Caminhos de retorno

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Charge disponível na internet

 

Um dos laureados, neste ano, com o Prêmio Nobel de Economia, o professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Daron Acemoglu, tem chamado muito a atenção do mundo acadêmico, sobretudo dos economistas brasileiros, que fazem coro a um possível retorno do nosso país ao ciclo perverso de uma recessão prolongada e profunda.

Tanto para esse economista quanto para outros, no caso aqui, o CEO da SPX, Rogério Xavier, o caminho para o Brasil voltar a um novo período de forte recessão está sendo pavimentado centímetro a centímetro pelo atual governo, dada a piora progressiva e contínua da situação fiscal incidente sobre as contas públicas.

Em primeiro lugar, é preciso destacar que fazer o caminho inverso, levando o país de volta à chamada década perdida ou ao período de hiperinflação provocado pelo governo Dilma, dará um enorme trabalho. Bagunçar as contas públicas de um país como o nosso, que tem todos os ingredientes para crescer com estabilidade, não é uma tarefa qualquer. Exige persistência e tenacidade. A contenção de gastos ajuda na aceleração da dívida pública e essa, quando erodida, leva o país à estagnação, que consumirá anos, ou até décadas, para ser corrigida.

Aqueles que pilotam a economia do país sabem, ou deveriam saber, que, quando a dívida pública sai de controle, todo o conjunto de ações para conter os prejuízos deixa também de existir ou fazer efeito. Essa também é a visão do o premiado com o Nobel de Economia 2024 professor Daron, para quem somente instituições políticas fortes e inclusivas podem abrir caminho para o crescimento econômico. Em outras palavras, o que esse economista destaca é que as instituições de um país, em sua busca sincera pelo desenvolvimento, devem incentivar abertamente a participação ampla e inclusiva da sociedade, evitando que os recursos da nação acabem nas mãos de uma elite restrita.

Marginalizar grandes parcelas da sociedade, reprimindo inovações e o progresso, concentrando e direcionando boa parte dos recursos públicos para os chamados “campeões” nacionais, no caso empreiteiros ou os bilionários da JBS, tem sido, até aqui, a fórmula para levar o país de volta ao fundo do poço. Da mesma forma, aliar a economia brasileira aos interesses da China, dentro dos Brics, em que o Brasil parece não ter identidade e independência, também é uma outra fórmula de acelerar ainda mais a recessão interna.

O Brasil precisa aprender, o quanto antes, que a ascensão de uma potência extremamente autoritária como a China não é só uma ameaça ao equilíbrio mundial, como favorece os sistemas institucionais dessa natureza, que negam o acesso e a inclusão política da sociedade, que permanecem avançando. Tanto na condução interna da economia quanto em nossas relações externas com parceiros tipo China e Rússia, estamos, na visão de muitos economistas, indo em direção contrária ao crescimento e ao progresso do Brasil. Por outro lado, o controle estatal sobre uma economia como a nossa, que vai mal de saúde e que, mesmo assim, prossegue sendo alimentado pelo governo que deteriora a capacidade da sociedade de inovar e prosperar de forma duradoura.

 

A frase que foi pronunciada:
“Os pobres ficam ainda mais pobres quando têm de sustentar os burocratas nomeados supostamente para enriquecê-los.”
Mário Henrique Simonsen

Mário Henrique Simonsen. Foto: istoedinheiro.com

 

Contaminação
Falha humana. Foi o que declarou, à polícia, Jacqueline Iris Bacellar, responsável por assinar os laudos dos exames de HIV do laboratório PCS Lab Saleme. As investigações prosseguem depois que seis pacientes transplantados foram contaminados com o vírus da Aids.

Jacqueline Iris Bacellar em entrevista para a TV Globo

 

Perita
Especialista em medicina legal e perícia médica, a doutora Caroline Daitx declarou à GB News que “cada caso será tratado individualmente para determinar a extensão dos danos”. No caso do paciente que recebeu um transplante hepático e faleceu, será necessário verificar se o HIV influenciou na causa da morte. Quanto aos pacientes que receberam transplantes renais, a análise incluirá as repercussões atuais da infecção e as possíveis consequências futuras”.

 

História de Brasília
Precisa, isto sim, ouvir o que disse o deputado Ademar Costa Carvalho contra a sua administração, contra seus funcionários, que, dispondo do dinheiro para o pagamento de faturas, extorquiam dinheiro dos que haviam dado trabalho à cidade. (Publicada em 19/4/1962)

Frutos econômicos

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Foto de Pool / Getty Images AsiaPac

 

Somente os sábios, por natureza, são capazes de enxergar o óbvio. Não se sabe a razão. Talvez, pelo fato de o óbvio se situar demasiadamente próximo ao nariz, o que faz com que o indivíduo perca a visão do todo e passe a não enxergar o que está à sua frente. Ademais, é preciso entender preliminarmente um conceito muito banal e nem por muito importante. A coisa toda se resume em saber distinguir as noções entre enxergar e ver.

Você pode residir por décadas na mesma rua, vendo o que se passa nesse local, dia após dia e, simplesmente, não conhecer essa rua. Basta uma mudança no ângulo da visão, e tudo muda de figura. Um dia, sem querer, você descobre novos detalhes que nunca tinha reparado. Por isso, ver a rua não significa conhecer a rua.

Por outro lado, aqueles que têm a capacidade de enxergar a rua no seu todo são capazes de conhecê-la com mais exatidão. Não por outra razão, o verbo enxergar traduz o sentido de, pelo uso da visão, prestar atenção e pressentir o que está ali disposto.

Essa capacidade, oferecida pelo cérebro humano, de identificar o que se enxerga deveria ser a mais importante ferramenta utilizada por aqueles que têm a responsabilidade de governar. Infelizmente, é o que tem faltado aos nossos governos. O que se nota é que os governos veem muito, mas enxergam pouco.

Sobre esse ponto, poderíamos preencher uma biblioteca com exemplos. Mas, ficando apenas no que se refere às relações entre o Brasil e China, uma coisa é certa: é preciso aperfeiçoar muito ainda a capacidade de o governo brasileiro enxergar a China para dar prosseguimento mais adequado e prudente a essa relação.

Oficialmente, as relações entre os dois países começaram em 1974, ainda durante a ditadura militar no Brasil, quando o país reconheceu a República Popular da China (RPC) em vez de Taiwan. O governo brasileiro adotou, naquela época, uma política externa baseada no que era chamado de “pragmatismo responsável”, buscando autonomia econômica externa por meio da diversificação de relações internacionais.

Em 2004, o Brasil, então governado pelo atual presidente, reconheceu a China como uma economia de mercado, o que, naquela ocasião, como agora, não corresponde à realidade, dado que aquele país ainda estimula sua economia interna com base em interesses estritamente estratégicos e políticos, com vistas a se tornar não um parceiro econômico fiel, mas um forte controlador dos mercados internacionais.

Todo aquele reconhecimento com base no que não era a realidade visível foi feito sem enxergar devidamente o parceiro extra continental. Pior, essa aproximação também se dava, do lado de cá, apenas por motivos políticos e ideológicos. A diferença a partir do ponto de vista desses dois países é que, enquanto o Brasil via na China uma alternativa ao Irmão do Norte (Estados Unidos), a China enxergava o Brasil não como um parceiro, mas como um trampolim para dominar economicamente também o país.

Falar, como naquela ocasião, em relação estratégica, referindo-se a um país que está do outro lado do mundo, não passou de delírio. Por sua vez, ainda na solenidade que selava a aliança, o então presidente Hu Jintao deixava solto no ar as pretensões quanto à união, ao afirmar que aquela relação estratégica era para valer, sendo o Brasil uma prioridade dentro dos planos chineses de entrar definitivamente no continente americano pelo sul. “Essa postura do Brasil vai, certamente, criar condições para uma relação estratégica muito mais rica”, discursou. Esse “muito mais rico” queria também dizer “muito além do Brasil”.

O Brasil precisa adquirir um papel como parceiro da China mais importante do que o atual, baseado em segurança alimentar e energética para os chineses, se transformando não em uma ponte para que a China atinja os Estados Unidos. É preciso sofisticar essas relações, indo além do comércio de produtos in natura. Mas isso só será possível quando o Brasil enxergar o tipo de parceiro que atraiu para si e quais consequências dessa parceria a longo prazo.

É preciso saber ainda o trivial — ou seja, quais consequências virão. Infelizmente, o pragmatismo utilizado na primeira aproximação com aquele país do Oriente perdeu-se com o tempo, sendo substituído por um voluntarismo político que, como todos sabem, não rende frutos econômicos.

 

A frase que foi pronunciada:
“Como outros países no mundo, a China deve defender a própria soberania, integridade territorial e interesses de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, estamos dispostos a lidar adequadamente com diferenças e desacordos nas relações de Estado para Estado.”
Hu Jintao

Hu Jintao. Foto: Kevin Frayer/Getty Images

 

História de Brasília
A Rádio Educadora de Brasília bem que podia dar a hora certa. Seria uma ajuda aos ouvintes, que não são poucos. (Publicada em 10/04/1962)

Visão econômica

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(Foto: Ricardo Stuckert)

 

Depois de a Câmara dos Deputados ter aprovado, no último dia 25, o Projeto de Lei prevendo a taxação dos fundos de alta renda, tanto no Brasil como em Offshore, a discussão sobre a cobrança de impostos dos super ricos, como deseja o atual governo, ganhou corpo ou materialidade. Isso, no entanto, não isenta essa proposta de toda uma áurea de projeto recheado de intenções do tipo puramente ideológico, mais voltado para a satisfação de desejos das bancadas mais radicais da esquerda. Toda e qualquer situação de pobreza tem, em sua raiz, a existência de uma classe de ricos, sendo a pobreza um produto inverso e perverso da riqueza. Nada mais falso e, ao mesmo tempo, fantasioso.

Embora seja um tópico relevante para desmistificar, de vez, propostas dessa natureza, o fato é que intenções como essa têm sido discutidas em muitas partes do mundo. Países que, simplesmente, optaram por implementá-la, como é caso da França e outros, logo se deram conta de que estavam literalmente dando um tiro no próprio pé. Tão logo essa medida foi estabelecida na prática, os milionários franceses, assim como outros, trataram logo de transferir suas riquezas e rendimentos para outros cantos do mundo, salvando seus patrimônios da sanha ideológica e insana de governos com esse pensamento. O resultado foi a retirada em massa de grandes capitais do país, tornando a economia e as finanças locais ainda mais frágeis e sujeitas às crises. Até o primeiro dia de abril ,os investidores estrangeiros já haviam retirado mais de R$ 22 bilhões da nossa Bolsa de Valores, afirmou Vitor Miziara.

Tão logo os efeitos negativos foram sentidos, a ideia de taxação dos super ricos foi abandonada para sempre, como ideia tola. Países em que o fenômeno da pobreza é acentuado, 99,9% das vezes, decorrem de políticas de Estado mal elaboradas, corrupção sistêmica ou concentração de renda em torno da cúpula do governo e seus apaniguados. Os super ricos entram nessa história como uma espécie de bode expiatório.

No mês passado, o ministro das Finanças da Alemanha, ou seja, do país mais rico da Europa, Christian Lindner, simplesmente rejeitou a proposta feita pelo Brasil de taxar os super ricos. Segundo ele, seu país possui um conjunto de tributação e regras fiscais que se adaptam, muito bem, à Alemanha e respondem as necessidades da população. Como os países sérios têm rejeitado essa medida e outras semelhantes, a estratégia do Brasil, que nesse momento preside o G20, é levar a tributação dos super ricos para uma discussão global, incluindo, nessa ideia, a taxação também de grandes empresas. Querer introduzir, nos complexos e exatos mecanismos da economia, ideias do tipo ideológicas, sem base empírica ou minimamente coerente, nunca funcionou na prática e não há possibilidades de que venha a funcionar algum dia. Pior ainda é a utilização de fóruns internacionais para apresentar propostas econômicas sem lastro na razão e que não resistiriam ao menor e mais primário dos questionamentos matemáticos.

A inclusão do Papa nesta questão, como feito agora pelo ministro da Fazenda do Brasil, não passa, para os observadores mais atentos, de uma pantomima própria daqueles que não possuem propostas assentadas no bom senso ou sequer um projeto para tirar a economia do Brasil do buraco, cavado pelo atual governo. Nem Jesus nessa causa!

De fato, não escondem que essa proposta tem como objetivo reduzir o déficit nas finanças públicas. O caminho sensato para a redução do déficit seria o corte nas despesas e maior rigidez nos gastos. Possibilidade impossível para quem ainda não conseguiu descer do palanque. Há um déficit gigante de sensatez que o leva a atrelar a economia aos princípios puramente ideológicos. Para um país que já possui uma das maiores cargas tributárias do planeta, que obriga os brasileiros a trabalharem até maio apenas para acertar as contas com o fisco e que tem afugentado todo e qualquer investimento internacional, tributar os ganhos dos super ricos, sobretudo aqueles em que bastam um clicar de botão para ser deslocado para outro país, é tão promissor como promessas em anos eleitorais.

Ninguém, em sã consciência, deixará seu dinheiro parado num país cujas regras fiscais variam como as nuvens no céu. Ainda mais sabendo que tem tubarão de olho grande nele. Faria mais sentido tributar todas e quaisquer fortunas cuja origem é nebulosa e cercada de um laranjal a perder de vista. Mais sentido aos olhos dos contribuintes que bancam a festa seria tributar aqueles que, da noite para dia, viram suas fortunas aumentarem graças à generosidade da viúva e graças, sobretudo, à leniência da justiça e à miopia dos tribunais de contas.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“No Brasil tem muita cachaça e pouca oração.”

Papa Francisco

Foto: Paul Haring/CNS.

 

História de Brasília

No Eixo Rodoviário, em frente ao Hospital Distrital, depois de tanto trabalho, as barraquinhas ambulantes estão localizando sobre a grama, o que não é justo.

Do escambo à economia virtual

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Imagem: Shutterstock

 

          Nada é mais consumido no mundo de hoje do que a ficção em forma de literatura, cinema e outras artes. A propósito, a própria arte, em suas manifestações abstratas, podendo ser tudo aquilo que o freguês deseja ver, também segue o mesmo rumo e é consumida, com avidez, como sendo um oásis de segurança em investimentos.

Com esse introito o que se busca é demonstrar que os rumos tomados hoje pelas ciências humanas da economia, seguem, cada vez mais imbicados rumo ao mundo virtual, onde a ficção e a realidade se fundem num mesmo bem, cujo valor está suspenso no ar, à espera de uma nova movimentação das peças nesse tabuleiro de nuvens.

Voltando os olhos para trás e percorrendo o longo caminho erguido pelos seres humanos para a criação de bens de consumo, verificamos que toda a produção de riqueza parece ter se iniciado com a troca de bens, onde o valor do produto era aferido por sua necessidade imediata. Do escambo, as primeiras civilizações passaram a comercializar seus produtos, tendo como ponto de atividade geográfica, os entroncamentos dos caminhos, onde todas as estradas se entrecruzavam, dando origem às primeiras feiras. Até aí nenhuma novidade para quem segue as trilhas da história.

O ponto de inflexão fica situado com a popularização da moeda, nascida, nesses locais, como bens de troca. Surge aí, talvez a primeira ficção econômica e ao mesmo tempo real. Lastreado em ouro ou prata, esse bem de troca logo ganhou a preferência do mundo antigo. Aqui, pouco importavam as batatas ou o trigo, mas a bolsa de moedas e o tilintar dos metais preciosos.

Um mundo inteiro de produtos reais poderia ser representado agora pela posse de uma pequena quantidade desse mineral em forma de discos minúsculos. Dessa evolução, tomada pelos bens materiais em direção à abstração e à ficção, surgem, nesses mesmos espaços de feiras de comércio, a nota promissória e o embrião das primeiras casas bancárias. É nesse ponto que a transformação da riqueza ganha seu maior impulso rumo ao mundo da ficção.

         Somente o poder de abstração da espécie humana, fator que, por excelência, a diferencia dos demais animais, foi capaz de transmutar as riquezas materiais em bens que, ao fim e ao cabo, estavam apenas estampados numa folha de papel, garantidos por garatujas e selos de parafina. Nada mais irreal do que aquilo que não está ao alcance dos olhos e sob o controle dos sentidos. Nenhuma outra revolução na economia foi tão radical e definitiva como a criação do sistema bancário. Obviamente que, com os bancos, veio o sistema financeiro. Dando um grande salto no tempo, até os dias de hoje, vemos que o mundo moderno já não pode mais se desvencilhar do sistema financeiro, pois é ele que, em última análise controla o setor produtivo, regulando até o setor responsável pelo consumo.

         Nessa encruzilhada dos bancos, quatro caminhos ou mercados tomam direções diferentes: o de capitais; o de crédito; o de câmbio e o monetário. Nesse patamar, as riquezas e os bens materiais, somem de vista, passando a compor o mundo virtual, onde as oscilações de preços e outros fatores abstratos dão um novo sentido a economia. Pensar que esse é o fim de todo um ciclo percorrido pela riqueza é também uma ilusão.

          Nada termina nessa estação do trem da história econômica. Mas, além dessa estação, vislumbram-se ainda outros nascentes modelos econômicos, ainda mais abstratos e irreais, criados agora com a introdução do mundo digital e da internet na economia. Nesse estágio, a própria moeda física deixa de existir e todos os ativos do mundo surgem agora como aquele pintor, que ficou suspendo no ar, segurado apenas pela brocha colado ao teto.

         Não bastassem os mercados futuros, onde as certezas são dadas com base em incertezas, surgem agora as criptomoedas ou criptoativos, também conhecidos como cyber moedas. Com isso, a validade das transações passa a ser dada por intermédio da tecnologia. Curiosamente, o criador desse novo modelo econômico, em 2009, um tal Satoshi Nakamoto, nunca foi agraciado com o Nobel de economia, por sua invenção. Mais curioso é saber que as criptomoedas não são lastreadas a uma reserva financeira ou a um bem físico.

         É aí que a ficção na economia ganha ainda mais elementos irreais. Seu valor é dado pelos ventos do mercado, seguindo as antigas leis de mercado, no embate esterno entre oferta e procura. A questão toda aqui envolve a credibilidade ou a falta dela em relação aos governos e aos Estados. De fato, sãos governos e seus respectivos bancos centrais, de todo o mundo, sobretudo de países como o Brasil e outras economias cambaleantes, que perderam a credibilidade, devido a excessiva criatividade com que lidam com os números.

          Quanto mais criativas as pedaladas fiscais nas contas públicas, mascarando os números, mais e mais, a moeda fiduciária, ou aquela garantida pelo governo, perde seu valor de face. É nesse faz de conta que a ficção, representada pelas criptomoedas, surge até com mais concretude e certezas do que as moedas nacionais, como é o caso do Real. A noção moderna ensina que, no mundo virtual, o dinheiro está bem mais seguro e protegido do que nos cofres dos bancos centrais.

 

A frase que foi pronunciada:

“Os pobres ficam ainda mais pobres quando têm de sustentar os burocratas nomeados supostamente para enriquecê-los.”

Mário Henrique Simonsen

História de Brasília

Entre as duas pistas da W3RN há seguidas lagoas, que poderiam ser extintas, bastando um pequeno movimento de terra da Esplanada dos Ministérios. (Publicada em 01.04.1962)

Metrópole colonial

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Foto: Ricardo Stuckert/Governo Federal/Reprodução

 

         Fossem seguidas, à risca, o que ordena os princípios fundamentais do que vem a ser uma República, nenhum dos males que assistimos desde 1889, quando um movimento militar desorganizado e pouco ético instaurou a dita cuja, seriam possíveis ou permitidos.

         O afastamento brusco da Monarquia, sem que se criassem, a priori, as condições políticas mínimas para a instalação de uma República, num país continental e com heranças históricas e destino totalmente diferentes dos demais países do continente, levou-nos a implantação de um sistema de governo que nossas elites e dirigentes daquela época não estavam preparados para gerir ou sequer entender seu real significado e, principalmente, suas consequências para o país.

         Foi na base do improviso e de instabilidades políticas frequentes, como acontece até os dias atuais, que a República foi sendo conduzida. Pouquíssimos eram aqueles que, entre nós, entendiam e entendem, até hoje, o significado desse novo sistema. O que foi criado naquela ocasião, com a carantonha e focinho dos tupiniquins, foi um sistema misto que herdaria vícios que até o antigo regime monárquico já não apresentava, como, por exemplo, os privilégios e outras vantagens dadas aos nobres e à Corte em geral.

          Criou-se assim, a partir da virada do século passado, um sistema de governo em que, aos presidentes e aos demais oligarcas políticos próximos, eram mantidos privilégios e outras prerrogativas, só vistas antes da Revolução Francesa de 1789, ou seja, no século anterior. Substituiu-se um monarca por um presidente com roupagens politicamente monárquicas, com concentração de poder, baixa representatividade popular, atrelamento de outros Poderes ao Executivo e, sobretudo, um conjunto de medidas de governo, alijadas e mesmo contrárias aos reclames da população.

         O povo, naquela época, não entendeu a mudança. Os governos que se seguiram não entenderam até hoje. À coisa pública, estão ligados todos os interesses e desejos da população, transformadas agora em cidadãos com plenos direitos, inclusive de mudar o governo e o Parlamento.

         Diante do que foi pincelado resumidamente acima, não se pode entender ou sequer aceitar que, com os impostos cobrados da população, ainda hoje, somos obrigados a assistir inertes, a um conjunto de privilégios de toda a ordem, reservados apenas aos mandatários e à classe política, para os quais até mesmo o senso de Lei e Justiça são diferenciados e até sem efeito prático.

         Como é possível também verificar que brasileiros, em pleno século XXI, sejam ainda surpreendidos com medidas tributárias e fiscais que sequer conhecem o conteúdo ou como foram formulados? É sempre bom lembrar que uma das principais causas que decretariam o fim do absolutismo no velho continente, e mesmo as independências dos Estados Unidos e do Brasil, foi o escorchante nível de tributação e seu uso em benefício das elites políticas. No caso de tratados internacionais, como o que estamos assistindo agora serem celebrados entre Brasil e China, quantos brasileiros conhecem os enunciados desses documentos?

          Desde o reconhecimento afoito da China como economia de mercado, novas parcerias foram fechadas no passado e muitos brasileiros passaram a sentir na pele e conheceram os efeitos negativos sobre a produção aqui no Brasil, bem como as consequências dessa concorrência para nossa indústria como um todo.

         Que acordos são esses que agora são assinados com essa nova metrópole colonial e que podem nos levar para uma posição econômica ainda mais submissa? Silêncio geral. É essa a República que temos e que ainda insistimos em perseguir.

 

A frase que foi pronunciada:

“Todos os fatos têm três versões: a sua, a minha e a verdadeira.”

Provérbio Chinês

 

Labirinto

Impossível elogiar um funcionário do GDF. Bem atendida por Hailton Rodrigues de Souza, a contribuinte teve a primeira dúvida ao buscar o canal para o registro. O agendamento foi feito na Secretaria de Economia, no SRTV Norte. Mas, no portal do GDF, o mais próximo desse título é a Secretaria da Fazenda. Mudou para o registro no site da Ouvidoria, que só não perguntou o tipo de sangue de quem quis elogiar. Até título de eleitor foi preciso informar. Nome, endereço, nome da mãe, telefone. Por que razão? Que uso é feito de tantas informações?

Foto: Francisco Aragão/Agência Brasília

 

Censo

Por falar em dados, nos últimos anos, os domicílios da cidade receberam questionários para o recenseamento da população. Que resultados concretos a população recebe com esse levantamento estatístico? Que políticas públicas foram adotadas com os dados coletados?

Foto: Reprodução

 

Conhecimento

Foi um sucesso a Tarde do Bem-Estar com a Dra. Simone Leite e o Dr. Eugênio Reis, no Brasília Shopping, sobre terapia hormonal, benefícios e rejuvenescimento, e a beleza natural na dermatologia. Com a plateia participativa, muitos esclarecimentos foram dados e mitos desfeitos.

Foto publicada no perfil oficial do Dr. Eugênio Reis, no Instagram

 

História de Brasília

Já saiu da W-3 uma prensa de papel velho, que era responsável pela invasão de ratos nos HC-3. (Publicada em 18.03.1962)

A hora e a vez do escambo

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Foto: Cloud coaching

 

         Ideias, por sua capacidade de provocar surpresas e frutos de todo o tipo, preferem germinar em terrenos áridos, onde a dureza da razão despreza e não enxerga possibilidades. São nesses terrenos baldios que brotam respostas simples, capazes de fazer frente e até humilhar a complexidade das leis científicas.
         No caso da economia, com toda a sua hermenêutica e modelos matemáticos, ideias como o escambo de produtos e serviços, criados há milênios, junto com o aparecimento das primeiras civilizações, ressurgem agora como uma saída simples ou singela para muitas empresas, atoladas no emaranhado de regulações, tributações e outras invencionices do mundo moderno.
         A roda da história não para de girar, levando e trazendo soluções que são sempre revisitadas em épocas de crise. Desta vez, a permuta de bens e serviços encontrou, no oceano da internet e das mídias sociais, um vasto campo de possibilidades, reinventando-se e dando, ao velho modelo de comércio, novas significâncias e valores materiais. Não se tem ainda um número exato sobre essa modalidade de comércio simples e direto.
         Estimativas mais recentes dão conta de que esse comércio via internet movimente mais de U$ 10 bilhões anualmente pelo mundo, com mais de 300 mil empresas realizando trocas (obviamente que são estimativas subdimensionadas). De qualquer modo, despertam e iluminam muitos empresários e empreendedores a prosseguir seus negócios mesmo diante da ameaça, cada vez maior, de falências e concordatas.
         Tem se tornado cada vez mais ocorrente a troca de bens, como por exemplo de confecções, por serviços de manutenção de máquinas. Ou a troca de parte da produção de alimentos, por produtos como caixas e outras embalagens. As possibilidades são infinitas e vêm atraindo muita gente, disposta a manter vivo e atuante seu empreendimento.
         Infelizmente, não existe ainda, em nosso país, uma agência ou cooperativa que cuide desse antigo modelo de comércio. Mesmo alguns bancos, que podiam enxergar nesse comércio algum nicho de lucro, ainda resistem à ideia. Talvez pelo fato de que os bancos, na sua grande maioria, representam hoje parte atuante do problema da quebradeira de muitos negócios e não a solução para os mesmos. Algumas empresas cogitam até a possibilidade de terem que fechar as portas, que, pelo peso excessivo dos encargos sociais e tributos, pagam parte do que devem aos seus funcionários com bens que produzem.
          O que é fato é que a mais antiga forma de comercialização do mundo, o escambo, não acabou de vez e mostra ainda sua capacidade de reagir e de servir de apoio aos novos praticantes. A verdade é que o escambo, por sua simplicidade, possui e entrega um caráter mais humano às transações comerciais, mostrando nessas relações a necessidade vital de parcerias e de apoios mútuos, numa época de concentração de renda, de desigualdades e de muita frieza nos negócios.
         Nesse tipo de comércio, troca-se até poesia por pão ou farinha. Talvez seja por isso mesmo que as altas ciências econômicas e contábeis, com todas as suas fórmulas matemáticas inexpugnáveis, torçam o nariz para esse modelo antigo de comércio, já que reconhecem nele toda a eficácia e mesmo a origem e fonte cristalina de onde derivou toda a economia.
         Transcender a economia, tal como é praticada hoje, de modo excludente e monopolista, é o que torna o escambo tão especial e necessário, mesmo que alguns insistam hoje em classificá-lo de démodé. O que ninguém pode negar é que esse antigo modelo, ao libertar parte da população do capital, faz reviver a tão necessária economia solidária, idealizada tanto por Robert Owen, no século 19 na Inglaterra, como pelos hippies, na década de sessenta.
         É um negócio que desposta e que se insere também dentro da chamada economia circular, com nítido caráter de desenvolvimento sustentável, de diminuição de desperdícios e de reaproveitamento de materiais. Para os empreendedores que buscam oportunidades de investir ou abrir novos negócios, eis aí um nicho que promete e parece ter um longo caminho pela frente.
A frase que foi pronunciada:
“Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.”
Marquês de Maricá
Marquês de Maricá. Foto: wikipedia.org
História de Brasília
Três professoras especializadas no ensino a surdos-mudos estão enfrentando tremendas dificuldades em Brasília. Estão com uma turma já matriculada, de 20 crianças, e não dispõem de lugar onde lecionar. (Publicada em 17.03.1962)

Uma classe centrada

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Foto: virtunews.com

 

         Não se deve fechar os olhos aos fatos, porque, mesmo nessa cegueira voluntária, corre-se o risco de tropeçarmos neles, indo de cara contra o chão. A existência no Brasil de uma chamada Classe Média numerosa, que perfaz hoje metade da população do país ou algo em torno de 100 milhões de indivíduos, é um fato concreto, goste você ou não da ideia. A classe média, por sua posição intermediária na pirâmide social, é a prova viva de que é possível viver apartada de governos, sejam eles de direita ou esquerda. Vive, ou na pior das hipóteses, sobrevive longe dos programas populistas e ideologicamente assistencialistas dos governos de plantão. Em outras palavras, caminha com os próprios pés. Talvez, por essa e outras razões, seja tão duramente criticada e atacada de todos os lados, principalmente pelos que enxergam, nessa parcela da população, uma classe desvinculada e pouco afeita aos cânticos de sereia de políticos.

         Emparedada de um lado entre as classes D e E e de outro contra as classes A e B, a classe média experimenta o que seria o caminho do meio, pregado pelos budistas. Possui, ao mesmo tempo, as expertises emprestadas das classes D e E, quando o assunto é livrar-se das armadilhas do governo, ao mesmo tempo em que vai aprendendo as artes de aplicar recursos, como fazem os ricos, correndo de um lado para outro para salvar seus rendimentos, de modo que possa levar uma vida com certa dignidade e de olho no futuro.

         Há os que odeiam particularmente a classe média justamente porque foi ela que, de certa forma, impediu ou frustrou as previsões contidas no Manifesto Comunista de Karl Marx, de que o capitalismo, por suas contradições, iria abrir caminho para a tomada do poder pela classe operária, implantando assim o comunismo. Não previa Marx que, no meio desse caminho, ergueria-se a enorme muralha formada pela classe média. O ódio à classe média, por essa corrente, não tem impedido sua multiplicação em todo o mundo. Exemplo disso pode ser visto, lido e ouvido por filósofos que pregam, ser a classe média brasileira, a representante do atraso de vida, da estupidez e ainda reacionária, conservadora, petulante, arrogante, terrorista, uma abominação política, uma abominação ética, violenta, e uma abominação cognitiva por ser ignorante, entre outros adjetivos, dignos de uma acalorada discussão de boteco.

         Foi justamente, no momento dessa declaração, que, além do papelão e da sabujice, estava a seguir à risca o que previu o semioticista Umberto Eco (1932-2016), em seu tratado “Relativismo” de 2005. Nesse trabalho, o filósofo denunciou que as redes sociais e a mídia iriam pôr um fim na cordialidade e acentuar a polarização entre os indivíduos, minando o compartilhamento de ideias e que toda essa animalidade, que hoje nos envergonha, iria se estender também para a política. É o que presenciamos hoje nos debates, não apenas entre os políticos, mas englobando a todos, inclusive pessoas a quem, por sua formação acadêmica, esperávamos um mínimo de civilidade e educação.

         Dizia Eco que essa mudança ou regresso ao primitivo não seria tanto culpa da grosseria da mídia e se daria, muito mais, pelo fato de que as pessoas hoje só falam pensando em como a mídia irá noticiar o que foi dito. “Temos a impressão nos dias de hoje de que certos debates acontecem a golpes de facão, sem fineza, usando termos delicados como fosse pedras”, previu o escritor do best seller “O Nome da Rosa”.

         Os vaticínios de Humberto Eco se confirmaram para além do previsto. Atualmente, a cordialidade nos debates, seja de que tema for, foi deletada ou, no dizer moderno, “cancelada” das redes sociais. Dessa forma, o que assistimos agora são embates enfurecidos que nascem onde quer que haja diferença. O ódio fez sua morada nas redes sociais. Há, nesse contexto, uma certa tara das pessoas em criar desavenças e inimigos. Com isso, a sociedade vai deixando de lado o compartilhamento de ideias, substituindo essa virtude por uma animalidade que está cada vez mais na flor da pele.

         As redes sociais são hoje um oceano cheio de tubarões, prontos para atacar, censurar e ofender. Na política, toda essa ferocidade ganhou ainda mais adrenalina. Já não se tem oponente ou concorrente, mas inimigo fidagal, que deve ser destruído ou, ao menos, desconstruído em sua totalidade.

         Para Eco, seria como se andássemos para trás no tempo, em termos humanos, levando conosco um tablet de última geração. Quem se deu ao enfado de assistir aos últimos debates para a presidência do país, pela televisão, pôde verificar que os projetos de governo sumiram. Quando surgiam ideias aproveitáveis e raras, eram logo substituídas por ofensas e acusações, como num ringue.

         Quem ofende mais leva a melhor, segundo as redes. Os perdedores estão entre aqueles que não querem polêmicas e se restringem a apresentar propostas. Debater num ambiente assim é inútil. Ninguém ouve o que é dito. Perdemos a capacidade de escutar. Até os ouvidos falam. A língua comanda o cérebro. As redes sociais viralizam com essas batalhas. A cortesia ficou fora de moda, atingindo, de alto a baixo, todas as classes.

         A contribuir para esse mundo de intrigas e de extremismos, as redes sociais agem para estimular, por meio das fakenews e das meias verdades, os embates e a violência. Não seria estranho se algum dia alguém venha a classificar as redes sociais, sobretudo no mundo político, como o renascimento da mítica Torre de Babel. No afã de perfurar o céu, essa torre magnífica, uma espécie moderna das Torres Gêmeas de Nova Iorque, veio abaixo, marcando com sangue a entrada do século XXI, porque os homens parecem já não falar ou compreender a língua humana.

         Dizer que a classe média é hoje o último bastião ou muralha contra o avanço da ditadura das esquerdas políticas, não da ditadura do proletariado, como queria Marx, é uma realidade e um fato, contra o qual não adianta fechar os olhos.

A frase que foi pronunciada:

“Nada inspira mais coragem ao medroso do que o medo alheio.”

Umberto Eco

Umberto Eco. Foto: Divulgação

 

História de Brasília

Por falar nisto, a informação que havia era a de que a NOVACAP estava recuperando os boxes dos mercadinhos para os entregar aos produtores. Os boxes continuam fechados, e ninguém está recuperando nada, coisa nenhuma. (Publicada em 14.03.1962)

Pensar dá trabalho

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Foto: istoedinheiro.com

 

          Um bom presidente da República pode até não ser um presidente bom em si, mas o será à medida em que sua equipe e todo seu staff seja, de fato, competente. Dessa forma, a qualidade de um governo pode ser medida pela qualidade do seu entorno.

         O Brasil já teve presidentes medíocres, mas que se salvaram pela competência de seus ministros e de toda sua equipe. Mas esses são pontos fora da curva. A maioria, por sua fragilidade intelectual, não apenas forma equipes medíocres, como atua de maneira voluntária em todas as áreas, provocando desastres de todo o tipo.

         Entre os anos de 2011 a 2016, o Brasil experienciou esse desastre na própria pele, que acabaria num processo ruidoso de impeachment da mandatária. De um modo simples, vale dizer que a salvação de um governo pode ser creditada à maneira como ele pensa e reflete sobre os problemas nacionais.

         A questão aqui é que pensar dá muito trabalho e exige exercício e esforço mental de sacudir e acordar os neurônios dentro da cabeça. Poucos estão dispostos a esse trabalho. Com isso exposto, fica patente que boa parte de nossas mazelas advém do pouco exercício de pensar o Brasil, deixando as medidas necessárias serem guiadas pelo acaso, numa improvisação contínua e sem responsabilidades, todas elas abrigadas no baú do populismo.

         Tirar a camisa do populismo e vestir a camisa do patriotismo exige coragem e desapego pessoal. Governo sério é, em suma, aquele que consegue manter as contas públicas arrumadas, num esforço diário para devolver os impostos, pagos pelos contribuintes, na forma de serviços de qualidade. Cumprida essa etapa, segue a missão de investir essa poupança interna em infraestrutura, pensando sempre nas futuras gerações.

          No Brasil tem sido particularmente difícil a conciliação entre política e economia, uma vez que os interesses voláteis e subjetivos da primeira chocam-se com a segunda, que é feita de razão e números que não permitem desaforos e afrontas. Não espanta, pois, que um governo que não apresente, previamente, uma política econômica séria, transparente e exequível, será sempre aquele que irá conduzir a nação para o abismo.

          Aqui também é sentida a falta de pensadores sérios como o ex-ministro Mário Henrique Simonsen (1935-1997). Por sua biografia e currículo, fica evidente que esse era realmente um pensador criterioso dos problemas nacionais. Aqui, nesse ponto, abre-se um parêntese importante, quase como um alerta. Ministros da economia, que por sua formação acadêmica e intelectual não se definam como liberais autênticos, não deveriam se ocupar de questões relativas à economia. Por um motivo até prosaico: economia, como ciência humana, é uma disciplina eminentemente liberal que rejeita o intervencionismo estatal e prega a emancipação do indivíduo em relação às ciladas e aos dogmas externos.

         Não é preciso nem lembrar aqui que foi, exatamente, um conjunto de economistas liberais que salvou o Brasil da hiperinflação e do esfarelamento do antigo Cruzeiro. Pessoas como André Lara Resende, Edmar Bacha, Pérsio Arida, Pedro Malan, criaram e colocaram em prática o Programa do Real, uma verdadeira revolução econômica e liberal que, aos trancos e barrancos, sobrevive muito bem até hoje.

         Puderam realizar esse feito extraordinário porque se deram ao trabalho de pensar e formular ideias, todas embasadas nas ciências econômicas. Por sorte, temos ainda um ministro da economia liberal na figura de Paulo Guedes. Não fosse por seu trabalho à frente da pasta, as consequências da pandemia global, da guerra na Ucrânia e de outras adversidades mundiais teriam levado o Brasil para o fundo do poço.

        Também graças ao gênio econômico do ex-ministro Simonsen, o Brasil conseguiu atravessar um dos momentos mais difíceis de sua história, em que a inflação, pelos estragos que causava em toda a cadeia produtiva e de consumo, já era vista, tranquilamente, como um problema endêmico sem solução possível. Foi de Simonsen, a ideia da criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do Banco Nacional da Habitação (BNH) em 1965, uma ousadia que iria permitir, pela primeira vez, o acesso à casa própria pelos brasileiros de renda baixa e média. O Chamado “Milagre Brasileiro”, entre os anos de 1968 a 1973, em que a economia nacional chegou a crescer até 14% ao ano, tido como o maior desenvolvimento do mundo Ocidental, tem também o dedo de Simonsen.

         Nesses seis anos, o PIB do Brasil havia crescido mais de 88%, um feito extraordinário, todo ele impulsionado pelas ideias do liberalismo econômico. Hoje, quando se ouve, ao longe, gente discutindo a volta do estatismo e de projetos como a quarentena fiscal e o fim da responsabilidade com o teto de gastos do governo, todas elas anunciadas com orgulho pelo candidato das esquerdas, é que podemos ver quanto tempo perdemos apenas pelo fato de já não exercitarmos mais a faculdade de pensar o país.

 

A frase que foi pronunciada:

“O déficit público não é de caráter orçamentário. O déficit público simplesmente não tem caráter.”

Mário Henrique Simonsen

Charge: K. Raia

 

História de Brasília

O BNDE dá-se ao luxo de manter diversas casas fechadas, apodrecendo, em Brasília. (Publicada em 11.03.1962)

Pensar o Brasil

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Imagem: amazon.com

         Ante a perspectiva de o Brasil vir, uma vez mais, a tomar os rumos da estrada sinistra em obediência ao que estariam indicando as “infalíveis” urnas eletrônicas, nada mais útil do que, num gesto de consolo derradeiro, trazer à tona, aqui, não um alerta sobre os muitos malefícios dessa opção, já testada entre nós e em outras partes do mundo, e com os resultados que já conhecemos, mas a lembrança de que o Brasil, como um mau aluno, definitivamente, não quer aprender.

         Mesmo sendo objeto de profunda e criteriosa análise, em que seus males seculares foram devidamente esclarecidos e apontados um a um, ainda assim persiste, em nosso país, a tentação teimosa e inútil de reinventar uma espécie de roda que não gira. Com isso, seguimos parados ou em marcha ré contínua.

          Tivesse o país dado ouvidos ao que pregavam, há mais de meio século, personagens ilustres e dotadas de raciocínio ímpar e brilhante, por certo, as crises institucionais e econômicas cíclicas, que experienciamos nessas últimas décadas, não teriam existido. A insistência com que o Brasil fecha os ouvidos às admoestações clarividentes tem seu preço, na forma da continuidade de governos pouco ou nada afeitos a pensar.

         A frase que dizia: “é preciso pensar o Brasil” foi deixada de lado, por falta de pensadores. Faz falta, ao país, gente como Roberto Campos (1917-2001), cuja missão de vida foi justamente esta: estudar e esmiuçar o país, em busca de alternativas que o libertasse das mazelas e do labirinto do subdesenvolvimento crônico.

         Campos foi além de pensador, arguto. É dele a iniciativa de criação do Banco Central em 1965, quando era ministro do Planejamento, para agir nos ciclos inflacionários e deflacionários e que, em sua visão, deveria ser independente em relação aos governos de plantão, voltado exclusivamente para proteção da moeda, alheio às agitações políticas.

         O problema de ser demasiadamente sofisticado e avançado num país, muitas vezes governado por semianalfabetos, é que esse desnível intelectual acaba ou em invejas e perseguições, ou em banimento, puro e simples.

         Já nos anos sessenta, Roberto Campos tinha uma visão muito clara do que o Brasil necessitava para sair do impasse. Primeiro, mobilizar a poupança interna voltada para o investimento; seguido de uma redução na ineficiência desses investimentos; na sequência, reduzir a instabilidade das receitas de exportação. Por fim, treinar os brasileiros para o advento da civilização tecnológica e para a missão de liderar esses avanços e, obviamente, melhorar a qualidade do governo. É nesse último ponto que andamos às voltas, sendo obrigados, inclusive, a assistir a uma queda acentuada na qualidade de nossas lideranças. Nesse último quesito, andamos para trás, tanto que falar em qualidade soa demasiado despropositado.

         Lembrando aqui que Roberto Campos, chamado raivosamente pela esquerda de “Bob Fields”, foi deputado federal, senador, ministro, embaixador nos Estados Unidos e no Reino Unido, tendo participado da Constituição de 1988.

         Para um país de moucos, Campos pregava, no deserto, o livre mercado, o estabelecimento de um governo com contas ajustadas, onde haveria corte nos gastos improdutivos para permitir o aumento nos investimentos sociais, principalmente em educação, saúde e segurança. Insistia ele que o país reduzisse as barreiras comerciais, para expandir o mercado interno, além de estabelecer regras mais claras, simples e estáveis para regular o setor privado. Tudo o que ainda hoje tentamos fazer a conta gotas.

         Para os que hoje sonham com a volta da estatização da economia, com o governo controlando tudo, Campos advertia: “Há quatro características essenciais ao capitalismo: reconhecimento da propriedade privada, sinalização mediante o sistema de preços, livre acesso ao mercado pelos agentes econômicos e regras estáveis do jogo num Estado de direito”. Roberto Campos já alertava, sessenta anos atrás, que a causa da inflação era o gasto descontrolado do governo e a insistência com que tentava contornar esse problema através da emissão de moeda e de papeis ou letras do Tesouro.

          É preciso ressaltar aqui a íntima relação entre economia e política no Estado. Com isso, fica demonstrado que políticos medíocres induzem a economia, inevitavelmente, para a mediocridade, preferindo ser populistas a serem patriotas.

         No livro que Campos lançou, “A lanterna na Popa”, de 1994, em que perpassa cinquenta anos do Brasil ao longo do século XX, um calhamaço de 1460 páginas, e que logo se tornou um best seller clássico, Campos lembrava da frase de Coleridge: “A luz que a experiência nos dá é de uma lanterna na popa, que ilumina apenas as ondas que deixamos para trás”.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A mágica agora é o denuncismo do ‘pega corrupto’. Esquecemos as razões profundas da corrupção, a falência múltipla do Estado, obsoleto, corporativo, ocupado por interesses espúrios, cuja ineficiência tem por maiores vítimas, os pobres e indefesos.”

Dr. Roberto Campos

Roberto Campos. Foto: Bia Parreiras/EXAME

 

História de Brasília

Mais uma do “Gavião”: falta água quase todos os dias. Os reservatórios construídos não foram inaugurados. Ou melhor, foram, e não aprovaram, por causa da infiltração. As especificações da construção estavam erradas. (Publicada em 11.03.1962)

Zebu de carne a preço de ouro

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Foto: Reprodução/Twitter

 

Um país como o nosso, duramente castigado por uma pandemia que recrudesceu, por obra e inação de um Estado leviano e de uma classe política indiferente e egoísta, o que era um secular fenômeno de desigualdade social, tornado dormente por ações populistas, vai, aos poucos, se transformando numa espécie de apartheid, acendendo conflitos reprimidos e levando-nos a todos a um beco, cuja saída se depara com um precipício escarpado.

Reverter um quadro com essas configurações de tragédia anunciada não é obra para estadistas de meia-pataca, tampouco para malfeitores travestidos de políticos, cujo objeto de seus projetos passa longe de qualquer crise social e bem perto dos cofres públicos.

Num cenário instável como esse, prestes a explodir, qualquer fato, por mais corriqueiro que seja, é motivo para detonar manifestações de revoltas. A instalação recente de uma escultura, denominada Touro de Ouro, instalado defronte à sede da B3 ou Bolsa de Valores em São Paulo, tão logo foi inaugurada, transformou-se em motivo de protestos por parte de movimentos sociais.

Na verdade, dado o momento atual, o que foi instalado ali é um monumento com uma imensa área “em branco”, onde as pichações e as garatujas de protestos irão se multiplicar, não apenas por sua visibilidade mediática, mas por, subliminarmente, representar um símbolo máximo do que seria o capitalismo do tipo selvagem e especulativo.

A primeira inscrição a inaugurar o mural do Touro de Ouro, uma espécie modernizada do Brioche de Maria Antonieta, às vésperas da tomada da Bastilha em 1789, vinha com os dizeres: “Taxar os Ricos”, o que faz algum sentido, quando se observa a discrepância entre a pujança financeira de alguns setores da economia nacional e as imagens que mostram famílias inteiras comprando ossos nos açougues ou simplesmente buscando-os em containers em frente aos atacadistas de alimento.

O que se sabe e a experiência histórica tem demonstrado, repetidas vezes, é que país algum alcançou o patamar de nação desenvolvida, sem antes resolver as questões sociais, principalmente aquelas referentes ao combate à fome e à desnutrição de suas populações. Nesse sentido, o pobre Touro de Ouro é muito mais um boi de piranha expiatório, lançado em meio à população famélica que, constantemente, cruza aquela região do centro financeiro de São Paulo.

Na linguagem estratégica e marota de alguns partidos políticos, o combate à crise e à fome só se faz com a eliminação dos bilionários que investem em instituições como as bolsas de valores. Nada mais falso e mais passível de enganar e açular aqueles que perderam a razão pelo sofrimento impingido pela fome.

A reprodução do touro instalado em Wall Street, em Nova York, remete a outra cópia, essa das lojas Havan, que ostenta em suas fachadas uma enorme réplica da Estátua da Liberdade, também vista naquela cidade americana. Mais do que uma mostra de nossa falta de imaginação, que nos leva a copiar símbolos americanos sem sentido para o Brasil, no universo cultural interno, a colocação desse animal não simboliza a espécie genuinamente nacional que é o Boi Zebu, com sua corcova característica, fruto de anos de pesquisa genética.

Mesmo que fosse uma escultura do Zebu de ouro, pouco serviria para a população que anseia vê-lo em carne, de preferência, dentro da panela. Para nossas autoridades pançudas e pantagruélicas, trata-se aqui de uma bobagem sem sentido. Mais ensinamentos da história mostram que revoluções não se fazem com base em ideologias, mas são catalisadas pelo fenômeno humano da fome e da barriga vazia.

A palavra que foi pronunciada:

Conficídio”

Expressão usada pelo senador Eduardo Girão para intitular o discurso de Tofolli sobre o abuso de poder do Judiciário.

Só erro

O descaso do governo do DF por uma instituição respeitada como o Instituto Ludovico Pavoni, o Ceal, é inexplicável. Depois de divulgar as emendas parlamentares que encheram os cofres do GDF, não há como compreender essa indiferença com milhares de crianças surdas e famílias que só têm o Ceal como apoio. Deve haver algum erro na não continuação do convênio. É hora de a população se solidarizar com essas famílias. Dona Michelle Bolsonaro também!

Foto: ceallp.org

Paz

Aos poucos, os shoppings centers recebem corais que trazem, na música natalina, a paz tão desejada nos últimos tempos. Desde o dueto violão e sax dos músicos do Corpo de Bombeiros ao Coral Infantil Adventista, todos querem estar no momento da performance.

Foto: ParkShopping/Divulgação

História de Brasília

A propósito, até hoje o DTUI não colocou poste de telefones públicos nem na Rodoviária nem na Asa Norte. (Publicada em 14/02/1962)