Tudo é relativo

Publicado em Íntegra

Criada por Ari Cunha desde 1960

jornalistacircecunha@gmail.com

com Circe Cunha e Mamfil

 

         Por incrível que pareça, não se ouvem vozes balizadas discutindo o que interessa ao país, que é a busca por um modelo de gestão administrativa, capaz de fazer cessar as crises institucionais, políticas e econômicas cíclicas. Talvez a razão se deva ao pouco interesse que esse tema suscita entre as elites. O fato é que sem essa discussão ou sem esse esforço em pensar o país, de modo sério e profundo, continuaremos andando em círculos, gastando energias sem ir a lugar algum.

         Vivemos mergulhados em improvisos e isso nunca dará certo. A questão aqui é que a cada quatro anos, com a chegada de novos governos, toda a estrutura administrativa do país é desmontada ou simplesmente destruída e deixada de lado. Não é somente o caso de obras públicas, que são abandonadas no meio do caminho, depois de serem investidos bilhões em recursos do Tesouro. São centenas espalhadas pelo país. Os prejuízos são incalculáveis, isso sem contar nas implicações que essas obras acarretam para o desenvolvimento do país e para o bem estar dessas populações que seriam beneficiadas por esses projetos órfãos. Pior ainda que essa situação específica, é o desmonte de toda a estrutura administrativa do país, que é levado a cabo por cada governo que assume.

         Primeiro destrói-se o que foi feito e que estava funcionando. Em cima de ruínas, passam a erguer outras estruturas. A cada quatro anos, ministérios, alguns importantes e fundamentais, bem como seus respectivos programas, são desmantelados para dar lugar a novas estruturas, que certamente passarão pelo mesmo processo. Outros ministérios e pastas passam a ser criados, com o todo o universo de pessoas, materiais e programas que isso envolve. Nada fica de pé. Perde-se um tempo precioso, principalmente perdem-se programas que, por sua natureza de efeitos de longo prazo, são abandonados ou deixados inconclusos. Criam-se sinecuras para os que estão na base do novo governo. São abolidas outras que serviam ao ex-governo. Para os contribuintes isso é um acinte inominável.

         Quem observa os países desenvolvidos, constata que neles as estruturas pertencentes a administração pública são mantidas, assim como os projetos que ultrapassam o tempo de gestão dos governos. Nesses países, todos os recursos são poupados. Nada de mordomias nem antigas nem novas. Por aqui nenhuma das estruturas responsáveis pela administração pública estão à salvo da sandice dos novos governos. Como se todo esse descalabro não bastasse, ainda temos a destruição ou simplesmente o descumprimento de regras e leis estabelecidas. Damos um passo adiante e dois para trás.

         Ordenamentos importantíssimos como a Lei de Responsabilidade Fiscal que obrigava o governante a gastar com base naquilo que arrecada, são esfrangalhadas par atender as exigências de irresponsabilidade dos novos gestores. Se existia um tal de teto de gastos, previamente fixado, fura-se esse teto e seja o Deus quiser. Se existiam penalidades para os maus gestores, criam-se leis que tornam esses governos isentos de culpas e sanções. Do mesmo modo, no campo político, cada governo que assume cuida logo de destruir as oposições. Não obtendo o resultado que deseja, criam estratégias para obter. Com um modelo caótico como o nosso, pensar em progresso e principalmente em melhoria nos índices de desenvolvimento humano ou nos índices que aferem o grau de corrupção na máquina pública é perder tempo. Estamos na rabeira desses índices, assim como estamos nas últimas colocações quando o assunto é educação, violência e outros quesitos que medem a evolução humana moderna. E não pense o sofrido leitor que essa é uma mazela restrita apenas ao Poder Executivo. A cada estação mudam-se as regras. Nada possuí um valor perene, nem mesmo a ética pública. Relativizamos tudo, inclusive o poder do bem e do mal.

A frase que foi pronunciada:

“Não, não há duas morais. Para os estados, como para os indivíduos, repito, na paz, como na guerra, a moral é uma só. (…) Se o mundo vê erigir-se agora um sistema que a ela lhe usurpa o nome, revogando todos esses cânones da eterna verdade, não é a moral que se está civilizando: é a imoralidade, encoberta com os títulos da moral destruída, a malfeitora oculta sob o nome de sua vítima; e todos os povos, sob pena de suicídio, devem unir-se para lhe opor a unanimidade incondicional de sua execração.”

Rui Barbosa

Haja

Para renovar o bilhete de identidade na Embaixada de Portugal, o patrício passou 3 meses tentando agendar pelo site. Depois de preencher minuciosamente um formulário em cada tentativa, a resposta vinha dizendo que não havia mais vagas. Com a paciência em frangalhos enviou um e -mail e soube que só no último dia do mês é possível pedir o agendamento. Mais dois meses aguardando o último dia para tentar. Por toda a manhã preenchendo os formulários novamente a cada tentativa. Nada. Dessa vez informaram que só a partir das 14h a agenda estaria aberta. Nem a Caravela Santo Antônio, Caravela São Pedro e Caravela Nossa Senhora Anunciada precisaram passar por tanta burocracia para chegar ao Brasil em 1500.

História de Brasília

Para a construção das casas de alvenaria, informaram que não havia madeira, e existia, em estoque, cimento, tijolos, areia, etc. Mas se forem dar busca nos documentos encontrarão compra de material para essas casas em importância superior à que se construíssem de madeira. (Publicada em 21.03.1962)

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