Estado de graça

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Foto: issoebrasil.com

 

A frase segundo a qual o Estado nunca tolerou rivais funciona como chave interpretativa para compreender a forma como se estruturam, historicamente, as relações de poder e a relação do indivíduo com a autoridade pública. Não se trata de mera provocação teórica, mas de uma constatação repetida em diferentes momentos da história ocidental: sempre que o Estado se sente ameaçado ou desafiado pela emergência de instituições independentes, a sua reação imediata é expandir mecanismos de controle, vigilância e regulação. Esse movimento, que vai do monopólio da força à imposição de códigos normativos cada vez mais intrusivos, tende a sufocar a pluralidade institucional que deveria sustentar uma sociedade madura. Sob essa lógica, comunidades locais, igrejas, associações civis, empresas privadas, famílias e até o próprio indivíduo passam a ser vistos como potenciais competidores, e não como componentes essenciais de uma ordem social saudável, capaz de equilibrar liberdades com responsabilidades.

O fenômeno torna-se ainda mais evidente num contexto em que o liberalismo, não como slogan, mas como tradição filosófica e prática de limitação do poder, é tratado com desconfiança ou como inimigo a ser anulado. O liberalismo, com todas as suas limitações e contradições ao longo dos séculos, sempre serviu como barreira contra as tendências expansivas do Estado, oferecendo um conjunto de princípios orientados à proteção da autonomia individual, da propriedade privada, da livre associação e da independência das esferas civil e econômica. Não surpreende, portanto, que regimes ou governos hostis a esses valores tenham promovido, ao longo da história, a concentração de poder em níveis incompatíveis com a convivência democrática. O repertório de adversários é conhecido: mercantilismo, absolutismo, socialismo autoritário, imperialismos de diversas naturezas, protecionismos sufocantes e até práticas moralmente indefensáveis, como a escravidão. Todas essas estruturas, embora distintas entre si, compartilham uma raiz comum: a crença de que o Estado deve prevalecer sobre o cidadão e que a liberdade, quando existe, é concessão, e não direito.

A carga tributária opressiva, que recai especialmente sobre empresas produtivas e famílias, é apenas um dos sintomas mais visíveis desse processo. A cada novo conjunto de normas, decretos ou regulações, o Estado brasileiro reafirma uma tendência crônica de considerar o empreendedor como adversário, e não como parceiro no desenvolvimento nacional. A burocracia sufocante, aliada a um sistema judicial que frequentemente legitima decisões intervencionistas, aprofunda um ambiente de insegurança jurídica que afasta investimentos e desestimula a iniciativa privada. Essa lógica perpetua um ciclo perverso no qual o Estado, incapaz de garantir eficiência mínima em áreas essenciais como saúde, educação, segurança e infraestrutura, insiste, paradoxalmente, em reclamar para si ainda mais funções, mais recursos e mais poder.

Ao mesmo tempo, observa-se, no campo político, um discurso cada vez mais hostil à crítica, à divergência e à própria ideia de oposição. A democracia, para prosperar, exige espaços de contestação, circulação de ideias, pluralidade de vozes e instituições capazes de limitar o poder, sejam elas parlamentares, judiciais, mediáticas ou civis. Quando essas barreiras começam a ser enfraquecidas, seja por meio de estratégias de intimidação, seja pelo uso seletivo de órgãos estatais para fins políticos, instala-se uma atmosfera de medo e autocensura que lembra mais regimes de exceção do que repúblicas democráticas. Esse tipo de ambiente, já alertado por analistas internacionais, acende sinais de alerta sobre a saúde institucional do país e coloca o Brasil no radar de nações preocupadas com o avanço global das tendências liberais.

Não há o que discutir sobre a necessidade de políticas públicas robustas, mas sim a transformação do Estado em um agente que se autopromove a guardião exclusivo do bem-estar social, desconsiderando a importância das redes comunitárias, do capital social e das iniciativas privadas que, em democracias sólidas, colaboram para um equilíbrio saudável entre solidariedade e autonomia.

A preservação de liberdades é a verdadeira base do progresso, da inovação, da justiça e da dignidade humana. Em tempos de crescente preocupação internacional com o risco de deriva autoritária em diversas partes do mundo, reafirma-se a urgência de um debate honesto e profundo sobre os rumos do país. A defesa da liberdade não é uma bandeira partidária, mas um compromisso civilizatório. Ignorá-la, relativizá-la ou subordiná-la a agendas de ocasião é abrir caminho para um Estado que, incapaz de tolerar rivais, passa a considerar seus próprios cidadãos como obstáculos e não como fundamento de sua existência. O futuro democrático do Brasil depende da capacidade de reconhecer esse risco e de reafirmar que a função do Estado é servir, não dominar.

 

A frase que foi pronunciada:

“Eu acreditava muito nos mecanismos governamentais, mas eles têm células cancerígenas que crescem incontrolavelmente. Há algo de doentio na máquina estatal. A experiência de jovem me tornou cético para as reais possibilidades do Estado.”

Roberto Campos

Roberto Campos. Foto: RAIMUNDO VALENTIM/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

 

História de Brasília

A Festa do Candango, que alcançou tanto êxito no ano passado será realizada também êste ano, nos dias 29 e 30 de junho e primeiro de julho. O local, como o IAPI está ajardinado, será transferido para o IAPETC. (Publicada em 12.05.1962)

1984 é bem ali

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Imagem: reprodução da internet

 

Observadores da cena internacional acreditam que o mundo caminha, nesta primeira metade do século XXI, para uma espécie de “socialismo de castas”, onde as elites cada vez mais empoderadas vão se eternizando no topo, com toda a espécie de direitos e privilégios, enquanto ao povo, essa histórica porção de ninguém, é  dado como herança e destino um novo tipo de miséria, mais perniciosa e não menos desumana. Tanto a Europa como, no nosso caso, o Brasil assistem essa realidade advinda de um globalismo niilista, que vai, aos poucos, destruindo a democracia clássica em nome de uma falsa igualdade.

Trata-se aqui de reconhecermos uma realidade  poderosa que sintetiza um sentimento crescente de que os valores democráticos clássicos, como liberdade, mérito, mobilidade social, estão sendo lentamente substituídos por um sistema autoritário disfarçado de justiça social. O que vemos aqui é um novo tipo de socialismo, mais adaptado ao nosso século e a um mundo superpopuloso e inquieto. A ideia de socialismo de castas expõe também uma contradição: em vez de eliminar desigualdades, o sistema as congela como deseja o globalismo.

O discurso da igualdade, quando instrumentalizado por elites políticas e econômicas globalizadas, acaba servindo como véu para manter seus privilégios intactos, enquanto impõe ao povo uma “igualdade na miséria”. Não se trata aqui do socialismo clássico, mas de uma versão tecnocrática, centralizadora, niilista — sem valores transcendentes, sem verdade, sem limites éticos, em que tudo é relativo, exceto o poder de quem já o detém. O que está posto aqui projeta para um futuro próximo o que é hoje, no presente, a realidade de países como a Venezuela.

Essa nova elite transnacional, formada por grandes corporações, organismos multilaterais e lideranças políticas, supostamente progressistas, defende uma ordem mundial onde o indivíduo é reduzido á estatística, o Estado nacional é esvaziado, e a cultura local é vista como obstáculo à padronização social e econômica. Isso constitui um niilismo poderoso que vai rompendo paulatinamente com qualquer base moral objetiva: tudo é permitido em nome de uma suposta e ilusória inclusão e progresso. É o progresso não para a melhoria na qualidade de vida da sociedade, mas que a arrasta literalmente para um mundo distópico e já sem esperanças.

Na Europa, o discurso igualitário avançou ao ponto de se tornar um instrumento de controle ideológico. Países como França, Alemanha e Suécia vivem crises internas com o multiculturalismo imposto, a erosão da cultura nacional e a criminalização do pensamento divergente. A promessa de igualdade e integração se transformou em zonas de exclusão social, guetos e insegurança. Além disso, a burocracia da União Europeia, distante da realidade dos povos, impõe regras ambientais, econômicas e culturais que favorecem grandes conglomerados e limitam a autonomia dos cidadãos comuns. Assim, a mobilidade social é engessada e a elite política permanece girando entre os mesmos nomes, partidos e interesses, numa pantomima ensaiada que vai, aos poucos, solapando a vida social, econômica e política como a conhecemos.

No Brasil, essa lógica se manifesta também de forma ainda mais perversa. Políticas públicas mal planejadas, sob o pretexto de “inclusão”, criam dependência estatal em vez de emancipação cidadã. O bolsa família é hoje um verdadeiro labirinto sem saída e que vai aprisionando o cidadão ao Estado. A elite política brasileira, muitas vezes aliada a ONGs internacionais e à grande mídia, perpetua sua influência sob o discurso de “representatividade” e “diversidade”, enquanto entrega a população a um sistema educacional falido, violência urbana crônica e oportunidades restritas. Tristes tempos esses em que o mundo e o homem vão perdendo sua identidade em nome de projetos que não são os seus.

Com essa nova realidade que vai se impondo, a meritocracia passa a ser demonizada como “elitista”, enquanto privilégios de castas burocráticas, como no caso de  magistrados, políticos, altos funcionários seguem intocados. Cria-se, assim, um abismo intransponível: de um lado, uma elite protegida e globalizada; de outro, um povo sufocado, rotulado e manipulado. A destruição da democracia clássica, como a conhecemos, vai sendo posta de lado, como coisa do passado. A democracia clássica se baseava na alternância de poder, na liberdade de expressão, na igualdade perante a lei e no Estado de Direito. Tudo isso está sendo minado por esse globalismo niilista, que substitui o debate aberto por narrativas únicas, a autonomia nacional por tratados internacionais e o cidadão por uma massa homogênea de “clientes do Estado”.

Essa nova ordem se legitima por meio do medo, das pandemias, do clima e do discurso “de ódio” para justificar o controle crescente. O objetivo não é eliminar desigualdades, mas redistribuí-las de forma a manter a elite onde sempre esteve, blindada contra o povo e acima da lei. O mundo não caminha para uma igualdade verdadeira, mas para uma hierarquização disfarçada, onde a elite se apresenta como salvadora enquanto cristaliza seus próprios privilégios. A democracia só sobreviverá onde há liberdade real, e esta depende de pluralismo, responsabilidade individual e soberania. O desafio está lançado: ou resgatamos os fundamentos da civilização ocidental, com suas liberdades e limites, ou assistiremos à consolidação de um novo tipo de despotismo, tecnocrático, globalizado e sorridente, mais parecido com o mundo previsto por George Orwell em “1984”.

A frase que foi pronunciada:

“Você não pode escapar da responsabilidade do amanhã, fugindo dele hoje.”

Abraham Lincoln

Abraham Lincoln. Foto: wikipedia.org

História de Brasília

Como não haverá eleição no Distrito Federal, os próprios líderes se descuidaram do caso, e não procuraram apresentar , por êsse motivo, os nomes dos seus partidos. (Publicada em 08.05.1962)

Leviatã precisa de dieta

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Charge do Bob Gorrell

 

Em tempos de desconfiança nas instituições e de descrença nos sistemas de representação, volta à tona uma velha e incômoda pergunta: qual o tamanho ideal do Estado? A questão, embora repetida à exaustão em debates acadêmicos e palanques eleitorais, permanece viva porque diz respeito ao cotidiano mais imediato do cidadão — aquele que trabalha, paga impostos e assiste, impotente, ao inchaço de uma máquina pública que parece crescer às suas custas.

A Física nos ensina que um objeto só pode ser compreendido em relação a outros — sua massa, velocidade, força. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à relação entre o indivíduo e o Estado. Quanto maior e mais intrusivo for o aparato estatal, menor, proporcionalmente, será o espaço reservado ao cidadão comum. O crescimento desmedido do Estado tem o efeito colateral perverso de apequenar o indivíduo diante de uma engrenagem insaciável, que tudo absorve, consome e transforma em burocracia.

Um Estado hipertrofiado tende a reduzir seus habitantes à condição de operários invisíveis — inicia-se a busca insana por tributos, exigências e normas que não cessam de se multiplicar. Trabalhadores que alimentam, dia após dia, um Leviatã insaciável, que promete proteção, mas entrega vigilância; que acena com igualdade, mas cultiva privilégios; que proclama o bem comum, mas serve a interesses muito particulares.

A promessa do Estado provedor, muitas vezes embalada em retórica paternalista, costuma ser o primeiro passo rumo à servidão moderna. O cidadão é transformado em súdito. Seu papel se restringe a sustentar uma elite política que se arroga o direito de decidir o que é melhor para todos, ainda que esse “melhor” se revele, na prática, um sistema excludente, ineficiente e autorreferente.

Não é preciso buscar exemplos em livros de história. Basta olhar ao redor. Países como China, Rússia e Coreia do Norte oferecem retratos contemporâneos de Estados colossais que mantêm suas populações sob controle rigoroso, enquanto investem somas bilionárias em armamentos, propaganda e repressão. Em tais regimes, faltam antibióticos, alimentos e saneamento básico. Mas sobram recursos para vigiar, punir e esmagar dissidências. É a lógica da metástase: quanto mais cresce o tumor, mais se alastra e consome os tecidos saudáveis em torno.

No Brasil, embora a democracia formal esteja preservada, o peso do Estado também se faz sentir com força. A carga tributária escorchante, os serviços públicos ineficientes, a burocracia kafkiana e a concentração de poder nas mãos de castas tecnocráticas são sintomas de uma mesma doença: o culto ao gigantismo estatal. Um modelo que favorece os que estão no topo da pirâmide, enquanto empurra a maioria para a base, onde resta apenas sustentar, com esforço e resignação, os privilégios dos poucos.

A ilusão de que mais Estado significa mais justiça social já levou nações inteiras ao colapso. A concentração de poder, por mais bem-intencionada que se apresente, inevitavelmente, degenera em abuso. E quando o formigueiro se torna inquieto, quando as vozes dissonantes ameaçam romper o conformismo, não faltam defensores da ordem prontos a aplicar “formicidas” — seja na forma de repressão direta, seja por meio da asfixia econômica e do silenciamento institucional.

É preciso, portanto, recolocar o indivíduo no centro da equação política. Não se trata de demonizar o Estado ou propor sua extinção, mas de redimensioná-lo. Um Estado necessário, mas não onipresente. Protetor, mas não carcereiro. Servidor, e não senhor. A liberdade, essa palavra tão desgastada quanto vital, começa por aí: no equilíbrio entre o necessário amparo estatal e a imprescindível autonomia do cidadão.

Toda vez que o Estado se agiganta além da medida, o cidadão mingua. E quando já não há espaço para a liberdade, as formigas assanhadas só têm dois caminhos: resignar-se à caverna… ou começar a cavar sua saída.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O indivíduo é apenas receptor de regras e modo de viver da sociedade da qual faz parte” e “Nosso egoísmo é, em grande parte, produto da sociedade”.

Emile Durkheim

Émile Durkheim. Foto: wikipedia.org

 

Desperdício

Quem passa perto da UnB pelo prédio da antiga Telebras não compreende o desperdício. Um prédio inteiro abandonado com capacidade latente para várias opções. Centro de estudos, biblioteca pública ou mesmo abrigar outro órgão que esteja pagando aluguel.

 

 

História de Brasília

Trinta e quatro funcionários da Novacap estavam à disposição do Hospital Distrital. Pediram retorno, e estão à disposição da Novacap, que não os recebe mais. Há entretanto, a informação de que cinco já foram aceitos de volta. (Publicada em 05.05.1962)

A força da novilíngua

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Charge do Schmoch para a Revista Oeste

Em termos médicos, a anemia (CID 10) é uma condição patológica em que o corpo apresenta uma sensível redução na capacidade de transportar oxigênio para o organismo. Geralmente, esse fator ocorre por falta de hemoglobina ou de glóbulos vermelhos. Os sintomas dessa condição incluem fraqueza, lentidão, apatia e baixa resistência — características que, levadas para o campo político e institucional do momento, podem descrever, com certa clareza médica, um país com instituições enfraquecidas, democracia esvaziada e, sobretudo, pouca capacidade de reação da sociedade civil.

No campo da ciência política, esse termo tem sido cada vez mais utilizado, principalmente, quando se verifica um declínio acelerado do país em todas as áreas, na economia, e com todos seus desdobramentos para a sociedade, que a tudo assiste com um misto de medo e impassividade, são os primeiros passos para uma outra enfermidade política, dessa vez com a grafia parecida: a anomia, conforme descrito tanto no pensamento de Durkheim quanto de Merton, “explora a desintegração social e as consequências para o comportamento individual” ou seja, sem lei, sem normas.

Anemia institucional incide em todo o aparelho de Estado, com órgãos de controle e equilíbrio de poder (como o Legislativo e o Judiciário) apresentam baixa vitalidade e autonomia, funcionando de forma pouco responsiva ou servil ao Executivo ou ao STF. Isso é um fato. O desequilíbrio dos Poderes é outro. Por sua vez, a anemia cívica, como demonstrada pela sociedade civil, apresenta um quadro de apatia ou cansaço, com baixo engajamento dos cidadãos, talvez por descrença na eficácia das instituições ou, simplesmente, por medo da repressão simbólica e legal. A anemia democrática vem a seguir, com o processo democrático perdendo sua substância, o pluralismo de ideias sendo sufocado. E aí por diante.

Daí, decorrem os processos de imposição de regras do novo jogo político, todos orientados para favorecer um projeto de poder. Nessa altura dos acontecimentos, a Constituição é substituída por uma novíssima interpretação, uma “novilíngua” com sentido próprio.

Como ocorre com a instalação de toda doença perigosa, a anemia do Estado irá nos conduzir a um fechamento político lento e gradual. Diferente da expressão ecoada pela ditadura militar, que falava em redemocratização “lenta, gradual e segura”, e que visava repor o país nos trilhos da normalidade política, o lento fechamento, que se assiste agora, nos leva no caminho inverso, em direção, talvez, a uma espécie de comunismo dos anos cinquenta.

Essa crítica vem ganhando força entre analistas políticos, especialmente da direita e do centro-direita, diante de certos movimentos de concentração de poder. O papel do Executivo, no caso do governo Lula, mostra em que direção vamos. O governo tem buscado centralizar decisões, principalmente, por meio de medidas provisórias e uso intenso de decretos. Paralelo a esse novo e obsoleto modelo, vamos presenciando a ocupação de cargos-chave por figuras ideologicamente alinhadas (ex: Fundação Palmares, Ancine, agências reguladoras, Petrobras) é vista por críticos como efetivo aparelhamento do Estado.

A reforma econômica e social segue com seu conhecido viés estatizante. Sem estatais, a existência de grupos políticos dessa natureza ideológica é inviável. A reindustrialização, promovida via BNDES e estatais pode ser vista como um retorno à política desenvolvimentista, típica dos modelos falidos de governos passados. A retomada de programas como o PAC, com pouca transparência na execução em alguns casos, demonstra esse modelo estatista. As narrativas maniqueístas passam a fazer parte do cotidiano desses grupos. Veja o caso de declarações de autoridades dos aliados que tratam a oposição como “inimigos da democracia” ou “terroristas” ou, simplesmente, extrema-direita, indicando assim um endurecimento discursivo.

Nesse banzé caboclo, o papel do STF é fundamental como “poder garantidor”, expandido sua atuação. O Supremo tem exercido um papel central na mediação da política, mesclando competências do Legislativo em assuntos como criminalização de condutas, decisões sobre tributos, aborto, drogas e outros. Ministros do Supremo assumiram protagonismo inédito, especialmente em temas ligados à segurança institucional, desinformação e censura.

No  caso do relacionamento estreito entre o Executivo e o Judiciário, o que se observa é a formação de uma espécie de consórcio simbiótico colocando o sistema de freios e contrapesos em perigo. A união desses poderes como está é um fenômeno, para dizer o mínimo, atípico e preocupante. Na sua origem, a atual crise institucional tem, na indicação e escolha de ministros para a alta Corte, seu fator primário e fundamental, trazendo, para dentro do judiciário, os ventos malcheirosos de ideologias políticas.

 

 

A frase que foi pronunciada:

Numa ditadura, não daria para fazer uma passeata pela democracia. Na democracia, você pode fazer uma passeata pedindo a ditadura.

Mario Sergio Cortella

 

 

História de Brasília

Isso quer dizer: há professôras que alugaram seus apartamentos e foram morar coletivamente com outras companheiras. Há professôras que casaram, residem no apartamento do esposo e alugaram o apartamento que lhe foi destinado. (Publicada em 05.05.1962)

Próximo, por favor!

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Charge do Amarildo

 

          Parafraseando o pequeno e famoso texto do pastor luterano Martin Niemöller (1892-1984), podemos, com toda honestidade, trazê-lo para o presente e inseri-lo no atual contexto de nosso país, substituindo alguns substantivos originários por outros inerentes à realidade que estamos vivenciando. “Primeiro eles vieram buscar os conservadores e a turma da direita, e eu fiquei calado. Eu não pertencia a esses grupos. Então, vieram buscar os liberais, e eu fiquei calado. Também não era um liberal. Em seguida, vieram buscar os patriotas, e eu, mais uma vez, fiquei calado- porque não era patriota. Foi então que eles vieram me buscar, e já não havia ninguém para me defender.” Se esse pequeno texto não é capaz de fazer com que você reflita sobre o atual momento político atravessado por nosso país, é porque você já pode ser o próximo da lista a ser “buscado” pelo sistema.

         A história tem nos ensinado que a liberdade é um valor infinitamente mais elevado do que quaisquer partidos e ideologias políticas. Sem essa condição, intrinsicamente humana, você é apenas um peão isolado no tabuleiro. Sem liberdade não há salvação possível, nem a direita, nem a esquerda. Utopias políticas são possíveis. Outra coisa diametralmente oposta é a utopia de liberdade. Desse modo, a liberdade não pode ser ofertada por ideologias. A liberdade é o que é e não necessita de outros atravessadores.

         É em nosso caso e em muitos outros países pelo mundo, o que está delineado nas Constituições. Querer definir liberdade, conferindo-lhe outros significados de acordo com uma espécie de voluntarismo subjetivo, é negar-lhe seu real significado, distorcendo a Lei Maior, como alguém que pretendesse instalar dois braços postiços à Vênus de Milo.

          A questão, com fechamentos políticos, é que eles nunca se dão por completo ou satisfeitos, por isso mesmo é preciso ir mais além, ter sempre alguém em mira, buscando a todos, até que não reste ninguém mais a ser levado. Se não é um produto a ser ofertado por partidos políticos, a liberdade também não necessita de tutelas, pois ela não pertence a um indivíduo apenas, mas a todos igualmente.

          Democracias do tipo tuteladas são aquelas que satisfazem apenas aos desejos de uma elite no poder. A liberdade impõe que você seja escravo apenas de si mesmo e não de governos, responsabilizando-se inteiramente por seus atos.

         Sobre nossa Constituição, o que almejam aqueles que a reduzem a sincretismos indecifráveis é que ela, como poderia ter dito Millôr, tendo nascida pura e original, deverá morrer como um plagio de si mesma.

         De fato, só existe uma liberdade que é aquela expressa pelo pensamento. As grandes migrações humanas, em todo o tempo e lugar, sempre foram feitas no sentido e em direção a liberdade e nunca ao contrário. Em todas as ditaduras, sempre existiram aqueles que, por meio de palavras afiadas como espada, desafiaram o regime. É o caso aqui do músico e poeta português Sérgio Godinho: “Não me digas que não me compreendes/ quando os dias se tornam azedos/ não me digas que nunca sentistes/ uma força a crescer-te nos dedos/ e uma raiva a nascer-te nos dentes/ Não me digas que não me compreendes”.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente.”

Sir Acton

Lord Acton. Foto: gazetadopovo.com

 

Santa paciência

Em pleno sábado, 10h13min, a Bradescard invade uma linha privada com ligações eletrônicas. Ao responder alô, a ligação é completada. Até aí nenhuma novidade no inconveniente. O pior é que o número do devedor não confere com o infeliz que atendeu a ligação. E assim se passa a semana. Com 3 ligações diárias atendidas nessa modalidade.

 

Desrespeito

O marketing agressivo das operadoras de celular não permite que o cliente manifeste sua vontade. Até permite. Mas não há treinamento para aceitá-la. Depois de responder que não há interesse na promoção, é apresentada outra oferta. A seguir uma negativa e outra promoção. E a conversa se desenrola presa em um script lido por alguém desprovido de respeito e empatia. Os idosos são os que mais sofrem.

 

 

História de Brasília

Em vista dos últimos acontecimentos o prefeito Sette Câmara mandará publicar no “Diário Oficial” todos os pagamentos efetuados pela Novacap. A Comissão entrará em funcionamento imediatamente não se sabendo, entretanto, do afastamento ou não do dr. Laranja Filho. (Publicada em 18.04.1962)

Presente peçonhento

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Postagem publicada no perfil oficial do deputado federal Marcel Van Hattem no Instagram

 

         Governos que, por definição e prazo de validade, deveriam ser sempre passageiros e mudados, como se muda de guarda-roupa a cada estação, deveriam também, por uma questão de economia de tempo, manterem-se focados nos assuntos que realmente importam para o país.

         No nosso caso e dado o grande volume de problemas que temos, torna-se indiscutível que as questões internas ligadas à infraestrutura, à economia, ao meio ambiente, ao saneamento das cidades, ao combate à violência, ao aparelhamento da máquina do Estado ou ao combate à corrupção endêmica, entre outras questões, deveriam ocupar 24 horas de qualquer governo que se preze. A não ser, é claro, que o governo, como parece ser o caso atual, esteja considerando a possibilidade de se perpetuar no poder.

         Se for esse o caso, faz sentido a adoção de uma série de medidas pré-concebidas, que vêm sendo colocadas em pauta, como alicerces, que vão sendo construídos, visando o soerguimento do edifício da centralização política. Pelas ações do presente, o futuro aponta para esse norte gélido.

         Segundo o ministro Moraes, os ataques de 8 de janeiro apontam para condutas ilícitas e gravíssimas, com intuito de, por meio de violência e grave ameaça, coagir e impedir o exercício dos poderes constitucionais constituídos. “Houve flagrante afronta à manutenção do estado democrático de direito, em evidente descompasso com a garantia da liberdade de expressão”, e ainda “há provas nos autos da participação efetiva dos investigados em organização criminosa”, para sustentar a conversão da prisão. No entanto, está fora de cogitação uma CPI sobre o assunto.

         Trata-se aqui de uma agenda que vai sendo passada, em pequenas doses, bem debaixo do nariz de todos, e que irá se constituir, lá na frente, a base para a consolidação do poder. Nesse ponto, já não haverá mais retorno e não se poderá falar em golpe ou coisa do gênero, já que todos foram avisados de cada passo. É da desatenção geral do momento presente que se estabelecem e se firmam os governos longevos.

         Trata-se de um trabalho lento e cauteloso, para ver por onde deve seguir todo o plano. Por conta do 8 de janeiro, algumas ações do governo vieram à luz num átimo. Proibiram-se as manifestações e concentrações de pessoas; passou-se a considerar crime quaisquer contestações, mesmo legítimas ao pleito de novembro. No passo seguinte, busca-se o desarmamento legal de parte da população. No mesmo sentido, vão se enfraquecendo as leis preventivas com relação ao teto de gastos, às indicações para as estatais e outras medidas, visando manter a economia sob controle total do Estado, que, nesse caso, vem a ser o partido no poder. Repete-se aquela velha história da primeira noite em que o jardim da casa é invadido para roubar a flor da liberdade e nada é feito contra esse ato.

         Agora, aproveitando uma iniciativa, no mínimo, estranhíssima, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), um organismo cujo propósito deveria ser o de cuidar da educação e da ciência, duas manifestações do gênio humano, na qual a liberdade é o motor propulsor de toda a ação, o governo volta a insistir naquele fórum na tal da regulação da mídia.

         Por mais que se fale em defesa da democracia e dos mais desfavorecidos, qualquer brasileiro com apenas dois neurônios sabe muito bem que essa é mais uma das propostas que visam censurar toda e qualquer oposição. A defesa da verdade parece ser a defesa de uma verdade específica e não aquela buscada com liberdade por filósofos desde a antiguidade. Pelas pessoas, direta ou indiretamente envolvidas nessa discussão estranha, já dá para sentir que esse é mais um presente de grego, embrulhado num papel vistoso de cetim vermelho, mas que esconde, dentro de si, um escorpião.

 

A frase que foi pronunciada:

“A democracia é atividade criadora dos cidadãos e aparece em sua essência quando existe igualdade, liberdade e participação.”

Marilena Chauí

Marilena Chauí. Foto: Reprodução

 

Para estrangeiros

Orlene L. S. Carvalho e Marcos Bagno são estudiosos do ensino do português brasileiro a estrangeiros. Tratam do uso autêntico contemporâneo da língua falada e escrita. Assista, a seguir, o bate-papo.

 

Consome dor

Leitor se manifesta com dúvidas sobre burocracia. Com tudo dentro de legalidade, inclusive a película instalada, precisou voltar à oficina. Para fazer a vistoria no carro, não aceitam os vidros com película.

Foto: blog.olhovivovistorias

História de Brasília

A única firma que acabou o bloco a si confiado, foi a Caiçara, há mais de um mês, enquanto que as outras, em passo de tartaruga, proporão, provavelmente, reajustamento proximamente. (Publicada em 17.03.1962)

Deep state

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Ilustração: defato.com

 

         Nessa altura dos acontecimentos, vai ficando cada vez mais nítido o fato de que o ex-presidente, que volta a concorrer às eleições, é, sem dúvidas, o candidato do sistema ou, se quiserem, o preferido e ungido pelas forças do chamado “deep state”.

         Primeiramente, é preciso entender o que vem a ser essa forma disforme de poder. Trata-se, na visão de estudiosos, de uma estrutura global e local, responsável tanto por pautas econômicas como sociais e políticas, e que, em certo sentido, priva os cidadãos de decisões vitais, enquanto exaure e dilapida todas as riquezas do país, transferindo esses bens diretamente para as mãos de um seleto grupo, formado, em sua maioria, por grandes corporações e entidades políticas com controle, incrustadas tanto nos Três Poderes de um Estado como em grandes corporações.

          É, em um sentido mais acurado, um governo invisível, composto por pessoas que devem fidelidade apenas a si próprios, descartando o povo, que, em tese, deveria ser o objeto da ação do Estado. A saída desse candidato, diretamente da prisão para a volta aos palanques políticos e eleitorais, não foi como se quer fazer acreditar, uma anistia do tipo política, concedida a um opositor, cujos crimes são especificamente de ordem política e ideológica.

         A recolocação desse verdadeiro peão, no tabuleiro do xadrez político, obedece a um conjunto de esquemas muito bem engendrados por essa espécie nova e nefasta de governo, que age com desenvoltura nos bastidores, usando luvas de pelica e indisfarçado talento de persuasão.

          O povo, em geral, não faz a mínima ideia do que vem ocorrendo nesses bastidores do poder, em que a política, em seu sentido literal, foi exilada para uma ilha distante. Talvez, nem mesmo o próprio candidato, incensado e tratado com todos os mimos, que o dinheiro possibilita, sabe o que ocorre atrás de si.

         Estão nesse jogo como marionetes à mercê dos marionetistas, esses sim, cientes do que fazem. Não chega a ser surpresa, diante de um personagem que, apanhado em diversas situações de corrupção, sempre afirmou nada saber o que estava acontecendo à sua volta. Até mesmo a bem estruturada desconstrução de toda exitosa Operação Lava Jato, uma possibilidade que, à época, parecia impossível, dado ao gigantesco conjunto de provas e delações, foi obra desse “deep state” ou Estado profundo, cuja sede de poder ninguém sabe, ao certo, onde está localizada.

          Infelizmente, o único personagem que por uns segundos pode agir para modificar essa verdadeira trama diabólica é o eleitor, ou aqueles que ainda não foram iludidos por parte das mídias sociais de informação ou que, de certa forma, ainda acreditam que a paralisação de todos os processos que respondia o citado candidato foi conduzida por instância inapropriada e sob o comando de um juiz parcial, que tinha como objetivo perseguir maldosamente essa alma pura e honesta, cuja as “prerrogativas” ou direitos especiais, por sua posição, o coloca acima das leis, com regalias, que somente o deep state pode conferir ao seus agentes.

A frase que foi pronunciada:

“Somos todos fantoches, Laurie. Eu sou apenas um fantoche que pode ver as cordas.”

Alan Moura

 

Comércio exterior

Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, está animado com a participação na Missão Comercial SIAL Paris 2022, feira onde alimentos e bebidas brasileiras serão apresentados ao mundo. Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a expectativa é que o evento possa render mais de R$200 milhões em exportações em um ano. O evento começa no dia 14 e vai até 19 de outubro.

Robson Braga de Andrade. Foto: Ruy Baron/Valor

 

Consignado absurdo

Veja a imagem a seguir. Tão logo o processo de aposentadoria esteja marcado no INSS, misteriosamente, o idoso recebe mensagem do número 62(821) 82571720, dando os parabéns e mostrando o montante disponível para a linha de crédito “mais barata do Brasil”. Invasão de privacidade. O número disponível é o 08000001710 e o whatsapp https://bit.ly/3BriAdt.

 

Até quando?

Água Mineral e teatros de Brasília. Lugares de deleite estão constantemente ameaçados. Ou pela privatização, ou por reformas eternas. A Capital do Brasil não ter seu teatro disponível por mais de 5 anos é impensável! Nem as viagens internacionais convenceram nossos governantes sobre a importância do lazer e cultura para uma nação.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil

 

História de Brasília

A iluminação é a única diferente de Brasília. Em tôda a cidade os postes são lindos, e as luminárias, importadas. No “avião”, são pequenas lâmpadas presas aos postes que lembram Caucaia. (Publicada em 10.03.1962)

Democracia como liberdade de escolha

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Foto: Reprodução/Divulgação

          Como previsto aqui neste espaço, as gigantescas manifestações por ocasião do bicentenário da Proclamação de Independência do país tiveram a adesão maciça da população, tanto aqui em Brasília, onde dados extra oficiais dão conta de mais de milhão de pessoas, como na antiga sede administrativa do Brasil, o Rio de Janeiro, onde a orla de Copacabana ficou também lotada de pessoas vestindo o verde amarelo, numa demonstração de amor pela pátria que é de todos.

         Obviamente que as manchetes, na maioria dos jornais do país, procuraram divulgar essas manifestações de forma negativa. Alguns mais atrevidos chegaram a chamar as pessoas que compareceram a esses eventos de gado ou outra denominação pejorativa, que diz muito sobre esses tempos adversos onde a polarização política vem dando seu tom sinistro nessas eleições.

         O que a mídia não pode esconder é que as pessoas, que pacificamente foram com seus familiares a esse encontro cívico, o fizeram por um sentimento legítimo de brasilidade. Lógico que embutido, intrinsecamente, nesse sentimento estão todos os valores cristãos e históricos que fizeram do Brasil o que ele é. Nesse conjunto de valores, sobressaem os valores da família, do respeito, da ética e até dos bons costumes, uma prática definida hoje como démodé, ou fora da moda.

         Dizer que o atual presidente tenha se apropriado da data para fazer campanha não tira o brilho da festa cívica, uma vez que qualquer político, que tenha à sua frente centenas de milhares de pessoas, às vésperas das eleições, faria o mesmo ou até pior. O fato é que o atual mandatário, goste dele ou não, trouxe o verde amarelo de volta às ruas. Não como bandeira sua, o que de fato não é, com tudo de bom e de ruim que isso possa representar.

         O atual presidente, por iniciativa própria, resgatou as cores legítimas da bandeira nacional. Apenas por essa façanha, que pode ser marqueteira ou não, fez o que nenhum outro candidato teve a imaginação de fazer antes. É preciso lembrar aos mais jovens que, em outras solenidades cívicas, o que se viam eram bandeiras vermelhas, em alusão ao partido de esquerda no poder, ou uma estrela no jardim do Palácio da Alvorada. Também eram vistas, nessas festas cívicas, bandeiras saudando movimentos de invasão de terra e de sindicatos, cooptados, todos irmanados num processo de conjuração para transformar o país numa ditadura do tipo comunista, onde o Estado e os que estão próximos a ele é que mandam e nadam em mordomias e privilégios.

         Sabedor desses perigos, o povo foi, mais uma vez, às ruas, dizer sim ao Brasil e não à hegemonia e às ditaduras, disfarçadas de democráticas. Os brasileiros saíram, ordeiramente, de seus lares e foram para as praças de todo o país no Dia da Pátria, para reafirmar que os conceitos, e mesmo as práticas oriundas da independência de 1822, ainda vigoram e ecoam no coração de muitos e devem vigorar para o futuro.

         A mensagem que a Nação deixa nesse 7 de setembro é que o grito de independência, talvez mais do que em outras ocasiões da nossa história, faz-se necessário e urgente. O gesto simbólico da vinda do coração do patriarca da Independência ao Brasil, também tão duramente criticado pelos corações de pedra da democrática esquerda, deixa uma mensagem e um alerta para os perigos que todos os brasileiros correm ao deixar de lado os ideais de independência e liberdade. Mais do que uma manifestação pela pátria, as comemorações desse 7 de setembro alertam para a necessidade de todos permanecerem eternamente vigilantes.

*esta coluna é opinativa, não corresponde necessariamente à linha editorial deste jornal.

 

A frase que foi pronunciada:

“Sempre foi fácil odiar e destruir. Construir e valorizar é muito mais difícil.”

Rainha Elizabeth II

Rainha Elizabeth II em seu casamento. Foto: Topical Press Agency/Getty Images

 

Encontro

Aos 37 anos, a escola Visconde de Cabo Frio, na L2 Norte, vai fazer um encontro no sábado entre famílias de alunos, ex-alunos e ex-funcionários. A ideia é reencontrar quem viu a instituição nascer, saber onde estão essas pessoas e o que fazem. Para provocar a memória, uma exposição de fotos será montada. O evento Manhã da Saudade, começa às 10h do dia 10, neste sábado.

Foto: cabofriodf.com

 

Kamikazes

Zebrinhas são o transporte coletivo sobre rodas mais rápido e confortável do Plano Piloto. Mas há alguns problemas. Não há paradas próprias e a velocidade que passam nos balões das entrequadas tira um lado do veículo do chão.

Foto: conteudo.ebc.com

História de Brasília

Na escola pública, a sala da diretoria é uma mesa jogada num corredor infecto, lamacento, caindo aos pedaços. As crianças não usam caderno dia de chuva. Á água molha tudo. (Publicada em 10.03.1962)

Janela estreita

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Charge do Versa

 

          Chegará o dia em que não me verás mais, por tua janela estreita, subindo a rua, cansada ao fim do dia. Nesse dia terei partido, quem sabe, fortemente escoltada até o navio que me levará ao exílio derradeiro. Ou num caixão sem identificação, sepultada como indigente em cova rasa e sem endereço. Por um tempo minha ausência será sentida. Mesmo o requadro da janela estreita estará vazio, numa espera eterna do vulto que todo o fim de tarde compunha, com as cores do sol poente, esse alguém que subia a rua a passos lentos.

         Durante alguns meses ou anos, os poucos e fiéis amigos ficarão a discutir sobre meu sumiço sem aviso prévio. Teria partido para além mar, como refugiada afoita? Quem sabe enfiaram num saco, desses de fio de juta, como mercadoria ordinária, sendo depois despachada para longe ou lugar incerto. Dias atrás, especula um amigo, agentes do Estado disfarçados andaram pela vizinhança com aqueles olhos cheios de curiosidade e maus presságios.

         Observavam, de longe, a janela estreita e entreaberta em busca de alguém. A presença desses agentes, deixava exalar, por toda a rua da ladeira e pelos becos antigos, um cheiro forte de morte, desses que a gente sente ao caminhar junto ao muro branco do cemitério do bairro. Por certo, esse, a quem nem os amigos, por medo, ousam dizer o nome, foi se somar a outros que também nunca mais voltaram para casa.

         Muitos se foram desse modo descortês, deixando famílias amigos e o requadro de infinitas janelas estreitas e vazias. Molduras antigas vazadas pelo tempo. Saber que aqueles que essa noite dormem, na tranquilidade aparente dos desalmados, contribuíram, cada um ao seu modo, para que essa trama se desenrolasse sem testemunhas, tornam as madrugadas ainda mais vazias e ameaçadoras.

          Informantes e carrascos, mesmo com as mãos sujas de sangue, saboreiam o café matinal com suas famílias, que nada sabem sobre suas ações. Não há um pingo de remorso, quando o que está em jogo é o jogo sujo daqueles que possuem o poder da morte e da mordaça. Num ambiente assim, onde o medo e a vigilância de uns sobre os outros passaram a ser o novo normal, falar fora do script pode resultar em desaparecimento. Ou quem sabe em punições mais suaves e não menos desumanas como o cancelamento.

         Em situações dessa natureza, sumir da paisagem sem deixar pegadas é já uma normalidade nesses tempos nevoentos. Todo o fim de dia ouve-se o estrondar rouco do apito do navio partindo. Nessas horas, muitos se perguntam: quem estará à bordo dessa vez, sem ser convidado, talvez enfiado num malote com destino ao fundo do mar. Mostre-me um inocente, diz o sistema, e logo ele será incluído na lista negra e despachado também.

          Em tempos assim, melhor sorte possuem as janelas estreitas que permanecem silentes onde estão a contemplar a rua deserta, varrida de gentes que saíram do requadro sem deixar pistas, apenas saudades mudas e amedrontadas.

 

A frase que foi pronunciada:

“Coloca na cabeça perucas com cem mil cachos/ coloca nos pés coturnos de um braço de altura/continuarás sempre a ser o que és.”

Johann Goethe

Goethe in the Roman Campagna (1786) by Johann Tischbein | Reprodução

 

Pérola aos porcos

Um dos absurdos de força tarefa mal empregada é chamar o Corpo de Bombeiros para atender bêbados. Concurso, provas, exames físicos, treinamento, capacitação, para virar “babá de bêbado” é um disparate. O tempo foi usado por um morador do Núcleo Bandeirante. Vamos ver se há alguma ideia na Câmara Legislativa para resolver essa situação.

Foto: Divulgação/CBMDF

 

Saudável

Projetos de inclusão são muitos pelo DF. Capoeira, futebol, música. Seria interessante que as administrações construíssem, com as medidas certas, mesas de tênis de mesa pelas praças. É um esporte que desperta o cognitivo, velocidade, interação com a comunidade.

Praça em Apiacás com a movimentação dos frequentadores jogando tênis de mesa. Foto: Prefeitura de Apiacás.

 

Sem bolsa

Nova modalidade de furto tem acontecido dentro de igrejas em Brasília. Pessoas desavisadas deixam os pertences no banco e os larápios fazem a festa. A última vítima estava na N.S. do Lago, no Lago Norte. Tudo filmado, a meliante tirou o celular da bolsa e saiu tranquilamente da igreja com um comparsa.

Foto: arqbrasilia.com

 

História de Brasília

O assunto hoje começa com “Gavião”. Esquecido, abandonado, largado, caindo aos pedaços, lamacento, sem luz, telefone, taxi, farmácia e até a Cruz que o abençoava do alto mãos criminosas a puseram dentro de uma torre metálica. (Publicada em 10.03.1962)