As aulas do professor Delmo Arguelhes

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Imagem: nossofuturoroubado.com

 

Ao longo de séculos, o eurocentrismo não foi apenas uma hegemonia geográfica ou econômica, mas, sobretudo, um eixo civilizacional. Foi na Europa e depois no Ocidente ampliado que se consolidou uma noção específica de indivíduo: portador de razão, consciência moral, dignidade intrínseca e responsabilidade histórica. Esse conceito, herdeiro direto da filosofia grega, do direito romano e da antropologia judaico-cristã, moldou instituições, leis e valores que, com todos os seus erros e contradições, colocaram o indivíduo no centro da vida social.
Hoje, contudo, esse paradigma encontra-se em franco declínio. A decadência do eurocentrismo não ocorre apenas pela ascensão de outras potências ou culturas, mas pela corrosão interna de seus próprios fundamentos. As chamadas agendas globalistas de esquerda, cada vez mais difundidas em organismos internacionais, universidades, meios de comunicação e corporações, têm promovido uma ruptura deliberada com a tradição humanista que sustentou o Ocidente. O indivíduo, outrora sujeito de direitos, passa a ser visto sobretudo como produto de estruturas, categorias identitárias ou relações de poder. A pessoa concreta cede lugar ao tipo abstrato. Alexis de Tocqueville advertia, no século XIX, que “as nações democráticas mostram um gosto natural por ideias gerais e abstratas”, pois estas dispensam o esforço de compreender o particular. Essa tendência, levada ao extremo, abre caminho para sistemas ideológicos que falam em nome da humanidade, mas ignoram o homem real. Quando o discurso político se estrutura apenas em termos de coletivos classe, gênero, raça, grupo, o indivíduo deixa de ser um fim em si mesmo e passa a ser mero instrumento narrativo.
Hannah Arendt, ao analisar as origens do totalitarismo, observou que “o primeiro passo essencial no caminho para a dominação total é matar a pessoa jurídica do homem”. Ainda que as agendas contemporâneas não se apresentem com a brutalidade dos regimes totalitários clássicos, o mecanismo intelectual guarda semelhanças inquietantes. A despersonalização ocorre de forma simbólica: dissolve-se a responsabilidade individual, relativiza-se a liberdade de consciência e redefine-se a verdade como construção política. O sujeito não pensa; ele “replica”. Não escolhe; ele “internaliza”. Nesse contexto, a desconstrução torna-se um valor em si. Tradições são tratadas como opressões herdadas, identidades como ficções perigosas e a história como um inventário de culpas.
Roger Scruton alertava que “uma sociedade que se dedica apenas a desconstruir suas instituições logo descobrirá que não sabe mais como reconstruí-las”. A crítica deixa de ser instrumento de aprimoramento e se converte em prática permanente de demolição cultural. O globalismo ideológico, ao pretender uniformizar valores em escala planetária, paradoxalmente, nega a diversidade que afirma defender. Culturas locais, visões morais distintas e formas históricas de organização social tornam-se obstáculos a serem corrigidos. O indivíduo é reeducado para se ver menos como herdeiro de uma tradição e mais como átomo flutuante, desligado de passado, território e memória. Como escreveu José Ortega y Gasset, “o homem-massa não quer dar razões nem quer estar certo; simplesmente quer impor”.
A nova ortodoxia moral dispensa o convencimento racional e prefere a pressão social. Essa despersonalização também se manifesta na linguagem. Palavras são esvaziadas de seu significado histórico e recodificadas segundo critérios políticos. George Orwell, em tom quase profético, já advertia que “se o pensamento corrompe a linguagem, a linguagem também pode corromper o pensamento”. Ao controlar os termos do debate, controla-se o horizonte do pensável. O indivíduo perde até mesmo o vocabulário necessário para expressar dissenso. A decadência do eurocentrismo, portanto, não significa apenas a perda de protagonismo de uma civilização, mas o risco de abandono de um legado filosófico que afirmava a singularidade da pessoa humana.
Ao rejeitar esse legado como “obsoleto” ou “opressor”, corre-se o perigo de substituir o humanismo imperfeito por um pós-humanismo administrativo, no qual o indivíduo vale apenas enquanto função estatística ou símbolo político. O paradoxo final é evidente: em nome da libertação, promove-se uma nova forma de tutela; em nome da inclusão, apaga-se a pessoa concreta; em nome do progresso, dissolve-se o sentido. Como escreveu T. S. Eliot, “onde está a vida que perdemos vivendo? Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?” A pergunta permanece em aberto.
Se o Ocidente deseja sobreviver não apenas como espaço econômico, mas como civilização, talvez precise reencontrar aquilo que o tornou singular: a convicção de que cada indivíduo importa não por sua utilidade social ou pertencimento identitário, mas por sua dignidade ontológica. Sem isso, o mundo pode até se tornar mais integrado, porém, inevitavelmente, menos humano.
A frase que foi pronunciada:
“ Nós não evoluímos com a tecnologia, apenas somos leões pedindo uma zebra pela internet.”
Edu Casarotto
Eduardo Casaroto. Foto: institutovirtudes.com
História de Brasília
Já que está com esta disposição, poderia também mandar limpar escadas e corredores, e varre-los periodicamente, já que não se pode exigir que isto seja feito todos os dias. (Publicada em 13.05.1962)

O que dizem os astros

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Ilustração: andreassibarreto.com

Desde a Antiguidade, o ser humano ergue os olhos ao céu em busca de sentido. Não apenas para medir o tempo, orientar colheitas ou navegar mares, mas para decifrar, nos movimentos silenciosos dos astros, algum reflexo do seu próprio destino. Parece que o que as estrelas mostram é um período de rupturas, revoluções e transformações profundas. Um tempo em que estruturas antigas ruiriam para dar lugar a algo novo, ainda indefinido.

Para além de se crer ou não nas estrelas, é inegável que, desde então, o mundo parece ter entrado numa fase de instabilidade contínua, quase febril. A economia global tornou-se mais concentrada e, paradoxalmente, mais frágil. Crises financeiras se sucedem em intervalos cada vez menores, como se o sistema estivesse permanentemente à beira de um colapso anunciado. Estados nacionais perdem soberania diante de organismos supranacionais, fundos de investimento e corporações que operam acima das fronteiras, das leis locais e, muitas vezes, da própria vontade popular.

Nesse cenário, emerge o discurso do globalismo, apresentado como solução técnica e inevitável para problemas planetários, mas percebido por amplas parcelas da população como um projeto político que dilui identidades, relativiza tradições e redefine valores sem consulta democrática efetiva.

É nesse caldo que florescem as chamadas agendas globais, entre elas a Agenda 2030, envolta em linguagem tecnocrática, metas abstratas e conceitos amplos o suficiente para acomodar múltiplas interpretações. Para seus defensores, trata-se de um esforço racional de coordenação internacional; para seus críticos, um conjunto de diretrizes que, sob o pretexto de sustentabilidade e inclusão, impõe modelos culturais, econômicos e sociais alheios às realidades locais.

A tensão entre esses dois olhares é um dos motores da polarização que hoje atravessa quase todas as sociedades ocidentais. Nas ruas, essa fratura se manifesta de forma ruidosa. Movimentos identitários e novas formas de ativismo moral ocupam espaços públicos, universidades, empresas e meios de comunicação, reivindicando não apenas direitos, mas a reinterpretação integral da história, da linguagem e até da biologia.

Em reação, surgem grupos igualmente radicalizados, que veem nessas pautas uma ameaça direta à civilização ocidental, à liberdade de expressão e à continuidade cultural. O diálogo cede lugar ao confronto simbólico; o dissenso, à rotulação moral. A política deixa de ser o campo da negociação possível e passa a operar na lógica do “nós contra eles”.

A Europa talvez seja o palco mais visível dessa encruzilhada histórica. Berço de Estados-nação, tradições seculares e identidades bem definidas, o continente enfrenta hoje dilemas que tocam o seu próprio núcleo civilizacional. O multiculturalismo, vendido por décadas como ideal de convivência harmoniosa, revela fissuras profundas quando culturas com valores incompatíveis passam a coexistir sem mecanismos claros de integração. O resultado, em muitos casos, não é a síntese cultural, mas a fragmentação social, a formação de guetos e o aumento de tensões étnicas, religiosas e políticas.

Não surpreende, portanto, que alguns analistas falem, ainda que metaforicamente, em uma “nova cruzada”. Não uma guerra de exércitos formais, mas um conflito difuso, cultural e simbólico, entre visões de mundo inconciliáveis. De um lado, um Ocidente que parece envergonhado de si mesmo, disposto a desconstruir seus próprios fundamentos; de outro, forças externas e internas que não compartilham dessa autocrítica e avançam com convicções sólidas, muitas vezes inegociáveis.

No campo de batalha não são apenas territórios, mas escolas, tribunais, mídias e consciências. É nesse ponto que a antiga máxima hermética ressurge com força provocadora: “assim como é embaixo, é em cima”. A frase sugere uma correspondência entre o macrocosmo e o microcosmo, entre o céu e a terra, entre as ordens superiores e a realidade concreta. Lida literalmente, remete à ideia de que os movimentos dos astros influenciam os destinos humanos. Lida simbolicamente, talvez diga algo ainda mais inquietante: o caos que percebemos nas instituições, na política e nas relações sociais pode ser o reflexo ampliado do caos interior de uma civilização que perdeu seus referenciais.

Vivemos uma era de informação abundante e sabedoria escassa. Nunca se produziu tanto conhecimento técnico, nunca se falou tanto em progresso, direitos e inovação. Ainda assim, nunca foi tão difícil responder a perguntas básicas: o que é o bem comum? O que é a verdade? O que significa ser humano? A dissolução dessas respostas cria um vazio que é rapidamente preenchido por ideologias totalizantes, promessas de salvação secular e narrativas que dividem o mundo entre iluminados e retrógrados, vítimas e opressores.

Parece que o que mostram as estrelas passa da desconstrução acelerada sem a construção de algo sólido em seu lugar. É a história que nos ensina que períodos assim são férteis tanto para avanços extraordinários quanto para colapsos civilizacionais. Nada está determinado, seja pelos astros ou pelas agendas humanas. O futuro continuará a ser escrito, não no céu, mas nas escolhas concretas feitas aqui embaixo.

Antes de buscar, no firmamento, a causa de nossos dilemas, talvez seja necessário encarar o espelho da própria civilização e perguntar se ainda sabemos quem somos, o que defendemos e até onde estamos dispostos a ir para preservar aquilo que chamamos de humano.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Os movimentos populares anunciaram uma nova era na política de Taiwan.”

Ko Wen-je

Ko Wen-je. Fotografia: Ann Wang/Reuters

 

História de Brasília

O IAPC iniciou o serviço de dedetização dos seus blocos nas superquadras 106, 306 e Asa Norte. (Publicada em 13.05.1962)

Vitória de Pirro moderna

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         Dados levantados pela inteligência ocidental dão conta de que, nesses após três anos do início da invasão à Ucrânia, a Rússia já contabiliza equação militar negativa cada vez mais insustentável. Segundo esses dados, o país vem perdendo, em média, 1.135 soldados, mortos ou feridos diariamente, tudo isso para conquistar apenas 2,3 quilômetros quadrados de território – uma área irrisória. Analistas militares calculam ainda que, no ritmo atual de avanço, a Rússia levaria, pelo menos, 91 anos para criar a zona tampão segura proposta por alguns militares russos. A Rússia, diz esse relatório, está tomando território, mas a um custo insustentavelmente alto.

         Diante de mais esse desastre comandado por Putin, seu futuro político vai se tornando cada vez mais incerto e tenebroso. De posse desses dados, o que se tem em mãos revela uma operação militar que, além de moralmente condenável, é estrategicamente desastrosa para a Rússia, sobretudo, para sua juventude. Um olhar para três frentes (militar, política interna russa e geopolítica global) mostra a Rússia, sob a liderança de Putin, cada vez mais atolada nas areias movediças do destino que traçou para si mesmo. No cenário militar, já se assiste a lógica da exaustão por tantas baixas, atualmente em mais de 400 mil por ano. Isso é insustentável até mesmo para uma potência como a Rússia, que mobilizou sua população em ondas sucessivas e endureceu suas leis contra a dissidência e deserção. Os ganhos territoriais (2,3 km² por dia) são, taticamente, irrelevantes, quando comparados com o custo humano, material e psicológico. A estimativa de 91 anos para completar uma zona tampão mostra o caráter fantasioso daquela meta. Além disso, a moral das tropas está provavelmente degradada; as reservas de munições, equipamentos modernos e oficiais experientes estão se esgotando e a Ucrânia, embora exaurida, tem acesso crescente à tecnologia militar ocidental de ponta, o que tende a reequilibrar o conflito no campo de batalha.

          A guerra entra em um impasse de desgaste onde a Rússia, apesar de avanços localizados, está cavando sua própria exaustão estratégica. Também no cenário político Interno, o poder de Putin torna-se cada vez mais instável e incerto. Vladimir Putin, como é sabido, sustenta seu poder sobre três pilares: repressão interna e controle da narrativa, aparato de segurança leal (FSB, militares, Guarda Nacional) e percepção de força e grandeza geopolítica. Por outro lado, entende-se que a guerra na Ucrânia corroeu parte ou boa parte desses pilares. Internamente, a repressão já atinge o ponto de retorno: quando o medo vira ódio silencioso e regimes como esses entram em colapso. As Forças Armadas estão desmoralizadas, com generais eliminados, prisões por corrupção e comandantes mercenários (como Prigozhin), mortos em circunstâncias pra lá de suspeitas. Dessa forma, o fracasso dessa guerra destrói a narrativa imperial que Putin construiu desde a Crimeia (2014). Muitos acreditam que o futuro político de Putin está ameaçado, embora, não imediatamente, pois ele ainda mantém o poder, embora enfrente rachaduras entre elites (oligarcas e serviços secretos).

         Há sinais de desgaste entre as bases sociais que sustentavam sua popularidade. O medo de uma “primavera russa”, embora remoto, já preocupa o Kremlin — vide o aumento de investimentos em ciberpropaganda, censura e repressão legal. Ninguém contesta o fato de que, em termos geopolíticos, há um isolamento e colapso russo, com aquele país, em termos de diplomacia cada vez mais desgastados, mesmo entre antigos aliados. A guerra levou a Rússia a se tornar cada vez mais dependente da China, o que a rebaixa, de potência autônoma a satélite estratégico. Sancionada economicamente, com acesso restrito a tecnologias críticas e mercados ocidentais, a Rússia de Putin vai provando de seu próprio veneno. Se Putin sobreviver politicamente, será como líder de uma Rússia empobrecida, armada, ressentida e dependente, o que é perigoso para o mundo. Mas se cair, abre-se o risco de vácuo de poder com disputas internas violentas e fragmentação da federação russa ou ascensão de um regime ainda mais autoritário. O mundo deve colocar as barbas de molho, pois seu arsenal atômico assustador pode vir a ser usado como demonstração de força derradeira.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.”

Winston Churchill

Winston Churchill. Foto: wikipedia.org

 

História de Brasília

A solidariedade das  professôras aos invasores do BNDE não deveria ser traduzida em greve , mas sim em solidariedade efetiva. Exemplo: melhor aproveitamento dos apartamentos já entregues, para que todos sejam atendidos. (Publicada em 04.05.1962)

A esperança de um Amor Maior

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Foto: vaticannews.va

 

Em meio às notícias controversas sobre a última internação hospitalar do Papa Francisco, quando sua situação de saúde parece ter piorado muito, a ponto de preocupar o Vaticano e os fiéis, mais uma vez, reascenderam, em todo o mundo, os palpites sobre os possíveis nomes para substituí-lo no comando da Igreja.

Em tempos de Internet, os boatos correm e se espalham por todos os cantos com a velocidade da luz. Desse modo, quando notícias passam a dar conta da fragilidade de saúde de algum Pontífice, tão depressa a imprensa católica e leiga passa a divulgar a lista com respectivos currículos dos candidatos. É a vida que segue dentro e fora da Igreja.

O que chama atenção nesse ritual que agora ocorre, de forma apressada, é que a mídia, em geral, passou a dar importância maior a determinados elementos da biografia dos possíveis candidatos, que antes não despertavam interesse. Para os fiéis em geral, o que sempre importou na escolha de um Papa é a vida de pastor e de santidade do candidato, sua dedicação à igreja e ao rebanho de Deus.

Com o advento das mídias sociais, esse tipo de acontecimento ganhou uma amplitude jamais vista, mas de forma alguma,nisso deve influenciar a escolha de um futuro nome para esse posto. Tanto é assim que ninguém conhecia Jorge Mario Bergoglio antes da fumaça indicar o cardeal eleito. Mesmo com as notícias mais recentes dando conta da melhora de saúde do Papa Francisco, os rumores sobre seus sucessores não foram interrompidos. Não há dúvidas que, dentro dos muros do Estado do Vaticano, rituais como a substituição de um Papa são feitas quase que exclusivamente por critérios políticos/religiosos. É que alguns chamam por clericalismo político, dado através de uma autoridade do tipo divina.

No entanto, é preciso lembrar que a governança da Igreja Católica é feita pela ação humana e não há como comandar um portento como o Vaticano, com cerca de 1,5 bilhão de crentes, por meio apenas da providência divina. Não chega a ser estranho pois que, dentro do Vaticano, as articulações e os conchavos políticos também existam quando o assunto é a escolha de alguém para chefiá-lo.

Um outro aspecto interessante é notar que tão logo um novo Papa passe a assumir a cadeira de São Pedro, mais do que depressa, ele passa a perceber que, nessa nova função, ele não pode tudo. Há regras e limites. Na verdade, a figura de um Papa é quase como a de um presidente num regime parlamentarista. Representa o Estado, mas, na prática, não chefia o governo da Igreja. Curioso também é saber que a chegada do atual Papa Francisco ao Vaticano trouxe, para a Igreja, de um modo geral, ares de certo liberalismo político e de quebra de paradigmas e de ortodoxia. Pelo menos, é essa a imagem que é projetada para fora do Vaticano. Internamente, diz-se que ele não é nem liberal, nem conservador, pois o Vaticano sempre sinaliza que, dentro da Igreja, essas divisões do mundo secular não se aplicam.

Comparado ao Papa João Paulo II, as diferenças de matizes ideológicos ficam mais evidentes. O fato é que o Papa, seja qual for sua preferência política, é visto pelos olhos do mundo e estes olhos são humanos e, portanto, cheios de dúvidas e certezas. Mas há um fato que parece unir a todos dentro do Vaticano, e esse fato é a diminuição de fiéis pelo mundo, que passaram a migrar para outros credos. Na visão interna, o que se enxerga é que o Mundo Ocidental parece ter escolhido viver e se estabelecer sobre o planeta sem a presença de Deus. Para os clérigos, esse tipo de mundo, onde Deus parece ter sido exilado da paisagem, é um mundo de escuridão, de mentiras e egoísmo, com a sociedade perdendo, pouco a pouco, o prazer simples de trazer crianças ao mundo, talvez como modo de preservá-las de um mundo cheio de feridas.

Sem Deus, a sociedade vai criando um ambiente onde já não existe respeito com idosos, com as pessoas se isolando cada vez mais na tristeza, na depressão e no medo do futuro. É um mundo onde, para além do materialismo consumista, nada mais resta para oferecer, a não ser o vazio e o nada. A própria existência torna-se um fardo diário. Para a Igreja então, a missão maior é mostrar e incutir, nas pessoas, a esperança de um Amor Maior, Salvador do Mundo, de nome Jesus. E essa é a única pregação do tipo política e evangelizadora que cabe ao Papa.

 

A frase que foi pronunciada:

“Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados.”

Papa Francisco

Foto: Paul Haring/CNS.

 

Desrespeito

Equipes do GDF precisam atualizar os dados de todas as instituições do governo na Internet. Números de hospitais não atendem, números informados de emergências não funcionam, escolas, postos de saúde… nada funciona.

Palácio do Buriti. Foto: Francisco Aragão/Agência Brasília

 

História de Brasília

Quanto ao meu emprêgo na Prefeitura, não é bem emprêgo. Sou contratado, e aceitei porque vi uma oportunidade de servir à minha cidade. Sôbre emprêgo público, posso lhe dizer que fui, uma ocasião, (sem saber) tesoureiro de um Instituto, e depois de nomeado, rejeitei a oferta. (Publicada em 27.04.1962)

O bom combate

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Imagem: Shutterstock.

 

Desde sempre, soubse que tempos difíceis ajudam a forjar homens fortes. O que pouca gente sabe é que, somente em tempos de guerra, é que é possível conhece-los em carne e osso. São heróis do nosso tempo. E é quando o som dos morteiros começa a troar que, no horizonte, o cheiro da morte a se espalhar por todos os cantos que eles surgem.

Enquanto alguns tremem na base, fogem e se escondem, ou ainda procuram se aliar ao inimigo para salvar a própria pele, indivíduos, escolhidos a dedo pelo destino, permanecem de pé. A guerra, e isso já foi dito também, é o caminho do engano, mas é por essas trilhas que as vezes é preciso seguir, mesmo conhecendo a superioridade da máquina de guerra do inimigo.

Desde a Segunda Grande Guerra, há exatos 75 anos, o mundo não ouvia mais falar em heróis.  Pessoas que entregam a vida em defesa de seu povo, da sua terra e da sua cultura, movidos pela noção de que lutavam o justo combate, foram transformadas em lenda. Mas, foi a partir de 24 de fevereiro de 2022, ocasião em que a Rússia deu início a invasão da Ucrânia, pensando que essa atitude de pura agressão a um país soberano, seria como um passeio tranquilo ao redor de suas fronteiras, que o mundo passou a conhecer a figura do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky (1978-), político, ator, roteirista e diretor de teatro e televisão.

O pecado de Zelensky foi o de rejeitar as más influências de Moscou em seu país e seguir, como era o desejo majoritário da população, se integrando ao mundo ocidental e à União Europeia. Quem diria que um ator e comediante, estreante na política de seus país, viria a ser um comandante supremo de seu exército, se transformando numa espécie de marechal de guerra, temido e respeitado até pelos experientes oficiais russos.

Para o autocrata e eterno presidente russo, a modernização proposta por Zelensky para a Ucrânia e seu afastamento da área de influência de Moscou era inaceitável. A sua aproximação do Ocidente e com a Organização do Tratado do Atlântico Norte, deu a Putin as razões que queria para invadir a Ucrânia. Logo, nos primeiros meses da guerra, ficou claro para o exército ucraniano que seu país enfrentava um inimigo para quem os tratados e as convenções de guerra, capaz de dar algum sentido humano ao que não é humano, eram totalmente desprezados por Putin.

Moscou colocou para combater ao, seu lado, um exército de mercenários e criminosos de guerra, conhecido como Grupo Wagner e que já possuía um vasto currículo de sangue pelo mundo. Por diversas vezes o governo de Moscou tentou simplesmente eliminar Zelensky, que escapou de alguns atentados, graças ao seu serviço de informações.

Com a guerra em andamento, diversos líderes mundiais, diante da possibilidade de Moscou usar inclusive armas nucleares, ofereceram abrigo a Zelensky, acreditando que sua saída do país poderia abrir caminho para o fim das hostilidades russas. Em resposta Zelensky teria dito: “A luta é aqui em Kiev; preciso de munição, não de uma carona”.

Com essa atitude corajosa Zelensky ganhou ainda mais apoio interno. Não é por outra razão que a guerra, que para Moscou, deveria durar apenas 96 horas já se estende por 3 longos anos, com os ucranianos defendendo cada palmo de terra.

Para os analistas desse conflito contemporâneo, a guerra entre esses dois países já contabiliza um número superior a um milhão de mortos de ambos os lados. A carnificina prossegue com Moscou contando agora com a ajuda militar da Coreia do Norte. Mesmo em se tratando de uma luta de forças desiguais, a Ucrânia, sob Zelensky segue nos campos de batalha, resistindo à um inimigo traiçoeiro e capaz de qualquer manobra para vencer. Talvez por sua bravura em comandar uma guerra tão prolongada, contra os belicosos e imprevisíveis russos, é que Zelensky tem sido reconhecido por diversos países do Ocidente como um grande e bravo comandante, sendo por diversas vezes condecorado e saudado como herói de guerra. Ao mesmo tempo pesa sobre Putin um mandado de prisão, expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) que o acusa de crimes de guerra.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O presidente não pode mudar o país sozinho. Mas o que ele pode fazer? Ele pode dar um exemplo.”

Volodymyr Zelensky

Volodymyr Zelensky. Foto: Getty Images

 

História de Brasília

“Quanto ao fato de o senhor achar humorística esta coluna, é uma alegria para nós. Pena que nem todos concordem.”.  (Publicada em 27.04.1962)

Predições quase ficcionais

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Charge do Dum

 

Não é de agora que escritores, visionários, filósofos e outros pensadores da questão humana imaginam e preveem um mundo e uma sociedade distópica, em que os valores morais e éticos e todas as relações sociais saudáveis desabaram para um patamar no subsolo onde a opressão, o autoritarismo, a anarquia e a desagregação do indivíduo e das famílias passam a dominar o ambiente de todas as nações, fazendo, do exercício da vida, um tormento sem fim.

Obras literárias de grande valor, como 1984, de George Orwell, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, Guerra dos Mundos, de H.G Wells, e uma centena de outras buscaram descrever esse mundo futuro de pesadelo, no qual a tecnologia que, anteriormente, foi pensada para libertar o homem dos trabalhos enfadonhos e infindáveis, agora passa a ser usada como ferramenta para controlar e oprimir as massas, criando um ambiente no qual todos são absolutamente vigiados e escravizados, do nascimento até a morte.

Mesmo as grandes metrópoles, outrora, majestosas e desejadas, vão se transformando, dentro desse novo ambiente de miséria humana, em lugares decadentes e extremamente hostis. Ocorre que, se no passado, essas imagens e previsões ficcionais foram utilizadas, por seus autores, dentro de um contexto que visava alertar e satirizar a possibilidade de as sociedades modernas transformarem o planeta num lugar de absoluto sofrimento, hoje, mais e mais, parece que estamos nos dirigindo ao encontro daquilo que mais temíamos: construindo, com nossas próprias mãos, a Torre de Babel distópica que poderá erguer o inferno sobre a Terra, antes mesmo do advento do apocalipse.

É essa dualidade humana, ao mesmo tempo a unir o Eros e o Tânatos, que temos a arrastar para frente, num combate eterno contra nós mesmos, tão bem representada pela alegoria de Sísifo, condenado a empurrar para sempre, morro acima, uma gigantesca pedra, que ao atingir o topo, volta a rolar morro abaixo. Essas reflexões vêm a propósito do fenômeno, experimentado em boa parte do mundo e que parece decretar o que seria os primeiros sinais da morte da cultura, em todos os seus aspectos. De certa forma, esse seria, para muitos, o prenúncio a indicar que estamos no limiar de um mundo distópico. O fechamento de teatros, museus, bibliotecas, livrarias, galerias de arte, cinemas e mesmo o que parece ser a falência da música, dos coros, das orquestras, da moda e tantas outras invenções do gênero humano, tão necessários para a evolução de nossa espécie e que nos tornam aquilo que buscamos ser: seres humanos.

Trata-se de um fenômeno que vai acontecendo não só por indução da pandemia, mas pela própria condição atual de todos nós, terráqueos, preocupados e envoltos em nossas revoluções internas, enquanto destruímos o planeta e todo o seu bioma. Escondidos em nossas cavernas modernas, fugimos do vírus externo, enquanto, por toda parte, as lideranças políticas vão se assenhoreando da máquina do Estado, transformando nossas instituições e criando outras à imagem e à semelhança de seus propósitos.

Ao romper a barreira da cultura, estarão abertas as brechas para o alagamento total de nossa civilização, abaladas pelos esforços contínuos de destruição das famílias e o que resta do ensino público. Enquanto permanecemos mergulhados em nossa hibernação, um mundo distópico vai sendo erguido bem defronte de nossas casas.

 

A frase que foi pronunciada:
“Não é o que você paga a um homem, mas o que ele lhe custa é que importa.”
Will Rogers

Will Rogers. (Foto cortesia do Museu Memorial Will Rogers)

 

Sem serviço
Com as chuvas, volta e meia, os semáforos param de funcionar e os próprios motoristas definem as regras colocando a vida em risco. Nesse momento, não se vê autoridades para auxiliar o trânsito.

DETRAN. Foto: Web/Reprodução

 

Que pena
Por falar em semáforo, a ideia de colocar um sinal para quem sai da L3 para entrar na L2, sentido norte e sul, foi muito boa. Parece que não conseguiram deixar a luz verde do aparelho indicando direita livre. Daí, eliminaram o sinal.

 

Semana das bandas
Quem gosta de bandas não pode perder a programação na Escola de Música de Brasília. A entrada é franca e a programação está agendada de 4 a 8 de novembro, à noite. Confira o horário!

Cartaz publicado na página oficial da Escola de Música de Brasília no perfil oficial do Instagram

 

História de Brasília
Por falar em Universidade, o professor Darcy Ribeiro superou, em alguns casos, o dr. Juscelino Kubitschek como comandante de obra. (Publicada em 21/4/1962)

Céu cinzento

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Imagem: Reprodução/Pexels

 

         Pairam hoje sobre a cabeça dos brasileiros todos, os elementos possíveis capazes de encadear a maior e mais temível tempestade que já assistimos. A previsão, dos meteorologistas políticos, é de que a convergência de todos esses elementos negativos venha despencar sobre um ponto geográfico e simbólico específico que é a Praça dos Três Poderes, antes e depois das eleições.

         Sabedores dessa possibilidade malfazeja, os ministros do Supremo e o próprio Congresso já se anteciparam e decidiram, em reunião, adotar medidas de proteção e reforço na segurança do local. Essas medidas extraordinárias valerão não apenas para o 7 de Setembro, mas poderão se estender até depois das eleições.

          Antes de tudo, é preciso entender que essas medidas, que contarão até com o apoio das Forças Armadas, ao abranger especificamente a tão famosa praça, possui seu caráter simbólico, pois ali estão as sedes dos Poderes da República, sendo que o que ocorre ali, tem consequências para toda a nação. Fossem esses os únicos problemas que temos pela frente, a coisa toda poderia ser facilmente resolvida. Ocorre que há outros elementos com potencial para desencadear uma gigantesca crise institucional que estão se concentrando, em grande quantidade sobre todos nós.

         A dificuldade da Petrobras, com relação a variação crescente dos preços dos combustíveis é outro elemento negativo que ameaça ter um desfecho perturbador da ordem. Essa disparidade de preço mundial, ao catalisar para cima os gráficos da inflação, cria um ambiente de tumulto e agitação tanto no mercado como na sociedade, que poderá ser ainda danoso caso os caminhoneiros venham a decidir sobre uma paralisação em âmbito nacional.

         Fosse esse também o único elemento nebuloso a pairar sobre a nação, a economia poderia encontrar saídas provisórias até que os preços dos derivados de petróleo estivessem mais estabilizados. Só que, a esses elementos, juntam-se também aqueles de características político partidária, representados aqui pela extrema e crescente polarização que essa campanha adquiriu. Esse é um fator deveras perturbador e capaz de levar a uma conflagração imprevisível. Não há, vis a vis, a discussão de programas de governos, somente ataques e ameaças, o que é ruim para a democracia.

         Por outro lado, a pandemia do Coronavírus ainda não arrefeceu e ameaça retornar. A guerra, sem fim, que Putin envolveu todo o Leste Europeu e que poderá se estender para outros países, ao desestabilizar aquele continente, lança seus reflexos malignos sobre todo o planeta. Um planeta que, já se sabe, ameaçado pelo aquecimento global e pela fome que se alastram. Não precisamos sequer sair de nosso país para nos darmos de cara com crises tamanho família.

         Na Amazônia, os crimes persistem, com cada vez mais intensidade. O desmatamento aumenta, as grilagem de terras se sucedem, os garimpeiros invadem terras indígenas, transformando toda aquela imensa região em terra de ninguém. Os traficantes de armas, drogas e minerais, do Brasil e dos países vizinhos, estabelecem verdadeiros enclaves, controlados nos moldes de guerrilha, aterrorizando as populações locais.

         O governo não tem, como vai ficando provado, o total controle dessas situações e dessa região continental. Temos ainda nossa guerra particular e até civil, no combate diário envolvendo a polícia e as organizações criminosas, com dezenas de milhares de mortos a cada ano. Não bastasse todo esse céu carregado de grossas nuvens cinzentas, as múltiplas ameaças de golpes, vindas de toda a parte, até daquelas instituições que deveriam cuidar da paz e da harmonia, fazem crescer o temor de que essa tempestade se transforme num furacão a varrer a todos, inclusive aqueles que mais torcem por sua chegada.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Quando se ouve um homem falar de seu amor por seu país, podem saber que ele espera ser pago por isto.

H. L. Mencken

HL Mencken. Foto: Ben Pinchot – Revista de Teatro, agosto de 1928

 

Lástima

Uma rua das mais antigas de Brasília jogada às traças. Na comercial da 407/406 Sul, uma imundice de assustar. Chorume, calçadas imundas, resto de lixo e pior, um aleijão. Um pilar pintado de preto, improvisado, inútil, desproporcional tirando a graça, bloqueando o vão livre. Esses puxadinhos das entrequadras parecem não ter fim. Veja as fotos a seguir.

 

Passeio

Por outro lado, a ciclovia que liga o Lago Norte à Asa Norte é uma beleza. Os pilares da Braguetto tomados de arte popular. Esse é um espaço a ser explorado.

 

História de Brasília

Termina fevereiro, e o ministério da Saúde não traz a vacina Sabin para Brasília. Vamos apelar agora para o dr. Fabio Rabelo. (Publicada em 01.03.1962)

Distopia à vista

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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Tirinha: Mafalda

 

Não é de agora que escritores, visionários, filósofos e outros pensadores da questão humana imaginam e preveem um mundo e uma sociedade distópica, onde os valores morais e éticos e todas as relações sociais saudáveis desabaram para um patamar no subsolo onde a opressão, o autoritarismo, a anarquia e a desagregação do indivíduo e das famílias passam a dominar o ambiente de todas as nações, fazendo, do exercício da vida, um tormento sem fim.

Obras literárias de grande valor como ‘1984’, de George Orwell, “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, “Guerra dos Mundos, de H.G Wells, e uma centena de outras buscaram descrever esse mundo futuro de pesadelo onde a tecnologia, que anteriormente foi pensada para libertar o homem dos trabalhos enfadonhos e infindáveis, agora passa a ser usada como ferramenta para controlar e oprimir as massas, criando um ambiente no qual todos são absolutamente vigiados e escravizados, do nascimento até a morte.

Mesmo as grandes metrópoles, outrora majestosas e desejadas, vão se transformando, dentro desse novo ambiente de miséria humana, em lugares decadentes e extremamente hostis. Ocorre que se, no passado, essas imagens e predições ficcionais foram utilizadas, por seus autores, dentro de um contexto que visava alertar e satirizar para a possibilidade das sociedades modernas transformarem o planeta num lugar de absoluto sofrimento, hoje, mais e mais, parece que estamos nos dirigindo ao encontro daquilo que mais temíamos: construindo, com nossas próprias mãos, a Torre de Babel distópica que poderá erguer o inferno sobre a Terra, antes mesmo do advento do apocalipse.

Alguém já afirmou que o único cenário que a mente humana não pode trazer para a realidade é aquele que não consegue elaborar mentalmente. Em outras palavras, e dentro das possibilidades infinitas de nossa espécie e que nos torna diferente de outros seres vivos, temos uma capacidade de projetarmos o futuro e nos encaixarmos nele, mesmo que esse futuro não seja do nosso agrado e nos coloque em rota de colisão contra a continuação da nossa própria espécie.

É essa dualidade humana que, ao mesmo tempo, a unir o Eros e o Tânatos, temos que arrastar para frente, num combate eterno contra nós mesmos, tão bem representado pela alegoria de Sísifo, condenado a empurrar para sempre, morro acima, uma gigantesca pedra que, ao atingir o topo, volta a rolar morro abaixo.

Essas reflexões vêm a propósito do fenômeno experimentado em boa parte do mundo e que parece decretar o que seriam os primeiros sinais da morte da cultura, em todos os seus aspectos. De certa forma, esse seria, para muitos, o prenúncio a indicar que estamos no limiar de um mundo distópico. Fechamento de teatros, museus, bibliotecas, livrarias, galerias de arte, cinemas e mesmo o que parece ser a falência da música, dos coros, das orquestras, da moda e tantas outras invenções do gênero humano, tão necessários para a evolução de nossa espécie e que nos tornam aquilo que buscamos ser: seres humanos.

Trata-se de um fenômeno que vai acontecendo não apenas por indução da pandemia, mas da própria condição atual de todos nós, terráqueos, preocupados e envoltos em nossas revoluções internas, enquanto destruímos o planeta e todo o seu bioma. Escondidos em nossas cavernas modernas, fugimos do vírus externo enquanto, por toda a parte, as lideranças políticas vão assenhorando da máquina do Estado, transformando nossas instituições e criando outras à imagem e semelhança de seus propósitos.

Ao romper a barreira da cultura, estarão abertas as brechas para o alagamento total de nossa civilização, já abalada pelos esforços contínuos de destruição das famílias e o que resta do ensino público.

Enquanto permanecemos mergulhados em nosso sono de hibernação, um mundo distópico vai sendo erguido bem defronte de nossas casas.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Os romances distópicos ajudam as pessoas a processar seus medos sobre como será o futuro; além disso, eles geralmente mostram que sempre há esperança, mesmo no futuro mais sombrio.”

Lauren Oliver, escritora norte americana

Lauren Oliver, 2016. Foto: wikipedia.org)

 

Gestão

Depois do elogio feito à farmácia de alto custo, o que acontece hoje é que não previram o final do contrato com a empresa que entregava os medicamentos por motoqueiros. Quem recebe os remédios são pessoas de saúde vulnerável, daí a necessidade da entrega em domicílio. Resultado: na estação do metrô na 102 sul, a fila é grande com pessoas que não precisariam estar ali se houvesse uma administração competente.

Foto: saude.df.gov

 

Que presente

Acompanhar cada passo do PSOL é uma tarefa difícil para quem ainda preza pela instituição familiar. Desconstruir a biologia, forçando meninos e meninas, crianças ainda, a serem sugestionados a trocar de sexo é um escândalo plantado, onde a tempestade não vai ser colhida por essa geração inconsequente. Um partido que desconstrói trabalha com escombros.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O Doutor Tancredo Neves mandou dizer que a reunião do Conselho de Ministros foi adiada, porque ele precisava receber o chanceler do México. Se não passar ninguém pelo Rio terça-feira próxima, haverá reunião em Brasília. (Publicado em 19/01/1962)