Tag: #Eleitor
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

O ano de 2026 será, mais uma vez, um marco na vida política brasileira. Eleições gerais mobilizam milhões de eleitores, envolvem uma complexa máquina institucional e consomem cifras astronômicas dos cofres públicos. Trata-se, sem exagero, de um dos eventos mais caros e logisticamente sofisticados da República. Diante desse cenário, uma pergunta simples e incômoda se impõe: por que o Brasil, ao consultar sua população em um momento de tamanha mobilização cívica, insiste em limitar essa consulta apenas à escolha de nomes, deixando de fora questões centrais que afetam diretamente a vida do cidadão?
A Constituição de 1988 consagrou o princípio da soberania popular não apenas pelo voto, mas também por meio de instrumentos de democracia direta, como o plebiscito e o referendo. No entanto, passadas quase quatro décadas, esses mecanismos permanecem subutilizados, tratados como exceção, quando deveriam ser regra em temas de alta relevância nacional. O resultado é um distanciamento crescente entre representantes e representados, alimentando a percepção de que decisões fundamentais são tomadas em gabinetes, longe do crivo popular. O custo elevado das eleições, frequentemente citado como justificativa para não ampliar consultas, na verdade reforça o argumento contrário. Se o país já arca com uma estrutura monumental para ouvir o eleitor, por que não aproveitar essa oportunidade para submetê-lo a decisões que moldam seu cotidiano?
Questões como a política de drogas, o combate à corrupção endêmica, a condução da segurança pública e a excessiva carga tributária não são temas periféricos ou técnicos demais para o cidadão comum. Pelo contrário: são assuntos que atravessam a vida real, o orçamento familiar, a segurança nas ruas e a própria confiança nas instituições. A política de drogas é um exemplo emblemático. O Brasil convive há décadas com um modelo repressivo que não conseguiu reduzir o consumo, tampouco enfraquecer o crime organizado. Ainda assim, o debate permanece sequestrado por discursos ideológicos e decisões judiciais que, muitas vezes, substituem o Legislativo e ignoram a vontade explícita da maioria. Um plebiscito nacional permitiria que a sociedade se manifestasse de forma clara sobre caminhos possíveis, seja a manutenção do modelo atual, seja a adoção de políticas alternativas. Ignorar essa possibilidade é perpetuar um debate inconcluso e socialmente custoso.
O mesmo raciocínio se aplica à corrupção. Embora o combate à corrupção seja frequentemente utilizado como slogan eleitoral, a prática revela um histórico de investigações inconclusas, prescrições convenientes e punições seletivas. A sensação de impunidade mina a credibilidade do Estado e corrói o pacto social. Por que não submeter, à população, propostas objetivas sobre endurecimento de penas, mudanças processuais ou limites a privilégios legais? Um referendo bem formulado poderia conferir legitimidade popular a reformas que hoje enfrentam resistência, justamente entre aqueles que seriam afetados por elas.
A segurança pública, talvez o tema que mais aflige o cidadão comum, segue refém de disputas políticas e de uma fragmentação federativa que dificulta soluções eficazes. Estados e municípios alegam falta de recursos, enquanto a União se esquiva de responsabilidades mais diretas. Um plebiscito poderia esclarecer se a população deseja maior centralização das políticas de segurança, mudanças no sistema penal ou novas diretrizes para atuação das forças policiais. Decidir isso sem ouvir quem vive sob a ameaça cotidiana da violência é um exercício de arrogância institucional.
Já a carga tributária, reconhecidamente elevada e complexa, é outro campo em que o cidadão raramente é ouvido. Reformas tributárias avançam a passos lentos, sempre mediadas por interesses corporativos e setoriais. O contribuinte, que sustenta o Estado, permanece como figurante em decisões que impactam diretamente seu poder de compra e a competitividade da economia. Consultá-lo sobre princípios básicos como simplificação, limites de tributação ou prioridades de gasto seria não apenas democrático, mas também pedagógico, fortalecendo a consciência fiscal da sociedade.
Os críticos da democracia direta costumam argumentar que o eleitor não teria informação suficiente para decidir temas complexos. Trata-se de uma visão elitista e contraditória: o mesmo eleitor considerado apto a escolher presidente, governadores e parlamentares seria incapaz de opinar sobre questões que afetam sua própria vida? Além disso, plebiscitos e referendos não eliminam o papel do parlamento; ao contrário, oferecem diretrizes claras para a atuação legislativa, reduzindo o abismo entre vontade popular e ação política. Há ainda o argumento do risco de manipulação emocional ou populista. Esse risco, contudo, não é exclusivo da democracia direta; ele já existe, e em grau elevado, nas eleições tradicionais. A diferença é que, em consultas temáticas, a sociedade é chamada a refletir sobre ideias e propostas concretas, e não apenas sobre personalidades ou promessas vagas. Com campanhas informativas equilibradas e fiscalização adequada, o debate tende a amadurecer o eleitorado, e não o contrário.
O Brasil vive uma crise de representatividade profunda. A abstenção cresce, o voto de protesto se banaliza e a confiança nas instituições segue em queda. Ignorar instrumentos que poderiam revitalizar a participação popular é um erro estratégico e democrático. Aproveitar as eleições gerais de 2026 para realizar plebiscitos e referendos sobre temas de primeira ordem seria um gesto de respeito ao cidadão e um passo concreto na direção de uma democracia mais madura. Democracia não se resume a escolher governantes a cada quatro anos. Ela exige participação contínua, transparência e corresponsabilidade. Ouvir o povo apenas para legitimar o poder, mas não para decidir os rumos do país, é reduzir a soberania popular a um ritual vazio. Em um momento histórico marcado por desconfiança e polarização, ampliar a voz do cidadão não é um risco: é uma necessidade.
A frase que foi pronunciada:
“O governo existe para nos proteger uns dos outros. Onde o governo ultrapassou seus limites foi ao decidir nos proteger de nós mesmos.”
Ronald Reagan

História de Brasília
O IAPC iniciou o serviço de dedetização dos seus blocos nas superquadras 106, 306 e Asa Norte. Já que está com esta disposição, poderia também mandar limpar escadas e corredores, e varre-los periodicamente, já que não se pode exigir que isto seja feito todos os dias. (Publicada em 13.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido

Faltando menos de um mês para a realização do segundo turno das eleições, permanece ainda a lacuna relativa à apresentação de programas de governo. No primeiro turno, essa exigência básica e fundamental, para todo e qualquer governo que assume, passou batida e nem mesmo o eleitorado sentiu sua falta. Pouco ou nada foi falado ou discutido sobre programas de governo.
Para uma democracia, que ruma para o amadurecimento, esse vácuo é inadmissível e até mesmo contrário aos mais insignificantes requisitos básicos. Trata-se de uma situação anômala e que se assemelha a um piloto que assume o comando de um avião ou navio de grandes portes, com as imensas responsabilidades que essas funções exigem e mesmo assim confessa que não possui plano de voo ou navegação. Depois de zarpar ou decolar, é que se vê o que se irá fazer e como, resume.
Caso isso persista, estamos todos nós a bordo de uma nau ou nave, sem bússola, cegos e sem destino. Nessa situação surrealista, vale dizer também que, se não sabemos para onde vamos, qualquer caminho vale ser seguido, mesmo aquele que ruma direto para o precipício.
O Tribunal Superior Eleitoral, que nessa eleição passou a ganhar um protagonismo pra lá de vistoso, deveria colocar, como condição básica, a apresentação, por parte dos candidatos inscritos, de um amplo e minucioso plano de governo, com detalhes em todas as áreas do país, prevendo ações em cada uma, ou seja um calhamaço consistente e exequível de medidas, todas elas devidamente analisadas e aprovadas pelo Tribunal.
Aceitar candidatos apenas para fazer volume ou por pressão dos partidos, de nada resolve. E não se trata aqui de programas de governo feitos de qualquer maneira, copiando de outros ou inventando medidas que jamais serão implementadas. Muito mais importante do que qualquer candidato é seu programa de governo, que, uma vez apresentado e aprovado nas urnas, deverá ser obrigatoriamente posto em prática, sob pena de ações penais de fraude eleitoral e estelionato.
Sem medidas dessa natureza, as eleições se transformam exatamente no que infelizmente se tem visto. Já que instrumentos jurídicos, como a Lei da Ficha Limpa, não são mais requeridos dos candidatos, tampouco a Lei de Improbidade Administrativa, todas elas, propositalmente descartadas ou descaracterizadas, ao menos poderiam cobrar, dos pleiteantes ao comando do Executivo, a apresentação de um documento contendo o programa de governo. Sem esse instrumento, o que se tem é a repetição dos mesmos erros e descaminhos tomados pelos chefes do Executivo, que vão agindo à medida em que surgem os problemas, com estratégias, todas elas, feitas em cima do laço, como bem fazem aqueles que vivem da improvisação, levando o governo de um lado para outro e nunca saindo do mesmo lugar.
Fosse o Brasil uma grande empresa, do tipo multinacional, com todas as exigências de governança e critérios técnicos de alta performance para a escolha de seus diretores, que chances teriam os atuais candidatos, quando se verifica que muitos deles sabem apenas desenhar o próprio nome, e de forma ilegível, numa folha de papel?
A frase que foi pronunciada:
“Cresce o poder do narcotráfico. Esse poder ameaça, alicia, mata. Onde consegue chegar ao governo, destrói a democracia”.
(Trecho do Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito do Narcotráfico, da Câmara dos Deputados, de 1991).

Alô, Alô responde!
Chega o 5g ao Brasil, mas a conversa entre senadores, por videoconferência, não está lá de se elogiar. Os senadores Wellington Fagundes e Jean Paul Prates, durante reunião da Comissão justamente de Ciência e Tecnologia, quando falavam em radiodifusão, sofreram com várias falhas no áudio e a comunicação ficou entrecortada.

Missão cumprida
Um bom passeio passa pela Chapada dos Guimarães, no Parque Nacional, onde o Lago do Manso se expande entre 40 mil hectares. Quando há enchente no rio Cuiabá, é o Lago do Manso quem dá o suporte à vazão da água. Geração de energia, incremento do turismo, da pesca e preservação do Pantanal.

Curiosidade
O governo da Indonésia recebeu o aval, da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, para o Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Indonésia, assinado em Jacarta. Falando em Pantanal e Jacarta, há na província de Papua, no leste da Indonésia, uma floresta onde só mulheres são autorizadas a entrar.
História de Brasília
O fato de aproveitar a Legislação Trabalhista para impor às professôras o que convier à Fundação, fugindo aos interêsses das mestras, é, além de antipático, irregular e injusto. (Publicada em 11.03.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido

Para Einstein, a diferença entre passado, presente e futuro era apenas uma persistente ilusão, já que o tempo é relativo a grandezas físicas como a velocidade. Uma dessas relações ilusórias do homem com o tempo é dada pela memória e é aí que tudo parece desvanecer como fumaça carregada pelo vento.
O sentimento conferido pela velocidade e pelo volume dos acontecimentos atuais, que chegam até nós, em torrentes colossais, tanto pela internet, como por outras mídias instantâneas, parece soterrar o ser humano com toneladas de informações, ao mesmo tempo em que insere o indivíduo, de forma isolada, no meio de uma multidão de mais de sete bilhões de pessoas, todas elas borbulhando numa imensa bacia das almas, onde todos buscam explicações para o que seria esse holograma chamado vida.
Não é por outra razão que atualmente muitos se indagam hoje sobre os mistérios do que parece ser o encurtamento do tempo. Não são poucas as pessoas que atualmente estranham como os dias parecem transcorrer em desabalada velocidade ladeira a baixo. Não há tempo suficiente para nada. No passado, os mais sábios já haviam previsto que chegaria um dia em que tempo passaria em nossa frente, com tamanha velocidade e pressa, que muitos seriam deixados para trás sem fôlego ou mesmo vontade de seguir adiante.
Hoje se diz que os dias voam como horas e horas como minutos. Impressão ou não, o fato é que toda essa superagitação moderna, onde já não há, sequer, tempo para os outros que estão ao nosso lado, acaba tendo efeito também sobre a memória individual e coletiva. O sentimento que muitos experimentam é de que a memória foi empurrada para os porões do subconsciente, onde o acesso só é feito por meio dos sonhos.
Estaríamos, de fato, dado ao volume de informação, construindo uma espécie de Torre de Babel para buscar, mais uma vez, refúgio junto ao céu, numa confusão moderna em que a praga da multiplicidade de linguagens foi substituída pela quantidade de conhecimento que temos do mundo à nossa volta? Em excesso, até água morna mata. Um dos problemas dessa aparente rapidez do tempo é que vamos, numa espécie de contramarcha, perdendo a capacidade de reter o cotidiano na memória.
Ao final do dia, mal sabemos o que fizemos pela manhã. Com isso vamos escrevendo um diário como quem escreve na areia à beira-mar. Ciente dessa perda de memória, nossos algozes, que antes faziam esforços para que esquecêssemos suas fealdades, hoje já nem se dão ao trabalho de escondê-las. Exemplo dessa nossa fragilidade de memória pode ser conferida pela desfaçatez com que um ex-presidente e ex-presidiário se apresenta hoje como candidato, de modo impávido e impoluto, pronto para voltar a governar o mesmo país que, ainda ontem, dilapidou com sua gangue.
Do mesmo modo, podemos observar a guerra na Ucrânia, que a cada dia vai perdendo espaço nos noticiários ao mesmo tempo em que vão se avolumando o número de jovens mortos. Um dia, quando não restar nada mais do que cadáveres e escombros calcinados, esse conflito covarde irá terminar. Assim como irão terminar as sanções mundiais contra o governo russo.
A ONU, do alto de sua conhecida indiferença, irá ignorar os crimes de guerra. Ninguém fala mais sobre a origem da Covid-19. Putin voltará ser recebido com pompas e circunstâncias nos salões do poder internacional, como se nada tivesse feito. O mundo reagirá com a mesma indiferença que reagiu ao Holodomor stalinista. Restarão apenas as cruzes fincadas no chão naquele país várias massacrado pelos russos.
São perigos dessa natureza, facilitados por nossa perda de memória, que estamos condenados a vir a assistir de novo. Até um dia em que essa “desmemorização” nos trará junto a perda definitiva do que nos ainda resta de dignidade.
A frase que foi pronunciada:
“O tempo não faz algo apenas com a memória – a memória também faz algo com o tempo.”
Professor Douwe Draaisma

No reino da Dinamarca
População de Brasília, que paga altos impostos, estranha a censura aos comentários durante audiências públicas transmitidas em tempo real por instituições públicas. Algo está errado se quem paga as contas não pode ser ouvido.

Univer Cidade
Por falar em altos impostos, a UnB pode não querer aceitar o projeto da nova ponte? Justificativa da academia: atividades de pesquisa e ensino, biblioteca e atividades em sala necessitam de ambiente adequado para a realização, com níveis sonoros compatíveis. Razão para impedir o livre acesso não parece suficiente nem cientificamente embasada.
Outros tempos
Foi-se o tempo que autoridades estufavam o peito ao sair nas ruas. Faziam questão de usar um broche identificando o alto cargo. Com o advento das mídias sociais o fenômeno caiu por terra. Até quando são esperados para debates e apresentação de plataformas de ação declinam do convite.

História de Brasília
E enquanto os ministros ficam nessa pasmaceira, fazendo o povo acreditar no dr. Jânio, que correu com mêdo, mas já voltou a ter prestígio, os assuntos nacionais ficam dormindo, e os auxiliares imediatos vão sabotando a transferência da Capital. (Publicada em 23.02.1962)

