Os desafios do crescer e multiplicar

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Ilustração: Arthimedes / Shutterstock.com

 

Em 2023, a população mundial atingirá a surpreendente marca de 8 bilhões de pessoas. Segundo os cientistas que analisam os impactos que uma massa humana dessa magnitude provoca sobre o ambiente, esse número é demasiado para o planeta, que vai experimentando o fim progressivo de seus recursos naturais. Ao mesmo tempo em que a taxa demográfica mundial explode, a população vai migrando para os grandes centros urbanos.

Até 2030, a maioria da população mundial estará se concentrando nos centros urbanos, aumentando, assim, assustadoramente, as emissões na atmosfera de gases de efeito estufa como o carbono. Com isso, haverá a necessidade, cada vez maior e até vital, em tornar as cidades mais sustentáveis e mais adequadas aos novos desafios ecológicos exigidos por num mundo densamente povoado e complexo. Até 2030, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a população deve chegar em 8,5 bilhões. Nessa mesma época, o Brasil deve atingir, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), seu pico de crescimento demográfico, ficando com, aproximadamente, 207 milhões de habitantes.

Parte do mundo, inclusive o Brasil, já se prepara para essa nova realidade. Para isso, foi criado, no ano de 2015, a Cúpula das Nações Unidas, reunindo 193 países que decidiram, em comum acordo, estabelecer uma mega agenda de compromissos com 17 objetivos ambiciosos a serem conquistados até 2030, subdivididos em outras 169 metas, a fim de superar os desafios de um novo desenvolvimento, todo ele voltado para o crescimento sustentável global.

Na linha de frente, ficaram os desafios sociais e ambientais, guiando o restante, todos eles interdependentes e caminhando juntos. Desse modo, foi decidido que os países que celebraram esse acordo teriam, em outros desafios, que erradicar a pobreza; implementar uma agricultura sustentável e que acabe com o flagelo da fome, propiciando a chamada segurança alimentar para todos; assegurar saúde e bem-estar para todos e para todas as idades; promover uma educação de qualidade inclusiva e universal. Dentre esses objetivos, inclui-se ainda medidas que, para muitos, ainda são polêmicas como a garantia de igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas; garantir também a disponibilidade de água potável e saneamento básico para todos; assegurar o acesso à energia limpa, renovável e barata para todos; promover o crescimento econômico com trabalho decente e inclusivo para todos; construir infraestrutura resiliente e promover a industrialização sustentável, com fomento para a inovação; redução, das desigualdades dentro dos países; tornar as cidades comunidades sustentáveis e seguras; assegurar padrões responsáveis de consumo; tornar urgente o combate às mudanças climáticas; conservação dos oceanos e dos recursos hídricos; proteção e recuperação da vida terrestre com a preservação de florestas e combate a desertificação; promoção de sociedades pacíficas, com acesso à justiça; e, por fim, o fortalecimento das parcerias para a revitalização global.

Para os cientistas e pesquisadores que estão envolvidos nesses projetos, os desafios a serem enfrentados são imensos e não terão um término para sua execução total, ainda mais quando se sabe que, até pelo menos o ano de 2100, a população continuará aumentando. Com isso, fica claro que, até 2100, o crescimento populacional será o maior de todos os desafios enfrentados pela humanidade.

 

 

A frase que foi pronunciada:   

“Nos próximos dez anos, prevejo, o convencional movimento ambiental que reverterá sua opinião e ativismo em quatro áreas principais: crescimento populacional, urbanização, organismos geneticamente projetados e energia nuclear.”

Stewart Brand

Stewart Brand. Fotografia: Larry Busacca/Getty Images

Realidade

Nessa semana, duas mangueiras foram derrubadas na 305 sul, em nome da segurança e estética. Aquela superquadra traz um silêncio assustador. Nos primeiros anos da capital da República, o barulho da meninada brincando era música constante. Bicicleta, patins, futebol, não faltava diversão. Hoje, a violência, o medo, os perigos iminentes não permitem mais o direito de ir e vir das crianças. As experiências da infância estão diretamente ligadas a computadores e tablets. Não foram só as mangueiras que morreram.

Inauguração da praça 21 de_Abril, na Asa Sul DF 1993. (Foto: Arquivo Público do Distrito Federal/Fundo Novacap)

Fica esperto!

Um anúncio chama a atenção mundial. A iniciativa do ministro Oliver Dowden, do Parlamento Inglês, faz o globo terrestre ficar atento. O governo britânico deu ordem para a retirada de todas as câmeras de vigilâncias chinesas que estejam em edifícios que estejam relacionados com a segurança do país.

Oliver Dowden. Reprodução: news.sky.com

História de Brasília

É lamentável que o plano educacional de Brasília, em tôda a sua plenitude, não seja seguido, mas já que está assim, ninguém pode deixar ir tudo de águas abaixo. É preciso haver uma solução, e esta, pelo menos, foi a apresentada. (Publicada em 13.03.1962)

Só a educação pode salvar o país da corrupção

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Charge: ciceroart.blogspot.com

 

         Sempre se ouvia do filósofo de Mondubim: “Ladrão de tostão é também ladrão de milhão”, ou “Ladrão endinheirado não morre enforcado”. Em homilia famosa, intitulada “Sermão do Bom Ladrão”, Padre Antônio Vieira já alertava, no século XVII, para esse problema que, de alguma forma, encontraria, no Brasil Colônia, um paraíso para seu pleno desenvolvimento: “os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.”

         Foi a partir do estabelecimento do marco civilizatório por essas bandas, em pleno período colonial, que a miscigenação das raças e etnias, necessárias para o processo de colonização dessas vastas porções de terras no novo mundo, associadas a um tipo específico de exploração intensa das riquezas, feitas por mãos escravas, num tempo em que leis e direitos só beneficiavam as classes dominantes, que a corrupção encontrou terreno fértil para prosperar.

         Da formação original do Brasil até o nosso tempo, não há período algum onde essa praga não tenha fincado suas unhas. Acreditem: há mais de cinco séculos, essa terra tem sido saqueada sem descanso. Espantoso é notar que o país tenha sobrevivido a essa rapinagem sistemática por tanto tempo, e mesmo no século XXI, quando veio à tona o maior e mais volumoso caso de corrupção de todos os tempos, ainda se avistam, pelas classes políticas, mais e mais recursos públicos que podem ser saqueados sem cerimônia, sob o olhar complacente dos tribunais.

          A solução para esse mal histórico poderia encontrar alguma saída mais segura e duradoura através de um processo intenso de educação de qualidade para todos. Haveria alguma relação visível entre o modelo de educação pública seguido pelo Brasil nos últimos tempos e o alto grau de comprometimento das grandes empresas nacionais em práticas de corrupção, mostrado pelas investigações correntes do tipo Lava Jato?

         Se, à primeira vista, estas questões parecem dissociadas umas das outras, observadas mais de perto, o que se verifica, contudo, é que, na origem dos modelos do comportamento reprováveis seguidos pelas empresas e por  suas lideranças, acham-se enraizados, também, posturas e arquétipos herdados lá trás, ainda nos primeiros anos de escola. Não que o modelo de educação tenha contribuído, de forma ativa para formar cidadãos insensíveis às boas práticas. Mas o modelo de educação, seguido em nossas escolas, de alguma forma tem sido, para usar uma expressão corrente, leniente nos assuntos relativos à formação ética, deixados de lado e suplantados por outros aspectos de natureza mais informativos.

         Em outras palavras, nossas escolas têm dado relevo e ênfase apenas aos conteúdos, relacionados na grade curricular, relegando, a segundíssimo plano, a parte formativa relacionada diretamente ao comportamento humano e baseado nos princípios da ética e das boas práticas. Ensinam matemática, mas fecham os olhos para os deslizes de comportamento dos alunos no dia a dia, e ainda acabam por estimular estas más condutas, ao não exercerem, de fato, a autoridade e a disciplina, assuntos que, nos dias correntes, transforam-se em verdadeiros tabus. A falsa crença de que liberdade sem limites serve aos propósitos de uma escola moderna, tem mostrado seus resultados. O crepúsculo paulatino da autoridade do professor, como indutor principal do processo educativo, acabou por ceder lugar a um modelo de escola onde os alunos passaram a ser considerados soberanos e únicos atores de seus destinos. A partir desse ponto, já se prenunciavam tempos difíceis à frente. As revelações trazidas à tona pela sequência de  investigações da polícia e do Ministério Público e, posteriormente, a implementação com a  Lei Anticorrupção de 2014, estão forçando agora as empresas brasileiras a se ajustarem a um novo tempo, onde a  transparência e as boas práticas, não só nas relações humanas, mas inclusive com o próprio meio ambiente, são elementos fundamentais para se manterem vivas no mercado.

         Essa adoção tardia do modelo de Compliance nas empresas, obrigando-as a agir em conformidade com as normas da ética e da transparência, reflete o descaso com que nosso sistema de educação e ensino tem tratado do assunto. É possível que o corrupto de hoje, flagrado e algemado pelas autoridades, exposto a humilhação pública, tenha sido outrora um bom aluno em matemática ou biologia. Mas é quase impossível que tenha sido educado para respeitar o próximo e o que pertence a cada um. O que operações como a Lava Jato demonstraram na prática é que nossas elites dirigentes, e todos aqueles que se vêm hoje implicados em rumorosos casos de corrupção, podem ter frequentado escolas de ponta, mas não aprenderam nada, não esqueceram nada.

         Mesmo que se acredite que a formação histórica e atípica do Brasil tenha favorecido a germinação das sementes da corrupção, o fato é que, ao longo de sua evolução, jamais houve um esforço sincero, vindo de cima da pirâmide social, capaz de colaborar para o fim dessa prática.

A frase que foi pronunciada:

“Nenhuma das principais questões que a humanidade enfrenta será resolvida sem acesso à informação.”

Christophe Deloire

Christophe Deloire. Foto: Damien Grenon / behance.net

 

História de Brasília

Como novas escolas não foram construidas, e como a necessidade de maior número de maior número de classes é evidente, as autoridades cegaram à conclusão de que o melhor aproveitamento de salas e de professôres seria solução. (Publicada em 13.03.1962)

Retrovisor embaçado

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Charge: Newton Silva

          Vinte anos terão se passado, desde que o primeiro ex-operário subiu a rampa do Palácio do Planalto. Com Lula, chegaria, também ao poder, o primeiro governo de orientação esquerdista. Dessa experiência histórica, desejada por muitos que ainda creditavam esperanças de igualdade plenas nessa vertente política, ficou, ao lado de uma grande decepção, a constatação de que o país havia retornado ao fundo do poço, depois de ser brevemente resgatado pela engenharia econômica do Plano Real.

         De lá para cá, o Brasil foi do céu ao inferno num átimo. O que restou, talvez, de mais proveitoso dessa experiência frustrada, foi o aprendizado de que honestidade e eficiência na gestão do Estado não são atributos exclusivos dessa ou daquele matiz ideológico, mas advém unicamente da escolha livre e sensata de brasileiros conscientes da importância do voto.

         Num balanço rápido, o que temos, além do encarceramento da cúpula que governou o Brasil, e da mais profunda depressão econômica já vivida pelos brasileiros, são dúvidas e incertezas sobre os destinos do país. Das inúmeras consequências negativas dessa experiência que se quis “revolucionária” nos moldes dos anos sessenta, ficaram os 14 milhões de brasileiros de todas as idades, que vagam pelas cidades em busca de empregos, o desmantelamento das instituições, a descrença geral nas elites dirigentes e, talvez, a mais nefasta de todas as heranças, que é a desesperança dos jovens no futuro do país. Experiências vindas de outras partes do globo em outras épocas ensinam que qualquer país que assiste a debandada de sua força jovem sofre muito mais para recuperar sua pujança e encontrar os trilhos da história. Pesquisas da época apontavam que, se pudessem, 62% ou quase 20 milhões dos jovens brasileiros iriam embora do país em busca de novas oportunidades e qualidade de vida, o que havia, em números expressivos, era o retrato sem retoques de um processo de profunda desilusão que tomou conta das nossas novas gerações.

         Essa situação se agravou ainda mais, quando a mesma pesquisa, feita pelo Datafolha, demonstrava que, mesmo a população adulta, que já fincou raízes econômicas no país, nada menos do que 43%, expressaram desejo de também deixar o Brasil. Para muitos nacionais, esse desejo não ficou apenas na intenção. O número de pedidos nos consulados e embaixadas de países como Estados Unidos, Canadá, Portugal e outros não paravam de crescer e já somavam milhares de pessoas que voluntariamente almejavam ir embora, em busca de uma nova vida em um lugar mais tranquilo e promissor.

         Essa vontade, manifestada por milhões de brasileiros, de deixar tudo para trás, virando estrangeiro, num país longínquo, é, sem dúvida, a mais patente e perniciosa consequência advinda da experiência vivida pelos nossos conterrâneos, a partir de 2003, e que ainda hoje rende seus frutos amargos e dissolutos.

 

A frase que foi pronunciada:

“O óbvio dos óbvios. Uma democracia não pode ser instaurada por meios democráticos: para isso ela teria de existir antes de existir. Nem pode, quando moribunda, ser salva por meios democráticos: para isso teria de continuar saudável enquanto vai morrendo. O assassino da democracia leva sempre vantagem sobre os defensores dela. Ele vai suprimindo os meios de ação democráticos e, quando alguém tenta salvar a democracia por outros meios — os únicos possíveis –, ele o acusa de antidemocrático. É assim que os mais pérfidos inimigos da democracia posam de supremos heróis da vida democrática.”

Olavo de Carvalho

Foto: Reprodução

 

Repita!

Passeando pelo Instagram, percebe-se que o monitor ativa com algumas palavras-chaves o título: “O vencedor da eleição presidencial foi declarado. Veja os resultados oficiais no site do TSE.” (Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

 

Impressionante

Águas Claras não é cidade para estranhos. Sinalização inexistente. Placas de endereço em hieróglifos. Condução do trânsito instintiva. Carros na contramão da via principal colocam vidas em risco. Faltam semáforos, mesmo que intermitentes, para dar passagem alternada lado a lado. Pistas de saída para kamikazes.

Foto: Renato Alves/Agência Brasília

 

Só notícia boa

Ouvindo a avó cantar nos eventos familiares, o neto resolveu mostrar o talento da idosa na rede social. Plantou e colheu um Grammy Latino para a nova cantora cubana de 95 anos de idade, dona Ângela Alvarez.

 

Ciência & Emoção

Foi uma imagem impressionante. Neymar surpreendeu um garotinho internado no hospital, com câncer. Alguns anos depois, viu pelo vídeo o mesmo menino alegre, cabeludo, brincando e agradecendo a surpresa que o alegrou naqueles tempos difíceis. O jogador caiu no pranto.

 

História de Brasília

Ocorre isto: das quarenta horas semanais trabalhadas pelas professôras, vinte eram destinadas à aulas, e 20 para a preparação, correção de exercícios, estudos dirigidos e atividades complementares. (Publicada em 13.03.1962)

O evitável mundo novo

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Ilustração: andreassibarreto.com

 

          Quer se queira ou não, chegará um tempo em que a interligação instantânea dos meios de comunicação, propiciada pelos avanços na tecnologia de computação e da própria Internet, ao unir o planeta numa só e pequena aldeia global, irá impulsionar os dirigentes políticos e as grandes instituições em busca de um governo único, tal como anunciado hoje pelos chamados globalistas.

         Trata-se de um futuro distópico que assusta muita gente e que trará, como consequências diretas, a perda da identidade das nações. O que se anuncia é o advento do grande reset, tal como foi proposto pelo fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, em 2020. Nesse ponto, os entendidos desse tema concordam que o desenvolvimento da computação quântica, que agora começa a mostrar seus resultados, terá um papel fundamental nessa empreitada global.

         Especialistas e pesquisadores de todo o planeta e do Brasil, que ultimamente vêm analisando as possibilidades geradas pelo advento do mundo digital na organização das sociedades, vislumbram, por detrás do enorme sinal de interrogação que vai escondendo a realidade, a possibilidade de o mundo atual estar caminhando, a passos largos, ao encontro do Grande Irmão onisciente conforme delineou George Orwell, no romance 1984.

         Para países dominados ainda por um fortíssimo e antigo sistema burocrático, como é o nosso caso, comandado pelo Estado, com o auxílio de cartórios e outras instâncias que sobrevivem justamente da complicação e guarda dos trâmites de documentos e processos, a possibilidade de estarmos rumando em direção a uma nova e inusitada forma de governo do tipo Datacracia parece cada vez mais real e inexorável.

         A transformação paulatina da gestão pública em algo tecnocrático, impessoal e dominado por nova burocracia digital, ao dificultar o acesso direto dos cidadãos aos responsáveis pelo governo, poderá retirar, dos gestores públicos, a responsabilidade e até a imputabilidade por suas ações. Nesse caso, as responsabilidades por qualquer ato lesivo ao cidadão, decorrente da labiríntica burocracia, poderá caber unicamente ao “sistema”, ou seja, a um “ser” virtual, impossível de ser levado fisicamente aos tribunais.

         Para um país como o Brasil, atalhado por uma burocracia endêmica, herdada ainda da fase colonial, as ameaças desse processo de digitalização são ainda maiores e mais preocupantes do que em outras partes do mundo. O antropólogo francês Levi-Strauss costumava dizer que o Brasil era um caso único de país que passou diretamente da barbárie à decadência, sem conhecer a civilização. No nosso caso, apanhados de surpresa por um mundo em processo rápido de informatização digital, corremos o risco de adentrarmos totalmente despreparados numa nova era, comandada por programas de computadores, sem antes termos resolvido o problema histórico da burocracia onerosa.

         E para não renunciarmos nem uma coisa, nem outra, ao invés de eliminarmos, pura e simplesmente, todo e qualquer traço de burocracia, vamos em busca de digitalizar a burocracia existente, dando nova vida e nova dinâmica aos diversos cartórios. Uma atividade predadora que já deveríamos ter eliminado a muito tempo está sendo turbinada, dando nova vida a um sistema parasitário que se beneficia, há séculos, do descaso do Estado, de quem é sócio na criação de dificuldades e na venda de facilidades.

         A Datacracia que seria um governo comandado das profundezas do oceano digital, aliado aos traços já conhecidos de casos sequenciais de corrupção avassaladora, poderia produzir, entre nós, uma espécie de Frankenstein tão sui generis como extremamente perigoso para os cidadãos. Aliás, o próprio status de cidadão, com todos os seus direitos e deveres, conforme conhecemos hoje, deixaria de existir, substituído por um código sequencial de algorítimos, só inteligível por máquinas sofisticadas, instaladas nas nuvens distantes. As teorias e até a prática na consecução do grande reset falam de um tempo muito próximo, em que o globalismo financeiro, com a instituição de um Banco Central Mundial, trará um controle severo a toda e qualquer movimentação de dinheiro eletrônico, eliminando, do sistema, toda e qualquer movimentação não de acordo com as novas normas globais.

         Será esse um tempo em que a palavra “Sistema” passará a ganhar um status de grande irmão onipresente, sendo que todo aquele que for apontado como suspeito, ou estranho a essa nova ordem, sofrerá as penalidades draconianas previstas, sendo literalmente deletado do “sistema”, ou, como se dizia nos velhos tempos: virará adubo de planta. Quem viver verá.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A fim de se adaptarem nestas organizações, os indivíduos viram-se, eles mesmos, forçados a se desindividualizarem-se, renegaram a sua diversidade nativa, e se conformaram com um modelo padronizado, fizeram o máximo, em suma, para se tornar autômatos.”

Aldous Huxley

Foto: biography.com

 

História de Brasília

A situação das professôras, com relação ao horário de trabalho não tem nada de anormal. O horário antigo era de 40 horas, e passa, agora, para 36. (Publicada em 13.03.1962)

Estado e ética

Publicado em Deixe um comentárioÍntegra

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Congresso Nacional. Foto: EBC

 

          Dizer que todos os cidadãos de um país estão aptos para a participação política é uma coisa. Outra diferente é afirmar que todos os cidadãos estão aptos para assumir o governo e de lá adotar as políticas que a nação anseia. A construção de uma democracia requer, desde seus primórdios, que haja, no seio da sociedade, uma comunidade moralmente boa.

         Esse pré-requisito é ainda mais cobrado daqueles que, por ventura, vierem a manifestar o desejo de governar. E é aí que a porca torce o rabo. É impossível se alcançar uma pacificação social, pressuposto necessário para toda democracia, quando se verifica que aqueles grupos que apoiam cidadãos sem escrúpulos políticos e que recorrem a instrumentos imorais, possuem os mesmos direitos políticos que quaisquer outros grupos dentro da sociedade.

         Tal impasse só parece ter solução adequada, quando os instrumentos da justiça entram nessa questão em busca de balizamentos legais que tornam uma e outra vontade, favoráveis ao estabelecimento da paz e da harmonia. Mais do que coerção, o Estado deve buscar e fazer prevalecer os valores e virtudes democráticas, porque sem elas não pode haver coesão social. O Estado, em si, é uma construção amoral e não imoral como pregam alguns. Isso quer dizer que as virtudes e vícios encontradas no indivíduo não podem e não devem ser transferidas para essa instituição. Para alguns, o Estado, mesmo sendo uma construção humana, é um ente inumano e indiferente a sentimentos e outras manifestações de ordem moral. Nesse sentido, qualquer um aceito no leme do Estado, desde que seu comportamento não afete a harmonia e a serenidade entre os cidadãos. Mas, em se tratando da correlação entre o ser humano e o Estado, é preciso estabelecer antes, alguns parâmetros que façam os cidadãos perceberem que as ações do Estado são justamente aquelas que escolheriam para decidir fatos corriqueiros em seu cotidiano.

         Os princípios da Declaração dos Direitos Universais do Homem, aceitas mundialmente, não devem ser o ponto de partida e a essência a ser buscada quando da construção de um Estado moderno e eficiente. De alguma forma essa capacidade do ser humano em cuidar de si e dos seus, deve ser também transferida ao Estado, dando a essa entidade de agir conforme esperam os homens, amparando-os e defendendo cada um quando necessário. Claro que isso é o ideal. Mas o Estado desconhece o que seja ideal e age segundo o desejo daqueles que estão com a mão no leme. E é aí, que a porca torce o rabo pela segunda vez. Nesse ponto temos que os vícios e as virtudes, quer queiramos ou não, são repassados ao Estado e deste para os cidadãos. Aqui verificamos que um mau Estado é sempre aquele que é comandado por indivíduos maus. O que não pode ser descartado aqui, à despeito de um Estado sem alma ou sentimentos, é que a ética se constitui no principal leitmotiv do Estado. Sem ela, nem o mais avançado modelo de Estado não possuirá forças para avançar e ser o que deve ser.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Na longa história do mundo, apenas algumas gerações receberam o papel de defender a liberdade em sua hora de perigo máximo. Eu não me esquivo dessa responsabilidade – eu a aceito. Não acredito que nenhum de nós trocaria de lugar com qualquer outro povo ou qualquer outra geração. A energia, a fé e a devoção que trazemos para este empreendimento iluminarão nosso país e todos que o servem – e o brilho desse fogo pode realmente iluminar o mundo. E assim, meus compatriotas: não pergunte o que seu país pode fazer por você – pergunte o que você pode fazer por seu país.”

John F. Kennedy, 1961

John Fitzgerald Kennedy. Foto: bbc.com

 

Agência Câmara

Nessa semana, a Câmara dos Deputados terá importante reunião na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. São denúncias entregues ao deputado Aureo Ribeiro, que, segundo ele, são “fatos de elevada gravidade”, e cabe a “envidar esforços para que os esclarecimentos sobre o conluio fraudulento sejam prestados, de maneira a coibir eventuais desvios de recursos públicos”.

Deputado Aureo Ribeiro. Foto: camara.leg

 

Firme e forte

Quando Michel Temer assumiu a Presidência da República, o Partido dos Trabalhadores parece ter esquecido de que ele era aliado e vice da chapa. Com declarações desastrosas do PT sobre alguns técnicos nomeados por Dilma e pelo vice Alckmin quando governava SP, é bom que a turma esteja preparada para uma alternativa que, por ventura, possa aparecer.

Michel Temer. Foto: Cesar Itiberê/PR

 

Tempo certo

Por falar nisso, bem lembram algumas linhas do livro As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano: “Quando as palavras não são dignas como o silêncio, é melhor calar e esperar.”

Foto: divulgação

 

História de Brasília

Com estas chuvas, a escola no barraco fica imprestável, e é até uma maldade manter as crianças naquele local. (Publicada em 13.03.1962)

Iluminado ao sol do Novo Mundo

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Foto: TV Globo/Reprodução

 

Somos apenas fracas projeções, ofuscadas por um tolo racionalismo. A verdadeira imagem e semelhança é abstrata, como abstrato e lúcido é o sentir. O capim ressequido, agitado pelos ventos de novembro, parece dizer adeus a todos que passam por esta estrada.

Uma ave se lança num voo incerto contra a luz do fim de dia e pousa na arquitetura sem ciência de um galho, cansada do seu voar sem rota. Vou até a janela. Um universo agita-se em frente com uma porção de esperança na Justiça, nas Leis, nas regras.

Elevo as mãos na altura dos olhos e traço uma linha que se estende paralela ao meio fio.

Os telhados nas superquadras, com antenas captando ilusões do ar, com trapos nos varais e com o céu talhado por centenas de fios elétricos, parecem decretar a morte da poesia.

Nada há nestes dias a não ser, ao longe, o se perder das vozes roucas.

Esses ventos úmidos secam a alma.

Corro para a rua num olhar mecânico reconhecendo o ócio dos dias de luta. Volto para o centro destas paredes e deixo o pensamento equidistante de tudo. Farta de saber que o mundo nada mais é que um velho e ilusório parque de diversões, com gente que, vendendo bilhetes, garantem breves prazeres aos ingênuos e aos maliciosos.

Tentam eclipsar o sol tornando as vistas e o desejo para um telhado suave, tangido pelo quedar da tarde. Vem o retorno da noite visto pelo cimo da rua, trazendo os matizes do céu habitado.

Por onde andaria a velha amiga Mariinha ou o primo Cláudio. A eles cabem os riscos celestes nas fotos que agarram a imagem pintada pelos anjos. Ou leem Zaratrusta, tocam flauta ou maldizem os indolentes e egoístas.

Riscando a terra naqueles dias, então muitos optaram por fazer sua trincheira, marcando sua posição nesse mundo de ninguém.

Ah! Como lembro de ti! Como um porto. Um cemitério de navios onde os mastros feito silhuetas tristes pelo sol nascente pareciam árvores a atravessarem o mar. Eram as correntes que, na bruma do cais, prendiam os sonhos idos. Repouse em ti o perfume das madressilvas. E seja esse céu candango, sem gaivotas, a calmaria no mar alto do Ceará.

Por que se mostram os astros aos líderes se a América dorme? Passamos absortos de um tempo. Com falas poucas. Com orelhas moucas.

Deitando os olhos até as linhas imaginárias do horizonte, ficamos a olhar para as pedras à espera de algum movimento. E assim não vemos os pássaros que se abalam no espaço.

Não conheces mais os arabescos antigos. E o rastro deixado pela lua nos telhados da cidade. Deixas de lado os sonhos que podiam ser teu acalento para correr atrás da justiça ou daqueles que não têm tempo para ti. São como as rochas que encerram os sonhos sem asas.

Outra noite se cai e o pensamento segue a estrada imensa.

A ursa maior se estende no céu e a lua crescente lança sua tênue luz no planalto. Cruza o amor ao país como uma sombra em abalar os sonhos dos que nada sabem e dormem.

Abro essas páginas ao vento. Com minha morte, virá o mar a salgar os versos antigos a tragar a espada cega da luta.

Sigo definhando como as solas, cujo único nexo é seguir. Antecipo assim a noite a cada pedaço de chão. Paro. Olho para o espaço e as formações de luz se tornam como guias, partindo das cores de um diamante.

Ouço ao longe que é fácil se confundir com o tempo. Sol ou farol jogam a luz no arco íris como se a chuva fosse a esperança da terra. Como encarnação da música, cantam as águas em mini ondas no lago Paranoá. Vivendo apenas alguns compassos, não ficam para ver o resultado de tanta cantoria.

E a noção tão cheia de ciência das coisas é redimida, quando as nuvens, atendendo ao canto, desinteressadamente lançam chuva a terra.

No livre arbítrio do verso, Deus deu a vida e o homem, na busca da harmonia com ela, concebeu a forma que lhe convinha.

Grossas nuvens vagueiam sobre a cidade cinzenta. O olhar acompanha o movimento leve dos pássaros. Chove e estas águas trazem um frescor antigo. Como os suaves arcos de um beco cheio de estórias. O céu é recortado pelo oscilar sinuoso dos telhados, leves pássaros. Suaves arcos de um frescor antigo, na prosaica arrumação das vielas.

Que tudo fique no seu lugar, sem protesto.

Teço os dias indiferente, bordando sóis e luas sempre diversos, indiferente à malha que traça para mim a noite enorme e sem estrelas.

Esqueço o labor dos astros.

 

A frase que foi pronunciada:

“O único ditador que eu aceito é a voz silenciosa da minha consciência.”

Mahatma Gandhi

Foto: Rühe/ullstein bild/Getty Images

 

História de Brasília

Providências, também, estão faltando para que sejam ligados esgotos, luz e água para a escola nova, que está entregue desde novembro. (Publicada em 13.03.1962)

Um novíssimo tempo à frente

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Charge: ibamendes.com (Quinho)

Caso o demiurgo de Garanhuns venha a ser empossado, como ainda acredita sua caterva, estarão jogados por terra tudo o que se acreditou até hoje em matéria de ética, de valores morais, de leis e do que seja minimamente correto e aceito por uma sociedade civilizada. Estarão lançadas também, em terreno baldio, as crenças religiosas, que pregam conceitos simples como a virtude e o bom exemplo vindos de qualquer liderança.

Do mesmo modo, estarão postas de lado exigências básicas para a posse de um cidadão em posto de grande relevância para a segurança e o futuro da nação. Deixarão de existir também, por total descabimento e equilíbrio, quaisquer outros pré-requisitos para a ocupação de cargos nesse triste Trópico. O próprio conceito de República, que prega o respeito à coisa pública, como condição primeira para o exercício de função, perderá seu sentido e razão de ser.

É preciso notar, aqui nesse tema que, do ponto de vista das leis, se existe um culpado pela derrogação de tudo o que se acreditava até aqui como aceito legalmente, por certo, esse culpado está no Poder Judiciário. Não na instituição propriamente dita, mas em boa parte de seus membros, que comungam, abertamente, dos mesmos valores políticos e ideológicos do ex-apenado.

Nas escolas públicas, ou naquelas que não adotam e desdenham currículos ligados à ética, será preciso a reformulação de toda a grade de disciplinas que abordem temas ligados ao comportamento humano, dentro e fora do contexto social. Nas igrejas ou naquelas em que esse caso rumoroso não foi capaz de demover os clérigos da distopia que se anuncia, perderão sentido toda e qualquer pregação que aborde temas como os valores humanos, bem como as temáticas que buscavam, outrora, ensinar que o homem foi concebido a partir de similitudes luminares com o próprio Criador.

O que dirá então da educação dos pequenos no seio da família? Conceitos e ensinamentos sobre a retidão moral e o respeito às leis dos homens e de Deus perderão seus propósitos. O exemplo, diziam os antigos, num tempo em que os valores humanos eram tidos como essenciais para a vida em sociedade, vem de cima.

O que é feito, no alto da pirâmide social, é replicado em sua base. Mas é na sociedade brasileira, junto aos jovens, que esses maus exemplos de permissividade para os altos escalões da República irão provocar os mais terríveis e duradouros estragos. O que se anuncia com essa posse impossível é o desregramento total da sociedade, com todos os ordenamentos legais deixando de existir e com a inauguração de um novo tempo, em que o vale tudo e o salve-se quem puder serão a regra geral.

Aos que insistirem em permanecer apegados aos valores do passado, as novas leis cuidarão de enquadrá-los como conservadores, direitistas e outras acusações, portanto, não aceitos nessa novíssima sociedade. Para uma nação, em que os legítimos valores de humanidade estarão descartados, fora de moda ou contra as novas leis, restará, como opção, a rendição aos novos tempos ou o aeroporto.

 

A frase que foi pronunciada:

“Na longa história do mundo, apenas algumas gerações receberam o papel de defender a liberdade em sua hora de perigo máximo. Eu não me esquivo dessa responsabilidade – eu a aceito. Não acredito que nenhum de nós trocaria de lugar com qualquer outro povo ou qualquer outra geração. A energia, a fé e a devoção que trazemos para este empreendimento iluminarão nosso país e todos que o servem – e o brilho desse fogo pode realmente iluminar o mundo. E assim, meus compatriotas: não pergunte o que seu país pode fazer por você – pergunte o que você pode fazer por seu país.”

John F. Kennedy, 1961

John Fitzgerald Kennedy. Foto: bbc.com

 

Agência Câmara

Nessa semana, a Câmara dos Deputados terá importante reunião na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. São denúncias entregues ao deputado Aureo Ribeiro, que, segundo ele, são “fatos de elevada gravidade”, e cabe a “envidar esforços para que os esclarecimentos sobre o conluio fraudulento sejam prestados, de maneira a coibir eventuais desvios de recursos públicos”.

Deputado Aureo Ribeiro. Foto: camara.leg

 

Firme e forte

Quando Michel Temer assumiu a Presidência da República, o Partido dos Trabalhadores parece ter esquecido de que ele era aliado e vice da chapa. Com declarações desastrosas do PT sobre alguns técnicos nomeados por Dilma e pelo vice Alckmin quando governava SP, é bom que a turma esteja preparada para uma alternativa que, por ventura, possa aparecer.

Michel Temer. Foto: Cesar Itiberê/PR

 

Tempo certo

Por falar nisso, bem lembram algumas linhas do livro As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano: “Quando as palavras não são dignas como o silêncio, é melhor calar e esperar.”

Foto: divulgação

 

História de Brasília

Com estas chuvas, a escola no barraco fica imprestável, e é até uma maldade manter as crianças naquele local. (Publicada em 13.03.1962)

Há artes na guerra

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Foto: Ueslei Marcelino – 15.11.2022 / Reuters

 

Em tempos de patrulhamento e cerceamento do livre pensar, o cuidado com o que é dito e escrito deve ser redobrado. Muitos chegam ao ponto de censurarem a si mesmos. Outros acreditam que o melhor é ficar calado e de olhos fechados. Há ainda os que se vergam até ao chão, concordando com tudo o que as autoridades dizem e fazem, mesmo que, com isso, fique com o traseiro ridiculamente exposto. De fato, o indivíduo sem liberdade de pensar e expressar-se é, em si, um ser ridículo e manietado, a quem foram-lhe cortadas as asas e retirada a alma.

Mas, para aqueles aos quais a dignidade é sempre um tesouro a ser conquistado, o livre pensar é tão importante quanto o ato natural de respirar. Essa é, contudo, uma virtude reservada apenas para aqueles que conhecem a si mesmo e, portanto, conhecem também seus inimigos.

Para tanto, não permitem que seus planos e ideias fiquem expostos, forçando seus algozes a permanecerem numa condição passiva, sobestando-lhes todos e quaisquer movimentos. Sabem se defender na escassez e atacar quando os ventos estão a favor. Para isso, recorrem a variadas táticas, utilizando-as de acordo com cada situação. Atacam e ferem com flores e poesia e adulam seus algozes com a ponta das baionetas e balas de metralhadora. Os milhões de olhos e ouvidos, postos a serviço dos tiranos, são trunfos que podem, um dia, serem também a razão do próprio fracasso.

Em tempos adversos como esses, é preciso esperar a hora certa de agir, desde que as oportunidades, por menores que pareçam, sejam agarradas, com vigor, à medida em que vão surgindo. Nada deve ser desperdiçado. É preciso reunir, num ponto da memória, todos os erros e falhas cometidas pelos tiranos, inclusive os próprios. É nesse memorial que pode estar os indícios e os caminhos para a vitória. É também preciso reunir, discretamente, forças dissidentes, penetrando, imediatamente, em cada brecha deixada pelos algozes. Em períodos de fechamentos políticos, a energia para agir só pode ser melhor aproveitada se a decisão e os alvos forem certos.

Em momentos como esse, em que a ética foi lançada para o espaço, saber de que lado está a verdade dos fatos nada muda. Melhor entrar no jogo. Uma vez tendo penetrado as muralhas inimigas, agir como quinta coluna, desfazendo o mal a partir de seu interior. Não acredite que, numa guerra suja, você não irá se sujar também. Nesse caso, pense na flor de lótus, que nasce do lodo mas mantém sua alvura intocável. Embora pareça absurdo, há, nesse exato momento, um trem da história esperando na gare. Pense sempre que há tanto valor heroico naqueles que pegam em armas, como naqueles que empunham a pena. Cada um no seu posto, de acordo com suas aptidões. O melhor de tudo é poder vencer esses que agora parecem atravancar caminhos de todos, sem a necessidade de luta. Tenha em mente que a raiva e a discórdia nunca são boas conselheiras. Melhor ainda é lutar por amor à família, aos costumes e pela terra em que nasceu e cresceu.

A ira é uma terra desolada. As estratégias levam às táticas e não o contrário. Não por outra razão, o pensamento é uma arma poderosa. Entre o poder e a inteligência, fique sempre com o segundo. Poder sem inteligência nada é. Retenha em sua mente a ideia de que a guerra só faz sentido se for feita em nome da paz. Guerra e paz se sucedem naturalmente, assim como o ato de inspirar e expirar. Escolha seus comandantes entre aqueles que sabem jogar xadrez com maestria. Tenha presente que a imaginação é também uma arma poderosa. Fique atento e jamais se esqueça daqueles que traem.

Lembre-se que a vitória ou a conquista é sempre uma obra coletiva. O ego é também um flanco aberto. A melhor guerra é sempre aquela que dura pouco. Os melhores combatentes são aqueles que reconhecem que as guerras só cessarão quando os homens mudarem a si mesmos.

 

A frase que foi pronunciada:

“No esporte você ganha sem matar, na guerra você mata sem ganhar.”

Shimon Peres

Imagem de Shimon Peres em 2016 — Foto: AFP

 

Música

A seguir, Neviton Barros apresenta seu primeiro concerto com os coros do Colby College. Nos Estados Unidos, há décadas, a formação musical de Néviton Barros chegou ao doutorado. Um pena o Brasil não valorizar um talento desses. E são muitos os nossos compatriotas, de músicos a cientistas, que desistiram de lutar por aqui.

 

Comédia

Em 2017, a então senadora Ângela Portela defendia a aprovação da PEC 10 de 2013, que acabava com o foro privilegiado. Na época, as estatísticas mostravam que menos de 1% dos réus com foro privilegiado eram condenados. A FGV fez um estudo, entre 2011 e 2016, onde apontava que, das 404 ações penais em julgamento, apenas 3 resultaram em condenação.

Senadora Ângela Portela. Foto: senado.leg

 

História de Brasília

Voltemos ao “Gavião”: a escola está em consertos, e dentro de uma semana, informa o cel. Marçal, a Mecol entregará a obra pronta, novamente. É preciso apenas que a Fundação Educacional mantenha um zelador, para evitar o que houve: meninos jogando futebol nas salas de aula, blocos carnavalescos fazendo evoluções no alpêndre, e crianças depredando as entradas das janelas. (Publicada em 13.03.1962)

Vai que

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Lula. Foto: Ricardo Chicarelli – 19.mar.22/ AFP

 

Ouvia sempre essa frase falada pelo filósofo de Mondubim: “O afoito come cru e fervendo. Felizmente queimará os lábios e a língua, o que o impedirá de falar antes de pensar”. Agindo desembaraçadamente como se fosse, de fato, o chefe do Executivo, o proprietário da legenda petista tem pressa.

Alguns de seus bajuladores falam até em pedir a antecipação da posse, se possível para ontem. Vai que o tempo e os desdobramentos do que acontece hoje nas ruas de todo o país atalhe seus projetos. É preciso, pois, mostrar serviço e agir em todas as frentes como se fosse aquilo que ainda não é. Vai que toda essa pantomima, acompanhada de perto pela torcida de boa parte da imprensa, consiga desviar as muitas dúvidas, que não cessam de aparecer. Não custa nada lembrar também o que repetia o filósofo de Mondubim: “A pressa é inimiga da perfeição e mãe do fracasso”.

Com uma estratégia dessa natureza, que parece forçar os acontecimentos, o negócio é não dar tempo para que os ventos mudem de rumo. Vai que a mudança na direção dos ventos obrigue aqueles que não possuem bússola ou direção a ficarem a meio caminho, parados no marasmo e na calmaria.

Para justificar tamanha correria, é preciso primeiro construir narrativas do tipo: “Nesses últimos quatro anos, o Brasil ficou estagnado”. Vai que o mundo, indiferente, acredite nessa hipótese. Há um modo para apressar a chegada do ano novo: sair correndo e gritando, sem parar, que esse dia chegou. Pode não resultar em coisa alguma, mas, ao menos, o tempo e o espaço serão percorridos de tal modo que, quando o dia chegar de fato, de tão exaustos, ninguém perceberá.

Vai que, por uma dessas incongruências da vida, esse tempo linear nunca aconteça. Ou passe a acontecer quando já se sabe ser tarde da noite. Outra característica da pressa é que ela impede a apreciação da paisagem em volta. Vai que, nessa paisagem, vislumbre-se o nervosismo de milhões de brasileiros agitando bandeiras do país. A pressa e a afoiteza ganham ainda mais contradições, quando se verifica que não é a velocidade imprimida e sim a direção que importa. Vai que, com essa correria, não se observe, a tempo, o sinal de rua sem saída ou o aviso de abismo à frente. A pressa, já ensinava o pai da História, Heródoto, gera o erro e a confusão. Por outro lado, é preciso ter em mente que mais proveitoso que a pressa é estar munido de meta. A ansiedade entorpece os sentidos.

Vai que, nessa destrambelhada correria, esse nosso distraído e agitado atleta esqueça de vestir as próprias calças e alguém grite: “ele está nu!” Vai que essa nudez lhe exponha a alma e todos passem a ver de que material é feita. O problema com a pressa é que ela gera promessas que não poderão jamais serem cumpridas. Ou por falta de lastro na razão, ou um tempo para reflexão. O que fica do trem que passa veloz é apenas a impressão de sua imagem que passou.

Vai que essa pressa toda seja um jeito inconsciente de não parar para pensar nas consequências que virão. Pode ser que não e tudo não passe de uma tentativa de correr atrás de todo o tempo perdido, na tentativa vã de reescrever um passado breve, como todo o passado, mas cheio de acontecimentos ruinosos que deixaram um rastro de escombros por todo o país. Vai que as pessoas fiquem sabendo que a pressa é também cega e parece correr num túnel escuro. Vai que tudo isso acabe sem sentido, bem na data que deveria começar.

 

A frase que foi pronunciada:

“Os homens ocasionalmente tropeçam na verdade, mas a maioria deles se levanta e sai correndo como se nada tivesse acontecido.”

Winston Churchill

Winston Churchill. Foto: wikipedia.org

 

Solidariedade

No Varjão, o Centro Social Comunitário Tia Angelina vai fazer uma festa de Natal para a criançada. Cestas básicas e panetones são bem-vindos como doação. Todas as crianças já foram apadrinhadas com material escolar. Quem quiser participar, a entrega das cestas básicas será até o dia 27 deste mês. A festa será no dia 9 de dezembro. Mais informações pelo número 34682480.

 

Erramos

Fundada em 2017, Bäckerei, que significa “padaria” em alemão, é o nome certo da confeitaria que fica no Brasília Shopping e não usa gordura trans nos produtos. Publicamos Bakery.

Foto postada por Kleber Porciuncula, no Google

 

Consumidor

Começa a ser uma alternativa muito importante para os brasileiros. As receitas de manipulação passaram a ter validade depois da aprovação do projeto da ex-senadora Ana Amélia. O controle é rigoroso e, para a manipulação, é preciso a receita médica e documento do paciente.

Ex-senadora Ana Amélia. Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

 

História de Brasília

O DFL andou cortando luz de diversas residências em Taguatinga. Não houve explicação para essa atitude. Fica, entretanto, constatado que não foi por falta de pagamento, mesmo porque o Departamento nunca cobrou uma única conta. (Publicada em 13.03.1962)

O labirinto do Fauno

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Foto: Adriano Machado/Reuters

 

          Ao longo de sua trajetória, do sindicato para a política, muitos estudiosos e especialistas dos labirintos históricos da sociedade brasileira buscaram entender ou decifrar o fenômeno por detrás do fundador e proprietário do Partido dos Trabalhadores (PT). Aqueles que chegaram mais perto de desvendar essa charada humana concordam se tratar aqui de uma verdadeira metamorfose ambulante, capaz de enfeitiçar gregos e romanos, com sua lábia maia e ao mesmo tempo melíflua.

         Trata-se aqui de um personagem que parece ir além de um Pedro Malazartes ou de um Macunaíma, o herói sem remorsos de nosso folclore. De fato, o que temos aqui, em carne e osso, é um ser mitológico, como Saci Pererê, por suas proezas e até mesmo pelo seu destino pessoal.

         Quem já teve a oportunidade de observar de perto as pinturas e os desenhos de Pablo Picasso (1881-1973), em que esse artista dedicou parte de sua arte em retratar a figura do fauno, por certo, a primeira vista já pode identificar certa semelhança física e facial entre essa figura da mitologia romana e o demiurgo de Garanhuns.

         Há, numa análise mais detida entre esses dois personagens, mais verossimilhanças do que assimetrias. Mais certo, para alguns mitólogos, seria aproximar essas semelhanças, misturando-se o folclore brasileiro, em que aqueles personagens aparecem, com a mitologia greco-romana do Fauno e de Pã. Essa comparação, um tanto exótica, ganha ainda mais sabor e densidade, quando esse amálgama de personas passa a transitar dentro do labirinto construído pela engenhosidade de seu ego perturbador.

         Mesmo a sua reentrada no cenário político, orquestrada por um conjunto de forças obscuras do tipo sobre-humanas, confere ao personagem que agora retorna das cinzas de metais óxidos, uma áurea mítica, capaz de reascender as fornalhas de Hades. Para os muitos detratores que acumulou ao longo de sua jornada, esse é, de fato, uma personificação da figura do fake moderno ou daquele que é sem nunca ter sido.

         Com sua flauta típica, que nesse caso se resume ao seu falatório, nosso Fauno, por sua proverbial parlapatice, encanta principalmente os representantes do povo, que esqueceram de representa-lo. Representantes que marcham alheios ao passado desastroso e indiferente ao futuro que virá na antessala do matadouro.

         Sua possível volta ao Palácio do Planalto marcará, também, o que pode ser descrito como “Labirinto do Fauno”, não o da ficção do cinema, mas o da realidade construída a muitas mãos, todas elas empenhadas em reconstruir, a partir da argila crua, o que seria a imagem ou um deus de barro pagão. O que o nosso fauno moderno enxerga em seu labirinto fechado é o que ele acredita ser a realidade de um país em volta. Sua cegueira, no entanto, o impede de compreender um país que agora fervilha e arde em toda a parte. Uma das cenas reais, que muito bem poderia retratar o que seria esse labirinto, foi dada por ocasião das manifestações populares que chegaram a cercar o Palácio do Planalto. Lá dentro, no terceiro andar, o chefe de gabinete da então presidenta afastava a cortina para observar, assustado, o povo agitado que tomava a Praça dos Três Poderes. Naquela ocasião, eles viam, por detrás da cortina do labirinto, o que seria o mundo real e em preto e branco.

A frase que foi pronunciada:

“A inocência tem um poder que o mal não pode imaginar.”

O Labirinto do Fauno

Cena do filme ‘O Labirinto do Fauno’ //Divulgação

 

Dica de leitura na Internet

Veja, a seguir, “Caminhos percorridos por Dr. Jorge C. Bleyer nos campos da medicina tropical e da pré-história brasileira.” Por Terezinha de Jesus Thibes Bleyer Martins Costa. Para ter acesso ao texto na íntegra, acesse o link: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/wv4vv49kn6cPgRqJ4DTs46H/?lang=pt.

Pioneiros

Mariana Nogueira é a primeira neta de Ariomar da Luz Nogueira. Arquiteto e urbanista, que trocava ideias com Oscar Niemeyer, quando a nova capital do país nascia e crescia. O Gama deve homenageá-lo com uma praça.

Ariomar da Luz Nogueira. Foto: Márcio Almeida

 

Qualidade

Pode ser que o cliente não ligue para isso, mas Mac liga. Com vasto conhecimento em gastronomia, o dono da Backerei, no Brasília Shopping, jamais usa margarina. Escolhe os ingredientes como se fossem amigos. Vale conhecer o lugar. Fica perto da Hihappy.

Foto postada por Kleber Porciuncula, no Google

 

Isso pode?

No alto do conjunto 8 da QI 13 do Lago Norte, é possível vislumbrar, no Setor de Mansões do Lago Norte, uma construção colossal, no meio do cerrado. Veja a foto a seguir.

 

Eu vi

Um atropelamento perto do Pão de Açúcar, no Lago Norte, teve um cenário um pouco diferente. Ao perceber que se tratava de um acidente, um carro estaciona apressado no local e um bombeiro que, provavelmente, voltava para casa desce do carro para atender a ocorrência até que os colegas chegassem com o socorro. Uma cena que emocionou. Assista ao vídeo a seguir.

 

História de Brasília

Horrível, simplesmente horrível, o trânsito em Taguatinga. Na Avenida principal o asfalto vai até menos da metade, e o restante não recebe nenhuma conservação. Mesmo que fôsse cascalho, mas se recebesse tratamento, não seria motivo para tantos carros quebrados. (Publicada em 13.03.1962)