Com sangue nos olhos

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Benjamin Netanyahu. Foto: cnnbrasil.com

 

Para todos aqueles que acompanham o noticiário internacional não restam dúvidas de que o mundo assiste a um aumento sem precedentes do antissemitismo, colocando, mais uma vez, o povo judeu no centro da história, além de remeter grupos, governos e pessoas de volta aos vexaminosos bancos dos réus, numa espécie de reedição do Tribunal de Nuremberg. O futuro mostrará quem são os novos algozes de Israel e porque agem de forma tão desumana.

Mesmo depois do Holocausto, ainda é possível observar que o antissemitismo e o fanatismo persistem num mundo que se acreditava moderno e que teria, em tese, aprendido com as experiências macabras dos nazistas. O 7 de outubro de 2023, ocasião em que o Hamas perpetrou o maior assassinato de judeus desde o Holocausto, parece não ter servido de lição à uma parte do mundo, principalmente aquela formada por globalistas da esquerda, que nutrem, pelos judeus, um ódio do tipo patológico semelhante àquele exalado pelos adeptos das teorias eugenistas do século passado. Os mesmos atos vergonhosos se repetem até por quem deveria, por função de ofício, manter a postura da diplomacia. É o caso aqui do comportamento dos representantes do Brasil com assento na Organização das Nações Unidas (ONU).

Tão logo o primeiro-ministro de Israel assumiu a tribuna, a delegação brasileira saiu do plenário em fila indiana, numa clara manifestação que revela a pequenez dos nossos representantes. Com essa atitude, ficou claro que as autoridades brasileiras seguem os mesmos passos dos anões diplomáticos.

Embora a própria ONU tenha perdido, por completo, a capacidade de regular as relações entre as nações, o fato é que o antissemitismo não se avexa em se apresentar publicamente, envergonhando a todos quanto ainda acreditam na superioridade sem par do humanismo. Israel, ao contrário do que prega nosso governo e outros pelo mundo, não foi criada como uma espécie de demonstração ou de compensação pelos horrores do Holocausto e não terá seu fim decretado por terroristas ou governos equivocados como é no nosso caso. A consolidação do povo judeu em Israel é fruto de tratados honestos, feitos à luz do dia e com base na compra legal de terras, no que era antes um deserto árido e infértil. A ida das populações de judeus para Israel deu vida e alma a uma região que antes ninguém reivindicava para si, porque era um imenso vazio povoado apenas por pedras e areia. A ONU sim, foi criada após o Holocausto e mesmo assim parece ter perdido a memória ou o juízo.

Hoje, não passa um dia sequer sem que tenhamos que testemunhar, pela imprensa que ainda pensa e escreve, atentados contra judeus e sinagogas. Vergonha das vergonhas, temos hoje um governo considerado persona non grata em Israel, por suas declarações e posições claramente antissemitas e favoráveis a grupos terroristas. Não é exagero afirmar que o mundo vai repetindo conscientemente o roteiro de um antissemitismo doentio e amoral. Episódios recentes de nada serviram, não há justificativa possível para a violência dirigida contra o povo judeu.

O Brasil, que já teve tradição de equilíbrio e protagonismo na diplomacia internacional, expõe-se agora ao vexame de não ser considerado, por Israel, um país cuja legitimidade deveria ser defendida como conquista civilizatória e não relativizada em função de alianças circunstanciais. O que dizer às centenas de milhares de judeus que hoje vivem em nosso país?

Israel converteu uma região inóspita em campos férteis, cidades modernas e polos de inovação, que hoje exportam ciência, tecnologia e cultura ao mundo. A consolidação do Estado judeu é um feito histórico que representa não apenas a vitória da resiliência de um povo perseguido, mas também a contribuição concreta para o progresso global da humanidade.

Do outro lado da fronteira, o que se tem são inimigos que agem como marionetes, guiados pelas mãos sangrentas de um Alá político e de um Islã que odeia tudo o que é Ocidente. Basta olhar os números: Israel investe mais de 5% do seu PIB em pesquisa e desenvolvimento, liderando o ranking mundial em inovação tecnológica. O “Vale do Silício do Oriente Médio” produziu inovações que vão do microchip ao aplicativo de navegação usado em carros no mundo inteiro. Avanços médicos desenvolvidos por cientistas israelenses salvaram milhões de vidas: da descoberta de tratamentos contra o câncer à criação do primeiro marcapasso eletrônico.

A agricultura de irrigação por gotejamento, desenvolvida em kibutzim israelenses, revolucionou a produção de alimentos em regiões áridas do planeta. A cibersegurança, que protege governos e empresas em escala global, também tem raízes no know-how israelense. A contribuição judaica para a humanidade, no entanto, não se restringe a Israel.

Ao longo dos séculos, personalidades de origem judaica mudaram a história do pensamento, da ciência e da cultura. Albert Einstein redefiniu a física moderna. Sigmund Freud abriu novos horizontes para a compreensão da mente humana. Jonas Salk erradicou a pólio. Franz Kafka, Leonard Cohen, Steven Spielberg, a lista é infindável e atravessa áreas que vão da literatura às artes, da música à filosofia.

O que seria da civilização contemporânea sem essas contribuições? Ignorar esse legado é mais do que injustiça histórica. É ceder ao obscurantismo. O antissemitismo, seja travestido de política diplomática ou de pseudo-progressismo, não é apenas uma afronta ao povo judeu. É um ataque frontal ao próprio humanismo.

Quando governos, como o do Brasil atual, se permitem acenos complacentes a grupos terroristas e fecham os olhos à violência que atinge sinagogas, escolas judaicas e cidadãos comuns, eles não apenas se colocam contra Israel, mas contra a própria memória civilizatória. Estamos diante de um dilema ético. Permanecer em silêncio diante do ressurgimento do ódio contra os judeus é permitir que as trevas do século XX se repitam. O mundo já viu até onde isso pode chegar. A questão é se teremos coragem de impedir a repetição da história. Governos que hoje preferem posar de “equilibrados” em fóruns internacionais serão lembrados amanhã não pela prudência, mas pela covardia e por se postarem ao lado de delinquentes que agem com sangue nos olhos.

 

A frase que foi pronunciada:

“O antissemitismo sofre mutações e, com isso, derrota o sistema imunológico criado pelas culturas para se protegerem do ódio. Houve três dessas mutações nos últimos dois mil anos (nas quais os judeus foram odiados por serem uma nação, odiados pelos cristãos como parte da doutrina da Igreja e odiados por serem supostamente racialmente inferiores), e estamos vivendo a quarta (o antissionismo).”

Rabino Lord Jonathan Sacks, 2009.

Rabino Lord Jonathan Sacks (Foto cedida)

 

História de Brasília

Rebatemos as insinuações, porque custa-nos crer que homens de gabarito como o cel. Barlem e o dr. Valdir Santos participem de uma Comissão para não apurar a verdade. (Publicada em 10.05.1962)

Soberania é um prato cheio de comida

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Charge do JCaesar: 14 de julho (JCaesar/VEJA)

 

Ignorar as relações estreitas entre economia e política pode ser a mais imprudente atitude de um governante. Embora a população possa não perceber essa relação de imediato, é certo que, em algum momento, todos, invariavelmente, irão sentir que a adoção de políticas erradas e mal adotadas trarão malefícios para todos. Política, nesse caso, é a arte de perceber a realidade e não se deixar levar por projetos e ideias fora dela.

Desde abril de 2025, uma escalada de tensões transformou o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos em uma crise diplomática profunda e jamais vista nesses últimos dois séculos de relações com o irmão do Norte.  A imposição inicial de 10% de tarifas em abril evoluiu para uma alíquota monumental de 50% em julho, com vigor a partir de 1º de agosto. Os impactos diretos sobre as exportações brasileiras de café, carne, suco, produtos aeroespaciais e outros setores estratégicos foram duramente sentidos. Estima-se perda de mais de 100 mil empregos, redução das exportações à metade e queda de 0,2 ponto percentual no PIB já imediatamente. O governo estuda essas consequências e segue realizando uma sequência de promessas quando afirma que o Brasil vai sair desse impasse sem prejuízos. O fato é que, se fosse pelo gosto da população, as relações entre Brasil e Estados Unidos não seriam abaladas de modo algum. O aumento do risco-país e da dívida pública prevista para superar os 82% do PIB, pressionando a economia com juros em patamares elevados é o próximo evento negativo a chegar. Também o setor financeiro e empresarial pressionam por uma saída negociada, mas o tom dos discursos oficiais ainda mantém forte componente ideológico, o que é ruim para o país. O custo da retórica ideológica será maior do que o previsto pelo governo. Mas isso não parece incomodar nossos líderes. A população assiste a tudo com um misto de medo e de maus presságios.

Analistas afirmam que a política externa do governo Lula tem sido movida por um claro alinhamento com regimes antagonistas ao Ocidente (como Irã, Rússia, China), reforçando uma diplomacia muito menos pragmática e mais simbólica. Esse posicionamento teria agravado a retaliação americana e ainda pode piorar a situação. A oposição acusa o governo de usar o “inimigo externo” como cortina de fumaça para problemas internos, apontando que o confronto com os EUA desvia a atenção do agravamento econômico e da queda acentuada da popularidade presidencial. Pesquisa recente feita pela Ipsos revela que 69% dos brasileiros percebem uma deterioração social,  um aumento de 7 pontos em relação a 2023. Além disso, 62% sentem que o país está em franco declínio. Somado a isso, 76% acreditam que a economia favorece os mais poderosos, e 73% sentem que os representantes políticos não se importam com a população nem com o delicado momento que atravessamos.

Dados do Datafolha apontam aprovação de apenas 28% para o atual comandante do país, com desaprovação em 40%, patamar mais baixo de seu terceiro mandato até agora. Isso alimenta uma polarização que bloqueia o diálogo e diminui a capacidade de resposta do governo a crises reais. Quando políticas são conduzidas com base em ideais descolados da realidade prática, os prejuízos podem se espalhar, ainda que tardiamente, por toda a população. A atual crise Brasil–EUA é exemplo emblemático disso. Temos que admitir que a retaliação econômica americana não foi motivada por desequilíbrio comercial, mas, unicamente, por uma retórica política exaustivamente levada a público, especialmente no que diz respeito ao apoio declarado a Bolsonaro por Trump, e por decisões intempestivas da Justiça brasileira.

Os jornais americanos, mesmo aqueles que são contra Trump, falam dessa situação a todo o momento, comparando a situação do Brasil a de outros países como a Venezuela ou Cuba. O governo brasileiro respondeu com cortes diplomáticos e discurso soberanista, mas faltou uma agenda clara de contenção de perdas ou negociação técnica. Enquanto isso, a população sente o peso: menor crescimento, inflação, empregos ameaçados, sentimento de insegurança social e institucional. Quando governantes se apegam mais a uma ideologia do que ao interesse nacional que aflige diretamente as pessoas, o resultado pode ser devastador e a população acaba pagando o preço. O distanciamento entre o que quer o governo e o que quer a população tem, efetivamente, custado caro ao Brasil tanto na economia exportadora, nos empregos, no bem-estar social como até na estabilidade institucional. Quando um governo levanta a bandeira da “soberania” mas, na prática, essa defesa serve apenas como retórica eleitoral, entramos no terreno da política performática, aquela que prioriza a imagem e o discurso em detrimento de resultados concretos. No caso atual, o apelo à soberania frente aos EUA poderia ser legítimo se viesse acompanhado de uma estratégia econômica robusta, negociações discretas e alternativas reais para compensar as perdas comerciais. Mas o que se vê é quase o oposto.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Estamos em uma situação muito inusitada, presidente. O Brasil é um país que está sendo sancionado por ser mais democrático do que seu agressor.”

Ministro Haddad

Foto: carlossousa.com.br

 

História de Brasília

O que há de falso sensacionalismo. Pura e simplesmente. P rapaz está há um ano esperando julgamento e já foi adiado duas vêzes. (Publicada em 08.05.1962)

Vitória de Pirro moderna

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         Dados levantados pela inteligência ocidental dão conta de que, nesses após três anos do início da invasão à Ucrânia, a Rússia já contabiliza equação militar negativa cada vez mais insustentável. Segundo esses dados, o país vem perdendo, em média, 1.135 soldados, mortos ou feridos diariamente, tudo isso para conquistar apenas 2,3 quilômetros quadrados de território – uma área irrisória. Analistas militares calculam ainda que, no ritmo atual de avanço, a Rússia levaria, pelo menos, 91 anos para criar a zona tampão segura proposta por alguns militares russos. A Rússia, diz esse relatório, está tomando território, mas a um custo insustentavelmente alto.

         Diante de mais esse desastre comandado por Putin, seu futuro político vai se tornando cada vez mais incerto e tenebroso. De posse desses dados, o que se tem em mãos revela uma operação militar que, além de moralmente condenável, é estrategicamente desastrosa para a Rússia, sobretudo, para sua juventude. Um olhar para três frentes (militar, política interna russa e geopolítica global) mostra a Rússia, sob a liderança de Putin, cada vez mais atolada nas areias movediças do destino que traçou para si mesmo. No cenário militar, já se assiste a lógica da exaustão por tantas baixas, atualmente em mais de 400 mil por ano. Isso é insustentável até mesmo para uma potência como a Rússia, que mobilizou sua população em ondas sucessivas e endureceu suas leis contra a dissidência e deserção. Os ganhos territoriais (2,3 km² por dia) são, taticamente, irrelevantes, quando comparados com o custo humano, material e psicológico. A estimativa de 91 anos para completar uma zona tampão mostra o caráter fantasioso daquela meta. Além disso, a moral das tropas está provavelmente degradada; as reservas de munições, equipamentos modernos e oficiais experientes estão se esgotando e a Ucrânia, embora exaurida, tem acesso crescente à tecnologia militar ocidental de ponta, o que tende a reequilibrar o conflito no campo de batalha.

          A guerra entra em um impasse de desgaste onde a Rússia, apesar de avanços localizados, está cavando sua própria exaustão estratégica. Também no cenário político Interno, o poder de Putin torna-se cada vez mais instável e incerto. Vladimir Putin, como é sabido, sustenta seu poder sobre três pilares: repressão interna e controle da narrativa, aparato de segurança leal (FSB, militares, Guarda Nacional) e percepção de força e grandeza geopolítica. Por outro lado, entende-se que a guerra na Ucrânia corroeu parte ou boa parte desses pilares. Internamente, a repressão já atinge o ponto de retorno: quando o medo vira ódio silencioso e regimes como esses entram em colapso. As Forças Armadas estão desmoralizadas, com generais eliminados, prisões por corrupção e comandantes mercenários (como Prigozhin), mortos em circunstâncias pra lá de suspeitas. Dessa forma, o fracasso dessa guerra destrói a narrativa imperial que Putin construiu desde a Crimeia (2014). Muitos acreditam que o futuro político de Putin está ameaçado, embora, não imediatamente, pois ele ainda mantém o poder, embora enfrente rachaduras entre elites (oligarcas e serviços secretos).

         Há sinais de desgaste entre as bases sociais que sustentavam sua popularidade. O medo de uma “primavera russa”, embora remoto, já preocupa o Kremlin — vide o aumento de investimentos em ciberpropaganda, censura e repressão legal. Ninguém contesta o fato de que, em termos geopolíticos, há um isolamento e colapso russo, com aquele país, em termos de diplomacia cada vez mais desgastados, mesmo entre antigos aliados. A guerra levou a Rússia a se tornar cada vez mais dependente da China, o que a rebaixa, de potência autônoma a satélite estratégico. Sancionada economicamente, com acesso restrito a tecnologias críticas e mercados ocidentais, a Rússia de Putin vai provando de seu próprio veneno. Se Putin sobreviver politicamente, será como líder de uma Rússia empobrecida, armada, ressentida e dependente, o que é perigoso para o mundo. Mas se cair, abre-se o risco de vácuo de poder com disputas internas violentas e fragmentação da federação russa ou ascensão de um regime ainda mais autoritário. O mundo deve colocar as barbas de molho, pois seu arsenal atômico assustador pode vir a ser usado como demonstração de força derradeira.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.”

Winston Churchill

Winston Churchill. Foto: wikipedia.org

 

História de Brasília

A solidariedade das  professôras aos invasores do BNDE não deveria ser traduzida em greve , mas sim em solidariedade efetiva. Exemplo: melhor aproveitamento dos apartamentos já entregues, para que todos sejam atendidos. (Publicada em 04.05.1962)

A borduna e o tacape

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Foto: Brian Snyder

 

Tempos de crise sugerem, logo de saída, que as armas da diplomacia não estão resolvendo as questões. Há muito se sabe que política e diplomacia devem caminhar de mãos unidas. O que não se pode admitir é que a política, com suas várias faces ideológicas, acabe contaminando os objetivos da diplomacia, fazendo-a agir de modo titubeante e parcial. Pois, a diplomacia induzida por víeis político acaba transformando a virtude em vício e o entendimento em confronto. Hoje, é mais do que necessário que o mundo faça uso das armas inteligentes da diplomacia. Não aquela acordada em bebidas alcoólicas e rega-bofe, mas aquela estabelecida por horas e horas nas mesas de negociações, sem fanatismos e sem covardias.

Ceder para conquistar. Em vista dessas premissas, o que se pode observar acerca dos últimos acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo é que, sem a diplomacia, estamos todos nus e perdidos em selva inóspita. No caso recente do encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, o mínimo que se pôde observar da conversa, transmitida ao vivo pelas televisões diretamente do salão Oval da Casa Branca, é que faltou diplomacia ao chefe americano. Não se faz negociação de paz, ainda mais nesse caso de agressão da Rússia contra um país soberano, sob pressão ou intimidações. Aceitar as condições apresentadas por Trump, que aliás coincidem com as condições do ditador russo Putin, equivaleria no caso de Zelensky, a uma capitulação, desonrando seus compatriotas vivos e os que tombaram defendendo seu país.

O big stick policy, ou a diplomacia da força iniciada por Roosevelt no início do século XX, parece estar de volta aos Estados Unidos. Só que os tempos são outros. É certo que os contribuintes americanos não querem mais destinar seus impostos para a continuação de uma guerra que parece que não terá um fim próximo. Mas daí a querer encostar o líder ucraniano contra a parede, exigindo uma paz imediata, mostra que a diplomacia americana está vivendo as mesmas agruras e desprezo que a diplomacia de outras partes do mundo, sobretudo, em nosso caso, a diplomacia brasileira.

Também por aqui se assiste a colocação da diplomacia de nosso país a reboque dos interesses políticos e ideológicos do atual governo. Tanto é assim que o chanceler de fato desse governo é o Celso Amorim e não o oficialmente indicado Mauro Vieira. No caso do chanceler Mauro Vieira, é até um alívio que ele não tenha que suportar o vexame de estabelecer conversações com a maioria dos ditadores do mundo, nem tenha que aparecer em fotos ao lado dos maiores e mais procurados terroristas da atualidade.

Mas ainda assim, a pasta que ele chefia, segue sempre em segundo plano dentro do atual governo, sobrando apenas assuntos de menor interesse ou as batatas quentes difíceis de ser negociadas. É o caso aqui do pedido do Supremo Tribunal Federal para que o Itamaraty entre na questão envolvendo essa Corte e os Estados Unidos com relação à censura imposta às big techs. Outro caso emblemático da falta que a diplomacia faz para aplanar os caminhos da paz e da concórdia é a recente nomeação da deputada petista Gleisi Hoffmann para ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência, no lugar de Alexandre Padilha. Para quem não sabe, essa pasta cuida, essencialmente, das relações entre o Executivo e o Legislativo, para o estabelecimento de pontes de entendimento político. Para quem sabe também, a nomeação de Gleisi tem sido, até agora, criticada por cada nove entre dez políticos, inclusive da própria legenda do atual presidente. O próprio José Dirceu, a eminência parda do PT, afirmou que a colocação de Hoffman na pasta da SRI vai ser um desastre. Disse ele: “ vai dar Dilma”.

Não é de hoje que as relações institucionais entre o Congresso e o Palácio do Planalto deixaram de lado a diplomacia política e passaram a ser feitas na base da liberação ou não das emendas secretas, hoje, manipuladas diretamente pelo Supremo. É o mundo do tacape, da borduna e das malas cheias.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Mesmo na guerra, há regras… Esses caras não têm regras”.

Volodymyr Zelensky, durante uma entrevista referindo-se à Rússia.

Volodymyr Zelensky. Foto: Getty Images

 

Livro

Um deleite correr os olhos pelas linhas do “Lumiar de Lamparina”, um livro de memórias de Luiz Bezerra de Oliveira. Ora sorrindo, ora enxugando as lágrimas, o livro é um exemplo da riqueza de vida de tantas pessoas que atravessaram as maiores privações para alcançar a vitória nos estudos e no trabalho. Sem pé de meia, com os pés no chão.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

História de Brasília

A minha terceira atividade é publicidade, mas quando recebo dinheiro dou recibo, o que nem todos fazem na nossa profissão, infelizmente. (Publicada em 27.04.1962)

Diplomacia do vinagre

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Palácio do Itamaraty. Foto: gov.br

 

Desde a formação dos estados nacionais, no século 14, ocasião em que foram implementadas as condições para o surgimento de um corpo burocrático e de toda uma infraestrutura para garantir o funcionamento de uma “máquina pública”, viu-se que a possibilidade real de tomar decisões internas que fossem aceitas por outros países e outras culturas estava condicionada diretamente à capacidade do Estado de se relacionar diplomaticamente com o mundo à sua volta. De certo modo, a existência e o prolongamento dos estados modernos recém-surgidos se deviam ao bom desempenho de seu corpo diplomático. Questões fronteiriças, religiosas e outras que facilmente descambavam em guerras sangrentas poderiam agora ser mediadas pela diplomacia, economizando vidas e poupando a economia.

Muitos historiadores identificam esse período como o que estabeleceria as primeiras centelhas do que viria a ser posteriormente, no século 19, chamada de Realpolitik. Esse termo, que pode também ser definido como política real, prega que a diplomacia deve ser baseada em considerações práticas, despidas de noções ideológicas, direcionada sobretudo pelo interesse nacional — ou seja, apoiada por princípios do realismo e do pragmatismo. “Para derrubar os muros de Jericó, o Realpolitiker sabe que a picareta é mais útil que a trombeta mais poderosa”, teria dito o criador do termo, Von Rochau. Com isso, ele queria dizer que a diplomacia tinha pela frente que enfrentar um mundo sem regras liberais esclarecidas por meio justamente de ideias liberais e esclarecidas.

Nesse sentido, a Realpolitik se diferencia da Machtpolitik, que é a política do poder usada para proteger os interesses nacionais, inclusive com o uso da força e do troar dos canhões. O Brasil, que historicamente, em suas relações
com o restante do mundo, sempre se posicionou a favor do entendimento e da paz internacional, praticava, até o advento da nova gestão, uma política externa alicerçada na Realpolitik, longe de influências político partidária, voltada apenas para o interesse nacional.

Era o tempo da diplomacia pragmática e profissional a serviço do Estado e não de governos. Com a chegada das esquerdas ao poder, essa orientação, respeitada mundialmente, mudou do vinho para o vinagre, azedando as relações do Brasil com seus tradicionais parceiros, como é o caso dos Estados Unidos. Pior ainda, passou a se aliar a ditaduras, como China, Rússia, Irã, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela e Nicarágua.

A politização crescente nas relações diplomáticas do Brasil, simbolizada até pela presença incomum de dois ministros das Relações exteriores, mostra que nosso país tomou léguas de distância do pragmatismo e, hoje, pauta suas relações com o mundo de acordo não com os interesses nacionais, mas com o que deseja o ocupante atual do Palácio do Planalto. Essa guinada à esquerda do Itamaraty tem feito muito mal ao próprio Itamaraty e ao país, uma vez que o realismo diplomático ou a Realpolitik foi posto de lado em benefício apenas das ideologias, com enormes prejuízos para toda a nação.

Nas recentes plenárias realizadas pela ONU, ficou explícita também a atual posição do Brasil, um país cuja legitimidade para defender causas democráticas, violência ou meio ambiente é nenhuma, dado a nossa triste realidade interna. Nossa reputação diplomática e técnica de outrora é coisa de um passado distante. Isso ficou patente com o apoio dado pelo nosso governo ao plano de paz da China, que fortalece a ditadura russa e impõe à Ucrânia o reconhecimento de perda de mais de 20% de seu território, invadido ilegalmente por uma potência nuclear que nunca respeitou o direito internacional.

Na verdade, o Itamaraty é o responsável pela política de relações externas do governo, que se resume à atuação e ao que orienta as pessoas de sempre. Em nosso caso, a maturidade ou a velhice parece não ter produzido bons líderes políticos. A semelhança dos vinhos de qualidade, que adquirem maturação e refinamento sensorial com o passar dos anos em cascos de carvalho, nossas lideranças ganharam em acidez e, hoje, tratam de azedar nossas relações com o Ocidente civilizado, preferindo a companhia de bárbaros e outros tiranos intragáveis.

 

A frase que foi pronunciada:
“Quando os direitos humanos são desrespeitados em casa, tornam-se públicos.”
Nélida Piñon

Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

 

História de Brasília
Estou recebendo de juiz da 1ª Vara Criminal a intimação para servir como jurado na 4ª sessão do júri. Comparecei, naturalmente, como cidadão, cumprindo um dever. Resta, entretanto, uma ressalva. O termo intimação poderia ser substituído por convite, porque estarei presente cumprindo um dever de cidadão, mas para cumprir com êsse dever jamais precisaria ser intimado. (Publicada em 18/4/1962)