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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Com a formação das diversas bancadas, da bala, do boi, da Bíblia e de outros grupos dentro do Congresso, um fenômeno vai aos poucos se instalando dentro do quadro político nacional. Trata-se de um lento e progressivo deslocamento do centro de gravidade política dos partidos para esses grupos. As legendas passam a ter seus espaços encolhidos, restando-lhes a função de chanceladoras das questões dentro do plenário.
O Colégio de Líderes, de certa forma, também contribui para o esvaziamento da função individual do parlamentar. Sem uma reforma política, digna do nome, e com os diversos remendos açodados feitos, o funcionamento dos partidos vai, aos poucos, perdendo sua ligação com as bases e os reais desejos dos eleitores, ao mesmo tempo em que, abastecidos com larga soma de recursos públicos, deixam de entender a realidade, voltando, cada vez mais, para os próprios interesses.
Estivessem, como acontece com as grandes democracias do planeta, preocupados com a participação de cada eleitor, arrecadando de cada um, níquel por níquel, prestando contas aos cidadãos dos gastos com campanhas enxutas e objetivas, os partidos poderiam, verdadeiramente, sentir, o quão árdua é a vida política. O que nos países desenvolvidos se chama de base política é justamente o mutirão formado por eleitores de determinado partido para, juntos, levarem a proposta daqueles líderes mais preparados para o cenário nacional.
A nababesca soma de recursos arrancadada compulsoriamente dos cidadãos, por meio de leis corporativistas para o custeio de fundos eleitorais e partidários, distorce o próprio sentido dos partidos transformando-os numa espécie de lojinhas onde tudo é negociado e onde elementos da compliance e da ética simplesmente inexistem. São essas distorções, vindas de todos os lados, que acabam gerando o que os cientistas políticos chamam de crise de representatividade.
Para complicar o que em si já é ininteligível, a multiplicidade de legendas sem proposta e de olho apenas nos fartos recursos corrompe a própria democracia, desgasta o sistema de representação e acaba por refletir nos outros Poderes, à medida que as funções características do Legislativo de fiscalização, nomeações, ratificações e outras ficam contaminadas.
Dessa forma, o exercício da democracia fica restrito aos conchavos, às negociações de bastidores e aos acordos longe do conhecimento do público. Existe, e ninguém em sã consciência pode negar, uma forte demanda do eleitorado por um ambiente mais transparente e ético dentro das legendas.
O impedimento, feito por medidas casuísticas e suspeitas, de fiscalizações e accountability dos milhões recebidos dos contribuintes faz dos partidos as instituições mais opacas e criticadas hoje pelos brasileiros. Como devem explicações apenas a si próprios, contando ainda com o beneplácito da Justiça Eleitoral e dos tribunais de contas, os partidos se alienaram da realidade que ocorre fora dos muros envidraçados do Congresso, passando a girar em torno apenas do próprio umbigo.
A frase que foi pronunciada:
“Acho que a moeda da liderança é a transparência. Você tem que ser verdadeiro. Não acho que você deva ser vulnerável todos os dias, mas há momentos em que você tem que compartilhar sua alma e consciência com as pessoas e mostrar a elas quem você é, e não ter medo disso.”
Howard Schultz
Agefis
Um caminhão de mudança na área verde da entrada do Lago Norte denuncia invasão iminente. Primeiro, tiraram toda a cerca, e, agora, os olheiros não descansam.
Ele
Foi bonita a cena na principal avenida de Nova York. Os placares em que as melhores marcas aparecem estimulando o consumismo, por alguns segundos, se apagaram, e imagens do dono do Natal apareceram para aquecer o coração de quem via as cenas. Veja a seguir.
IA
Fabrício Bertini Pasquot Polido escreve sobre as chances do Brasil em relação à inteligência artificial, depois das eleições norte-americanas. Leia a íntegra a seguir.
–> Donald Trump reeleito: como ficarão Inteligência Artificial, Estados Unidos vs. China? Alguma chance para o Brasil?
*Fabricio Bertini Pasquot Polido
Donald Trump foi reeleito nos Estados Unidos para mais um mandato presidencial (2025-2029) e existem várias agendas internacionais que serão profundamente transformadas com a rivalidade intensa a ser travada com a China no campo das tecnologias emergentes e da Inteligência Artificial (IA). Para além do prometido tarifaço, da guerra comercial e do abandono das políticas comerciais multilaterais desde a já moribunda Organização Mundial do Comércio – OMC, quatro anos de presidência de Donald Trump terão impactos arrebatadores. Eles serão sentidos na corrida entre os países, projetando-se um controle mais intensivo de oferta por China e EUA, e elevação de preços aplicados a bens, serviços tecnológicos que serão cobrados dos países adquirentes de tecnologias.
Por outro lado, há áreas no Brasil que podem se beneficiar da corrida e disputa tecnológica EUA-China, desde agentes da indústria que fornecem insumos e serviços para ciclo de IA, como no campo de processamento de dados (data centers), geração, distribuição e comercialização de energias (especialmente as energias limpas, renováveis), além da possível ampliação e instalação de plantas para desenvolvimento e fabricação de chips processadores, e assim por diante. Depende muito, no entanto, de como o Brasil realmente possa encarar esse cenário e projete atrativos para que essas frentes possam prosperar.
Faz bem tanto o Executivo brasileiro, e especialmente o corpo diplomático negociador do Itamaraty, mundialmente reconhecido por sua excelência capacidade e qualidade técnica, de manterem boas relações com dois países – EUA e China-, sem cair em armadilhas ideologizantes ou serem pilhados por discursos extremistas na política e economia. Nessa fase, acreditem, será muito difícil recuperar qualquer sentido mais estratégico dos foros multilaterais, G8, G20, Brics e as organizações internacionais, e por isso, o Brasil deverá concentrar esforços seletivos.
Vamos às principais análises.
IA como motor econômico nacional. Nos últimos anos, o desenvolvimento da IA evoluiu de uma iniciativa eminentemente científica e econômica para um ponto central de estratégia de segurança nacional por governos e alavancagem de novos negócios pelos grandes conglomerados e BigTechs. Durante a primeira presidência de Donald Trump, a mudança se consolidou em uma atitude estratégica que lidava com IA enquanto campo essencial de competição entre as superpotências globais, principalmente entre os EUA e a China. Saindo da posição meramente de defesa e segurança, IA foi transferida para uma ótica competitiva do ponto de vista comercial e tecnológico. Daí porque o primeiro governo de Trump já havia enfatizado a necessidade de superar a China em capacidades de IA para preservar três pilares – segurança nacional, superioridade militar e indústria de tecnologias dos Estados Unidos. Não há nada que modifique drasticamente essa visão para o segundo mandato, o que já estava em curso no governo Joe Biden. A diferença será a sede de ‘vingança’ em um cenário pós-pandêmico e que terá a IA como uma das bandeiras de expansão ou tentativa de influência tecnológica pelos EUA – padrões, standards, práticas e a aparente efetividade da autorregulaçao por setores da indústria de IA.
Estabelecendo a IA como uma prioridade estratégica: A Ordem Executiva de 2019 de Trump sobre IA foi a primeira tentativa dos EUA de apresentar um arcabouço mais amplo para estruturar as políticas sobre a tecnologia, incluindo diretrizes para sua adoção por agências federais e o financiamento de pesquisas por iniciativas governamentais. Essa medida normativa abriu o caminho para políticas subsequentes, culminando na Lei Nacional de Iniciativa em IA de 2020 (‘National AI Initiative Act’), que direcionou recursos para pesquisas em IA de caráter não militar, portanto, para fins comerciais de aplicação na indústria. Sem nenhuma surpresa, esse marco reforçava a iniciativa frequente dos EUA de apoiarem e subvencionarem pesquisa, desenvolvimento e inovação na indústria, como boa parte do que ocorreu entre as décadas de 1980 e 2000 no Vale do Silício. Nenhum negócio de alto impacto e estratégia transformadora, vale lembrar, nasce de uma ‘garagem’, ao contrário do que as lendas diziam e ainda vendem por aí. Existem universidades, institutos, centros de pesquisa e aportes governamentais e da indústria intensivamente aplicados. Trump soube manejar o próprio Congresso norte-americano e nesse ponto republicanos e democratas se aliaram para a produção de leis de incentivo. Somente no Brasil a desinformação é tamanha a ponto de acreditar, como fazem alguns setores da mídia tradicional, ‘best sellers’ e ‘coaches’, que tudo isso costuma vir de uma garagem ou de um único e genial guru de tecnologias. Até IA responde melhor se perguntada com os parâmetros (‘prompts’) adequados.
Estabelecendo IA como “corrida armamentista turboglobalizada” e tensões com gigantes da tecnologia: A retórica de Trump frequentemente apresentava a IA como uma corrida entre os EUA e a China, uma “disputa transformadora”. As políticas energéticas dos EUA dariam às empresas americanas ‘vantagens comparativas’, um termo muito caro às teorias do comércio internacional, as quais, curiosamente, os governos brasileiros rechaçaram nas últimas décadas e sacralizam a dependência de uma política comercial com exportações agrícolas e desmantelamento de tudo mais que fosse possível nos campos de ciência, tecnologia e inovação e na indústria doméstica. Fale-se mal ou fale-se bem, a campanha de Trump visualizava duplamente IA como um ativo econômico (daí rivalizar com a China nas relações comerciais envolvendo tecnologias) e componente de segurança nacional, especialmente diante de ameaças e possíveis ingerências externas por meio de operações de influência e ataques cibernéticos, no conjunto dos grandes eventos e processos de cyberwarfare. Em contrapartida, as iniciativas estatais chinesas, fortemente financiadas pelo Estado e centradas no interesse nacional expandindo atividades de conglomerados chineses de tecnologias digitais e IA exemplificaram a abordagem centralizada para a dominação tecnológica. Esse aspecto elevou a pressão sobre os formuladores de políticas dos EUA para acompanhar o ritmo das incursões sino-tecnológicas. Nesse meio tempo, e apesar de priorizar a IA, Donald Trump passava boa parte de seu primeiro mandato vociferando contra gigantes da tecnologia, acusando-as de serem parciais contra a campanha negacionista e os rompantes ultraconservadores do presidente e até de serem uma ameaça maior às eleições do que atores estatais como a Rússia. Durante o primeiro mandato de Trump, o Executivo lançou um conjunto medidas regulatórias tendo como alvo Big Techs no campo comercial e antitruste, levantando alegações de supostas práticas de censura dessas empresas como ameaças à integridade democrática dos Estados Unidos. Na visão de especialistas dentro dos EUA, essas ações revelaram uma espécie de casamento de conveniência de Trump com a indústria de tecnologias: enquanto a condenava publicamente, dela dependia para avanços tecnológicos. Sendo mais cauteloso quanto às ações concretas contra BigTechs, “mais latia do que mordia”.
Criptomoedas e Soberania Digital: O apoio de Trump às criptomoedas e a ideia de um estoque nacional de bitcoin representaram uma grande divergência das práticas bancárias centralizadas, alinhando-se com a resistência do Partido Republicano quanto à criação de moedas digitais dos bancos centrais (CBDCs) pelos estados e maior monitoramento e controle de transações envolvendo criptomoedas. A posição defendida pelo governo Trump então refletia uma visão mais ampla de autonomia digital, na qual criptomoedas são vistas como ferramentas para a liberdade econômica, para o empreendedorismo, para a ‘disrupção’ do monopólio de moedas fiduciárias reguladas pelos estados. Contudo, qualquer discussão sobre criptomoedas suscita questões mais complexas sobre regulamentação, segurança, confiança, riscos financeiros potenciais e incentivos para práticas ilícitas transnacionais, como lavagem de dinheiro, corrupção, financiamento ao terrorismo e armas de destruição em massa. Esses aspectos poderão levar os Estados Unidos, no segundo mandato de Trump, a revisar certas políticas em curso, como a relutância dos EUA em fazer avançar a discussão sobre temas monetários digitais em organizações como FMI, Banco Mundial, dentre outros. Paralelamente, o governo receberá a pressão dos setores financeiro e bancário tradicionais (os incumbentes) dos EUA pelo fato de que qualquer movimento muito enfático ou entusiasmado sobre as moedas digitais, cripotmoedas e transações com criptoativos esbarra na influência prática e atração simbólica exercidas pelo dólar estadunidense. Ainda que padrão dólar-ouro tenha sido extinto em 1971, mantido vigente desde a criação das instituições do sistema econômico internacional – FMI e Banco Mundial – na Conferência de Bretton-Woods em julho 1944, a moeda dos EUA é que sustenta a racionalidade da conversão monetária, câmbio e as reservas internacionais. Ou tudo isso agora seria simplesmente insignificante, passados 80 anos?
1. Cibersegurança como Defesa Nacional: Reconhecendo o crescente cenário de ameaças, as políticas de Trump centraram-se em temas de resiliência cibernética e no empoderamento da Agência Nacional de Segurança (NSA), além de outros órgãos de defesa, inclusive com colaboração não-transparente de empresas de tecnologia quanto à compartilhamento de dados de cidadãos e vigilância cibernética. Trump expandiu as capacidades ofensivas do Comando Cibernético dos EUA, seguidas de uma Ordem Executiva em 2019 para lidar com a escassez de profissionais em cibersegurança (“America’s Cybersecurity Workforce”), um desafio que permanece crítico em vários lugares do globo. O primeiro mandato de Trump fez mais incursões no campo da cibersegurança de modo também sensacionalista, sobretudo para angariar apoiadores e teóricos da conspiração. O argumento principal estaria na ideia de que segurança da infraestrutura tecnológica dos EUA devesse passar a um tema vital de segurança nacional, especialmente à medida que ameaças cibernéticas se proliferem globalmente. Do lado comercial, no entanto, existe maior aderência a preocupações legitimas sobre defesa cibernética, como o fato de que existem empresas hoje especializadas em desenvolver serviços para ataques cibernéticos, incidentes de segurança de informação, roubo e vazamento de dados. Até o Brasil tornou-se laboratório de agentes de pequeno e médio porte para escala comercial, vendando internamente e exportando serviços de crimes cibernéticos (CaaS) para práticas de golpes digitais e outras condutas ilícitas do ponto de vista cibernético. Mas nunca, é claro, a ponto de fazer frente ao que Rússia, China, Israel e o próprio Estados Unidos desenvolvem no campo militar e vigilância de civis e que representam uma ameaça, sim, à proteção da paz, segurança internacional e dos direitos humanos como compromissos dos Estados desde a criação da ONU em 1945.
Para o Brasil, o cenário de acirramento comercial e tecnológico entre China e EUA e demanda por mais serviços em IA pode ser considerado favorável, a depender, como mencionado, da forma como serão conduzidas as relações com os países e indústria de tecnologia. Resumo em sete pontos:
1) Posição como hub protetivo e sustentável de dados na América Latina: Com o aumento da demanda por processamento de dados, o Brasil pode se tornar região atrativa para instalação de data centers de empresas estrangeiras e brasileiras, atraindo investimentos na construção e manutenção de data centers e abastecimento por plantas da indústria de energia, especialmente promissora e já com forte pegada sustentável no Brasil. A infraestrutura não apenas fortalece a capacidade nacional de armazenamento e processamento de dados, mas também possibilita um avanço no desenvolvimento de IA local e regional, com a possibilidade de estruturas de transferência internacional de dados facilitada pelos padrões de proteção de dados adequados, desde a legislação vigente (LGPD) como regulamentação da ANPD.
2) Energias Limpas e Independência Tecnológica: Com o interesse global crescente em fontes de energia limpas e renováveis, o Brasil pode reforçar seu papel como líder em energias renováveis, especialmente com a expansão de energia solar, eólica e biomassa. Esse movimento deve atrair indústrias dependentes de energias limpas e grandes consumidores de energia, como os data centers e indústria de serviços baseados em tratamento intensivo de dados, além de servir de base para fabricantes de semicondutores e chip processadores (insumos para industria de IA) e novos data centers, que buscam fontes sustentáveis de energia e mais acessíveis para suas operações, inclusive quando são feitas em escala transfronteiriça (por exemplo, Estados Unidos-Brasil).
3) Inovação e Desenvolvimento de IA em Áreas Locais: O Brasil possui um mercado interno vasto e diversificado que permite testar e desenvolver tecnologias de IA aplicadas a diferentes setores, como saúde, agricultura, transporte e serviços financeiros. Políticas e incentivos à inovação em IA podem estimular startups e empresas locais a desenvolver soluções tecnológicas específicas para a realidade brasileira, criando um ecossistema robusto e competitivo para o país no cenário da IA
4) Expansão de Capacidades de P&D em Tecnologias Emergentes: Os setores público e \ privado no Brasil devem incentivar e atrair mais investimentos para colaboração acadêmica em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de tecnologias emergentes, tornando-se polo alternativo de inovação científica e tecnológica em áreas como IA e robótica. Do ponto de vista de leis e regulamentos, esse tipo de programa pode ser feito por meio de incentivos fiscais, apoio governamental a institutos de pesquisa e parcerias com universidades e empresas interessadas em ampliar esse segmento ou cluster da indústria de tecnologias emergentes.
5) Diplomacia Estratégica Comercial, Tecnológica e de Inovação. Mantendo uma posição equilibrada no jogo potencialmente destrutivo entre EUA e China, o Brasil pode buscar tratos mais social e tecnologicamente interessados em suas frentes negociações com os países e em foros internacionais, particularmente se houver perda de participação de Estados Unidos, por exemplo, e mais abertura por parte da União Europeia, Coreia do Sul, Japão nesses campos. A diplomacia científica e tecnológica pode se tornar uma ferramenta fundamental para atrair investimentos, fortalecer cooperação científica e abrir portas para parcerias estratégicas, para que o Brasil possa servir de ator confiável no cenário global de tecnologia e com amplo mercado para expansão.
*Sócio de Inovação e Tecnologia e Solução de Disputas de L.O. Baptista. Fundador de LOTech. Professor Associado de Direito Internacional, Direito Comparado e Novas Tecnologias da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
História de Brasília
Quando o prefeito Sette Câmara resolveu ajardinar a cidade, só à noite foram plantadas quatro mil árvores e feitos jardins nos prédios residenciais. (Publicada em 21.04.1962)
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Historicamente, sabe-se que a Proclamação da República em 1889 não passou de um golpe de Estado, orquestrado pela cúpula militar e por alguns poucos membros a favor desse movimento e da implantação do Presidencialismo como nova forma de governo. O que começou de forma enviesada, sem a participação e engajamento popular e sem um programa claro de governo, não poderia seguir também firme nos trilhos da razão. Há quem assegure que a Proclamação foi uma grande mentira, distante dos ideais sonhados e prometidos pelos teóricos desse movimento e muito mais próximos daqueles que desejavam o poder pelo poder.
Já em 1891, com a primeira Constituição Republicana, os dois protagonistas do golpe seguiam mandando no país. Diante de uma situação de instabilidade que persistia, já em 3 de novembro, era dado um golpe dentro do golpe, com o fechamento do Congresso, estabelecimento de estado de sítio e a prisão de políticos da oposição. Além de não ter alterado as relações entre a população e o poder, a nova República Presidencialista aplainou os caminhos ao poder para a oligarquia local.
Pelo o que se apreende desses tempos confusos, o problema nacional de maior relevância não era a Monarquia em si, mas aqueles que orbitavam em torno do monarca e tramavam contra o Imperador. De lá para cá, transcorridos 135 anos, as instabilidades e crises políticas, e mesmos os golpes e os impeachments, seguiram-se de forma monótona e repetida. O problema aqui é que o advento da República, escancarou as portas do poder, desde o início, para pessoas e pretendentes, na sua maioria, despreparados ou muito aquém do que exigia um cargo dessa natureza. Uma função, diga-se de passagem, que trouxe consigo os mesmos vícios centralizadores da monarquia.
Tivemos pois, ao longo de mais de um século, presidentes que, com raríssimas exceções, assumiram a missão para que foram confiados. Nossas crises políticas e sistêmicas são, antes de tudo, crises decorrentes de inabilidades pessoais dos mandatários e das elites no poder ou mesmo geradas pela ausência das mais elementares noções de ética pública. Comparados com o monarca traído, D. Pedro II, nossas lideranças políticas, até hoje, foram e são, para dizer o mínimo, medíocres e voltadas sempre para o atendimento prioritários dos próprios interesses e de seus grupos em volta.
Não por outra razão, ainda hoje, existem aqueles saudosos que defendem o retorno da Monarquia. Obviamente que essa é uma questão que parece, para muitos, um tema já sepultad. Só que não. Em 1993, foi realizado um plebiscito que buscava saber junto à população qual seria sua escolha entre Monarquia ou República e entre Parlamentarismo ou Presidencialismo. O resultado mostrou que, aparentemente, a população brasileira optou pela atual forma de sistema de governo. Ainda assim, esse assunto não foi deixado de lado definitivamente.
A Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal segue avaliando a Sugestão Legislativa 9/24, que sugere a realização de um novo plebiscito, em 2026, para discutir uma possível restauração da Monarquia no Brasil. A proposta surgiu, segundo essa Comissão, após reunir mais de 30 mil apoios na plataforma e-Cidadania, o que demonstra que essa questão permanece viva na alma de muitos brasileiros e parece aumentar à medida em que toda a verdadeira história do Brasil vai vindo à tona.
Para boa parte dos cidadãos, a República Presidencialista não tem se mostrado eficaz ao longo de todos esses anos, o que demonstram as seguidas crises políticas e os recorrentes escândalos. Para muitos, os recursos públicos estão sendo mal geridos e servem apenas para garantir apoio político nas Casas Legislativas, ao invés de serem investidos em educação, saúde, segurança e infraestrutura, obrigando a nação a permanecer presa e estagnada num ciclo perverso de subdesenvolvimento crônico e contínuo. A proposta, segundo analistas, tem poucas chances de prosperar, já que fere, frontalmente, os interesses da classe política.
A frase que foi pronunciada:
“Eu incorporo a monarquia renovada para um novo tempo.”
Felipe VI da Espanha
Semear, Treinar e Construir!
A capital do país ganhará muito com a chegada do Colégio Campus Fidei. O desejo de FORMAR integralmente o irrepetível, insubstituível e indispensável SER de cada vida que lhe é confiada, da Rede de Missão Campus Fidei – que agora se encontra na Paróquia Nossa Senhora das Graças, atrás da UniCEUB, na Asa Norte –, começa a sair do papel. Para isso, eles precisam da ajuda da comunidade para levantar a obra e estão captando benfeitores.
5 peixes e 2 pães
A inauguração, que antes estava prevista para o primeiro semestre letivo do ano de 2025, encontra-se agora sem data definida, devido à falta de fundos para iniciar a construção. No entanto, o Campus Fidei irá oferecer, nas dependências da paróquia, atividades pedagógicas no contraturno escolar, que serão divulgadas em breve nas suas redes sociais.
Sonho de Dom Bosco
São João Dom Bosco já havia profetizado que, desta terra, jorraria leite e mel. Interessado em ser um benfeitor? Acesse o site do Colégio Campus Fidei, conheça o projeto e participe da campanha do metro²! A Rede de Missão Campus Fidei também se coloca à disposição para esclarecimentos de quaisquer dúvidas tanto por meio das suas redes sociais como presencialmente, na Paróquia Nossa Senhora das Graças. Mais informações e contatos a seguir.
Site do Colégio: colegiocampusfidei.org.br
Perfil Oficial do Colégio no Instagram: @colegiocampusfidei
Site da Rede de Missão: campusfidei.org.br
Perfil Oficial da Rede de Missão no Instagram: @campusfidei
Site da Paróquia: pnossasenhoradasgracas.com.br
Perfil Oficial da Paróquia no Instagram: @pnsg.asanorte
História de Brasília
Ridículo isto sob todos os aspectos. O sr. Laranja mora no caminho de Taguatinga, o ministro da Justiça mora na superquadra 108 e o Primeiro Ministro mora no Ipê. Pois bem. Para tratarem de assunto de Brasília, vão se encontrar no Rio. (Publicada em 19.04.1962)
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Por insistir em querer trafegar na contramão do bom senso, vamos nos tornando uma nação cada vez mais sui generis, vista aos olhos do mundo como um povo exótico e avesso aos valores que fizeram do mundo Ocidental o que ele é hoje. De tão espertos que acreditamos ser, cometemos erros e crimes que acabam por prejudicar a nós mesmos — afinal, vivemos em sociedade: o que acontece à unidade afeta todo o conjunto.
Somos, por exemplo, submetidos a rigorosas leis de trânsito e a multas caras e irrecorríveis por quaisquer distrações, como conduzir um carro com um farol queimado ou placa pouco legível. Mas as mesmas autoridades que agem com firmeza contra os motoristas são aquelas que, há décadas, permitem que os profissionais de limpeza sejam conduzidos, por toda a cidade e em grandes velocidades, perigosamente pendurados na traseira imunda e insalubre dos caminhões de lixo.
Para os mais céticos, essa diferenciação no trato de prevenção de acidentes de trânsito, com dois pesos e duas medidas, parece não se aplicar às empresas de limpeza urbana, tampouco aos carros dos próprios departamentos de trânsito, que estacionam seus veículos onde bem entendem e até sobre os gramados e áreas verdes. Quando as leis passam a diferenciar os cidadãos, alguma coisa não vai bem, ou nas leis ou nos cidadãos.
Em nosso caso, a esperteza é tamanha que não nos damos conta de que estamos assaltando a nós mesmos. Os jornais de todo o país têm mostrado que, de acordo com levantamento feito pelo Banco Central sobre o que chamam de mercado de apostas, mais de 5 milhões de beneficiários do programa Bolsa Família torraram nada menos do que R$ 3 bilhões em apostas on-line, com cada titular desse benefício social gastando em torno de R$ 100 por aposta.
Isso não é motivo para cassar o benefício. Afinal, essa medida iria prejudicar os proprietários dessas casas de jogos de azar, que, somente em agosto, amealharam R$ 21 bilhões. Nas pequenas cidades do interior do Nordeste e do Norte, é conhecida a rotina dos titulares desses cartões de benefício. Assim que chega o aviso de que se está pagando o Bolsa Família, imediatamente se formam longas filas em frente às agências. Nessas filas, é comum encontrar os donos de botequins, que, de cartão em punho, vão receber o pagamento mensal pendurado no bar por seus clientes. Note que o cartão fica nas mãos do dono do bar, e não do titular, que o entrega como garantia de que, no mês seguinte, continuará bebendo às custas da viúva.
Assim, entre apostas em jogos e consumo de cerveja ou cachaça, lá se vão os recursos assistencialistas bancados por cada um de nós. Fiscalizar, nos moldes corretos, essa montanha de dinheiro desperdiçado, obviamente, causa constrangimentos políticos de toda a ordem, e isso pode prejudicar a imagem dos benfeitores da política, ainda mais em tempos de eleições municipais. Antigamente, acreditava-se que o dinheiro que vinha fácil, fácil também era desperdiçado, pois o valor das coisas era dado pelo esforço em adquiri-las. Esse sentido se perdeu no tempo, vítima do populismo e da ação nefasta dos pais da pátria. Aqueles que ousam chamar a atenção para esse ralo sem fundo por onde escoa o dinheiro público são taxados de tudo o que não presta, menos de pessoas de bom senso.
Outras notícias vão dando conta de que o governo local vai construir um hospital veterinário público em Sobradinho. Nada contra a proposta. Só que, nesse caso, a primeira impressão que surge é que os serviços médicos de atendimentos à população nos hospitais e nos postos da rede pública já atingiram o patamar de excelência, não sendo mais necessário aperfeiçoar o atual modelo de saúde.
Para uma cidade em que 60% dos lares têm animais de estimação, essa parece ser uma boa medida. Assim, você opta por criar seu animal de estimação e nós, os contribuintes, iremos arcar com as despesas médicas e, quem sabe, até com os futuros planos de saúde para seus pets. Para um país dotado de uma história próxima ao surrealismo fantástico, não surpreende que o valor dado hoje aos animais irracionais chegue a superar o valor conferido aos próprios seres humanos.
»A frase que foi pronunciada:
“O dinheiro mal ganhado, água deu, água levou.”
Cantiga do povo
Telefonemas ou lei?
Se o quiosque do piscinão já colocou um andar de grade e ninguém reclamou, deixa assim. Se o pessoal do Clube do Choro toca em uma entrequadra e alguém reclamou, então procura-se um argumento para retirar o grupo do local.
História de Brasília
Não será hoje a Assembleia Geral do Banco do Brasil e, sim, no dia 25. Um dos assuntos a ser tratado será o da gratificação de 50% que recebem os funcionários que residem em Brasília. (Publicada em 18/2/1962)
Jogos entregues à própria sorte e jogadores, ao próprio azar
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Como previsto pela pequena parcela de brasileiros que utilizam a cabeça para pensar, a liberalização dos jogos de azar, das bets, dos bingos, dos cassinos, do bicho, das corridas de cavalo e outras modalidades voltadas para tungar os trouxas, traria consigo consequências nefastas muito além dos supostos benefícios apregoados pelos defensores desse mundo de fantasias. Aqui, foi dito que os afoitos defensores da liberalização dos jogos no país deveriam ser investigados previamente, antes que essa matéria fosse levada adiante e aprovada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Houvesse, ao menos, uma sincera vontade em conhecer, de perto, quem são aqueles que querem os cidadãos brasileiros mergulhados no mundo obscuro da jogatina desenfreada, nenhum desses tormentos que agora surgem de todos os lados estariam acontecendo.
O certo é que aqueles que desejam que o Brasil se transforme num imenso cassino, e que verdadeiramente estão por detrás dessa manobra, não mostram o rosto. Como sempre, fechamos as portas depois de arrombadas. O poderoso lobby dos jogos de azar fez seu trabalho às custas de muito suor e, Deus sabe lá, às custas de que outras coisas mais. Falar em criação de regras para a exploração da jogatina e de mecanismos de fiscalização e controle dos mesmos, num país em que regras, fiscalização e controle só funcionam onde não existe o poder do suborno é piada sem riso.
A contravenção conhece muito bem os caminhos que levam à absolvição. Não só os caminhos mas quem pode absolvê-los. Aos ludopatas, ou aqueles tomados pela doença psicológica de compulsão por jogos de azar, foi dada a Disneylândia das apostas. Aos hospitais e às clínicas de psiquiatria, um grande volume de pacientes. Do mesmo modo, ao SUS, foi empurrada a tarefa e os custos com a chegada em massa desses novos doentes. Sem tocar na destruição de famílias. Aos contribuintes, foram entregues ainda as dívidas com os altos custos desses novos benefícios. Ou seja, o azar fica do lado dos perdedores, no caso aqui, os brasileiros, e a sorte vai para os bolsos desses empresários enriquecidos agora com o dinheiro fácil.
Outro beneficiário direto desses estabelecimentos de apostas serão as organizações criminosas, que terão, à disposição, excelentes meios de lavar o dinheiro do crime. Outro absurdo anunciado pelo governo, para conferir um certo grau de correção na atividade de jogos, será a exigência aos viciados em apostas a apresentação, pelas casas de apostas do perfil desses jogadores. Até o mesmo o Ministério da Saúde está sendo recrutado para alertar e fazer campanhas publicitária, sobre os efeitos das apostas na saúde das pessoas. Outra exigência, do tipo para inglês ver, será a obrigação das casas de apostas enviarem relatórios diários para o Ministério da Fazenda sobre o perfil dos jogadores, renda, valor e frequência das apostas. Aqui fica mais do que patente que ao governo, nessa história toda, interessa apenas o quanto poderá arrecadar em impostos e outras taxas.
As fraudes já começaram a acontecer, com notícias correntes de empresas que estão explorando tanto os apostadores, como os empregados e o próprio fisco. O problema aqui é que mais cedo ou mais tarde o Judiciário será invadido por uma avalanche de processos individuais e coletivos, feitos por famílias que, de uma hora para outra, perderam tudo, inclusive a casa própria. Para um país cujas prioridades reais deveriam ser educação, saúde, infraestrutura, água e esgoto tratados e muitas outras necessidades urgentes, a liberação da jogatina demonstra que o governo e mesmo o Congresso estão, como sempre, alheios ao Brasil real, cada um cuidando dos próprios interesses. Essa história de que a Fazenda está cuidando agora para que a regulamentação tenha um potencial para proteger os consumidores, não faz sentido, quando se sabe que nem mesmo as metas fiscais estabelecidas pelo próprio governo são cumpridas ou respeitadas.
Outra balela é falar em “jogo responsável”, como se isso fosse possível para viciados em apostas, criminosos lavando dinheiro e donos de cassinos, loucos por encher os cofres das empresas. Também deixar por conta dos apostadores e dos sites uma autorregulamentação é outra sandice saída de mentes baldias. Por fim, tratar esse setor controverso e perigoso como empresas dedicadas ao entretenimento e lazer é fazer troça dos cidadãos. O fato é que o jogo no Brasil, a partir dessa liberalização geral, está entregue à própria sorte. Os incautos apostadores estarão entregues ao próprio azar. Afinal a liberação do jogo em nosso país é uma boa medida para nosso futuro? Sim ou não? Façam suas apostas.
A frase que foi pronunciada:
“Ninguém gosta de perder, mas não se pode ganhar o tempo todo. Se você perder, tem que levar isso de maneira graciosa”.
Steve Wynn
Nossa cidade
As crianças que hoje são avós, ao ouvir o sinal de fim das aulas batido diariamente na escola, saiam correndo para casa. Pegavam bola, patins, bete e passavam o resto do dia na rua. Hoje, as crianças não querem sair da escola ao toque do sinal. Brincadeiras só no parque da escola. Não há segurança para deixar crianças brincando sozinhas nas ruas ou debaixo dos blocos. É uma mudança e tanto de cultura.
História de Brasília
Para os que querem entender demais, e que receitam a torto e a direito sem ser médicos, o nome da doença é laringite estridulosa. (Publicada em 18.09.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Com a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, do projeto de lei que autoriza e regulamenta os jogos de azar em todo o país, proibidos, desde a década de 1940, pelo governo Dutra (Eurico Gaspar), todo um conjunto de consequências nefastas pode ser observado, antes de o plenário daquela Casa deliberar definitivamente sobre a matéria. Obviamente, nenhum dos malefícios, decorrentes da jogatina e, exaustivamente, previstos, recairá sobre os beneficiários diretos dessa atividade, que, do dia para a noite, tomou de assalto o país inteiro.
Lobby forte para a volta de cassinos e todos tipos de jogos de azar parece ter falado mais alto para os nossos políticos. Fosse essa matéria submetida, seriamente, à apreciação direta da população, seu destino seria o engavetamento sumário. Mais uma vez suas excelências deixaram de lado a vontade popular para atender ao chamado de interesses de grupos que ignoram e vão contra a realidade nacional. Sob a falsa justificativa de que os jogos de azar representam uma atividade econômica relevante, o projeto segue adiante e pode ser aprovado ainda este ano.
O presidente da República adiantou que, se aprovado, sancionará o projeto, colocando a sua bancada de apoio para trabalhar nesse sentido. Pela proposta aprovada na CCJ do Senado, fica autorizada a exploração no Brasil de jogos de cassino, bingo, vídeo bingo, on-line, do bicho, além de apostas em corridas de cavalos, o chamado turfe. Para um país que não consegue impedir que seus presídios de segurança máxima sejam transformados em centrais do crime organizado, falar em exigências e critérios para a operação dos jogos de azar, soa como piada, assim como a promessa do governo de criar uma agência reguladora para o setor.
Outra promessa fantasiosa, para justificar a liberalização dos jogos de azar, é que, uma vez sob o controle do Estado, os cassinos e todas as demais modalidades de jogos ficarão imunes aos vínculos com o crime organizado. Na verdade, foram os prepostos do crime organizado que mais fizeram lobby no Congresso para a liberação dos jogos. Para um país que se destaca como um dos mais importantes corredores de exportação de entorpecentes do planeta, a liberação dos cassinos e dos demais jogos de azar surge como uma espécie de lavanderia para branquear, quase que instantaneamente, o dinheiro sujo.
Outra mentira deslavada dita em defesa da liberação dos cassinos e jogos de azar é que sua aprovação abre caminho para que o vício em apostas seja enfrentado como problema de saúde pública, uma vez que parte de seus recursos será destinada para mitigar essa compulsão por jogos. Segundo o Grupo de Ação Financeira (Gaf), um organismo intergovernamental, criado, em 1989, na reunião do G7, em Paris, para promover políticas nacionais e internacionais de combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, os cassinos são locais por excelência. Neles, todos os tipos de facilidades são dadas para a ocultação de dinheiro sujo, o que torna as casas de jogatinas um verdadeiro oásis para a lavagem de dinheiro. Além disso, confirma a Organização Mundial de Saúde (OMS), a ludopatia, ou vício em jogos de azar (CID 10-Z72.6) e (CID 10- F63.0), é uma doença reconhecida mundialmente desde 2018. Com desejo incontrolável, a pessoa joga e aposta até perder tudo.
No Brasil, essa doença parece ter alcançado um patamar de epidemia, pois se desenvolve a partir dos mesmos mecanismos de dependência do álcool ou das drogas. Para os dependentes, a fissura é tão ou mais intensa do que a que acomete os viciados em cocaína e álcool.
Dados divulgados pelo Banco Itaú mostram que nos últimos 12 meses os brasileiros perderam R$ 24 bilhões com apostas esportivas on-line e taxas de serviços cobradas por empresas de apostas. Segundo estudo do Banco Central, os jogadores gastaram cerca de R$ 68,2 bilhões em apostas e mais taxas de serviços, e receberam R$ 44,3 bilhões. O saldo negativo, segundo o estudo, equivale a 0,2% do Produto Interno Bruto do Brasil ou 1,9% da massa salarial do país. Esses números podem ser ainda maiores, pois a existência de jogos clandestinos ainda é uma realidade que, nem mesmo a liberação dos jogos, vai pôr fim. Parece ser uma unanimidade, entre os especialistas em saúde pública, que o Brasil não tem estrutura suficiente para tratar esses novos viciados. Logo estaremos assistindo a uma nova explosão de moradores de rua, vítimas de jogos de azar que perderam tudo.
A frase que foi pronunciada:
“Se você tiver que jogar, defina três coisas antes de jogar: as regras do jogo, as apostas e a hora de desistir.”
Provérbio chinês
História de Brasília
Há uma crise entre a Novacap e a Prefeitura, e já foi instaurada uma comissão de inquérito, por ordem do dr. Sette Câmara, integrada pelo cel. Barlem, representando a Casa Militar da Presidência da República, pelo dr. Waldir Santos, representando a Prefeitura, e pelo dr. Bessa, representando a Novacap. (Publicada em 18/4/1962)
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Helena Blavatsky (1831-1891), fundadora da Sociedade Teosófica, costumava dizer, com muita propriedade, que “não existe religião mais elevada do que a verdade”. Ela queria dizer que a busca pela verdade transcende todo e qualquer dogma, inclusive aqueles que não possuem relação direta com questões de fé, como é o caso da política.
Numa paráfrase livre, poderíamos também afirmar que não existe ideologia política alguma ou mesmo partido político que seja mais importante do que a verdade, posta à disposição do cidadão. Mas, aqui, incorre-se também em um perigo conhecido: as massas, aqui simbolizadas pelos eleitores, deixam-se guiar mais facilmente por fantasias. A realidade as assusta. Não por outra, são os demagogos aqueles que mais conseguem hipnotizar as massas. Quanto mais as promessas políticas de campanha são embaladas em papel lustroso, mais e mais o público se deixa envolver. Afinal, as massas enxergam, nesse tipo de fala, aquela que os levará ao mundo da fantasia, onde tudo será pleno de felicidade.
Daí por diante, amargam o frio metálico da realidade, tão logo as eleições acabem e a vida volte ao que sempre foi: uma rotina interminável e enfadonha. A verdade na política funciona assim como um anátema, com seu pregador expurgado para fora de todas as opções de escolha. Quem quiser se candidatar e ter algum êxito nesse meio deve, primeiro, afastar de si quaisquer resquícios de verdade. Sangue, suor e lágrimas é tudo o que ninguém quer ver como promessa.
Para aqueles que formam filas diante dos containers para abocanhar um osso, a promessa é de que, logo logo, estarão se baqueteando com uma suculenta carne, acompanhada de uma cervejinha bem gelada e uma gordurinha passada na farinha. Ciente da preferência dos subnutridos pelos ossos descartados, a realidade, faz com que a maior indústria de carne do país resolva embalar, à vácuo, os ossos, que seriam descartados, e coloca-los no mercado a preços inalcançáveis. Mas, ainda assim, fica na memória a imagem da peça ardendo na brasa e isso é tudo o que vale, afinal, alimenta ao menos os sonhos.
A verdade, nesses tempos bizarros é produto fora da prateleira. Em política então, chega a ser uma maldição. Freud (1856-1939), que conhecia bem os meandros obscuros de um caráter mal formado perdidos na mente humana, dizia, sobre as massas, o seguinte: “A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida por uma instância razoável. Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Ela vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem. Quem quiser influir sobre ela, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala. Como a massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência da sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo, intolerante e crente na autoridade. Ela respeita a força, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela bondade, que para ela é uma espécie de fraqueza. O que exige de seus heróis é fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores. No fundo, inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição.”
A questão aqui é como fazer com que cada eleitor possa olhar para as próprias profundezas e aprenda, desse modo, a se conhecer, libertando-se da escuridão em que se encontra e, com isso, aprenda a se ver liberto daqueles que, no mundo exterior, aprisionam-no. Primeiro, aprendendo que a felicidade que ele parece enxergar em promessas de campanha não está fora de si, mas dentro, sendo, portanto, um problema individual e até intransferível.
Ainda como característica comum às massas, temos a questão da intolerância. As massas são sempre extremadas. Daí que, para o político formado em espertezas e em maquinações, fica fácil promover a polarização e instigar os extremos com a propagação de conceitos antípodas como o amor contra o ódio e coisa do gênero.
Fernando Henrique Cardoso, que escreveu um livro com o título: “A arte da Política”, dizia que “a política não é a arte do possível, É a arte de tornar o possível necessário”. O problema é quando a arte da política se transforma num faz de conta mambembe e o país num grande circo de ilusões.
A frase que foi pronunciada:
“Pode ser que nos guie uma ilusão; a consciência, porém, é que não nos guia.”
Fernando Pessoa
História de Brasília
Para que se diga mais, a Siderurgica Nacional não está agindo com maior correção no que diz respeito ao Distrito Federal. A Hidroelétrica do Paranoá não será inaugurada também, porque a entrega de chapas foi feita com muito atraso. (Publicada em 10.04.1962)
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Até as pedras da calçada sabem que certas questões, relativas aos vícios e virtudes humanas, devem ficar restritas ao que consideram e julgam as pessoas individualmente e a sociedade. Levar todos e quaisquer problemas dessa complexidade ao arbítrio do Estado resulta em soluções, ou que agradam a uns, ou que favorecem aos grupos a eles ligados.
Essa constatação vale sobretudo na questão do aborto, apropriada, sorrateiramente, por grupos fora do conhecimento científico, transformando o que seria um problema restrito ao âmbito e ao julgamento dos profissionais de saúde numa questão de Estado. E tudo como se fosse possível regular a infinidade de questões sensíveis que esse tema traz a decisões de burocratas que nada entendem dessa realidade.
Curioso é notar que temas dessa natureza não aparecem nas escolas durante as aulas de educação sexual. Tampouco são vistos em campanhas institucionais de educação. Todo esse imenso problema com suas variantes intrincadas jamais foi debatido com a sociedade, que pouco sabe sobre essa questão, suas causas e consequências. Nem mesmo, em tempo algum, esse tema foi visto entre nós, programas sérios de incentivo à contracepção, para aquelas mulheres que não desejam filhos. Ou a pílula do dia seguinte para as crianças, adolescentes ou mulheres adultas que sofreram estupro. Por séculos, todo esse tema foi deixado à margem do conhecimento da população.
Não surpreende que agora, para um grupo de interesses escusos que tem, nos temas sensíveis de diversidade, costume, família e outros, seu palanque para ecoar proselitismos vazios. A questão do aborto ganhou os holofotes por um ângulo que não é o apropriado e não irá pôr um ponto final nessa questão. Mais valia deixar a critério de instituições como o Conselho Federal de Medicina a decisão sobre essa questão.
Muito mais sincera tem sido a Igreja Católica, que toma, como princípio e fim dessa discussão, o que recomenda a Bíblia, dizendo, em alto e bom som, um sonoro ‘não’ ao aborto em qualquer tempo. É lógico que aqui também sobem no muro aquela parcela da igreja que comunga pela Bíblia da teologia da libertação.
O que ocorre com essa discussão é que enxergam, nesse tema, uma excelente oportunidade de pôr em prática o ranço contra a instituição da família. Engana-se quem acha que a possibilidade dessa discussão venha trazer bônus político em forma de votos vindos daqueles que acreditam que o aborto é uma solução natural que não leva em consideração os possíveis direitos à vida que pulsa no ventre.
De fato, a discussão do tema aborto ganha as manchetes, incendeia o parlamento. Mas o que obtém de notoriedade perde em sensatez. Também o que esperar de pessoas que não sabe nem o que é de seu mister e que não sabe a diferença entre receita e despesa: bom senso? A bem da verdade, quem deveria estar interessado está se lixando para toda essa discussão. Não assume nem que defende nem que é contra. Muito pelo contrário.
Nesse jogo de faz de conta, quem também aproveita, de modo até sincero, é a bancada evangélica, que sabe que titubear nessa questão é perder fiéis e votos. Mesmo a indústria farmacêutica, que parece omissa nesse caso, aguarda o desfecho do problema, pois tem remédio para aqueles que são a favor a para aqueles que são contra.
A frase que foi pronunciada:
“Se Deus viesse à nossa porta, como seria recebido? Aquele que bate à nossa porta, em busca de conforto para a sua dor, para o seu sofrimento, é um outro Cristo que nos procura.”
Santa Irmã Dulce dos pobres
Invasão
Não é possível que humanos e animais domésticos fiquem à mercê das capivaras que agora migraram para o Lago Norte. Dezenas desses animais passeando livremente pelas ruas em busca de alimentos. A situação vai ficar insustentável em breve. Veja, a seguir, o vídeo divulgado nas redes sociais.
Errei
Discordo do título, erramos. Prefiro assumir a responsabilidade. A correção veio do leitor Chico Sant’Anna, que lembrou a notinha sobre o primeiro edifício residencial de Brasília com varanda e que desapareceu do mapa. O prédio de três andares de frente para a L2 Sul, bloco S da 402 não era do Itamaraty, mas da Embaixada Britânica.
História de Brasília
Os funcionários do DCT, sem apartamentos, estão acampados em frente à repartição. É um movimento pacífico, mas deprimente para os chefes. Quem encara com seriedade que deve ter um serviço de comunicações, sabe que os funcionários encarregados devem ter o máximo de conforto. (Publicada em 10.04.1962)
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Pouca gente neste mundo soube tão bem e de maneira mordaz definir o que é democracia. Millôr, o guru do Méier, dizia ele: “democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.” Chistes aparte, democracia é coisa séria. Não fosse, não estaria na agenda da história da civilização humana por tantos séculos.
Desde o século V a.C, na Grécia, este modelo de governança, em que os cidadãos opinam livremente sobre os destinos do Estado, foi sendo desenvolvido e aprimorado. O fato é que, até aos dias de hoje, não foi possível ao intelecto humano criar um outro modelo alternativo, tão eficaz e duradouro como a velha e boa democracia ateniense.
Sem a participação voluntária da nação, os Estados não passam de patrões autoritários ou coisa do gênero, decidindo e impondo deveres, infelicitando o povo ao mesmo tempo em que cuidam de reproduzir o inferno na Terra. Cientistas políticos, que vêm pensando e discutindo democracia ao longo do tempo, sabem que a evolução nas relações sociais impõe mudanças também na maneira como entendemos e praticamos a democracia.
O que pode assustar os menos avisados é a notícia de que, assim como as cidades, também a democracia pode eventualmente vir a morrer de falência múltipla dos órgãos. Na obra intitulada “Como as Democracias Morrem”, de Steven Levistsky e Daniel Ziblatt, publicada em 2018, os autores deixam claro que não são apenas os golpes de Estado que tiram a vida das democracias. Também, em nosso mundo contemporâneo, temos assistido o falecimento de muitas democracias de forma gradual e de modo sutil, quando esse sistema passa a ser atacado por dentro, como uma doença progressiva, minando e decretando lentamente a falência dos princípios democráticos um a um.
São diversas as maneiras que podem debilitar a democracia, querem pelo desrespeito às normas democráticas: quando o declínio democrático começa com a erosão das normas políticas, como a rejeição ao respeito mútuo e a negação da legitimidade do oponente político. Ou quando a erosão das instituições políticas provoca o enfraquecimento democrático, envolvendo diretamente a deterioração das instituições políticas, que são fundamentais para o funcionamento saudável de uma democracia.
Também pode ocorrer pela polarização extrema, visando minar a capacidade de encontrar soluções consensuais e compromissos. Ou mesmo quando passa a existir a rejeição à diversidade e ao pluralismo. Ou seja, quando os próprios líderes políticos rejeitam a diversidade e o pluralismo vão levando ao enfraquecimento dos valores democráticos. Há ainda a chamada manipulação da mídia: quer com a disseminação de informações falsas para corroer a confiança nas instituições democráticas, quer para enfraquecer a oposição.
Nessa obra que causou grande alvoroço no meio político, os pensadores também destacam a importância de atores-chave na preservação da democracia, como partidos políticos responsáveis, elites políticas comprometidas e uma imprensa livre e imparcial. A falta de quaisquer desses elementos pode abrir caminho para líderes populistas autoritários minarem os mecanismos de freios e contrapesos, levando a democracia a falência.
Não são poucas as democracias no mundo ocidental que estão, neste momento, experimentando um ou mais desses venenos fatais, carecendo de socorro imediato para salvarem-se da morte. “Uma das grandes ironias de como as democracias morrem, dizem os autores é que a própria defesa da democracia é muitas vezes usada como pretexto para a sua subversão.
Aspirantes a autocratas costumam usar crises econômicas, desastres naturais e, sobretudo, ameaças à segurança – guerras, insurreições armadas ou ataques terroristas – para justificar medidas antidemocráticas. Nestes últimos anos passou ser comum ouvirmos, com certa insistência a adoção de medidas restritivas ao livre pensar e criticar, todos eles erigidos sob o pretexto de defesa do Estado Democrático de Direito. Em nome dessa entidade todo o poder do Estado passa a ser legítimo, mesmo que isto custe o que de mais caro exista nas relações entre o cidadão e o Estado, que é a garantia da liberdade.
O mais penoso é saber que a democracia pode, segundo Levitsky, morrer nos braços de líderes eleitos ou sob o alvitre daqueles que têm como missão salvaguardar a Constituição. O fato é que a erosão da democracia, para a grande maioria, pode acontecer de maneira quase imperceptível. Quando despertos do sono, muitos cidadãos podem se dar conta de que já estão no abismo e sob o comando das trevas. “Os cidadãos muitas vezes demoram a compreender que sua democracia está sendo desmantelada – mesmo que isso esteja acontecendo bem debaixo do seu nariz.”
História de Brasília
No Supermercado UV-1 o uísque nacional custa Cr$ 1.320,00. No UV-2, o mesmo uísque custa Cr$ 1.032,00. Para que não haja engano, o UV-2 é quem está com a razão. (Publicada em 10.04.1962)
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Especialistas em movimentações financeiras e peritos em seguir os intrincados caminhos tomados pelo dinheiro de origem duvidosa e suspeita, sabem muito bem que o crescimento exponencial dos ambientes de jogos de azar no Brasil veio para complicar o trabalho da polícia, ao mesmo tempo em que vai aplainando as trilhas operadas pelo crime organizado.
Ninguém, em sã consciência, pode acreditar que a expansão das casas e sites onde a jogatina corre solta veio para contribuir com impostos e geração de mais empregos, ajudando, assim, o crescimento da economia do país. Jogos de azar, por sua própria denominação, representam azar e perda para a imensa maioria daqueles que gostam de fazer apostas, e, ao contrário, muita sorte e ganhos fáceis para os proprietários desses estabelecimentos, sobretudo os ocultos.
Na ponta do sabre da lei, esse tipo de negócio opera com trinômio: desonestidade, esperteza e impunidade, e vem na esteira da leniência de nossa Justiça e na corrupção que infesta muitos setores ligados à fiscalização dessas atividades.
Para o cidadão de bem, que foge desses ambientes viciosos, a expansão desse tipo de negócio irá favorecer o fortalecimento financeiro dos grupos ligados ao crime organizado. Trata-se, para muitos críticos dessas atividades, de uma verdadeira lavanderia de dinheiro, instalada a céu aberto e com a proteção e complacência do Estado.
É preocupante notar que, num país com tantas dificuldades, algumas delas já vencidas há séculos pelos países desenvolvidos, os jogos de azar venham ganhando popularidade. Como é fácil enganar a população, sobretudo aquela formada por indivíduos com pouca escolaridade. Políticos e empresários favoráveis a essas atividades sabem disso. Os cassinos online no Brasil estão por todo o lado, ao simples acionar de uma tecla, e vêm fazendo estragos às economias das famílias.
País subdesenvolvido como o nosso e que parece ser, cada vez mais, resultado de um projeto político medonho muito bem pensado é o paraíso para a jogatina. Sabedores dessa espécie de zona franca estabelecida pelos jogos de azar, empresas estrangeiras, vieram para cá, cheias de planos e vontade de ganhar dinheiro fácil. O Brasil, terra de nosso Senhor, já conta com aproximadamente seis centenas de sites de apostas, onde circulam livremente centenas de milhões de reais.
Com as facilidades oferecidas pelo mundo digital, a construção de cassinos reais ficou para trás e hoje quase 40% dos apostadores online jogam fora seus recursos, em cassinos virtuais. A roleta, o blackjack, jogos de mesa e caça-níqueis fazem a ilusão dos apostadores e a alegria de muitos empresários ligados à contravenção e outros crimes.
Junto ao Congresso e ao governo, os lobbies seguem forte e a questão ganha prioridade junto aos políticos, sobretudo aqueles que gostam de dinheiro. Dizer que a taxação dessas casas de apostas irá para seguridade social, esportes ou turismo é desculpa daqueles que sabem que isso jamais irá ocorrer. Jogos de azar, por sua tradição e história, estão ligados umbilicalmente à contravenção e ao crime, sendo muito mais motivo de preocupação do que de distração.
Aposentados e outros pequenos poupadores são atraídos para esses jogos e sugados em suas economias. O cartão de crédito e o Pix facilitam toda a transação e prejuízo, para esses apostadores. Gente famosa, entre jogadores e artistas são contratados para servir de chamariz para esses negócios. Empresas de jornalismo e a mídia como um todo é patrocinada com o dinheiro desses novos cassinos.
Ninguém ousa falar a verdade sobre o que ocorre. Nunca foi tão fácil apostas em jogos de azar no Brasil, anunciam esses empresários e amigos do alheio. Falar em transparência nesses negócios é outra falácia ou música para boi dormir. Nunca haverá luz do Sol sobre essas atividades, pois elas operam no escurinho, à meia luz ou à luz de velas, num clima romântico semelhante àquele existente nos Estados Unidos durante a Lei Seca.
Pelos smartphones, os apostadores fazem sua fezinha onde quer que estejam, mesmo durante o horário de expediente. No Brasil, quase 100% dos apostadores fizeram seus jogos via smartphones. Também o Pix já representa quase 100% das operações de depósitos por ocasião das apostas.
O Governo Federal, que mantém suas loterias e casas de jogos abertas por todo o país e comandadas pela Caixa Econômica, finge não ver a transformação do Brasil num imenso cassino virtual, com o dinheiro da população correndo a rodo para o bolso desses empresários espertalhões. Não há como negar que a população em geral sente um certo prazer mórbido em ser iludida por políticos e por esses novos bicheiros.
A frase que foi pronunciada:
“O idiota útil, por definição, é idiota demais para saber que é útil e quem o utiliza.”
Olavo de Carvalho
Por que será?
Num consultório, um senhor pediu para trocar o canal para qualquer noticiário, pois aquela música dava nos nervos. A resposta da atendente foi uma surpresa. “A doutora nos proibiu de mudar de canal. Ao lado, há um consultório de psicologia para crianças e elas não podem assistir notícias pela TV”.
História de Brasília
No mais, tudo ausente. Os processos paralisados, e todo o mundo no Rio acompanhando a fofoca do Segadas Viana com o cel. Ardovino, e ficando mais perto da briga Jânio-Carvalho Pinto. Assim começamos a semana. (Publicada em 28.03.1962)
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Repetia o filósofo de Mondubim: “Costume de casa se leva à praça”. Pontuava que os bons hábitos tinham que ser adquiridos no ninho para levar no próximo voo. Observando de perto nossas elites políticas, constatamos que a maioria delas trouxe para os palanques e tribunas públicas a educação e os costumes que receberam dentro de seus lares. Também não podia ser diferente. O que mais chama a atenção em nossos representantes eleitos, a maioria composta por indivíduos que fazem da política um negócio pessoal e rendoso, é a qualidade dos conselhos que aprenderam quando crianças e, hoje, mostram sem pudor para a população. É certo que conciliar a educação familiar com os costumes vistos na praça só é possível quando esses se igualam mais em virtudes e menos em vícios. Como nossas praças públicas não apresentam exatamente um modelo de bom comportamento a ser seguido, os maus costumes trazidos de casa passam despercebidos e se fundem em meio à multidão.
Dessa forma, todos acabam se igualando numa espécie de vida primitiva, em que a força se sobrepõe à razão. Com isso, é possível afirmar que nossos representantes políticos eleitos espelham, exatamente, o que muitos são em síntese dentro de casa e dentro deles mesmos. Lógico que, em meio a essa turba, existem aqueles, e são muitos também, que não se enquadram nesse modelo de desconstrução social e ainda se escandalizam com o comportamento de nossa classe política.
Obviamente, para esses, os costumes de casa nunca não se encaixaram naqueles observados nas praças. Há, de certo modo, um preconceito, observado hoje, que coloca os adeptos da ética pública enquadrados como conservadores e, por isso mesmo, taxados de direitistas e outras alcunhas sem lastro na verdade. A sociedade, ou boa parcela nela existente, quer ver em seus representantes um modelo de virtude a ser admirado e seguido. Mas não é isso que ela constata diariamente. Nossos políticos, e por motivos vistos acima, revelam-se, individualmente e em grupo, que os maus costumes recebidos em casa foram bem-aceitos em praça pública. Mentem, traem, locupletam-se com a mesma facilidade com que trocam de roupas íntimas.
Veja o caso real de um fulano que, em seu domicílio eleitoral, conseguiu a façanha de eleger-se ao difícil cargo de senador do Estado e que, nos primeiros dias de mandato, abandonou essa função, trocando-a por outra, que acreditava mais vantajosa para si e com maiores possibilidades de visibilidade nacional. Sem remorso algum e alheio aos compromissos assumidos solenemente em campanha, trai aqueles que deveria representar no parlamento, virando-lhes as costas. Casos como esses ocorrem com frequência diária e sem surpresas maiores. Para os eleitores que se identificaram com esse tipo de político, a ponto de não apenas votarem nele, mas de fazerem campanha para ele, mesmo ao custo de angariar muitas inimizades, esse é o tipo de candidato que trouxe para a praça exatamente aquilo em que acreditam, ou seja: os costumes recebidos em casa.
A frase que foi pronunciada:
“Uma forma confiável de fazer as pessoas acreditarem em falsidades é a repetição frequente, porque a familiaridade não se distingue facilmente da verdade. Instituições autoritárias e profissionais de marketing sempre souberam desse fato.”
Daniel Kahneman, no Pensando rápido e devagar
Ação
Brasília nunca havia presenciado uma atitude tão contundente do Ibram e do DF Legal como aconteceu sob o comando de Roney Nemer e de Cristiano Mangueira. Um morador do Núcleo Rural Boa Esperança não gostou da aparência dos frequentadores das cachoeiras do local. Resolveu cercar a área com telhas de zinco para evitar os visitantes. No mesmo dia da denúncia, a cerca foi retirada do local pela polícia.
Sucesso
Hoje é dia de diplomação da nova presidente do CreaDF, Adriana Resende. Com um currículo substancial, a nova líder, eleita pela classe, apresentou o plano de trabalho para pôr em ação.
Assunto sério
Filmetes espalhados pelas mídias sociais mostram as respostas absurdas da juventude sobre questões simples de matemática, gramática, geografia e história. É realmente urgente que haja uma reestruturação no ensino brasileiro. O preconceito contra os colégios militares é o primeiro obstáculo nessa jornada. Quanto mais o tempo passa, pior o ensino público fica. Isso não é o natural.
Desacelerando
Quem faz o percurso pela DF-005, margeando o Lago Paranoá, estranha as novas velocidades estabelecidas: 80km/h em curvas, de repente muda para 40km/h. É um verdadeiro balaio de gatos. Agora, a Câmara dos Deputados se reúne para sugerir a criação de um grupo de trabalho para estudar a redução da velocidade média nas vias urbanas. Há até projeto de lei nesse sentido.
História de Brasília
Até aí nada demais, porque todo mundo faz isto. Mas, ocorre que a carta sobrescrita à máquina veio parar em Brasília. E para piorar, a AP nº 7 mandou para o Ministério da Educação, que não tem nada com o caso. A carta, finalmente veio parar em nossas mãos, e já seguiu para a Bahia por nossa conta. A importância gasta será debitada ao DCT, para doutra vez trabalhar melhor. (Publicada em 28/3/1962)