Elite frívola

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil

 

         Que possíveis relações poderiam existir para a capital, entre atividade política local, a partir dos anos oitenta, e o sucateamento gradativo dos principais pontos de cultura de Brasília? À primeira vista, pode até não parecer, mas, desde que a capital, por uma iniciativa de grupos de empreendedores interessados em dividir e lotear a capital entre si, tomaram assento na Câmara Distrital e no Palácio do Buriti, os espaços de cultura da cidade, foram, um a um, adentrando num lento e irreversível processo de decadência, com fechamento de galerias, teatros e uma série de projetos de fomento às artes, que foram vetados ou simplesmente esquecidos.

         O empobrecimento cultural da capital do país é a obra prima dessa gente inculta, que não vislumbra retorno político imediato e satisfatório para suas ambições eleitorais. Muito mais chamativo e lucrativo, do ponto de vista político, do que espaços e fomentos para as artes, são as legalizações de áreas  e outras benesses eleitoreiras. Essas sim trazem retorno em forma de votos. São verdadeiros cartazes a esconder propaganda política e partidária.          Ademais, o inchaço populacional trazido pela emancipação política, com a criação, quase que diária, de assentamentos e outros bairros improvisados, passou a requerer, do poder público, o direcionamento dos recursos, tanto para o atendimento dessas populações como para socorrer hospitais, escolas e outros pontos de serviços básicos, tornando itens como a cultura descartáveis ou não urgentes.

         O gasto astronômico com os novos poderes locais que foram criados, ajudou a desviar os preciosos recursos que antes iam para a atividade cultural. Hoje os projetos de arte e, principalmente, os artistas da cidade são obrigados a se humilhar diante dessa classe de políticos, semialfabetizada, implorando para que concedam migalhas de recursos, que são públicos, na forma de emendas. Criou-se, desnecessariamente, uma classe política que, ao fim e ao cabo, são autênticos atravessadores de recursos, cobrando, para isso, o reconhecimento como patrocinadores das artes.

          Nossa elite e, principalmente, nossos políticos são formados por indivíduos cujo entendimento que possuem de cultura se resume a viagens à Disneylândia ou ao Caribe. São frívolos, sem educação e aculturados. Muitos, inclusive, não hesitariam, caso fosse permitido, sacar uma arma ante a presença de uma trupe de artistas mambembes. É disso que se trata, quando se observa que importantes e icônicos espaços como o Teatro Nacional, um marco de cultura da capital, está entregue às baratas por mais de uma década. A insensibilidade às manifestações da arte e da cultura é traço marcante de nossa elite política. Mesmo esbanjando dinheiro público pela Europa ainda não se atentou ao que diferencia um país com tradições e história. Com essa indiferença, que quase beira ao ódio, gerações inteiras de artistas e outros cidadãos de autêntico talento são deixados ao relento, para que desapareçam da paisagem.

         O que temos como produto dessa gente egoísta é a proliferação indefinida de bares e casas de espetáculos com shows pra lá de duvidosos e sem conteúdos artísticos. Uma cidade em que suas lideranças ignoram, e mesmo desprezam as artes, não pode possuir status verossímil de capital do país. A Brasília que, desde a sua emancipação política, foi entregue, de mão beijada, a uma gente tosca e de poucas letras é a que temos hoje, permeada de problemas como o da violência urbana e a do abandono.

          Não há futuro seguro e pacífico por esse caminho. Nem para seus habitantes e muito menos para aqueles que a transformaram nisso. Não há salvação possível fora da cultura e das artes, principalmente quando se fala em comunidade.

 

A frase que foi pronunciada:

“A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto… Nunca vi um gênio com gosto médio.”

Ariano Suassuna

 

Traumatizante

Vai aqui um conselho precioso: você que pretende homenagear sua mãe, levando-a num restaurante para livrá-la das obrigações da cozinha diária da família, faça isso na véspera do Dia das Mães. A receita serve para o Dia dos Pais que vem aí. A razão é que a maioria dos restaurantes da cidade não está preparada para o aumento de público. A qualidade dos serviços cai, os preços sobem, as filas aumentam e o que poderia ser um dia de lazer e alegria acaba se transformando num pesadelo. Que digam as mães que foram “homenageadas” por seus familiares no tal restaurante La Terrasse, no condomínio Life Resort. Um domingo de horror!

Foto do restaurante La Terrasse, unidade Life Resort, publicada em seu perfil oficial no Instagram

 

Para os críticos

Como ex-presidente, Lula tem direito à escolta armada para se proteger. E foi essa a opção que fez. Quem estranha a iniciativa é o deputado Sanderson. Quer saber se a submetralhadora alemã UMP45 é realmente necessária para enfrentar o povo nas ruas.

Deputado Sanderson (PL-RS). Foto: Assessoria de imprensa

 

História de Brasília

Houve falta de controle, e parte daí a dificuldade, criada pelo Conselho Novacap, que doou os terrenos já ocupados. (Publicada em 23.02.1962)

Alcoolândia

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Foto: g1.globo.com (Thiago Sabino/Divulgação)

 

Um visitante atento, que percorrera o Plano Piloto, de uma ponta a outra, em busca de espaços culturais e de lugares como galerias, teatros, bibliotecas, livrarias, cinemas, salas de concerto, de dança, folclore, artesanato, moda e uma infinidade de outros pontos onde possa conhecer, de perto, o grau de desenvolvimento intelectual dos habitantes locais, medido em todo mundo pela quantidade, variedade e qualidades desses espaços, por certo experimentará uma decepção enorme com o vazio e o pouco caso que as autoridades do DF parecem demonstrar pelo universo das artes.
Não há praticamente nada, nesse imenso espaço urbano que remeta ao mundo das artes. A não ser se forem considerados também como espaços culturais a grande quantidade de bares, restaurantes, farmácias e lojas de quinquilharias espalhadas pelas quadras comerciais.
Surpreendentemente, vivemos, sem o menor remorso, imersos num imenso e árido deserto, onde as artes, o esporte e quaisquer outras manifestações semelhantes vitais e importantes para a saúde humana foram varridas por uma espécie de vendaval primitivo. O que há, por toda a parte, e numa proporção até preocupante, é uma enorme quantidade de locais, onde as pessoas vão em busca apenas de álcool e não de algo capaz de preencher o espírito.
Não surpreende que, num ambiente assim, os índices de acidentes, as doenças e a violência estão sempre crescendo. Não é por causa também que, afogada em bebidas alcoólicas, de segunda a segunda, a população, incluindo aí uma boa parcela da juventude brasiliense, busca em farmácias e em hospitais e nas clínicas particulares, o unguento caro para seus vícios. Assim, como num ciclo doentio, o número de farmácias e clínicas se multiplicam, sem parar, tudo para atender os clientes oriundos dos bares que também se proliferam, além da conta.
Nesse vaivém perverso, aumentam ainda os casos de transtornos mentais pelo abuso de álcool e drogas, encontráveis em quaisquer pontos da cidade. Diversão cultural sadia, nem pensar. Seguindo nesses desvãos de uma cidade que adoece e que parece grudada em bares e botecos, as igrejas de confissão duvidosa vão se reproduzindo, pro metendo acabar com as dores e as doenças espirituais dos alcoólatras. Não há espaço para manifestações culturais. Foram banidas pela insensatez e pelo primitivismo que hoje prevalece. Em seu lugar vieram o drive thru de bebidas.
O governo e outras autoridades, mesmo as sanitárias, a quem caberia pelo menos disciplinar esse estado caótico em que o Plano Piloto se converteu, fazem cara de paisagem, não promovem as artes, nem os esportes que poderiam amenizar todo esse caos, limitando-se a cobrar impostos desse inchaço de comércio da doença.
Não há campanhas públicas sobre o abuso no consumo de álcool. Nos fins de semana, o Plano Piloto se converte numa Gomorra, onde uma multidão se afoga em bebidas, transtornando toda a cidade, com arruaças, barulhos, brigas e mortes. A polícia demonstra, claramente, não mais poder conter a situação. O caos é geral.
Quando o dia clareia, as farmácias e as clínicas voltam a encher com os doentes de sempre, vítimas de algozes de si mesmas. Existisse pelo menos um parlamentar destemido e independente capaz de apresentar o projeto de lei obrigando os pontos de venda de álcool a custearem o tratamento de saúde dos seus fregueses com remédios, especialistas em hepatologia ou em clínicas de psicologia e psiquiatria, a coisa toda, tomaria um outro caminho. Bar e boteco não são pontos de diversão, não são playground.
Houvesse um equilíbrio entre lazer sadio e essa quantidade exorbitante de pontos de venda de bebidas alcoólicas, tudo voltaria à normalidade. Mas não há, e a tendência é piorar. A “alcoolândia” em que se transformaram todo o Plano Piloto e quase todas as regiões administrativas bem debaixo do nariz de todos precisa ser repensada urgentemente se, de fato, ainda existe uma preocupação sincera com as futuras gerações. Não há exageros aqui, basta percorrer o DF verificar essa realidade in loco, como fez nosso visitante atento, no alto da página. A decepção com a morte da cultura na cidade é de todos que sonham com uma cidade sadia, sensata e inteligente.
A frase que foi pronunciada:
“O vício, na pior das hipóteses, é como ter a Síndrome de Estocolmo. Você é como um refém que desenvolveu uma afeição irracional por seu captor. Eles podem abusar de você, torturá-lo, até mesmo ameaçar matá-lo, e você permanecerá inexplicavelmente e perturbadoramente leal.”
Anna Clendening
Fertilizantes
Pauta importante na Comissão de Agricultura do Senado. A CRA vai debater a dependência do Brasil de fertilizantes estrangeiros. Nota da agência Senado afirma que cerca de 80% dos fertilizantes usados em terras brasileiras são importados. Hoje, às 8h, está marcada audiência pública para debater o assunto. O presidente da Comissão de Agricultura no Senado é o senador Acir Gurgacz.
Foto: Getty Images/iStockphoto/direitos reservados
História de Brasília
Mas Brasília é ruim, também. É ruim para quem vive no Rio com escritório de “empurrar papel”, é ruim para quem “negocia” fora os de sua repartição, e ruim para os que têm outros assuntos que não os restritos à sua alçada. (Publicada em 18/2/1962)