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O trabalho
O Dia Mundial do Trabalho foi criado em 1889, por um congresso socialista realizado em Paris. Milhares de trabalhadores foram às ruas contra trabalho desumano. Desejavam redução da jornada de 13 para oito horas diárias. Em Chicago, o maior centro industrial dos Estados Unidos, o Dia do Trabalho começou a ser comemorado em 1º de maio de 1886. O feriado nacional lembra dois fatores: um projeto de lei do deputado aprovado no Congresso em 1902 e a Lei 662, surgida em 1949. Santos foi a cidade brasileira que comemorou a data pela primeira vez, no Centro Socialista, em 1895.
Quase 50 anos depois, Getúlio Vargas dava a maior importância à festa do trabalho. Em 1944, a data foi de festa e alegria. Decreto criava o salário mínimo de 430 mil réis. A esse tempo, os jornalistas recebiam salário determinado pelos patrões. Cada empresa possuía um corretor de anúncios. Não existia a publicidade técnica. Ao contrário, o corretor fazia suas amizades no comércio. Por simpatia, os comerciantes autorizavam anúncios, geralmente em troca de notas de aniversários. Dessa forma, o corretor de anúncios tinha as notícias da família dos amigos. Não havia os pequenos anúncios. A imprensa se redobrava. Nessa época, circulavam em Fortaleza oito jornais diários.
Quando Getúlio deu salário mínimo para jornalistas, houve alegria entre os profissionais. Só que as empresas não honravam. As carteiras de trabalho registravam o salário como coisa fictícia. Nós trabalhávamos na Gazeta de Notícias. A alegria era grande e a decepção, maior. Houve reação dos revisores do jornal. Nós queríamos que a Gazeta honrasse a lei. Fizemos campanha. Blancard Girão Ribeiro, Odalves Lima e eu iniciamos um movimento. Fomos despedidos sem indenização.
Francisco Campos Pilcomar, gráfico da composição, apoiava os revisores, que passavam dia e noite na oficina. Foi bom porque aprendemos a usar os tipos soltos, da Caixa Francesa. Feijão era o impressor e nos estimulava. No final, fomos demitidos e guardamos com tristeza o fato de não recebermos a tal indenização.
Havia sete jornais em um quarteirão da Rua Senador Pompeu. Procuramos a redação de O Estado. Odalves Lima foi para o jornal O Democrata, do Partido Comunista. Era grande editorialista e foi trabalhar no jornal da esquerda. Pior, porque não recebia salário. Vivia de vales. A vantagem é que, em contato com os inimigos do “capital colonizador”, recebia de salário alguma coisa que o jornal conseguia em permuta.
Quando estávamos na Gazeta, de madrugada eu ia a pé até a casa do dr. Perboyre e Silva. Ele fazia a revisão do seu artigo e sempre, quando nos despedíamos, chamava de “meu colega” e agradecia com um abraço. Só o orgulho de ser amigo do dr. Perboyre valia. Em Nova York, houve revolução das mulheres que trabalham na indústria. Foi revolta inadmissível à época. As trabalhadoras foram jogadas numa sala. A porta fechada, elas lá dentro gritavam. A falta de oxigênio começou a matar uma a uma. Todas mortas, a porta foi aberta. O rabecão retirava os cadáveres e os levavam para o cemitério. O Dia do Trabalho para os americanos foi determinado nos anos de 1882 e 1884, em favor da classe em Nova York. Não lembram os protestos. Por isso, celebram a data em setembro.
(Coluna publicada em 1º de maio de 2010.)