Visão de pássaro

Publicado em Íntegra

VISTO, LIDO E OUVIDO – Visão de pássaro

Criada por Ari Cunha desde 1960

jornalistacircecunha@gmail.com

com Circe Cunha e Mamfil

 

Subir no palanque para fazer discursos políticos para uma campanha eleitoral, um lugar onde cabem todos os tipos de promessas e acenos, é muito diferente do que subir a rampa do Planalto para governar um país complexo como o Brasil.

No palanque, o Brasil que se vislumbra é um. Visto do alto da rampa, da própria rampa ou do terceiro andar do Palácio do Planalto, o país que se descortina é outro totalmente distante dos palavrórios. Obviamente, diante da realidade que se apresenta ao eleito, sempre hão de existir aqueles que preferem tomar atalhos mais fáceis e governar o país por controle remoto, cooptando com benesses, todas as forças políticas ao redor, dentro de esquemas do século passado, dentro do que se chama presidencialismo de coalizão. Nesse tipo de modelo de governança, todos lucram, menos a população que é chamada a pagar a conta desses desacertos escusos e longe da ética pública.

Gastos, e não investimentos, e benesses vão embrulhadas em outras caixas de presente, com a distribuição de cargos no governo, uma boquinha que faz a alegria de parlamentares que não se avexam em trair o eleitor, concorrendo à um cargo e se licenciando para ocupar função no Executivo.

Nesse tipo de jogada, é sabido que nenhum dos lados está certo sob o ponto de vista da correção e da ética. Não chega a ser surpresa que diante de um modelo dessa natureza, para cada passo que o país avançava em frente, corresponde a dois passos recuando, ou seja: ficamos a patinar, sem ir a lugar algum. Prova disso é que em praticamente todas as metas que o governo achou por bem estabelecer, nesses últimos anos, como é o caso na questão do Plano Nacional de Educação (PNE), apenas uma, entre as 20 metas estabelecidas, foi efetivamente cumprida e saiu do papel.

Mesmo em questões prementes como o aquecimento global, tópico que diz respeito à própria sobrevivência da espécie humana, o Brasil tem ameaçado recuar a não cumprir acordos assinados para deter ou reduzir as emissões de gás do efeito estufa. Na vida real o valor daquilo que é prometido aos eleitores em palanque é sempre dez vezes mais ou impossível de ser materializado.

A percepção da população é de que o próprio governo não sabe o que fazer com os recursos que possui, nem quanto gasta, deixando-se guiar não pelos números, mas apoiado no que acredita ser seu infalível instinto político. Mas esse ainda não parece ser nosso maior problema. Arrecada-se muito, o que faz do Brasil um país com as maiores cargas tributárias do planeta. Mas gasta-se com a mesma sem cerimônia, fazendo de nossa máquina pública um enorme sorvedouro de recursos.

Estima-se que a dívida pública já tenha ultrapassado mais de R$ 6 trilhões. Isso equivale a dizer que nem todo o PIB do país seria capaz de honrar essa dívida gigantesca. Quando o governo acena com mais impostos e mais tributos, o que está em pauta não é falta de recursos para tocar o país para frente. Dinheiro, existe em abundância. Como existe também em excesso, má gestão dos recursos públicos, acompanhado por grande número de casos de corrupção. É do perverso trinômio corrupção,  má gestão de recursos e silêncio dos contribuintes que alimenta a gigantesca máquina.

Sem um enfrentamento sério desses problemas, de nada adianta aumentar os impostos para arrecadar mais. O pior é que não parece haver perspectiva de acabar com esse flagelo. Para a questão dos gastos tem o remédio que é dar maior eficiência as contas públicas. Já para o caso de corrupção, que corre paralelo a questão dos altos gastos, esse parece ser um problema sistêmico, que só seria resolvido com reformas profundas no Estado. Quanto ao silêncio da população, o que se pensa é que é melhor ficar calada. Reformas que os políticos não desejam e que fazem tudo para que não aconteça.

Infelizmente não existe uma união nacional em torno de propostas desse tipo. Diferentemente dos pássaros, nossas lideranças não possuem a capacidade de enxergar o país de cima, em sua totalidade. De longe e do alto o Brasil é um país magnífico. Visto de perto, através da visão de nossas elites dirigentes, somos um país promissor apenas para essa elite.

 

A frase que foi pronunciada

“As mulheres desejam profundamente homens competentes e poderosos. E não me refiro ao poder, no sentido de que eles podem exercer controle tirânico sobre os outros. Isso não é poder. Isso é só corrupção.”

Jordan Peterson

 

Evento

Por elas, por nós: transformando a realidade. Trata-se do Grupo Mulheres do Brasil de Brasília que promoverá o seminário, no próximo dia 15, a partir das 14h, no Auditório José de Alencar, localizado no SEPS 713/913, Edifício CNC Trade Térreo. Uma conversa entre agentes públicos, organizações não governamentais e a sociedade civil é um passo importante na definição de metas.

 

História de Brasília

Mas a linha de Três Marias custará dois bilhões e meio, e o país não dispõe de dinheiro para isto. Há a possibilidade de uma usina do Tocantins, e isto é motivo para novos estudos. (Publicada em 22/3/1962)

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