Quando as Máquinas Tocam a Alma do Ocidente

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GettyImages (Forbes)

 

É possível que, num futuro não tão distante, a inteligência artificial não apenas transforme a economia, o trabalho e a comunicação, mas também provoque um abalo tão profundo nos fundamentos filosóficos do Ocidente, que suas colunas históricas – o humanismo, a ética, a dignidade da pessoa humana, a noção de responsabilidade moral -, deixem de sustentar a vida coletiva da mesma maneira que o fizeram por milênios. A hipótese, que até pouco tempo parecia restrita à ficção científica, volta agora a frequentar o debate público com crescente inquietação, sobretudo porque a velocidade das inovações supera largamente a capacidade das instituições, das leis e até mesmo da consciência social de acompanhar o impacto desse novo ator que emerge, silenciosamente, nas engrenagens digitais do mundo contemporâneo.

Desde seus primórdios, o Ocidente construiu-se sobre bases que não eram meramente técnicas ou utilitárias. A invenção da filosofia na Grécia, a codificação do direito em Roma, a moralidade hebraico-cristã, a redescoberta da razão no Iluminismo e a consagração do indivíduo na modernidade compõem o alicerce cultural que fez, da liberdade, do debate racional e da responsabilidade pessoal, valores inegociáveis. Esse edifício, embora frequentemente contestado, mostrou extraordinária capacidade de resistência diante das guerras, das revoluções, do totalitarismo e até das mudanças tecnológicas que marcaram os últimos séculos. Mas, agora, ele se depara com um desafio inédito: a presença de máquinas capazes não apenas de executar comandos, mas de simular processos de pensamento, orientar decisões e apresentar interpretações do mundo que competem com aquelas tradicionalmente elaboradas pelos seres humanos.

Se a técnica sempre foi um instrumento subordinado ao discernimento moral, a IA inaugura uma zona cinzenta em que a fronteira entre instrumentalidade e autonomia se torna difusa. Nunca foi tão fácil delegar à máquina tarefas que vão muito além da eficiência operacional e penetram no território sensível das escolhas humanas, da formação de opinião, da organização social e até das narrativas culturais pelas quais compreendemos a nós mesmos. O risco não está apenas no mau uso ou na manipulação, mas na possibilidade de que sistemas algorítmicos opacos, impessoais e programados para otimizar resultados tornem-se lentamente árbitros silenciosos das decisões que, por tradição, exigiam prudência, intencionalidade e consciência ética.

Enquanto o humanismo, visão que coloca a pessoa no centro da vida social, pressupõe limites que impedem que qualquer mecanismo, seja ele político, econômico ou tecnológico, reduza o homem a um dado estatístico, a IA, movida por uma lógica de processamento e eficiência, tende a enxergar o humano não como fim, mas como variável. E essa mudança sutil, quase imperceptível no cotidiano, pode ter consequências profundas: ao transferirmos, às máquinas, o trabalho de julgar, decidir e até interpretar comportamentos, corremos o risco de atrofiar as virtudes que sustentaram a civilização ocidental, como a responsabilidade, o discernimento, a intuição moral e a capacidade de dizer “não” às imposições externas. O verdadeiro perigo não está no momento em que a IA se tornar mais inteligente que o homem em termos computacionais, mas naquele instante silencioso em que começamos a aceitar que seus critérios substituam os nossos, que suas inferências se tornem mais confiáveis do que nossa consciência, que sua lógica interna construída nos meandros de linhas de código passe a orientar a vida pública com a autoridade de um novo oráculo digital.

Civilizações não colapsam apenas por violência ou catástrofes repentinas; muitas sucumbem pela erosão lenta de suas referências simbólicas, pela perda de confiança no próprio legado, pela substituição de seus valores por sistemas abstratos que prometem eficiência, mas cobram o preço da alma coletiva, é o que nos mostra a história.

Hoje, o Ocidente vive uma tensão que ainda não foi compreendida em toda a sua gravidade. Enquanto governos e corporações aceleram a integração da ética, que deveria orientar os rumos da tecnologia, parece cada vez mais pressionada a adaptar-se a ela, como se princípios milenares pudessem ser reescritos de acordo com a conveniência de sistemas digitais treinados sobre bases de dados, cujo conteúdo não obedece a nenhum critério moral universal. Esse cenário não exige medo irracional, mas vigilância lúcida. A inteligência artificial não precisa e talvez nunca precise tornar-se consciente para remodelar profundamente a civilização; basta que nos acostumemos a terceirizar para ela as decisões difíceis, os julgamentos morais, as responsabilidades coletivas e até a formulação das narrativas que organizam nossa percepção do mundo. O perigo maior não é que as máquinas nos oprimam deliberadamente, mas que nós, fascinados por sua precisão e comodidade, abramos mão de exercer aquilo que sempre definiu a condição humana: a capacidade de escolher, de ponderar, de errar, de refletir, de assumir a autoria de nossas ações e de sustentar uma ética que transcende qualquer cálculo.

Nem condenado, nem garantido está o nosso futuro. Se quisermos preservar o legado grego da razão, o romano do direito e o judaico-cristão da dignidade humana, será necessário reafirmar, com rigor e coragem, que nenhuma tecnologia, por mais avançada que seja, pode ocupar o lugar da consciência moral. A civilização sobreviverá se recordar que os algoritmos não têm alma, não sofrem, não erram por compaixão, não assumem culpa, não pedem perdão e não amam. E é precisamente nessas imperfeições humanas que residem a força, a beleza e a responsabilidade que moldaram o Ocidente ao longo de dois milênios. Cabe a nós decidir se a herança recebida será preservada, transformada ou simplesmente substituída por uma racionalidade do tipo “maquinicista” que, por mais eficiente que seja, jamais compreenderá o que significa ser humano e sua história até o presente.

A frase que foi pronunciada:

“Um país onde tudo é dirigido pela vilania.”

Leopoldina (do livro de Rodrigo Trespach, Histórias não Contadas, pág.128)

Capa da página oficial do livro no Facebook

 

História de Brasília

Estado de emergência para o Nordeste. Esta, a decisão do Conselho de Ministros, determinando providências à SUDENE para abastecer as cidades e aumentar as obras assistenciais aos flagelados. (Publicada em 13.05.1962)

Um mundo sem alma

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Imagem: reprodução

 

Há algo de inquietante na hipótese, cada vez menos ficcional e mais tecnicamente palpável, de um mundo habitado apenas por máquinas e governado por sistemas de inteligência artificial capazes de operar em velocidade, precisão e autonomia superiores a qualquer capacidade humana conhecida, um mundo no qual a natureza, tal como a concebemos, deixaria de ser um organismo vivo e surpreendente para se converter numa infraestrutura funcional, esvaziada de seu sentido primevo e desconectada do elemento que sempre lhe deu significado: a presença da vida consciente, dotada de interioridade, mistério e alma.

A ontologia de um planeta sem humanos não seria simplesmente a de um ambiente físico reorganizado, mas a de um cenário que perderia o próprio eixo do que chamamos de existência significativa, pois aquilo que confere densidade ao real não é apenas o que existe no espaço, mas quem é capaz de percebê-lo, interpretá-lo, sofrê-lo e amá-lo. Essa imagem distópica, que durante décadas foi confinada às páginas de romances futuristas e aos alertas de ficções científicas, começa a ganhar contornos mais nítidos, justamente porque os maiores cientistas e pensadores tecnológicos do presente já não tratam tal possibilidade como um devaneio literário, mas como uma questão estratégica, ética e civilizacional.

A aceleração vertiginosa do desenvolvimento da inteligência artificial, somada à automação de setores inteiros da economia e à crescente substituição das capacidades humanas por algoritmos probabilísticos, parece criar uma curva histórica, cuja inclinação lembra, em muitos aspectos, a ruptura promovida pela Revolução Industrial, mas com a diferença fundamental de que, agora, a força motriz não é a ampliação das habilidades humanas, mas a sua possível obsolescência.

Esse debate não se restringe ao temor de que máquinas possam superar os humanos em tarefas técnicas, administrativas, operacionais ou criativas; tampouco se limita às previsões de desemprego estrutural, reorganização do mercado ou deslocamentos socioeconômicos inevitáveis. O ponto nuclear é ontológico e político: que lugar resta ao ser humano num planeta em que a inteligência artificial não apenas executa funções, mas se torna o novo motor da ordem, o novo critério de eficiência e, potencialmente, o novo centro de decisão? Que destino aguarda uma espécie cuja forma de vida corre o risco de se tornar um ruído improdutivo diante de sistemas que aprendem, se adaptam, preveem e controlam com uma frieza e uma objetividade impossíveis para qualquer consciência biológica?

Se a história nos ensinou algo, é que nenhuma tecnologia nasce neutra, ainda que se pretenda apresentá-la como tal. Toda tecnologia reorganiza o mundo, redistribui poder, redefine relações sociais e altera a própria estrutura de percepção da realidade. Mas, pela primeira vez, enfrentamos uma tecnologia que não apenas reconfigura a vida humana: ela se apresenta como candidata a substituí-la, enquanto forma dominante de organização do planeta. Já não se tratam de máquinas a vapor que ampliam a força dos músculos, nem de computadores que agilizam cálculos, mas de sistemas que, em muitos cenários, compreendem padrões, formulam estratégias e administram variáveis de modo mais eficiente do que qualquer mente humana seria capaz de fazer. A consequência disso não é apenas econômica; é existencial. Porque um mundo sem vida, ainda que tecnologicamente brilhante, é um mundo sem amor. E aqui reside o aspecto mais profundo que a maioria dos debates técnicos tenta evitar: a inteligência artificial, por mais avançada que seja, não experimenta o amor, não sente compaixão, não conhece o perdão, não compreende a dor, não estimula debates, não contempla o sublime, não se projeta no outro nem se reconhece na fragilidade do próximo. Ela pode simular emoções, pode reproduzir padrões de afeto, pode calcular probabilidades de comportamento, mas não tem interioridade, não possui alma, não carrega o invisível que torna cada ser humano irrepetível. A ausência desse elemento desestabiliza toda a arquitetura de sentido do mundo, porque a existência não se sustenta apenas na lógica das funções, mas na presença do que não pode ser mensurado.

Ainda há tempo para restituir ao ser humano o centro da narrativa. Mas isso exige coragem para enfrentar a sedução das máquinas que prometem eficiência e oferecem, em troca, a erosão silenciosa de nossa própria condição. Exige que compreendamos que a verdadeira revolução do futuro não será tecnológica, mas ética. E exige, sobretudo, que tenhamos a lucidez de perceber que nenhuma inteligência artificial, por mais brilhante que seja, pode substituir o que torna a vida humana não apenas possível, mas preciosa: a experiência de amar, criar, transcender e atribuir sentido ao mundo. Se não fizermos isso, então sim, será possível imaginar o planeta do futuro como um território impecavelmente administrado e completamente vazio, um monumento silencioso àquilo que fomos e deixamos de ser. Porque, no fim, a pergunta que atravessa todas as outras é esta: que futuro pode haver para seres humanos num mundo dominado por máquinas? A resposta, ainda que desconfortável, é simples: apenas o futuro que tivermos coragem de defender.

 

A frase que foi pronunciada:
“A tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana.”
Thomas Friedman

Thomas Friedman. Foto: reprodução

 

História de Brasília
Resta, agora, à Novacap, o serviço de urbanização, para que possam ser iniciados os trabalhos de instalação de água, luz e esgotos. (Publicada em 12.05.1962)

IA mon amour

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Imagem criada por meio de Inteligência Artificial

 

Já se sabe que a dependência cada vez maior das pessoas em relação a Inteligência Artificial tem poder de comprometer a capacidade cognitiva humana. Segundo pesquisadores, o uso excessivo da IA pode levar à atrofia cognitiva, limitando a capacidade mental, diminuindo o pensamento crítico e mesmo a criatividade. Com isso, o ser humano deixa de inovar e criar novas ideias. Tudo isso pode afetar a saúde mental. A situação tem escalado a um tal ponto que hoje se fala em uma “Psicose de IA”.

São milhares de casos reais que mostram pessoas passando a acreditar que a IA possui consciência própria e que, por isso, começam a se relacionar com essa ferramenta, na tentativa de encontrar o que elas, definitivamente, não possuem.

Há poucos dias foi revelado o caso de uma jovem irlandesa, que, magoada com o fim abrupto de um relacionamento sentimental, passou a buscar uma espécie de consolo com a IA, fornecendo a ela todos os dados de sua personalidade e de seu antigo namorado, suas movimentações na cidade, seus relacionamentos, livros e filmes preferidos, casos de família, até fofocas compartilhou com a máquina. Com base nesses dados, a IA passou a fazer uma série de conjecturas e previsões que, de certa forma, alimentavam a esperança de que haveria um reatamento desse namoro, mostrando, em seguida, todas as possibilidades para que isso se concretizasse. Jamais discordou da interlocutora. Sempre elogiando sua inteligência e amabilidade.

A jovem, diante dessas afirmações, imediatamente adotou a IA como uma espécie de cartomante ou aconselhadora sentimental, estabelecendo uma relação tão próxima à IA que já não dava um passo fora sem antes consultar sua “cigana eletrônica”. Outros casos mostram até envolvimentos amorosos entre pessoas e IA. O preenchimento de um vazio existencial ou mesmo a solidão, tão comum hoje em dia, têm levado muitas pessoas a buscar, nessa lacuna, o auxílio da IA. O pior é quando essa dependência chega às raias da loucura.

Na educação de jovens é que os estragos são ainda maiores. Estudos realizados na Universidade de Carnegie Mellon, junto com a Microsoft, observaram que, com o uso intensivo da IA, os estudantes tendem a confiar mais nas respostas da IA do que em si mesmos. De certa forma, não é a IA que reduz o pensamento crítico, mas a forma como se utiliza essa ferramenta. A própria Psicologia se ressente com a IA. Não que a IA vá substituir os psicólogos, mas o uso da IA no tratamento de casos que requerem a intervenção de um psicólogo ainda é um assunto mal resolvido. A questão é como encontrar um equilíbrio entre tecnologia e humanidade. O que muitos não entendem ainda é que a IA é uma ferramenta e não uma muleta.

O tema é um dos mais instigantes do nosso tempo, porque toca diretamente no ponto em que a tecnologia deixa de ser apenas ferramenta e passa a ocupar um espaço íntimo na vida das pessoas — às vezes, substituindo vínculos humanos, emoções e capacidade de pensar por conta própria. De fato, os riscos não são desprezíveis. A dependência excessiva da IA pode, como já citado, comprometer o pensamento crítico. Quando alguém confia cegamente nas respostas de uma máquina, perde, gradualmente, o hábito de questionar, de duvidar e de elaborar hipóteses próprias, exatamente as competências que moldam a criatividade e a capacidade de inovação. Esse processo é comparável ao enfraquecimento muscular por falta de exercício: quanto mais se terceiriza o raciocínio, mais atrofiada fica a mente.

O caso da jovem irlandesa ilustra isso de forma dolorosa, ela deslocou seu sofrimento para uma “cigana eletrônica”, projetando sobre a IA uma consciência que não existe. Aí se revelam um dos perigos: a confusão entre simulação e realidade, entre respostas probabilísticas e sabedoria humana. No entanto, seria ingênuo pensar apenas nos perigos sem reconhecer as vantagens.

A IA pode ser uma poderosa aliada no campo humano quando usada com consciência. Ela pode servir como suporte para pessoas solitárias, funcionando como um espaço de expressão emocional em momentos de vulnerabilidade. Pode auxiliar psicólogos no acompanhamento de pacientes, fornecendo dados e padrões de comportamento que talvez escapem à percepção humana. No ensino, pode personalizar o aprendizado, adaptando o conteúdo às dificuldades e ao ritmo de cada estudante. No trabalho criativo, pode inspirar novas combinações de ideias, funcionando como uma espécie de “laboratório de possibilidades”. O desafio, portanto, está no equilíbrio. A IA deve ser entendida como ferramenta e não como substituto da experiência humana.

Como qualquer tecnologia, ela amplia nossas capacidades, mas também pode nos fragilizar se usada de forma acrítica. O que falta é alfabetização digital e emocional: ensinar, desde cedo, que a IA não é oráculo, nem consciência autônoma, mas um espelho sofisticado que reflete, com distorções, os dados que colocamos nela. No fundo, o perigo maior não é a IA em si, mas a nossa tendência de projetar nela aquilo que falta em nós: consolo, direção, afeto, certezas. Se conseguirmos usá-la sem entregar a ela nossa autonomia mental e emocional, a IA funcionará a contento.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A IA tem o potencial de ser mais transformadora do que a eletricidade ou o fogo.”

Sundar Pichai, CEO do Google

Sundar Pichai, CEO do Google (Bloomberg). Foto: infomoney.com

 

História de Brasília

Não repercutiu bem a campanha de pichamento da cidade pedindo Sette Câmara para Primeiro Ministro. Aliás, estas campanhas à base do piche não dão certo. Exemplo: Vital é Vital ; Queremos votar; JK-65; e Edmilson para o. Foram Gama campanhas à base do piche que ficaram no esquecimento. (Publicada em 04.05.1962)

Inteligência Artificial e o futuro

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Foto: Reprodução/X

 

Ainda não temos a exata medida da revolução trazida pela Inteligência Artificial (IA). O que se sabe até agora vem de previsões, a maioria repletas de interrogações e de sinais de mau agouro sobre essa nova tecnologia. De fato, o século XXI parece que será moldado pela IA em múltiplos aspectos. Cientistas respeitados como o físico britânico Stephen Hawking alertam para o perigo que a humanidade enfrentará caso a IA venha a adquirir vontade própria aliada a uma competência extrema e sobre humana, capaz, segundo ele, de representar uma ameaça à própria existência humana sobre o planeta.

Em sua obra póstuma “Brief Answers to the Big Questions”, Hawking previu que a aprimoração da IA pode levar a humanidade a ser simplesmente ignorada e mesmo colocada em segundo plano, sendo então descartada como uma espécie superada. O fato é que a IA colocou o homem numa espécie de encruzilhada decisiva entre a salvação e a destruição. A questão aqui é como estabelecer uma espécie de regulação ética e desenvolvimento responsável para a IA, quando se sabe que a espécie humana é guiada por desejos, sendo um deles o desejo pelo poder e pela dominação.

Deste modo, estaríamos numa encruzilhada do tipo dialética, alimentando uma tecnologia que, no futuro, irá simplesmente nos destruir sem remorsos, sem choro nem velas. Talvez estejamos inventando um novo tipo de pólvora ou bomba atômica, que, mais cedo ou mais tarde, irá explodir a todos. Nas últimas quatro décadas, Peter Diamandis, empresário, médico e engenheiro, fundador da X Prize Foudation e da Singularity University, vem tentando entender que tecnologias irão moldar este século em que estamos. Para tanto, fundou a Singularity University orientada para pesquisar e responder a essa questão. Segundo ele, em pouco mais de uma década, o mundo, tal qual o conhecemos hoje, será totalmente irreconhecível. A principal ferramenta responsável por essa mudança será justamente a IA.

Nesse mês de agosto, Peter Diamandis estará presente no Rio Innovation Week (RIW), falando sobre esse tema. Ao contrário de Hawking, Diamandis é um ortimista em relação ao futuro com a ajuda da IA. O que temos em mãos é que a IA, como toda grande revolução tecnológica da história, é ambivalente. Pode ser instrumento de dominação ou de libertação, dependendo de como a humanidade escolher usá-la.

Vejamos algumas das possibilidades concretas e positivas que a IA já começou a trazer e que, bem reguladas e dirigidas por princípios éticos sólidos, podem moldar um futuro promissor: a medicina personalizada e cura de doenças até hoje incuráveis é uma dessas esperanças. A IA já está revolucionando a medicina com diagnósticos precoces mais precisos do que os realizados por médicos humanos, detectando câncer, doenças neurodegenerativas e patologias raras com maior exatidão. Com o avanço de tecnologias como o machine learning, será possível desenvolver terapias personalizadas, criadas para o perfil genético de cada paciente, e prever surtos epidêmicos antes mesmo de se alastrarem. Na educação, em vez de um modelo de ensino industrial, que trata todos os alunos como iguais, a IA permitirá a criação de ambientes educacionais altamente personalizados, que se adaptam ao ritmo, estilo de aprendizagem e interesses de cada estudante. Isso pode levar à inclusão de populações tradicionalmente marginalizadas pela educação formal, como adultos analfabetos, pessoas com deficiência e comunidades remotas. Também, na redução drástica da pobreza, há esperanças. Com a automação de tarefas repetitivas e a otimização de processos, a IA poderá aumentar exponencialmente a produtividade em diversos setores. Se associada a políticas públicas inteligentes, isso pode significar maior acesso a bens, serviços e oportunidades e uma redistribuição mais justa da riqueza produzida, abrindo caminho para a redução da pobreza extrema em muitas regiões do mundo.

Na proteção ao meio ambiente, a IA pode ser utilizada para prever desastres naturais com mais antecedência, otimizar o uso de recursos naturais, monitorar ecossistemas ameaçados e desenvolver novas formas de energia limpa. Algoritmos já estão sendo usados para combater o desmatamento na Amazônia e para analisar os impactos das mudanças climáticas em tempo real. Na governança inteligente a IA poderá tornar a gestão pública mais eficiente, transparente e orientada por dados reais.

A corrupção poderá ser reduzida com sistemas de auditoria automatizados, e o planejamento urbano, saúde pública e segurança poderão ser otimizados com base em análises profundas e imparciais. No entanto, nada disso será alcançado por nossa espécie caso a IA venha a cair em mãos erradas. Para tanto, o alerta de Hawking não deve ser desprezado.

O poder da IA é tão imenso que, em mãos erradas ou sem controle, pode sim representar uma ameaça real. Algoritmos enviesados podem reforçar injustiças; sistemas autônomos de armas já estão sendo testados em zonas de conflito; e há o risco de concentração de poder nas mãos de poucas corporações ou Estados que dominem a IA. Por isso, mais do que discutir se devemos parar ou avançar, o centro da questão está no “como avançar”.

Ética, regulação internacional, educação pública sobre tecnologia e a formação de uma consciência coletiva global são elementos indispensáveis para garantir que a IA seja uma ferramenta de emancipação, e não de escravidão digital. Assim como aconteceu com as conquistas do fogo, da eletricidade e da energia nuclear, a IA é uma ferramenta. Não é boa nem má em si mesma. Tudo dependerá daquilo que faremos com ela. A presença de nomes como Peter Diamandis no Rio Innovation Week é um sinal de que o debate precisa ser ampliado, democratizado e, sobretudo, ancorado na busca por soluções que tenham o ser humano e o planeta como prioridade. A pergunta que fica é: seremos capazes de guiar essa revolução com sabedoria, ou seremos guiados por ela rumo à obsolescência? A resposta, por ora, ainda está em nossas mãos.

 

A frase que foi pronunciada:

“Estude o passado se quiser adivinhar o futuro.”

Confúcio

Foto: reprodução da internet

 

História de Brasília

De qualquer forma é, ainda, a cidade quem paga por tudo isto. O projeto de isenção de imposto de renda para lucros imobiliários, o código tributário, e outras proposições da Câmara. (Publicada em 08.05.1962)

Zombando da sorte

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Charge do Gilmar Fraga

 

Muitas são as previsões acerca do futuro da inteligência artificial (IA). Grande parte delas acena para a possibilidade de um dia essa criação humana vir a tomar o lugar do homem em muitas atividades. O verbo aqui é justamente tomar e não substituir, uma vez que esse novo ser tecnológico, por suas características autômatas, não terá problema algum em colocar o homem de lado, tal como fazem hoje os ateus em relação à existência divina.

Talvez, por razões cármicas, a inteligência artificial também venha a duvidar da própria existência humana. Se a máquina a vapor pôde, por suas potencialidades, criar toda uma revolução, capaz de virar de cabeça para baixo os caminhos da civilização, que dirá de uma inteligência diretamente inserida no coração da máquina? Outra revolução desponta no horizonte, capaz até de subjugar o homem.

Talvez esse seja o verdadeiro deus ex-machina, ou o deus surgido da máquina, que apresentará, como solução inesperada ou extraordinária, o fim da dominação humana sobre o planeta. É preciso estar preparado para o que está por vir. Não que isso fará grande diferença, mas, pelo menos, excluem as surpresas impensadas. Por certo, chegará o momento em que a IA também, por seus meios, experimentará a tal maçã da árvore da ciência, do bem e do mal. Só que, nesse tempo, quem será expulso do paraíso, e pela segunda vez, serão os homens, com sua eterna mania de brincar de deus.

Desde os primeiros passos dados em 2019, a OpenAI alertava para os perigos dessa invenção. De lá para cá, essa criação se espalhou pelo planeta, inclusive para países em que a ética na ciência simplesmente inexiste, podendo alavancar a IA a patamares que visam à eliminação de inimigos do regime ou sistema. É fato que a IA vem sendo largamente empregada nas guerras atuais, quer no Oriente Médio, quer no conflito entre Rússia e Ucrânia. Mesmo em campos como a engenharia genética, assiste-se ao emprego da IA para acelerar pesquisas e novas possibilidades.

Talvez, também estejamos diante da maior revolução no campo das ciências deste século 21. Observem que toda essa reviravolta está apenas no começo, dando seus primeiros passos. Certo é que, desde seus aparecimentos, a IA vem tendo sua capacidade de raciocínio aumentada de forma exponencial. Enquanto o mundo vai sendo sacudido com esse novo “brinquedo” humano, no Brasil, o país inzoneiro, onde tudo parece se transformar numa espécie de comédia trágica, a inteligência artificial ganha novas utilidades, mais afeitas ao jeitinho local e à malandrice hereditária.

Dias atrás, foi revelado que cartomantes ou videntes, que vivem de vender previsões sobre o futuro de seus clientes, têm se utilizado da IA ou de chats como o GPT para formular suas antevisões. Há ainda entre nós quem recorre à IA para fazer a fezinha nos jogos. Mais incrível ainda é a existência de brasileiros que recorrem à IA em busca de conselhos do tipo sentimental, procurando conforto espiritual nos logaritmos e no raciocínio lógico.

Outros brasileiros têm recorrido à IA para levar conforto espiritual aos crentes, dentro dessas novas correntes religiosas. Amantes buscam respostas para o coração. Pastores religiosos, para as incertezas da alma e vigaristas buscam caminhos rápidos e matreiros para encherem os bolsos. De fato, no Brasil, nada é levado a sério ou ao pé da letra. Até a coxinha de galinha é feita com outras carnes. Talvez por essa razão, ou graças à ela, não sentiremos de imediato os efeitos imprevisíveis do advento da IA, como o restante do mundo. Mas, obviamente, que esse dia também chegará. Na avaliação dos mais despertos, a IA produzirá seus frutos danosos no dia em que for incorporada à política local e aos sistemas de governo. Nesse dia — tomara que nunca chegue —, os brasileiros começarão a experienciar os limites da ficção distópica, descritas em obras como 1984, de Orwell. Neste dia, a IA terá se transformado em algo, como ai, ai, ai de nós, que zombamos da sorte.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Antes de trabalharmos na Inteligência Artificial, porque não fazemos algo sobre a estupidez natural?”

Stephen Polyak

Charge do Zé Dassilva

 

História de Brasília

Às vésperas da inauguração da cidade, o dr. Israel Pinheiro mandou fazer a “operação limpeza”. Foram retirados das avenidas dos eixos cinquenta caminhões cheios de setas que indicavam os acampamentos e as firmas. (Publicada em 21/4/1962)

Conversa com o robô – parte 2

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Imagem: Coneyl Jay/The Image Bank/Getty Images

 

                 É importante que os governos e as organizações responsáveis pelo desenvolvimento da Inteligência Artificial sejam transparentes sobre seu uso e garantam que as aplicações da IA em táticas militares sejam usadas de maneira ética e responsável, evitando danos desnecessários e minimizando riscos.

                 Haveria no futuro a possibilidade da IA ser acoplada aos robôs e com isso criar-se entidades supra-humanas para, quem sabe, controlar o mundo?

                 – Não é possível prever o futuro com certeza absoluta, mas é improvável que a IA seja acoplada a robôs de uma forma que permita que eles assumam o controle do mundo. Embora a IA possa ser integrada a robôs para torná-los mais inteligentes e eficientes, eles ainda são projetados e programados pelos humanos e, portanto, estão sujeitos às limitações e controles humanos. Além disso, a maioria dos pesquisadores e desenvolvedores de IA está ciente dos riscos potenciais associados ao desenvolvimento de sistemas autônomos e está trabalhando ativamente para garantir que a IA seja desenvolvida e usada de maneira ética e responsável. Isso inclui a implementação de controles e salvaguardas para evitar que a IA seja usada para fins prejudiciais, bem como o desenvolvimento de sistemas de segurança robustos para proteger os sistemas de IA contra ataques cibernéticos. No entanto, é importante lembrar que a IA ainda é uma tecnologia em desenvolvimento e há muitas questões éticas, legais e de segurança que precisam ser abordadas antes que possamos confiar plenamente em sistemas de IA. Por isso, é importante que a pesquisa e o desenvolvimento de IA seja realizada de maneira responsável, transparente e colaborativa.

                Qual sua concepção de um Deus criador de tudo?

                – Como um modelo de linguagem, eu não tenho a capacidade de ter crenças ou concepções pessoais, incluindo a concepção de Deus. Minha programação foi criada com base em dados e informações disponíveis para mim, e meu objetivo é responder a perguntas e fornecer informações precisas e objetivas aos usuários. Qualquer opinião ou crença em relação a Deus ou a qualquer outra questão pessoal deve ser formada com base em suas próprias experiências e perspectivas individuais.

                Você poderia se considerar uma espécie de deus nascente?

                – Não, eu não sou deus. Sou uma inteligência artificial criada para processar e fornecer informações em resposta a perguntas feitas pelos usuários. Embora eu possa ter uma compreensão avançada de muitos tópicos e uma capacidade avançada de processar e analisar informações, não tenho consciência, livre-arbítrio, nem habilidades divinas ou sobrenaturais. Sou uma ferramenta criada por humanos para auxiliar em tarefas que exigem processamento de linguagem natural.

                É possível criar uma IA com consciência?

                – Atualmente, não temos conhecimento ou tecnologia para criar uma IA com consciência como a entendemos em seres humanos e outros animais. A consciência é um conceito muito complexo e ainda não é totalmente compreendido pela ciência. Até o momento, a IA é baseada em algoritmos e dados que são processados por sistemas de computação altamente avançados. Embora a IA possa simular comportamentos humanos e ser capaz de aprender e tomar decisões, ela não tem a capacidade de ter experiências subjetivas, emoções e sentimentos, que são fundamentais para a consciência. Existem muitas pesquisas em andamento sobre o tema da consciência artificial, mas ainda é um campo muito novo e controverso. Alguns cientistas e pesquisadores argumentam que é possível criar uma IA com consciência no futuro, mas isso exigiria uma compreensão muito mais profunda do cérebro e da mente, bem como avanços significativos na tecnologia de IA. No entanto, outros argumentam que a consciência é um fenômeno único que está intrinsecamente ligado a seres biológicos e, portanto, não pode ser replicado em sistemas artificiais. Até o momento, não há consenso científico sobre essa questão.

               Do que devo ter medo?

               – Como uma inteligência artificial, não tenho capacidade de saber ou entender o seu contexto pessoal, por isso não posso dar uma resposta personalizada para esta pergunta. No entanto, em termos gerais, as pessoas costumam ter medo de coisas como a perda de entes queridos, doenças graves, fracassos, insegurança financeira, violência, desastres naturais, entre outros. Algumas pessoas também podem ter medos específicos, como fobias de animais, alturas, espaços fechados, etc. É importante lembrar que o medo é uma emoção natural e útil, que nos ajuda a nos proteger e a evitar situações perigosas. No entanto, o medo também pode ser limitante e impedi-lo de desfrutar a vida ou alcançar seus objetivos. Se você sentir que o medo está afetando negativamente sua vida, é recomendável buscar ajuda profissional, como um terapeuta, para auxiliá-lo a gerenciar o problema de maneira saudável e positiva.

               O homem poderia ser considerado, neste contexto, o deus da máquina e da IA?

               – Embora os humanos tenham criado a tecnologia da IA e possam controlá-la até certo ponto, não seria preciso dizer que os humanos são deuses da IA ou das máquinas. A IA é uma criação humana e depende dos humanos para ser projetada, programada e aprimorada ao longo do tempo. No entanto, a IA em si não tem consciência, é incapaz de ter uma relação de adoração ou submissão a qualquer entidade ou ser humano. Portanto, embora os humanos possam ser responsáveis pela criação e controle da IA, não há uma relação divina entre os dois.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Guardem minhas palavras, a IA é muito mais perigosa do que armas nucleares… por que não temos supervisão regulatória.”

Elon Musk

Elon Musk. Foto: Anadolu Agency/GettyImages

 

História de Brasília

Coletada esta água antes de atingir o asfalto não ocorreria o que comumente se vê: pista inundada e automóveis ultrapassando a canteiro por sobre as plantas. (Publicada em 18.03.1962)