Uma lei para cada um

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960

aricunha@dabr.com.br
com Circe Cunha e MAMFIL

Um cidadão que acredita ser o arauto maior da população resolveu fazer seu protesto solitário pichando nas paredes recém-restauradas da Rodoviária do Plano Piloto as frases em letras garrafais: “Fora fulano. Volta beltrana. Abaixo os golpistas”. Mesmo sem ter um documento oficial que autorizasse seu protesto, o militante solitário resolveu, em nome de uma liberdade de expressão mal compreendida, sujar com suas garatujas e garranchos um espaço que é de todos e que, há pouco tempo, foi reformado com o dinheiro suado dos contribuintes. Agiu, como muitos têm feito, movido apenas por uma vontade interior e egoísta de externar uma verdade política que acredita universal e, portanto, digna de ser anunciada, em grandes letras, à sociedade.

Infelizmente, hoje, por toda a cidade, é comum encontrar os mais variados rabiscos de cunho político, numa verdadeira batalha midiática para ver quem ocupa a maior quantidade possível de espaços públicos com seus reclames ideológicos. Não bastassem as pragas das pichações generalizadas, que transformaram cada canto de nossas cidades em espaços poluídos visualmente e, por conseguinte, nocivos à saúde, temos agora de suportar a legião de propagandistas avulsos que acreditam estar agindo para o bem de todos.

Além de externar pelas paredes e muros suas frustrações cotidianas, o que os militantes da sujeira demonstram, de fato, é enorme indiferença em relação à cidade e aos moradores. Sabem eles muito bem que os brasilienses, em sua maioria, não aceitam e não toleram que sua cidade seja transformada num imenso campo de batalha, onde o vencedor é justamente aquele que mais sujou e violou seus espaços.

Vivemos tempos bizarros. A democracia que acreditamos estar construindo a cada dia ainda é uma miragem distante, pois não aprendemos a mais elementar das lições que é o respeito à coisa pública, ao bem de todos, ao direito das pessoas em viverem em espaços sadios, libertos das neuroses de minorias panfletárias. Na nossa indigência cidadã, talvez esteja o maior dos entraves à realização plena da democracia. Ignoramos nossas cidades como espaços comuns, extensão natural de nossas casas. Passamos ao largo do que é um bem de todos.

A pichação ao Monumento às Bandeiras, em São Paulo, no último dia 30, uma obra grandiosa de um dos nossos maiores escultores, Victor Brecheret, simboliza nosso primarismo coletivo e o desdém com a República. Nós nos tornamos tolerante demais com aqueles que pisoteiam nossos jardins e maculam nossas praças e o que ainda resta de arte ao ar livre. O silêncio e a resignação com o ilegal, imoral e antiético faz wmcom que as coisas sempre piorem.

Foi nas ruas (Ágora) que os gregos se inspiraram para formular as noções básicas de democracia. Um olhar atento ao redor de nossos espaços públicos dá uma ideia do nosso atraso milenar e do quanto ainda temos de evoluir para construir uma democracia autêntica.

A frase que foi pronunciada

“O pagamento do descontrole das contas públicas não deve, mais uma vez, recair sobre os ombros daqueles que, cotidianamente, dão o seu esforço na construção de um país justo, igualitário e democrático.”

Senador Paulo Paim

Nossa educação

» Com a folga de hoje, um professor resolveu pegar caneta e papel e fazer a seguinte conta. Se um professor trabalha 5 horas diárias, em 5 salas com 40 alunos cada, por 22 dias úteis ele terá 4.400 alunos por mês. Se cada aluno der os R$0,80 que sobram da pipoca ele terá faturado R$160 diários e com 22 dias úteis R$ 3.520,00. Se o piso salarial é R$ 1.187 para o professor que atende 4.400 alunos, por cada aluno ele receberá R$ 0,27 —menos do que o troco da pipoca.

Decibéis

» Festas em áreas sem autorização, música a toda altura. Agora, as motos entram para a lista de barulhos acima do permitido. Quem nos escreve é o leitor Oswaldo, que enaltece a educação do brasiliense ao respeitar a faixa do pedestre e não buzinar. Infelizmente já tentou que o Detran fiscalizasse as motos barulhentas, com conscientização e multas para os pilotos que extrapolem no arranjo do escapamento dos veículos. Fica a dica.

Curiosidade

» No portal da Câmara dos Deputados, há explicações sobre diversos temas. Aedes aegypti está no mesmo bloco de corrupção. Deve ser a parte dos vírus.

PEC do óbvio

» Assim o senador Cristovam Buarque renomeou a PEC 241. Não há discussão. É preciso estabelecer limites para os gastos públicos. A senadora Rose de Freitas também assumiu a posição em favor da Proposta de Emenda à Constituição.

História de Brasília

O pombal de d. Eloá está periclitante. Com a estrutura já pronta, está ameaçado de destruição, porque as autoridades, agora, resolveram achar que os pombinhos vão sujar demais a Praça dos Três Poderes. (Publicado em 30/8/1961)

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