Babel e a aldeia global

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Charge do Dum

 

Um dos problemas gerados pela modernidade digital é que ela trouxe consigo uma plêiade de generalistas de toda a ordem, imbuídos de certezas e de vaidades, que os credenciam a ofertar conselhos e modelos de comportamento. Essa vã ambição, de ser o que não se é, passa a ser mais perigosa ainda, quando as análises desses novos gurus se tornam adornadas com a moldura política e ideológica que professam.

À exceção de poucos jornalistas, cujo mister os obriga a se inteirar de uma gama de assuntos variados, o que assistimos hoje nas mídias sociais não passa de um festival de besteirol, cuja adesão é tão perigosa como caminhar sobre pântanos.

O critério do bom senso sumiu no horizonte. Obviamente que existem exceções e que valem a pena ser anotadas. Em outros tempos, nas redações de jornalismo era consenso natural que entrevistas ou opiniões fossem coletadas apenas daqueles personagens que tinham o que dizer e que não tropeçavam na língua e no raciocínio. Desse modo, era acertado que jogador de futebol devia jogar e não comentar assuntos fora de seu habitat. Cantores deveriam cantar e não falar coisas que não entendiam. Artistas, de modo geral, idem. Assim a coleta de depoimentos coerentes ficava restrita àqueles que tinham o que dizer. Era a razão a serviço da informação, poupando os ouvidos e olhos dos leitores e da audiência de serem inundados com observações vazias.

Essa regra e outras de igual valor, quando desobedecidas, não raro geravam ruídos que não só prejudicavam quem os proferiram, como passava a alimentar uma cadeia de fofocas que descredenciava a seriedade do próprio jornalismo.

Hoje, à guisa de preencher um vazio de ideias, todos falam de tudo. O mais trágico é que poucos se entendem. Vivemos numa espécie de Torre de Babel moderna, onde a linguagem parece ter perdido seu poder de comunicação e entendimento. Ora porque o que se diz não se faz e não se vê, ora porque não se diz nada mesmo. O mais incrível é que todo esse fenômeno atual, onde a comunicação perdeu sua força de comunicar e estabelecer entendimentos, se dá num momento em que as comunicações via internet parecem ligar o mundo instantaneamente, ao vivo e a cores. Curioso é saber que este momento de ruídos na comunicação já havia sido previsto muito tempo atrás. O caos político em nosso país demonstra essa tese. As inúmeras guerras e conflitos armados pelo mundo reforçam ainda mais o enunciado citado.

Em 2011 foram comemorados os 100 anos de nascimento do filósofo e professor canadense Marshall McLuhan (1911-1980), autor do polêmico conceito de aldeia global. Suas ideias sobre essas previsões foram revistas e repensadas.

MacLuhan acreditava que os meios de comunicação teriam se tornado uma espécie de extensão natural do homem moderno. Para ele, as novas tecnologias iriam interligar o mundo e unificar as culturas, já que essas novas ferramentas iriam influenciar o modo de pensar da sociedade. Em parte, algumas dessas ideias se concretizaram, mas à custa de uma realidade paradoxal: nunca, em tempo algum, estivemos tão conectados e solitários ao mesmo tempo.

Alimentava-nos a ideia de que somos intrinsecamente iguais e quando nos defrontamos com as diferenças, tornamo-nos arredios. Um caso típico e que nos diz respeito diretamente pode ser nos debates políticos envolvendo esquerda e direita.

O fato de essas duas vertentes não se entenderem é até compreensível. O que não se pode aceitar é o fato de o Brasil e brasileiros ficarem à margem dessas discussões, não tanto pela ação de um lado, mas por uma visão obtusa dos que não aceitam o fato de que o país mudou e com ele surgiram as diferenças expressas pela maioria da população.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“As eleições pertencem ao povo. A decisão é deles. Se decidirem virar as costas ao fogo e queimar o traseiro, terão apenas que sentar sobre as bolhas.”
Abraham Lincoln

Abraham Lincoln. Foto: wikipedia.org

 

Partida
Num encontro casual, na padaria do Lago Norte, no último domingo, Danilo Gomes, o escriba, confessou: primeiro leio a coluna do Paulo Pestana, depois a sua! Lá se vai mais um amigo, jornalista de uma geração respeitada. Nosso abraço à família.

 

Parabéns, Renato!
Expectativa em relação a Renato Santos, de Brasília, que vai disputar dois torneios no World Karate Championships WKA, em Malta, entre os dias 21 e 24 deste mês.

Renato Santos (faixa verde) durante treinamento para competições de karatê – (Foto: Divulgação)

 

História de Brasília

Os candidatos do concurso da Câmara estão apavorados com a possibilidade de ser encontrada uma “fórmula” para o aproveitamento dos contratados. É que gente importante, que trabalha como contratado e que teve classificação muito baixa, poderá, de uma hora para outra, passar à frente dos demais. (Publicado em 04.04.1962)

Faroeste caboclo

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Não se sabe ainda, ao certo, quando foi e por quais motivos o Brasil optou por caminhar na contramão do mundo em questões tão básicas, como a escolha entre o certo e errado, o legal e o ilegal. De tanto enveredar pela estrada torta, talvez tenhamos perdido o senso e o sentido do que é correto e incorreto, no campo da ética individual e pública. E esse sentimento, que se irradia como fogo na população, vem exatamente de cima, das autoridades e das elites brasileiras, supostamente educadas, mas que não se dão ao trabalho de servir como modelos de bons exemplos. Na verdade, nem eles mesmos, aqueles que estão no alto da pirâmide social e econômica, sabem, com certeza, escolher entre o certo e o errado, quando o que está em jogo são vantagens imediatas e lucrativas.
Até a mídia que, em outros cantos do planeta, trabalha em prol da harmonia social, favorecendo bons exemplos de cidadania, em nosso caso, parece querer implantar maus costumes como sendo condutas normais e aceitáveis, e que também podem ser copiadas como modelo de alguma modernidade aética. O pior é que tudo isso se passa diante de nossos olhos e ouvidos como coisa natural a ser aceita e assimilada, para não gerar, talvez, maiores conflitos com as atuais gerações.
Um exemplo dessa desorientação geral pode ser conferida no enorme espaço que os órgãos de imprensa vêm dando à morte do cantor MC Kevin, conhecido e aclamado, no submundo do gênero de música que produz, por fazer apologia aberta ao tráfico de drogas e ao crime organizado, apresentando-os como os novos modelos de heroísmo de conduta para uma grande plateia de jovens.
Morto, por acidente, tentando escapar de um possível flagrante de sua esposa, conhecida por defender, nos tribunais, membros de organizações do crime, o caso vem ocupando espaço em horário nobre desde o ocorrido, numa espécie de glamourização camuflada da vida marginal desses personagens, que agem como artistas na estreita fronteira entre diversas contravenções e o espetáculo.
Exemplos lamentáveis e descartáveis como esse e que, em outros tempos, ocupava apenas as páginas da chamada imprensa marrom, especializada na decadência humana, tomaram o espaço que, na impressa de qualidade, era preenchido apenas com questões de importância nacional ou de interesse público, mantendo a regra de não fazer apologias, romantizando o submundo do crime e suas estripulias.
Não pense que esses maus exemplos vêm apenas dos conhecidos bailes funks da periferia. O mesmo também ocorre em comissões parlamentares de inquérito em que, para o bem da verdade, deveriam investigar aqueles que precisam prestar contas do gasto do dinheiro público não visto e usufruído pela população.
São exemplos dessa natureza que a população brasileira é obrigada a ter que presenciar em seu cotidiano e que demonstram que o Brasil não apenas um país impróprio para amadores, como é também um país onde o errado está certo e onde as leis e os vereditos possuem um preço variável, de acordo com a posição e o bolso de cada um nesse faroeste caboclo.

A frase que foi pronunciada:
“Quando criança só pensava em ser bandido / Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu/ Era o terror da sertania onde morava / E na escola até o professor com ele aprendeu.”
Faroeste caboclo do Legião Urbana

Xeque
Inscrições para o 61º Campeonato de Xadrez vão até 11 de junho. Alunos da rede pública ou privada podem participar. A iniciativa é um estímulo saudável ao desenvolvimento cognitivo da meninada. Tomada de decisões, disciplina, estratégias, são ferramentas importantes para encarar o futuro. Para preencher o formulário de participação, acesso o link: http://lichess.org. https://lichess.org/.

Cartaz: agenciabrasilia.df.gov


“Resseita”
“Potaciu” foi a prova irrefutável de que o médico atuava ilegalmente na UPA carioca.

Foto: Reprodução/TV Globo


Difícil
Sentido pelos empresários do entretenimento como o setor mais prejudicado com a pandemia. O secretário de economia do Distrito Federal, André Clemente, participou de uma reunião na Federação do Comércio e discutiu o assunto. Ideal seria ouvir representantes da classe que está na penúria.

Secretário André Clemente. Foto: Renato Alves/Agência Brasília

Noroeste

Irémirí Tukano é um índio que ouviu, de uma funcionária pública, a observação de que lugar de índio é na selva, e não na cidade. Traz essa ferida até hoje, mas, mesmo assim, diz que só se sente “incluído” na cidade durante o Acampamento Terra Livre, a maior concentração indígena do país. Cristiany Bororó sempre nos escreve lamentando as dificuldades que os índios vêm sofrendo no Noroeste.

Setor Noroeste. Foto: terracap.df.gov

História de Brasília
Em São Paulo, onde o assunto está bem equacionado, há 37 alunos para cada professora. Em Brasília, só são feitas novas admissões quando houver uma média mínima de 30 e nunca superior a 40 alunos. (Publicada em 02.02.1962)