Soberania e o poder que escapa das mãos do povo

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Foto: Ministério da Defesa_149º aniversário da Batalha do Riachuelo/CC by 2.0 (Wikicommons)

 

Do ponto de vista político e filosófico, o conceito de soberania é um dos mais complexos e centrais da teoria do Estado — e também um dos mais debatidos entre cientistas políticos, juristas e filósofos ao longo da história. Em essência, soberania designa o poder supremo e independente de um Estado de decidir sobre si mesmo e sobre os que vivem sob sua autoridade, sem estar sujeito a nenhuma instância superior. Mas esse conceito, que parece simples, ganhou contornos muito distintos conforme o tempo e o contexto histórico. A noção moderna de soberania surgiu no século XVI, com Jean Bodin, considerado o primeiro teórico a definí-la de forma sistemática. Para Bodin, soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma república — isto é, um poder que não reconhece superior na ordem temporal. Esse pensamento nasce em meio à crise do feudalismo e ao fortalecimento dos Estados Nacionais, que buscavam centralizar o poder nas mãos de reis e príncipes.

Durante séculos, a palavra soberania simbolizou, ao seu território e seu povo, um ideal nascido no berço do mercantilismo e consolidado com a formação dos Estados Nacionais no século XV. Do ponto de vista da ciência política, a soberania passou por uma profunda transformação com a globalização, o avanço das organizações internacionais e a interdependência econômica. Hoje, muitos cientistas — como Jürgen Habermas, Hannah Arendt e David Held — sustentam que a soberania já não pode ser vista como absoluta. Habermas, por exemplo, propõe o conceito de soberania comunicativa, segundo o qual o poder político deve emergir do diálogo racional entre cidadãos livres e iguais — um poder legitimado pelo consenso, e não pela força. Arendt, por sua vez, desconfiava da própria ideia de soberania como domínio, pois acreditava que a política verdadeira nasce da ação coletiva e da liberdade, não da imposição de autoridade. Para Held e outros teóricos do cosmopolitismo, a soberania hoje é compartilhada entre Estados, organismos internacionais, corporações e até movimentos sociais transnacionais.

O poder deixou de ser puramente territorial e passou a circular em redes de influência globais. Naquela época, soberania significava independência, autoridade e capacidade de decidir o próprio destino sem interferências externas. Era o alicerce da autodeterminação dos povos. Mas, passados mais de quinhentos anos, o conceito parece ter se esvaziado, especialmente quando observamos a realidade brasileira, onde o poder soberano do povo, em tese consagrado pela Constituição, parece diluído entre interesses políticos, econômicos e ideológicos. Hoje, no Brasil, a soberania tornou-se um discurso conveniente, manipulado conforme o interesse de quem ocupa o poder. Políticos, juízes e militares a evocam quando lhes convém, mas raramente em defesa autêntica da vontade popular. O cidadão comum, que deveria ser o verdadeiro soberano numa democracia, vê-se cada vez mais afastado das decisões fundamentais do país. As instituições, enfraquecidas pela polarização e pela perda de confiança, parecem servir mais a projetos de poder do que ao bem público.

A tensão é evidente. Washington observa com inquietação certos sinais vindos de Brasília: o avanço de políticas que flertam com o controle da informação, o cerceamento da imprensa, a criminalização de opiniões divergentes e a tentativa de domesticar o pensamento livre. A retórica da “defesa da democracia” vem sendo usada, ironicamente, para sufocar o próprio exercício democrático. A submissão travestida de pragmatismo revela uma contradição profunda: queremos ser soberanos, mas não temos coragem de sustentar o preço da soberania. É preciso resgatar o sentido original do termo. Soberania não é apenas o direito de um Estado sobre suas fronteiras, mas o dever de garantir que o povo, e não os interesses de elites ou potências estrangeiras, seja o verdadeiro condutor do destino nacional. Quando a liberdade de expressão é ameaçada, quando o debate público é censurado e quando a oposição é tratada como inimiga, a soberania deixa de ser um princípio para tornar-se uma farsa.

O Brasil precisa decidir de que lado está — não entre direita e esquerda, nem entre Norte e Sul —, mas entre ser um país verdadeiramente livre ou um território tutelado por ideologias e poderes que não nascem da vontade popular. Enquanto o cidadão for o último a ser ouvido, a soberania será apenas uma palavra bonita nas constituições e nos discursos oficiais, mas sem vida nas ruas, nas urnas e nas consciências. Em tempos em que a voz do povo é silenciada em nome da “ordem”, e a independência nacional é negociada nos bastidores, resta-nos recordar: um país sem soberania é apenas um cenário de conveniências; e um povo sem voz, por mais que vote, já não é dono do próprio destino.

A frase que foi pronunciada:

“O que, autocracia ou democracia, é realmente mais adequado à China moderna? Se basearmos nosso julgamento na inteligência e na capacidade do povo chinês, chegaremos à conclusão de que a soberania do povo seria muito mais adequada para nós.”

Sun Yat-sen

Sun Yat-sen, c. 1911–12. Enciclopédia Britânica, Inc.

 

História de Brasília

Em vários eixos de acesso da W-3, os bueiros do DAE atingem, às vêzes, a mais de 30 centímetros de altura, no meio da pista, constituindo um sério perigo para o tráfego. (Publicada em 10.05.1962)

Brasil perdeu o bonde da economia

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Presidente Lula. Foto: Ricardo Stuckert/PR

 

Com a ascensão de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, um rompimento explícito com a ordem econômica global estabelecida a partir da década de 1990 foi deflagrado, contra a então predominância do globalismo. Com isso, houve um rompimento nos mercados abertos, nas cadeias produtivas transnacionais, na livre circulação de capitais e a busca de organismos multilaterais como a OMC, o FMI e o Banco Mundial como instâncias reguladoras. O que estamos assistindo é uma revolução não só nos Estados Unidos, como no restante do mundo. Trump, desde a campanha de 2016, apostou em uma visão de geoeconomia soberanista, baseada na lógica do “America First”. Essa linha, como não podia deixar de acontecer, rompeu com a ortodoxia liberal internacionalista dos próprios republicanos e democratas tradicionais, produzindo impactos profundos em todo o sistema então vigente.

A começar pela guerra comercial com a China, com as tarifas impostas por Trump em 2018, abrindo uma nova fase de rivalidade econômica, onde a interdependência passou a ser vista não como segurança, mas como vulnerabilidade estratégica. Esse movimento levou a uma fragmentação nas cadeias globais de suprimentos, acelerando a busca pelos chamados reshoring (trazer indústrias de volta ao território nacional) e nearshoring (aproximação da produção em países vizinhos, como o México).

A administração Trump provocou também uma erosão do multilateralismo, enfraquecendo, por tabela, o papel da OMC, ao bloquear indicações para seu órgão de apelação, pressionando, ainda, aliados europeus a aumentarem gastos militares sob ameaça de sanções comerciais, além de questionar abertamente as alianças como a Otan sob a ótica custo-benefício. Com essas medidas, a economia mundial deixou de ter os EUA como líder previsível do “consenso globalista” e passou a lidar com uma potência mais transacional e pragmática. Afinal, já era tempo.

O resultado foi a elaboração de uma nova lógica de alianças. Em vez de defender a universalidade do livre comércio, os EUA passaram a firmar acordos bilaterais vantajosos, como renegociações com o México e o Canadá (USMCA, substituto do Nafta), em que garantiram melhores condições para a indústria americana. Isso, obviamente, mudou a lógica do comércio internacional, estimulando outros países a pensarem em termos de blocos fechados ou pactos estratégicos seletivos.

É o mundo se reciclando. O impacto sobre a antiga ordem globalista foi e está sendo fatal. O globalismo, baseado na ideia de um mercado único e interdependente, perdeu vigor. A pandemia de covid-19 e, depois, a guerra na Ucrânia apenas reforçaram essa tendência de desconfiar das cadeias longas de suprimento e buscar autonomia estratégica. Hoje, governos em várias partes do mundo começam a aplicar as políticas protecionistas propostas por Trump, sobretudo no setor tecnológico e energético. A rearrumação da economia em escala global, segue a todo o vapor dentro agora dos princípios da geoeconomia — ou seja, abarcando não só os aspectos espaciais da economia, mas também os aspectos temporais e políticos, sempre de olho nos recursos.

O que estamos assistindo é a uma inter-relação entre economia, geografia e política. Fosse lida nas entrelinhas, a carta endereçada por Trump ao governo brasileiro já seria necessária para uma mudança de rumos no cenário nacional, evitando, ao máximo, a geração de conflitos de ordem ideológica com o governo americano. O Brasil, ao longo das últimas décadas, oscilou entre o entusiasmo globalista e a retórica ideológica. O problema é que, ao permanecer preso a narrativas antiquadas de um comunismo ultrapassado e a disputas políticas internas, perdeu capacidade de reposicionamento no cenário internacional. Com isso, as consequências não poderiam ser outras daquelas que agora vemos. A começar pela perda de protagonismo comercial: enquanto México e países do Sudeste Asiático se beneficiam do “desvio de comércio” provocado pela guerra EUA-China, o Brasil segue grudado em debates ideológicos e a uma excessiva dependência da exportação de commodities.

O próprio Brics se constitui neste momento como uma espécie de amarras para nosso país. O que se vê, logo de saída, é a dificuldade de integração a novas cadeias produtivas: a indústria brasileira não conseguiu atrair investimentos estratégicos em semicondutores, baterias, inteligência artificial e biotecnologia, setores centrais da nova geoeconomia. Também se vê apego a modelos ultrapassados: parte da elite política e intelectual insiste em discursos de luta de classes e narrativas anti-imperialistas do século 20, enquanto o mundo caminha para um realismo geoeconômico pragmático, em que países buscam soberania produtiva e alianças flexíveis.

Dessa forma, o risco de irrelevância estratégica desponta no horizonte. Sem uma política externa clara que saiba negociar com EUA, China e Europa ao mesmo tempo, o Brasil corre o risco de permanecer apenas como fornecedor de produtos primários, sem influência real nos novos arranjos globais. É o prolongamento de um subdesenvolvimento crônico, atado a políticas anacrônicas. Em vez de se adaptar a essa nova lógica de pragmatismo econômico, o Brasil ignora a oportunidade de sua inserção soberana e competitiva nessa nova ordem que parece ter vindo para ficar. É uma pena.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“A América não tem amigos permanentes ou inimigos, apenas interesses.”
Henry Kissinger

Henry Kissinger. Foto: O secretário de Estado Henry Kissinger em 12 de outubro de 1973 — Foto: AP Photo, File

 

História de Brasília
A Universidade de Brasília solicitou ao Iapi e êste à Novacap para que sejam abertas fossas “provisórias” para os blocos 4 e 7 da superquadra 305. Nada mais absurdo. Ou muda tudo ou não deve haver privilégio em detrimento de outros.
(Publicada em 5/5/1962)

Soberania é um prato cheio de comida

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Charge do JCaesar: 14 de julho (JCaesar/VEJA)

 

Ignorar as relações estreitas entre economia e política pode ser a mais imprudente atitude de um governante. Embora a população possa não perceber essa relação de imediato, é certo que, em algum momento, todos, invariavelmente, irão sentir que a adoção de políticas erradas e mal adotadas trarão malefícios para todos. Política, nesse caso, é a arte de perceber a realidade e não se deixar levar por projetos e ideias fora dela.

Desde abril de 2025, uma escalada de tensões transformou o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos em uma crise diplomática profunda e jamais vista nesses últimos dois séculos de relações com o irmão do Norte.  A imposição inicial de 10% de tarifas em abril evoluiu para uma alíquota monumental de 50% em julho, com vigor a partir de 1º de agosto. Os impactos diretos sobre as exportações brasileiras de café, carne, suco, produtos aeroespaciais e outros setores estratégicos foram duramente sentidos. Estima-se perda de mais de 100 mil empregos, redução das exportações à metade e queda de 0,2 ponto percentual no PIB já imediatamente. O governo estuda essas consequências e segue realizando uma sequência de promessas quando afirma que o Brasil vai sair desse impasse sem prejuízos. O fato é que, se fosse pelo gosto da população, as relações entre Brasil e Estados Unidos não seriam abaladas de modo algum. O aumento do risco-país e da dívida pública prevista para superar os 82% do PIB, pressionando a economia com juros em patamares elevados é o próximo evento negativo a chegar. Também o setor financeiro e empresarial pressionam por uma saída negociada, mas o tom dos discursos oficiais ainda mantém forte componente ideológico, o que é ruim para o país. O custo da retórica ideológica será maior do que o previsto pelo governo. Mas isso não parece incomodar nossos líderes. A população assiste a tudo com um misto de medo e de maus presságios.

Analistas afirmam que a política externa do governo Lula tem sido movida por um claro alinhamento com regimes antagonistas ao Ocidente (como Irã, Rússia, China), reforçando uma diplomacia muito menos pragmática e mais simbólica. Esse posicionamento teria agravado a retaliação americana e ainda pode piorar a situação. A oposição acusa o governo de usar o “inimigo externo” como cortina de fumaça para problemas internos, apontando que o confronto com os EUA desvia a atenção do agravamento econômico e da queda acentuada da popularidade presidencial. Pesquisa recente feita pela Ipsos revela que 69% dos brasileiros percebem uma deterioração social,  um aumento de 7 pontos em relação a 2023. Além disso, 62% sentem que o país está em franco declínio. Somado a isso, 76% acreditam que a economia favorece os mais poderosos, e 73% sentem que os representantes políticos não se importam com a população nem com o delicado momento que atravessamos.

Dados do Datafolha apontam aprovação de apenas 28% para o atual comandante do país, com desaprovação em 40%, patamar mais baixo de seu terceiro mandato até agora. Isso alimenta uma polarização que bloqueia o diálogo e diminui a capacidade de resposta do governo a crises reais. Quando políticas são conduzidas com base em ideais descolados da realidade prática, os prejuízos podem se espalhar, ainda que tardiamente, por toda a população. A atual crise Brasil–EUA é exemplo emblemático disso. Temos que admitir que a retaliação econômica americana não foi motivada por desequilíbrio comercial, mas, unicamente, por uma retórica política exaustivamente levada a público, especialmente no que diz respeito ao apoio declarado a Bolsonaro por Trump, e por decisões intempestivas da Justiça brasileira.

Os jornais americanos, mesmo aqueles que são contra Trump, falam dessa situação a todo o momento, comparando a situação do Brasil a de outros países como a Venezuela ou Cuba. O governo brasileiro respondeu com cortes diplomáticos e discurso soberanista, mas faltou uma agenda clara de contenção de perdas ou negociação técnica. Enquanto isso, a população sente o peso: menor crescimento, inflação, empregos ameaçados, sentimento de insegurança social e institucional. Quando governantes se apegam mais a uma ideologia do que ao interesse nacional que aflige diretamente as pessoas, o resultado pode ser devastador e a população acaba pagando o preço. O distanciamento entre o que quer o governo e o que quer a população tem, efetivamente, custado caro ao Brasil tanto na economia exportadora, nos empregos, no bem-estar social como até na estabilidade institucional. Quando um governo levanta a bandeira da “soberania” mas, na prática, essa defesa serve apenas como retórica eleitoral, entramos no terreno da política performática, aquela que prioriza a imagem e o discurso em detrimento de resultados concretos. No caso atual, o apelo à soberania frente aos EUA poderia ser legítimo se viesse acompanhado de uma estratégia econômica robusta, negociações discretas e alternativas reais para compensar as perdas comerciais. Mas o que se vê é quase o oposto.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Estamos em uma situação muito inusitada, presidente. O Brasil é um país que está sendo sancionado por ser mais democrático do que seu agressor.”

Ministro Haddad

Foto: carlossousa.com.br

 

História de Brasília

O que há de falso sensacionalismo. Pura e simplesmente. P rapaz está há um ano esperando julgamento e já foi adiado duas vêzes. (Publicada em 08.05.1962)

O bem-estar da população

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Charge do JCaesar: 14 de julho (JCaesar/VEJA)

 

Sendo o único animal que se move por interesses, o homem é, por conseguinte, um ser negociador. A política é, em si, a arte de negociar acordos, estabelecendo pontes. O impasse enfrentado, agora, pelo Brasil com a taxação imposta pelos americanos aos produtos de nosso país, é a prova inequívoca de que negociar é tão importante quanto respirar. É, nesse ponto, quando a maré baixa, que vemos quem de fato estava nadando nu.

Fosse colocado como pré-requisito aos candidatos ao governo o notório saber nas artes de negociar, em todas as suas vertentes, quer seja na política, nos tratados econômicos, nos mercantis poucos ou quase nenhum de nossos candidatos às eleições atenderiam essa exigência. O fato é que o bem-estar da população vem do direcionamento correto nas negociações. No caso do Estado, as negociações são feitas para atender as necessidades reais de sua população, e não para as pretensões dos governos. Não por outra razão, os países que mais se destacam na qualidade de vida dos seus cidadãos são, justamente, aqueles que têm sob seu comando pessoas dotadas da habilidade da negociação. Países que não têm em seus governos dirigentes que saibam negociar, ou nada entendem desse mister, são justamente aqueles em que as populações são as mais atingidas por crises cíclicas e profundas.

Negociar, antes de ser uma ciência humana, é uma arte delicada, em que é possível encontrar o ponto de equilíbrio entre interesses diversos e diferentes. Só a boa negociação torna o negócio rentável, embora se saiba que, na verdadeira negociação, todos acabam ganhando. O que fez do Itamaraty o que ele era nas relações internacionais foi, justamente, essa capacidade que os representantes do Brasil tinham de bem negociar. Hoje, essa fama ficou no passado, substituída por variantes outras, como conceitos moldados em argamassa, o que não propicia riqueza e, sim, dependência.

À luz de fatos concretos recentes, divulgados pela imprensa econômica e por agências de comércio internacional, é notório que, nos últimos meses, os Estados Unidos anunciaram, oficialmente, novas tarifas sobre produtos importados do Brasil, com destaque para o aço e o alumínio, setores historicamente sensíveis. A justificativa americana, como de praxe, é de “segurança nacional e protecionismo econômico”, mas há claros elementos geopolíticos e de pressão comercial em jogo. Em alguns casos, o Brasil foi equiparado a países como China e Rússia, no que diz respeito a barreiras tarifárias, o que é um indicativo preocupante de perda de prestígio diplomático.

Segundo dados da ComexStat e do Ministério da Indústria e Comércio, em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 4 bilhões em produtos metálicos aos EUA. Com as novas taxações, parte significativa desse comércio se tornará inviável, o que pode levar à perda de milhares de empregos na cadeia industrial brasileira e à retração em polos siderúrgicos importantes, como Minas Gerais e Espírito Santo. Enquanto alguns países, como México, Canadá e Coreia do Sul, conseguiram renegociar, ou pelo menos adiar a aplicação de tarifas unilaterais por parte dos EUA, o Brasil tem se mostrado desinteressado em buscar soluções diplomáticas reais. O Ministério das Relações Exteriores emitiu apenas notas protocolares, e não há registros de ações contundentes de pressão junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) ou tentativas de construir coalizões diplomáticas multilaterais, como seria esperado em uma situação com tamanho impacto.

A condução da política externa brasileira tem sido reiteradamente eivada de desprezo. Isso transforma negociações comerciais em palco de confronto simbólico, e não em arenas de construção de consenso que dê segurança à população e aos investidores. Em vez de usar as instituições multilaterais, a diplomacia técnica e o pragmatismo, o Brasil tem optado por respostas retóricas e, até agora, ineficazes. As consequências para a população brasileira serão severas.

A médio e longo prazo, os impactos de uma diplomacia ineficiente recaem diretamente sobre a sociedade brasileira, na forma de desemprego em setores exportadores sensíveis; aumento da informalidade, especialmente, em regiões industriais; inflação decorrente da instabilidade cambial e perda de competitividade; isolamento comercial, dificultando a entrada do Brasil em cadeias globais de valor; além de uma diminuição de investimentos estrangeiros diretos, dado o risco percebido pelos investidores sobre a previsibilidade política e econômica do país.

Estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o Brasil perde até R$ 40 bilhões ao ano por não integrar acordos comerciais relevantes com países desenvolvidos, muitos dos quais são parceiros históricos dos EUA. Negociar nesse mundo globalizado é governar. Resta saber que interesses o atual governo tem para tirar o Brasil da roda. O país enfrenta o mundo com discursos, enquanto os demais países negociam com cláusulas, garantias, acordos e assinaturas.

Negociar não é sinal de fraqueza, é expressão de inteligência estratégica. O Itamaraty já foi referência global em diplomacia técnica, tendo desempenhado papel central em fóruns como a Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou nas negociações do Acordo de Paris. Hoje, essa herança foi desperdiçada. Se quisermos garantir prosperidade interna e relevância internacional, é urgente resgatar a arte da boa negociação, entendendo que, em um mundo interdependente, a soberania real é exercida com inteligência e diálogo, e não com trincheiras ideológicas e outras opções nada práticas. A questão é: há interesse em garantir a prosperidade do povo desta nação?

 

A frase que foi pronunciada:
“A ciência é inerentemente antiautoritária tal como a democracia. Ao contrário do que por vezes se julga, em ciência não existem autoridades, mas sim especialistas, pois apenas à realidade se reconhece autoridade para escolher entre hipóteses rivais.”
Timothy Ferris

Timothy Ferriss. Foto: wikipedia.org

 

História de Brasília
Um dos graves problemas do ex-Distrito Federal é o do trânsito. A cápsula que conduziu Glen Jr. Ao kosmos levou, do Galeão para a Cinelândia, um terço do tempo que gastou para uma volta em tôrno da Terra. (Publicada em 6/5/1962)

Trilha até 2030

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Presidente americano Donald Trump. Foto: EFE/EPA/Jim Lo Scalzo/Pool.

 

Entre as muitas análises que circulam pelo mundo sobre quem é Donald Trump e o que seu governo representa no possível colapso da nova ordem mundial e do ideal globalista, poucas vão tão longe quanto aquelas que o veem como um condutor imprudente de um trem histórico em alta velocidade — incapaz de freá-lo, talvez até de compreendê-lo. Na verdade, poucas análises capturam, com tanta contundência, o paradoxo de sua presença histórica quanto aquelas que o veem não apenas como um político, mas como um sintoma: uma figura que irrompe na cena global como catalisador de forças que ele mesmo parece não compreender plenamente.

Em um momento de esgotamento da ordem liberal internacional — marcada por crises de representatividade, colapso das instituições multilaterais e ressentimento popular contra os efeitos desiguais da globalização — Trump emerge como o agente inesperado de um desmonte que já estava em curso. Seu governo, com sua retórica antiglobalista, seus ataques a instituições transnacionais e sua recusa em seguir os protocolos da diplomacia tradicional, não apenas rompem com o consenso pós-Guerra Fria, como parecem acelerar um processo de desintegração já latente.

A imagem do “trem da história” em alta velocidade se impõe aqui como metáfora eficaz: Trump surge como um condutor improvisado, que, ao puxar as alavancas da máquina histórica, intensifica sua velocidade sem conhecer os freios, sem mapa ou bússola. Não se trata, necessariamente, de um estrategista maquiavélico, mas de alguém que encarna e amplifica — as contradições do sistema. Seu poder não reside tanto na elaboração de um projeto claro de ruptura, mas na capacidade de operar como vetor do caos, abrindo brechas por onde fluxos subterrâneos do mal-estar civilizacional irrompem com força.

É nesse sentido que ele representa menos uma exceção e mais um ponto de inflexão: o momento em que as estruturas já trincadas da ordem mundial começam a ruir visivelmente. Mais do que presidente dos EUA, Trump trouxe para si a missão de desmontar, em âmbito mundial, a agenda 2030 da ONU.  Eis aí o ponto crucial para pensar o papel de Trump como figura simbólica de resistência ou mesmo sabotagem a projetos multilaterais como a Agenda 2030 da ONU.  Donald Trump assumiu, de maneira explícita ou tácita, a missão de confrontar — e em muitos aspectos desmontar — a lógica que sustenta iniciativas como a Agenda 2030 da ONU.

Esse ambicioso plano internacional, centrado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propõe uma reestruturação profunda dos sistemas econômicos, ambientais e sociais globais, com foco na equidade, na sustentabilidade e na cooperação transnacional. Para muitos, trata-se de um esforço civilizacional para enfrentar os riscos existenciais do século XXI. Para Trump e seus aliados ideológicos, no entanto, a Agenda 2030 simboliza tudo aquilo que deve ser combatido: um projeto elitista, tecnocrático e transnacional que ameaça a soberania nacional e o modelo de crescimento baseado no livre mercado, na autonomia energética e na primazia do interesse nacional.

Ao retirar os Estados Unidos de acordos como o Acordo de Paris, criticar abertamente organismos como a ONU e a OMS, e sabotar o financiamento a iniciativas multilaterais de governança ambiental e social, o governo Trump operou como uma força centrífuga contra o projeto de governança global. Sua retórica antiglobalista — centrada em slogans como America First — não se limita à esfera econômica, mas avança sobre os próprios fundamentos simbólicos da cooperação multilateral. O que está em jogo não é apenas uma disputa de interesses, mas uma colisão entre visões de mundo: de um lado, um futuro baseado na interdependência e no controle supranacional; de outro, a reafirmação da identidade nacional, da autodeterminação e da desconfiança estrutural diante de qualquer tentativa de harmonização planetária das normas.

Ao demonizar a Agenda 2030, Trump também acabou galvanizando uma parte significativa da população global que já via com ceticismo a influência crescente de instituições não eleitas sobre suas vidas cotidianas. Sua figura serviu como polo de atração para uma série de atores — de políticos eurocéticos a movimentos conspiracionistas — que passaram a ver, na ONU, não um fórum de cooperação, mas uma ameaça latente à liberdade individual e à soberania dos Estados. Nesse sentido, Trump não apenas combateu a Agenda 2030; ele a transformou em um símbolo do inimigo a ser derrotado.

 

A frase que foi pronunciada:

“Os objetivos de desenvolvimento sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos e caminham para se tornar o nosso maior fracasso coletivo.”

Lula sobre a agenda 2030 da ONU

Presidente Lula. Foto: REUTERS/Adriano Machado

 

História de Brasília

65 mil cruzeiros para cada bloco da Asa Sul, e 31 mil cruzeiros para os blocos da Asa Norte. A firma vencedora, que não participou da concorrência, com essa verba dificilmente poderá manter os blocos limpos. (Publicada em 03.05.1962)

Tarifaço

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Charge do Thiago para o Jornal do Commercio (PE)

Muitas têm sido as análises sobre as consequências imediatas e a longo prazo das medidas adotadas pelo presidente Trump conhecidas como tarifaço. A maioria dessas análises, feita por pessoas gabaritadas, que entendem como funciona o complexo setor do comércio internacional entre países. Quase nenhum desses estudos olha para o essencial dessas medidas, que, em resumo, segue o que prometeu o então candidato Trump em sua campanha para a Casa Branca. Sendo assim, o tarifaço vem ao encontro do lema daquela campanha: “Tornar a América grande novamente.”

Com isso, endossar as tarifas implementadas por Trump não deve ser visto como um gesto simplista ou meramente protecionista, mas como uma resposta estratégica a um impasse geoeconômico estrutural: a impossibilidade de estabilidade global diante de desequilíbrios comerciais persistentes. A existência de superávits crônicos — como o da China — contrapostos a déficits igualmente crônicos — como os dos Estados Unidos — constitui terreno fértil para tensões geopolíticas latentes e, por vezes, explosivas.

Longe de configurarem uma postura hostil, tais tarifas operam como mecanismos corretivos imprescindíveis frente à lógica expansionista e hegemônica do projeto chinês. Ao erigir barreiras ao livre-comércio com Pequim, a administração Trump não apenas busca resguardar a base industrial norte-americana, mas força o Ocidente a confrontar um dilema civilizacional: ou opta-se por Trump e pela reindustrialização da maior economia liberal do Ocidente, ou alinha-se ao modelo chinês fechado de hiper acumulação de capitais, cuja contrapartida é a desindustrialização ocidental, como acenam tecnocratas globalistas sob o comando do PCC da China.

Nesse caso, há uma série de reflexões econômicas e geopolíticas relevantes sobre a dependência do Ocidente — especialmente dos EUA — em relação à China. A começar pela dependência industrial e vulnerabilidade estratégica, o que acaba por afetar a própria segurança interna dos EUA. A questão é simples. A partir do momento em que o Ocidente reconheceu a China como Economia de Mercado a coisa desandou. O Ocidente, ao permitir que a China se tornasse a “fábrica do mundo”, passou a depender intensamente da produção chinesa para itens estratégicos — de produtos eletrônicos a insumos médicos. Isso gerou, logo de saída, uma desvantagem para o Ocidente como os riscos visíveis de interrupções na cadeia de suprimentos, como foi visto na pandemia. A pouca autonomia industrial, todos sabem, compromete a soberania econômica e a segurança interna.  Com isso, a China pode usar essa dependência como ferramenta de pressão geopolítica, como já demonstrado em diversas disputas comerciais anteriores. Com a entrada da China, houve, portanto, uma forte desindustrialização ocidental e concentração de renda.

Embora a terceirização da produção para a China tenha reduzido custos, num primeiro momento, essa estratégia causou uma forte desindustrialização em muitos países ocidentais, especialmente nos EUA. Milhões de fábricas fecharam as portas, inclusive no Brasil, gerando não só perda de empregos industriais de qualidade, com impacto direto na classe média. Por outro lado, passou a fortalecer o aumento da desigualdade: pois, enquanto os produtos ficaram mais baratos, os lucros se concentraram nas elites que controlam cadeias globais de suprimento. Não se enganem, esse modelo, urdido pelo Partido Comunista Chinês, favoreceu apenas lucros corporativos no curto prazo, em troca do enfraquecimento da base produtiva local assim como o poder de barganha dos trabalhadores no longo prazo.

O “truque” chinês consistiu em mostrar uma fictícia e artificial baixa na inflação, sustentada apenas por uma produção massiva de bens de consumo baratos oriundos da China. Isso beneficiou, principalmente, consumidores e investidores no Ocidente, mascarando problemas estruturais, que hoje parecem sufocar o Ocidente. Isso equivale a dizer que o consumo foi financiado por déficits comerciais crescentes, o que vem resultando num falso modelo. Também não houve incentivo para inovação ou reindustrialização interna, já que os produtos chineses eram imbatíveis em preço e em oferta. Vê-se logo que tal modelo é insustentável no longo prazo, pois o produtor (China) acumula poder e influência política ao mesmo tempo em que usa essas vantagens comerciais para reforçar seu poderio militar globalmente. Estratégias econômicas ensinam que qualquer crescimento assimétrico gera riscos geopolíticos e um prenúncio de guerra.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Quando olhamos para isso, precisamos reconhecer o tamanho da Apple, que vale US$ 4 trilhões em Bolsa. Isso é o PIB da Alemanha. Portanto, com quem Trump estava falando?”

Leonardo Trevisan

Leonardo Trevisan. Foto: Reprodução/CNN Brasil (21.fev.2022)

 

História de Brasília

Pois bem. Assim era no começo. Faz muito tempo que deixou de funcionar. A princípio, disseram que haviam comprado os aparelhos, mas não compraram as pilhas, que era de mercúrio. (Publicada em 29.04.1962)

Não conheço nenhuma delas

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Apoiadores de Trump na Flórida celebram a vitória após anúncio do canal Fox News – Foto: Jim Watson / AFP

 

Digam o que quiserem sobre a eleição presidencial dos Estados Unidos ou sobre a vitória de Donald Trump depois de quatro anos de perseguições e de uma tentativa de assassinato em um comício de campanha na Pensilvânia. Muitos podem não gostar da figura pessoal de Trump, arrogante e altivo, principalmente os chamados globalistas de esquerda, dentro e fora dos Estados Unidos. O que é fato inconteste é que ele foi eleito por uma votação limpa e esmagadora, que praticamente cobriu todo o mapa dos EUA com as cores dos republicanos.

O povo soberanamente escolheu quem achou que iria reverter a guinada silenciosa dos EUA rumo a uma espécie de socialismo tardio, infectado ainda pelos ventos dos movimentos Woke e Queer, que hoje minam a Europa e ameaçam afundar economica, social e politicamente toda a União Europeia.

A eleição naquele país deixou claro, pela diferença de votos, que os americanos apontaram a direção que desejam seguir. E mais do que isso, rejeitaram a direção errada que estavam seguindo. Para reforçar esse retorno às ideias liberais, os mercados americanos e principalmente os papéis na Bolsa registraram recordes de valorização, mostrando que o capitalismo, que enriqueceu dos Estados Unidos como nenhum outro país, estava de volta.

No cumprimento das promessas de campanha, Trump lembrou, em seu discurso no Congresso em 5 de março, que logo nas primeiras semanas de governo mais de 100 ordens foram assinadas, juntamente com 400 outras ações executivas com vista a restaurar o que o presidente chamou de bom senso, segurança, otimismo e riqueza. Para Trump, o povo americano o escolheu para fazer justamente esse trabalho. Mesmo medidas que são criticadas por muitos países, como o controle rígido sobre as imigrações, a população americana demonstrou total apoio, pois vinham a inquietando.

Como bem lembrado por Trump, nada do que ele poderá fazer e fará irá alegrar os democratas. Logo de cara, o presidente eleito fez o que a população pedia, que era o congelamento de todas as novas contratações federais, congelando também todas as novas regulamentações e ajuda externa. Acabei, disse ele, “com todo o ridículo esquema verde”, retirando seu país do Acordo Climático de Paris, que custava trilhões de dólares aos americanos e não era pago por outros países. Trump destacou ainda que retirou seu país da “corrupta Organização Mundial de Saúde”, se afastando também do Conselho de Direitos Humanos da ONU pelo seu reiterado antiamericanismo.

Também foi destacado o trabalho feito na eliminação de regras e regulamentos desnecessários, simplificando normas. Outra medida que teve o apoio da população, mas que foi logo reprovada pelos democratas, foi a ordem para que todos funcionários federais retornassem aos escritórios, sob pena de serem imediatamente afastados de suas funções.

Trump anunciou que deu fim também ao chamado governo armado, instrumento que permite que qualquer presidente em exercício possa processar ferozmente seus oponentes políticos. Ao mesmo tempo, deixou claro que pôs fim a todo o tipo de censura, além da volta da liberdade de expressão, que, na avaliação dele, vinha sendo limitada nos governos dos democratas.

Outro ponto destacado em seu discurso foi a decisão de acabar de vez com as políticas de diversidade, equidade e inclusão em todo o governo federal, no setor privado e nas forças armadas. “Trabalhadores devem ser contratados ou promovidos com base na habilidade e na competência e no mérito, não de acordo com a raça ou gênero”, disse ele, lembrando que essa medida teve o apoio total da Suprema Corte americana. “Removemos o veneno da teoria racial crítica de nossas escolas públicas, e eu assinei uma ordem tornando política oficial do governo dos EUA a existência de apenas dois gêneros: masculino e feminino. Também assinei uma ordem executiva para proibir os homens de praticar esportes femininos”, seguiu o presidente.

Na economia, Trump destacou sua luta para tornar o principal insumo, que é o do alto custo da energia. Para tanto, mandou reabrir mais de cem usinas de energia que haviam sido fechadas, declarando uma política de emergência energética nacional. Lembrou ainda que fará tudo para acabar com o desperdício de dólares dos contribuintes, dando todo o apoio ao Departamento de Eficiência Governamental (Doge), chefiado pelo bilionário Elon Musk. Apresentou também uma extensa lista de altos gastos impostos do Tesouro americano que vão do fornecimento de carros gratuitos para estrangeiros ilegais até milhões de dólares gastos em favor do empoderamento de povos indígenas e afro-caribenhos. Para ele, esses gastos eram verdadeiros golpes aplicados em cima dos contribuintes. Com essas e outras medidas Trump, espera reaver os bilhões de dólares desviados do tesouro e que se esvaem em meio a complexa máquina pública americana.

Ele ressaltou que, somente na área de Seguro Social, havia uma lista com milhões pessoas de 110 a 119 anos de idade e outras listas de beneficiários com pessoas de 120 a 129 anos de idade. Outras com listas de milhões de pessoas com 130 a 139 anos de idade, e outras milhões de pessoas com idade entre 140 e 149 anos. “Não conheço nenhuma delas”, disse.

 

História de Brasília

Apesar de inaugurado o telefone público, os do aeroporto estão na mesma. Eram quatro. Um foi retirado, dois não funcionaram e um funciona mal. (Publicada em 27/4/1962)

Controle de pragas

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Imagem: reprodução da internet

 

Navios graneleiros, quando não servem mais para o transporte de grãos, por fadiga de material ou outros motivos, seguem para os portos da Ásia, onde vão ser retalhados para a reutilização dos metais. Antes disso, passam por um processo de dedetização completa para eliminar ratos e outros bichos. Nesse momento que antecede a morte da grande nave, milhares de ratos, baratas e outros insetos põem-se a correr afoitos por todos os lados, fugindo desesperados da morte certa. É nesse momento que a tripulação do graneleiro descobre que havia a bordo uma imensa e antiga tripulação de bichos, que viviam escondidos, alimentando-se dos grãos transportados pela nave. Formavam, assim, uma espécie de subtripulação escondida, por décadas, nos porões escuros, reproduzindo-se e vivendo às custas do trabalho de outras pessoas. Essa tripulação clandestina causou ao longo dos anos enormes prejuízos econômicos aos transportadores, além de transmitir doenças fatais diversas.

Numa analogia ligeira, poderíamos comparar esses enormes navios graneleiros aos estados, sobretudo àqueles que endossam políticas do tipo estatizantes, nas quais o maior empresário é ninguém menos do que o próprio Estado e, obviamente, todos aqueles que vivem próximos ao poder. Hoje, a esse fenômeno que faz com que existam, simultaneamente, dois Estados convivendo ao mesmo tempo numa só figura jurídica, foi dado o nome de “Deep State”, ou Estado Profundo.

Esse termo vem ganhando cada vez mais atenção dos estudiosos e tem entrado também nas discussões políticas dentro e fora do país. O termo parece ter surgido na Turquia para descrever uma espécie de governo ou rede paralela, que, mesmo operando de maneira oculta, envolvia agentes do governo e muitos outros grupos de interesse.

Existe, sim, um sistema subterrâneo que controla, ou influencia, as decisões políticas do Estado e do governo. Na sua maioria, é formado pela própria elite de um país, que age como passageiros clandestinos nesse enorme navio que é o Estado.

Ações de dedetização, como no caso da Operação Lava-Jato, têm efeitos curtos para eliminar a totalidade desses ratos de duas pernas que operam nas sombras. A população em geral não faz a mínima ideia da existência desse tipo de Estado profundo, pois muitos partidos políticos e as grandes e múltiplas corporações cuidam para que todo e qualquer escândalo seja logo abafado e não venha à tona.

O combate ao “Deep State” exige grande dose de poder de decisão e de vontade de eliminar, pelas raízes, esse mal, que acaba sempre afetando negativamente a vida da população, pois esse Estado das profundezas, poderíamos classificá-lo dessa maneira, exerce grande influência para moldar e mudar a agenda política e econômica de um país. Essa é, justamente, a grande batalha que vem sendo travada nos Estados Unidos pelo novo governo americano.

Pelas suas repercussões e pelo alarde e pânico que têm provocado, vê-se logo que as ações de Trump contra esse verdadeiro hospedeiro danoso estão atingindo áreas antes intocáveis e de muito poder. Trump está mexendo com um verdadeiro vespeiro, contrariando a mídia e as grandes corporações que, por décadas, usufruem de um poder paralelo às custas do contribuinte americano. São bilhões ou talvez trilhões de dólares que são sorvidos pelo “Deep State” a cada ano, sem fiscalização e às escondidas da população.

Os seguidos ataques que vêm sofrendo de todos os lados, inclusive, com atentado à bala contra sua vida, evidenciam que essa é uma guerra interna de grandes proporções. Engana-se quem pensa que a existência de um Estado profundo ou das profundezas é coisa de outros países. Por aqui, a história se repete, potencializada pela inoperância e leniência da Justiça e pela certeza de que as penalidades nunca alcançarão os poderosos.

Embora opere nas sombras, não restam dúvidas de que a ação de um “Deep State” em nosso país tem contribuído enormemente para a erosão da confiança do cidadão nas instituições, criando ainda um ambiente nefasto de polarização social e política, ao excluir grandes parcelas da população dos ganhos econômicos. Trata-se, assim como nos Estados Unidos, de um processo de dedetização que, mais cedo ou mais tarde, teremos que enfrentar, caso haja o sincero objetivo de evitar que o enorme e infestado graneleiro, que é o Brasil, não venha a pique.

 

A frase que foi pronunciada:

“Invista na saúde, na sua empresa e no bem-estar da sua família. Elimine as pragas.”
Mote de uma dedetizadora

Charge do Cazo

 

História de Brasília

Um pequeno lembrete à Câmara dos Deputados, quando for distribuir subvenções: a Vasp anunciou no seu balanço de 1961 o lucro de 118 milhões de cruzeiros. (Publicada em 27/4/1962)

A borduna e o tacape

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Foto: Brian Snyder

 

Tempos de crise sugerem, logo de saída, que as armas da diplomacia não estão resolvendo as questões. Há muito se sabe que política e diplomacia devem caminhar de mãos unidas. O que não se pode admitir é que a política, com suas várias faces ideológicas, acabe contaminando os objetivos da diplomacia, fazendo-a agir de modo titubeante e parcial. Pois, a diplomacia induzida por víeis político acaba transformando a virtude em vício e o entendimento em confronto. Hoje, é mais do que necessário que o mundo faça uso das armas inteligentes da diplomacia. Não aquela acordada em bebidas alcoólicas e rega-bofe, mas aquela estabelecida por horas e horas nas mesas de negociações, sem fanatismos e sem covardias.

Ceder para conquistar. Em vista dessas premissas, o que se pode observar acerca dos últimos acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo é que, sem a diplomacia, estamos todos nus e perdidos em selva inóspita. No caso recente do encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, o mínimo que se pôde observar da conversa, transmitida ao vivo pelas televisões diretamente do salão Oval da Casa Branca, é que faltou diplomacia ao chefe americano. Não se faz negociação de paz, ainda mais nesse caso de agressão da Rússia contra um país soberano, sob pressão ou intimidações. Aceitar as condições apresentadas por Trump, que aliás coincidem com as condições do ditador russo Putin, equivaleria no caso de Zelensky, a uma capitulação, desonrando seus compatriotas vivos e os que tombaram defendendo seu país.

O big stick policy, ou a diplomacia da força iniciada por Roosevelt no início do século XX, parece estar de volta aos Estados Unidos. Só que os tempos são outros. É certo que os contribuintes americanos não querem mais destinar seus impostos para a continuação de uma guerra que parece que não terá um fim próximo. Mas daí a querer encostar o líder ucraniano contra a parede, exigindo uma paz imediata, mostra que a diplomacia americana está vivendo as mesmas agruras e desprezo que a diplomacia de outras partes do mundo, sobretudo, em nosso caso, a diplomacia brasileira.

Também por aqui se assiste a colocação da diplomacia de nosso país a reboque dos interesses políticos e ideológicos do atual governo. Tanto é assim que o chanceler de fato desse governo é o Celso Amorim e não o oficialmente indicado Mauro Vieira. No caso do chanceler Mauro Vieira, é até um alívio que ele não tenha que suportar o vexame de estabelecer conversações com a maioria dos ditadores do mundo, nem tenha que aparecer em fotos ao lado dos maiores e mais procurados terroristas da atualidade.

Mas ainda assim, a pasta que ele chefia, segue sempre em segundo plano dentro do atual governo, sobrando apenas assuntos de menor interesse ou as batatas quentes difíceis de ser negociadas. É o caso aqui do pedido do Supremo Tribunal Federal para que o Itamaraty entre na questão envolvendo essa Corte e os Estados Unidos com relação à censura imposta às big techs. Outro caso emblemático da falta que a diplomacia faz para aplanar os caminhos da paz e da concórdia é a recente nomeação da deputada petista Gleisi Hoffmann para ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência, no lugar de Alexandre Padilha. Para quem não sabe, essa pasta cuida, essencialmente, das relações entre o Executivo e o Legislativo, para o estabelecimento de pontes de entendimento político. Para quem sabe também, a nomeação de Gleisi tem sido, até agora, criticada por cada nove entre dez políticos, inclusive da própria legenda do atual presidente. O próprio José Dirceu, a eminência parda do PT, afirmou que a colocação de Hoffman na pasta da SRI vai ser um desastre. Disse ele: “ vai dar Dilma”.

Não é de hoje que as relações institucionais entre o Congresso e o Palácio do Planalto deixaram de lado a diplomacia política e passaram a ser feitas na base da liberação ou não das emendas secretas, hoje, manipuladas diretamente pelo Supremo. É o mundo do tacape, da borduna e das malas cheias.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Mesmo na guerra, há regras… Esses caras não têm regras”.

Volodymyr Zelensky, durante uma entrevista referindo-se à Rússia.

Volodymyr Zelensky. Foto: Getty Images

 

Livro

Um deleite correr os olhos pelas linhas do “Lumiar de Lamparina”, um livro de memórias de Luiz Bezerra de Oliveira. Ora sorrindo, ora enxugando as lágrimas, o livro é um exemplo da riqueza de vida de tantas pessoas que atravessaram as maiores privações para alcançar a vitória nos estudos e no trabalho. Sem pé de meia, com os pés no chão.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

História de Brasília

A minha terceira atividade é publicidade, mas quando recebo dinheiro dou recibo, o que nem todos fazem na nossa profissão, infelizmente. (Publicada em 27.04.1962)

Sentido da palavra

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Deportados dos Estados Unidos, em imagem divulgada pela Casa Branca                     Crédito: Divulgação/Casa Branca

 

Muitos fatos correlatos, pouco ou nada explorados e até propositalmente omitidos por muitos, deveriam ser objeto de honesta reflexão, por todos que se interessam pelos casos envolvendo as recorrentes deportações de brasileiros dos Estados Unidos (EUA) para o Brasil. A começar pelo simples detalhe de que todos os brasileiros que rumaram por livre vontade para os EUA o fizeram porque não encontraram, em sua própria terra natal, condições dignas de prosperar como indivíduo ou mesmo como trabalhadores.

A desesperança e a total falta de perspectivas são os motores que impulsionam os brasileiros a buscar um futuro melhor para si e para os seus lá fora. Gerações após gerações, os brasileiros puderam constatar, da pior maneira possível que, a cada ano que passa, a deterioração da economia em geral os empurra para fora do país. A escolha é entre ficar por aqui e viver desesperançado, trabalhando apenas para sobreviver no dia a dia ou ir em busca de um sonho de melhorar de vida num país onde as coisas acontecem de fato e as chances de um futuro garantido são infinitamente maiores do que as encontradas no Brasil.

É fato que esse tipo de escolha não é fácil e a decisão tem que ser o mais rápido possível, enquanto o indivíduo pode ainda contar com o ânimo e a força própria da juventude. É fato ainda que os brasileiros vêm empobrecendo a cada ano. Para muitos, a emigração é a única e talvez a última oportunidade de melhorar de vida e, portanto, vale a pena arriscar quaisquer meios para entrar nos Estados Unidos, inclusive com risco de perder a vida nessa aventura.

As imensas agruras daqueles que se aventuram a entrar nos EUA demostram bem até que ponto vale correr esses riscos para sair de um país eternamente envolto no submundo do desenvolvimento. Não adianta dourar a pílula com fantasias de que nossos emigrantes são apenas aventureiros sem causa. Cada um desses que saem do país sabe muito bem que o empobrecimento paulatino que vão experimentando é obra de um único personagem: o governo. São os governos que tornam os cidadãos pobres, e não quaisquer outros fatores naturais ou morais.

Com isso, cabem aos governos a criação de condições para que nossos jovens permaneçam em nosso país. Obviamente não com esmolas, mas com ferramentas para construir uma nova vida.

O fato de muitos virem de volta para o Brasil, algemados e acorrentados, demonstra ainda que eles retornam de maneira forçada e contra a vontade. Pudessem escolher em permanecer lá fora, a grande maioria nunca mais voltaria para o Brasil. Houvesse um sincero mea culpa, o governo, que tanto alarde fez com essas deportações, deveria se empenhar para melhorar as condições econômicas do país e com isso reter a fuga de nossos jovens para o exterior.

Ninguém nega o fato de que viver em outro país como forasteiro e imigrante exige grande capacidade e humildade para aceitar as manifestações de xenofobia, que existem e parecem aumentar com chegada de grandes levas de pessoas nos Estados Unidos. Viver como estrangeiro num país distante sempre gera muita dor. Mas, ainda assim, vale a pena, devido às péssimas condições e incertezas de nosso país. Não se enganem: fossem oferecidas condições oficiais de transporte e permanência de nossos jovens nos Estados Unidos, a maioria de nossos compatriotas, no melhor vigor de suas existências, deixariam o Brasil sem olhar para trás.

É isso que deveria ser motivo de preocupação desse e de outros governos. Em entrevistas, os retornados não escondem a decepção com a volta forçada. Muitos até confessam que, na primeira oportunidade, irão tentar novamente ingressar nos Estados Unidos. Não há nada de especial nessa onda de emigração. A maioria dos jovens sul-americanos faz o mesmo caminho em busca de melhores condições de vida na América do Norte, principalmente as populações submetidas a regimes totalitários.

O problema não são as algemas e correntes que os deportados são obrigados a carregar consigo no retorno. O problema real são as algemas e as correntes que aprisionam muitos latino-americanos a seus países, impedindo-os da liberdade e de ter algum futuro digno.

 

A frase que não foi pronunciada:
“Não vejam as algemas dos deportados como uma forma de degradação humana. Retirando as algemas, a degradação continua.”

Dona Dita vendo o noticiário

Foto: poder360.com

 

História de Brasília
O cine Brasília há vários domingos só apresenta filmes proibidos para menores de 18 anos. É o dia das crianças comparecerem ao cinema e estão sempre impedidas. O Serviço de Comunicações do Ministério da Fazenda está com mil processos aguardando tramitação. (Publicada em 26.04.1962)