das mais variadas empresas. São 120 mil no DF, segundo o Sebrae.
Banquinha da Conceição
“Luta e afeto.” Assim, a jornalista Conceição Freitas define empreendedorismo. Depois de muitos anos em redações de jornais, que lhe trouxeram prêmios importantes, ela apostou numa nova forma de vida e trabalho. Sentiu vontade de resgatar, quase que romanticamente, um comércio em especial: a banca de jornais da 308 Sul. Há 6 anos, comprou o espaço, que ficou conhecido na cidade como a Banquinha da Conceição.
“Para mim, é um mix de luta e afeto. Tudo numa coisa só. Já aceitei que dinheiro não me traz felicidade, embora seja imprescindível para assegurar a dignidade. A banquinha rende afeto que me fortalece para eu ganhar o da sobrevivência”, diz.
Ela transformou o local num ponto de encontro, onde se pode tomar um café, comprar um livro, suvenires de Brasília, saborear um sorvete, encontrar publicações especiais sobre a história da capital. Um ponto de encontro lúdico e cultural de velhos amigos e de novos que fez no dia a dia na quadra. Promoveu pequenas apresentações musicais, lançamentos de livros e rodas de conversa.
Passou por alguns momentos difíceis. Pensou em fechar a banquinha, que chegou a sofrer um ato de vandalismo com suspeita de coação por posicionamentos políticos e sociais da jornalista. Mas o amor prevaleceu. Ela resistiu. E, depois do fechamento forçado por meses por causa da pandemia, a banquinha reabriu cheia de frescor, esperança e resistência.
“É um aprendizado diário, com muita luta e muito olhar torto e racista. Não há hoje no Brasil movimento mais importante que o antirracista. Só curando essa ferida o Brasil pode se tornar verdadeiramente uma nação”, afirma Conceição.
Engajamento no direito
A advogada Ilka Teodoro é um marco no empreendedorismo feminino no DF ao abrir o primeiro escritório de advocacia na capital dedicado exclusivamente às causas de gênero. Também é engajada na luta contra a discriminação racial e que a mulher sofre.
“Mulheres negras sempre empreenderam. Por necessidade e por oportunidade. Parabenizo todas as mulheres empreendedoras que, por meio de seus negócios, impulsionam a dinâmica econômica do país”, diz Ilka.
Ela chegou a entrar para a política como forma de conseguir mais participação feminina numa esfera ainda tão masculina. Foi candidata a deputada distrital e, há 2 anos, escolhida pelo governador Ibaneis Rocha para ser administradora regional do Plano Piloto, onde abre espaço para mulheres negras e em situação de vulnerabilidade social.
“Importante para nossa história exaltar a ancestralidade negra e reforçar a luta por igual oportunidade na sociedade brasileira”, afirma Ilka.
Pela beleza negra
Adriana Ribeiro é outro exemplo do espírito empreendedor feminino. A empresa dela transborda a beleza que reafirma a identidade negra, quebrando os estereótipos que obrigam a mulher de forma geral, e mais ainda as negras, a se encaixar. Virou referência nacional como empresária e consultora de imagem. A Afro&Cia Ponto Chic é uma marca forte nas redes sociais e chama a atenção de mulheres de todo o Brasil. O espaço, de 200m² e 25 funcionários, fica no Riacho Fundo e atrai clientes de todas as regiões do DF, de estados e até de fora do país, como diplomatas.
“De juíza a doméstica, eu atendo no Ponto Chic. A maior parte é negra. Mas também recebo mulheres brancas. O que todas querem é valorizar a beleza natural. Eu as ajudo, na minha consultoria, a enxergar a própria beleza e, assim, não sentirem necessidade de se encaixar em velhos padrões”, diz Adriana.
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