Paraíso online e inferno na terra

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Bruno Neves / Agora no Vale

 

          Aos poucos, as fichas começam a cair, despertando as pessoas para os enormes malefícios gerados pela liberação desenfreada da jogatina no país. Neste mundo do faz de conta, os cassinos entraram na vida da população para subtrair-lhes a saúde mental e as parcas economias, destruindo pessoas e famílias inteiras, lotando os hospitais públicos com um novo tipo de enfermo: o otário, reduzido agora a um ser paranoico, a quem os espertalhões de sempre depenaram sem dó ou piedade.

          Nesse caso, fazer boletim de ocorrência na delegacia mais próxima de nada adianta, trata-se de um roubo ou subtração legalizado. É a nova modalidade do “conto do Vigário” na forma de um suposto bilhete premiado ou passaporte para a fortuna fácil. O mais patético e até impensável, mesmo para os padrões marotos de nosso país, é que o dinheiro usado para as apostas, nessas casas de jogos online ou Bets, vem também e diretamente do auxílio concedido pelo Bolsa Família, um dinheiro que veio fácil e que do mesmo modo será tungado pelos donos desses cassinos.

         Depois de fazerem de tudo para aplainar as veredas para a volta dos cassinos, permitindo que eles atuem por todo o país, as autoridades ensaiam agora um movimento lento e aparentemente falso no sentido de pôr uma certa ordem nesse banzé.

          O lobby da jogatina é poderoso, dentro e fora das instituições brasileiras, como no Congresso. Mas quando esse tema escala no patamar dos problemas nacionais, transformando-se numa real e complicada questão de saúde pública, não há mais como esconder ou protelar esse verdadeiro crime institucionalizado.

         Atento a esse problema, o Ministério Público Federal (MPF), que até agora vinha se ocupando em reprimir a direita política, parece que estuda a possibilidade de entrar com uma liminar visando interromper o funcionamento de todas as chamadas Bets que atuam de Norte a Sul no Brasil. Segundo as autoridades, mesmo aquelas Bets que foram autorizadas a funcionar pelo Ministério da Fazenda poderão ter seus registros cassados. O mais curioso é que somente agora o governo e o Judiciário se deram conta de um estudo realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, mostrando que as Bets podem causar um prejuízo de mais de R$ 117 bilhões anuais à rede e a estabelecimentos comerciais em todo o país.

         Até mesmo o Banco Central já entrou nessa discussão, mostrando que os recursos mensais arrecadados pelas Bets variam entre R$ 18 e R$ 20 bilhões. Nesse bolo, os beneficiários do Bolsa Família entraram com nada menos do que R$ 3 bilhões em pix para as Bets, só em agosto. É o dinheiro do leite das crianças indo alimentar os gatos gordos da contravenção. Gatunos, que diga-se de passagem, sempre foram inalcançáveis pela justiça. Mesmo a rede bancária nacional parece ter acordado para o problema, já que muitas apostas são realizadas por portadores de cartão de crédito, muitos dos quais já se encontram inadimplentes.

         O mais notável em todos esses novos contos do Vigário é que os perdedores são os de sempre: a população em geral e o país, que arrumou agora mais uma sarna para coçar. Mas, talvez, fique o alento de que o Brasil é, hoje, o primeiro colocado no ranking de usuários de cassinos virtuais e de apostas, superando países com larga tradição nesses assuntos delituosos. Não por acaso, quatro grandes instituições que atuam hoje no mercado brasileiro, como o Itaú, o Assaí, a Tok &Stok e o XP publicaram em seus reportes um alerta sobre os altos níveis de inadimplência de famílias que vêm aumentando de forma assustadora nesses últimos meses e que, segundo afirmam, estão sendo drenados para as casas de apostas online.

         No caso do Banco Itaú, observou-se que até o dinheiro que era guardado em poupança e outras aplicações acabaram sendo desviados para custear as apostas feitas nessas casas de jogos. Essas verdadeiras lavanderias online da poupança nacional irão fortalecer um setor específico e muito particular de nossa economia, representado pelos cartéis do crime organizado, que têm agora, nessas Bets, um paraíso aberto para a prosperidade de seus negócios.

 

 

A frase que não foi pronunciada:

“Se o vício dele não atingisse a família, tudo bem. Mas todo vício envolve a família. Por isso nunca vale à pena começar.”

Dona Dita

Charge do Orlando

 

História de Brasília

Outra coisa: o sr. Laranja, no dia em que aproveitou um bilhete do sr. Paulo Nogueira para saber o nome da Comissão de Inquérito, assinou uma portaria, que foi, depois, nervosamente recolhida da Imprensa Oficial, como foi também recolhida a circulação do Boletim da Companhia. (Publicada em 19.04.1962)

A aposta no azar. Mãos longe da mesa!

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Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) acompanha votação de liberação de cassinos, bingos e jogo do bicho em painel. — Foto: Kevin Lima/G1

 

Com a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, do projeto de lei que autoriza e regulamenta os jogos de azar em todo o país, proibidos, desde a década de 1940, pelo governo Dutra (Eurico Gaspar), todo um conjunto de consequências nefastas pode ser observado, antes de o plenário daquela Casa deliberar definitivamente sobre a matéria. Obviamente, nenhum dos malefícios, decorrentes da jogatina e, exaustivamente, previstos, recairá sobre os beneficiários diretos dessa atividade, que, do dia para a noite, tomou de assalto o país inteiro.

Lobby forte para a volta de cassinos e todos tipos de jogos de azar parece ter falado mais alto para os nossos políticos. Fosse essa matéria submetida, seriamente, à apreciação direta da população, seu destino seria o engavetamento sumário. Mais uma vez suas excelências deixaram de lado a vontade popular para atender ao chamado de interesses de grupos que ignoram e vão contra a realidade nacional. Sob a falsa justificativa de que os jogos de azar representam uma atividade econômica relevante, o projeto segue adiante e pode ser aprovado ainda este ano.

O presidente da República adiantou que, se aprovado, sancionará o projeto, colocando a sua bancada de apoio para trabalhar nesse sentido. Pela proposta aprovada na CCJ do Senado, fica autorizada a exploração no Brasil de jogos de cassino, bingo, vídeo bingo, on-line, do bicho, além de apostas em corridas de cavalos, o chamado turfe. Para um país que não consegue impedir que seus presídios de segurança máxima sejam transformados em centrais do crime organizado, falar em exigências e critérios para a operação dos jogos de azar, soa como piada, assim como a promessa do governo de criar uma agência reguladora para o setor.

Outra promessa fantasiosa, para justificar a liberalização dos jogos de azar, é que, uma vez sob o controle do Estado, os cassinos e todas as demais modalidades de jogos ficarão imunes aos vínculos com o crime organizado. Na verdade, foram os prepostos do crime organizado que mais fizeram lobby no Congresso para a liberação dos jogos. Para um país que se destaca como um dos mais importantes corredores de exportação de entorpecentes do planeta, a liberação dos cassinos e dos demais jogos de azar surge como uma espécie de lavanderia para branquear, quase que instantaneamente, o dinheiro sujo.

Outra mentira deslavada dita em defesa da liberação dos cassinos e jogos de azar é que sua aprovação abre caminho para que o vício em apostas seja enfrentado como problema de saúde pública, uma vez que parte de seus recursos será destinada para mitigar essa compulsão por jogos. Segundo o Grupo de Ação Financeira (Gaf), um organismo intergovernamental, criado, em 1989, na reunião do G7, em Paris, para promover políticas nacionais e internacionais de combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, os cassinos são locais por excelência. Neles, todos os tipos de facilidades são dadas para a ocultação de dinheiro sujo, o que torna as casas de jogatinas um verdadeiro oásis para a lavagem de dinheiro. Além disso, confirma a Organização Mundial de Saúde (OMS), a ludopatia, ou vício em jogos de azar (CID 10-Z72.6) e (CID 10- F63.0), é uma doença reconhecida mundialmente desde 2018. Com desejo incontrolável, a pessoa joga e aposta até perder tudo.

No Brasil, essa doença parece ter alcançado um patamar de epidemia, pois se desenvolve a partir dos mesmos mecanismos de dependência do álcool ou das drogas. Para os dependentes, a fissura é tão ou mais intensa do que a que acomete os viciados em cocaína e álcool.

Dados divulgados pelo Banco Itaú mostram que nos últimos 12 meses os brasileiros perderam R$ 24 bilhões com apostas esportivas on-line e taxas de serviços cobradas por empresas de apostas. Segundo estudo do Banco Central, os jogadores gastaram cerca de R$ 68,2 bilhões em apostas e mais taxas de serviços, e receberam R$ 44,3 bilhões. O saldo negativo, segundo o estudo, equivale a 0,2% do Produto Interno Bruto do Brasil ou 1,9% da massa salarial do país. Esses números podem ser ainda maiores, pois a existência de jogos clandestinos ainda é uma realidade que, nem mesmo a liberação dos jogos, vai pôr fim. Parece ser uma unanimidade, entre os especialistas em saúde pública, que o Brasil não tem estrutura suficiente para tratar esses novos viciados. Logo estaremos assistindo a uma nova explosão de moradores de rua, vítimas de jogos de azar que perderam tudo.

 

A frase que foi pronunciada:
“Se você tiver que jogar, defina três coisas antes de jogar: as regras do jogo, as apostas e a hora de desistir.”
Provérbio chinês

Foto: Bigstock

 

História de Brasília
Há uma crise entre a Novacap e a Prefeitura, e já foi instaurada uma comissão de inquérito, por ordem do dr. Sette Câmara, integrada pelo cel. Barlem, representando a Casa Militar da Presidência da República, pelo dr. Waldir Santos, representando a Prefeitura, e pelo dr. Bessa, representando a Novacap. (Publicada em 18/4/1962)

Jogos

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Imagem: divulgação na internet

 

          A sabedoria popular ensina a desconfiar das facilidades e de todo o tipo de aposta em fortunas fáceis. Tanto é que não se conhecem ainda os jogos de sorte, e, sim, os chamados jogos de azar, que têm levado muita gente, e rapidamente, para a ruína financeira.

         O Brasil, em matéria de jogos de azar, parece ter acertado no milhar, tamanha a quantidade de cassinos e de sites de apostas pela internet que existem à disposição dos apostadores. Com a recente regulamentação tanto das apostas esportivas como dos cassinos, o país assiste a uma espécie de boom econômico nesse setor. A cada dia, multiplicam-se os sites de apostas e de abertura de cassinos ao alcance do apertar de uma tecla, sem sair de casa. É uma comodidade que, mais do que conforto, traz preocupações das mais sérias. Apenas conhecendo a pouca eficácia e mesmo o desdém de nossos órgãos de regulação e de fiscalização, já dá para imaginar como estarão funcionando esses autênticos sorvedouros de dinheiro da população.

          Dizer que esse novo setor tem obtido recordes sobre recordes de procura e de ganhos financeiros não é surpresa,
não chega a ser novidade, já que empresários que exploram esses polêmicos nichos, tanto aqui no país como no exterior, estavam, há anos, pressionando, com toda a espécie de lobby, as autoridades brasileiras — quer dizer, do Congresso — por sua liberalização.

          O que preocupa é que, com esse crescimento exponencial, virão também coligados de todo o tipo de contravenção e crime, sendo a lavagem de dinheiro de origem ilícita a mais praticada. O setor tem comemorado essa abertura, investindo, cada vez mais, nesses novos caça-níqueis online. Para se ter uma ideia desse novo “negócio da China”, basta verificar que, nesta semana, foi realizado em São Paulo o Brazilian iGaming SIGMA 2024, o maior e mais concorrido  evento de apostas e jogos da América Latina.

          Nesse encontro que reuniu milhares de pessoas, estavam presentes os principais players desse mercado, que hoje investem não apenas em mais cassinos e sites de apostas, mas em emissoras de rádios e de televisão e em outras mídias de importância, expandindo seus leques de poder e influência. O mercado de apostas esportivas e de cassinos tem crescido não só em importância econômica como em importância política, espraiando-se por dentro do Estado, onde já conta com o apoio que necessita para não ser incomodado pelos órgãos fiscalizadores. Aqui, nesse meio, não se discutem problemas com o dependência crônica de jogos online, ciclos viciantes ou da destruição da vida financeira de inúmeras famílias. Tudo nesse setor brilha como ouro. A situação nessa área, onde quem ganha é sempre o dono do negócio já pode ser considerada fora de controle. O Estado não sabe hoje quantos cassinos estão operando e muito menos quantos sites de aposta online estão no ar.

         O nosso país, como esses empresários e o mundo do crime internacional já sabiam, vai se transformando, a passos largos, no paraíso da jogatina e da lavagem de dinheiro. Para um país que há muito é conhecido como esconderijo paradisíaco de criminosos internacionais, nenhuma surpresa.

         Para se ter uma ideia do crescimento desse gigante, nos últimos meses centenas de empresas de apostas esportivas chegaram ao Brasil, de olho nessa mina de ouro a céu aberto. O Brasil já é hoje um dos maiores mercados de aposta do planeta. E tudo isso aconteceu em pouco tempo, desde o afrouxamento das leis a partir de 2018.

         Em 2023 o atual presidente da República deu mais um impulso ao setor de apostas, sancionando regulamentações favoráveis a essas atividades, bastando aos interessados pagarem taxas burocráticas para oferecerem esses serviços. Aqui também não se discutem assuntos constrangedores como o mal que as apostas esportivas têm feito ao futebol e à credibilidade das partidas.

         Tudo no futebol mudou com a liberação das apostas esportivas. Inclusive os resultados. Para o crime organizado, que há anos age e se expande em nosso país, investindo desde carreiras políticas até em empresas de ônibus urbanos, o investimento nos jogos de azar veio a calhar e dar novo impulso e tranquilidade às finanças desses bandos. Sem a criação de um super estrutura de controle e fiscalização sobre esse setor, dentro da Polícia Federal e da própria Receita, dificilmente a população irá enxergar qualquer benefício oriundo dessa atividade azarenta.

A frase que foi pronunciada:

“São circunstâncias muito complexas as que marcam ou decidem o destino dos homens.”

José Saramago

José Saramago. Foto: Oscar Cabral/VEJA/Dedoc

 

Projeto Compostar

Que fique registrado nessa coluna uma alternativa para mudar o lixo da capital do país. Muitas vezes, ter o trabalho de separar o lixo em casa é ato em vão, quando os sacos se misturam no caminhão de coleta. O projeto Compostar recolhe na sua casa os resíduos orgânicos e, dependendo do plano assinado, você pode receber o adubo orgânico já pronto ou plantas. É uma ideia que limpa o ar e o futuro da cidade.

Imagem: projetocompostar.com

 

História de Brasília

Terça-feira começará a vacinação Sabin em Brasília. Leve seus filhos. A vacina Sabin não dá reação, não é injeção nem arranhão. É uma gota pingada na língua, e peça sempre com sabor de cereja, que é uma delícia. (Publicada em 06.04.1962)

Dor que vem da ilusão

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Foto: Bigstock

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  Especialistas em movimentações financeiras e peritos em seguir os intrincados caminhos tomados pelo dinheiro de origem duvidosa e suspeita, sabem muito bem que o crescimento exponencial dos ambientes de jogos de azar no Brasil veio para complicar o trabalho da polícia, ao mesmo tempo em que vai aplainando as trilhas operadas pelo crime organizado.

          Ninguém, em sã consciência, pode acreditar que a expansão das casas e sites onde a jogatina corre solta veio para contribuir com impostos e geração de mais empregos, ajudando, assim, o crescimento da economia do país. Jogos de azar, por sua própria denominação, representam azar e perda para a imensa maioria daqueles que gostam de fazer apostas, e, ao contrário, muita sorte e ganhos fáceis para os proprietários desses estabelecimentos, sobretudo os ocultos.

         Na ponta do sabre da lei, esse tipo de negócio opera com trinômio: desonestidade, esperteza e impunidade, e vem na esteira da leniência de nossa Justiça e na corrupção que infesta muitos setores ligados à fiscalização dessas atividades.

         Para o cidadão de bem, que foge desses ambientes viciosos, a expansão desse tipo de negócio irá favorecer o fortalecimento financeiro dos grupos ligados ao crime organizado. Trata-se, para muitos críticos dessas atividades, de uma verdadeira lavanderia de dinheiro, instalada a céu aberto e com a proteção e complacência do Estado.

         É preocupante notar que, num país com tantas dificuldades, algumas delas já vencidas há séculos pelos países desenvolvidos, os jogos de azar venham ganhando popularidade. Como é fácil enganar a população, sobretudo aquela formada por indivíduos com pouca escolaridade. Políticos e empresários favoráveis a essas atividades sabem disso. Os cassinos online no Brasil estão por todo o lado, ao simples acionar de uma tecla, e vêm fazendo estragos às economias das famílias.

         País subdesenvolvido como o nosso e que parece ser, cada vez mais, resultado de um projeto político medonho muito bem pensado é o paraíso para a jogatina. Sabedores dessa espécie de zona franca estabelecida pelos jogos de azar, empresas estrangeiras, vieram para cá, cheias de planos e vontade de ganhar dinheiro fácil. O Brasil, terra de nosso Senhor, já conta com aproximadamente seis centenas de sites de apostas, onde circulam livremente centenas de milhões de reais.

         Com as facilidades oferecidas pelo mundo digital, a construção de cassinos reais ficou para trás e hoje quase 40% dos apostadores online jogam fora seus recursos, em cassinos virtuais. A roleta, o blackjack, jogos de mesa e caça-níqueis fazem a ilusão dos apostadores e a alegria de muitos empresários ligados à contravenção e outros crimes.

         Junto ao Congresso e ao governo, os lobbies seguem forte e a questão ganha prioridade junto aos políticos, sobretudo aqueles que gostam de dinheiro. Dizer que a taxação dessas casas de apostas irá para seguridade social, esportes ou turismo é desculpa daqueles que sabem que isso jamais irá ocorrer. Jogos de azar, por sua tradição e história, estão ligados umbilicalmente à contravenção e ao crime, sendo muito mais motivo de preocupação do que de distração.

         Aposentados e outros pequenos poupadores são atraídos para esses jogos e sugados em suas economias. O cartão de crédito e o Pix facilitam toda a transação e prejuízo, para esses apostadores. Gente famosa, entre jogadores e artistas são contratados para servir de chamariz para esses negócios. Empresas de jornalismo e a mídia como um todo é patrocinada com o dinheiro desses novos cassinos.

         Ninguém ousa falar a verdade sobre o que ocorre. Nunca foi tão fácil apostas em jogos de azar no Brasil, anunciam esses empresários e amigos do alheio. Falar em transparência nesses negócios é outra falácia ou música para boi dormir. Nunca haverá luz do Sol sobre essas atividades, pois elas operam no escurinho, à meia luz ou à luz de velas, num clima romântico semelhante àquele existente nos Estados Unidos durante a Lei Seca.

         Pelos smartphones, os apostadores fazem sua fezinha onde quer que estejam, mesmo durante o horário de expediente. No Brasil, quase 100% dos apostadores fizeram seus jogos via smartphones. Também o Pix já representa quase 100% das operações de depósitos por ocasião das apostas.

         O Governo Federal, que mantém suas loterias e casas de jogos abertas por todo o país e comandadas pela Caixa Econômica, finge não ver a transformação do Brasil num imenso cassino virtual, com o dinheiro da população correndo a rodo para o bolso desses empresários espertalhões. Não há como negar que a população em geral sente um certo prazer mórbido em ser iludida por políticos e por esses novos bicheiros.

A frase que foi pronunciada:

“O idiota útil, por definição, é idiota demais para saber que é útil e quem o utiliza.”

Olavo de Carvalho

Olavo de Carvalho. Foto: Reprodução

Por que será?

Num consultório, um senhor pediu para trocar o canal para qualquer noticiário, pois aquela música dava nos nervos. A resposta da atendente foi uma surpresa. “A doutora nos proibiu de mudar de canal. Ao lado, há um consultório de psicologia para crianças e elas não podem assistir notícias pela TV”.

Foto: Thinkstock / VEJA

 

História de Brasília

No mais, tudo ausente. Os processos paralisados, e todo o mundo no Rio acompanhando a fofoca do Segadas Viana com o cel. Ardovino, e ficando mais perto da briga Jânio-Carvalho Pinto. Assim começamos a semana. (Publicada em 28.03.1962)

O texto-bomba

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Foto: 14/09/2021 – REUTERS/Adriano Machado

 

      Em meio às bombas que começam a cair, nessa madrugada, sobre a cabeça dos civis na Ucrânia, forçando milhares de idosos, mulheres e crianças a fugirem, às pressas, das principais cidades daquele país, no que poderá se constituir no mais novo flagelo humano da atualidade, nossos lépidos parlamentares cuidaram logo, também na calada da noite, de lançar sobre a população brasileira o texto bomba do projeto que legaliza os jogos de azar em todo o país, com a volta dos bingos e dos cassinos.

        Por 246 votos a favor e 202 contra, o chamado texto-base passou na Câmara, abrindo a porteira para a consolidação não só dos cassinos, mas do jogo do bicho e dos jogos online. A urgência pedida para a apreciação dessa matéria e o empenho das principais lideranças dentro da Câmara para a aprovação dessa medida explicitam os muitos interesses que estão por detrás desse projeto.

        Caso venha a ser aprovado também pelo Senado, a lei liberando geral a jogatina cairá como uma verdadeira bomba sobre a cabeça da nação, pois, entre outras consequências imediatas, criará uma espécie de banco especial para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e armas, além, obviamente, de uma excelente lavanderia para o branqueamento dos recursos desviados pela corrupção.

        Muito mais importante do que programas sérios nas áreas de educação e de saúde para a população. Iniciativas que poderiam favorecer a sociedade, como o fim do foro privilegiado para todos, ou a prisão em segunda instância, ou mesmo o endurecimento das Leis de Improbidade Administrativa e da Ficha Limpa não são, sequer, mencionadas como prioridades. Pelo contrário, são afrouxadas para facilitar os atos costumeiros contra o erário. Os brasileiros de bem sabem muito bem o que se esconde nas entrelinhas de medidas dessa natureza, que visam apenas o favorecimento daqueles que sempre viveram à sombra do trabalho alheio, quer na contravenção e no crime organizado, propriamente ditos, quer em acordadas políticas para sempre, buscando ganhos escusos e o favorecimento próprio para si e para seus grupos.

        A aprovação dessa proposta é um claro retrocesso e um sinal preocupante a mostrar que o crime organizado, por meio do lançamento de candidaturas próprias, vai, pouco a pouco, infiltrando-se nas instituições do Estado. A liberação da jogatina é só uma forma de aplainar os caminhos para a entrada dessas organizações nas entranhas da máquina do Estado, de onde jamais sairão.

         Não há qualquer ilusão sobre o fato de que cassinos, casas de bingos e outras modalidades de jogos de azar vão favorecer apenas os donos desses estabelecimentos, ou os testas de ferro das organizações criminosas, não trará benefício algum ao cidadão brasileiro. Pelo contrário, transformará nosso país, campeão mundial na modalidade de violência urbana, em um paraíso tropical para a lavagem de dinheiro de nossos criminosos, com ou sem colarinho branco, e para as muitas máfias internacionais que buscam aplicar e branquear os ganhos astronômicos com todo e qualquer tipo de crime, inclusive o tráfico de órgãos humanos.

        Putin não precisa enviar tropas para invadir e destruir o Brasil. Nossos representantes políticos são muito mais eficazes e mortais.

 

A frase que foi pronunciada:

A maneira mais rápida de acabar com uma guerra é perdê-la.”

George Orwell

George Orwell. Foto: gettyimages.com

Sacrifício

Para a satisfação de seus desígnios tirânicos, ditadores em evidência não se fazem de rogados e mandam sacrificar, no altar personalista da pátria, o que uma nação tem de mais importante que é sua população jovem, mandada impiedosamente para o campo de batalha.

História

Repleta está toda a história da humanidade de exemplos iníquos como esse, em que um único indivíduo é capaz de conduzir, para o matadouro, milhares de conterrâneos na flor da idade, apenas para a satisfação de um gigantesco ego assassino.

Longevo

Estando, há mais de duas décadas, no poder, por meio de manobras e malabarismos políticos e até sanguinário, Putin revela ao mundo seu acentuado caráter psicológico de psicopatia. Mesmo que os tribunais internacionais, no futuro, eximem-se de condená-lo por crimes contra a humanidade, de certo, ficarão nos livros de história as escaramuças desse novo e transloucado Napoleão de hospício.

Ocidente

Ao assistir, de braços cruzados, uma nação inteira ser esmagada diante do mundo, o Ocidente, na figura da OTAN, dá uma demonstração clara da pouca valia de sua existência.

Foto: REUTERS/Pascal Rossignol

História de Brasília

Deve fazer muita raiva a muita gente, a W-3, como ela se encontra agora. No comêço, perto do Eixo Monumental, o jardim está uma beleza, e é uma resposta colorida aos que não acreditavam nas possibilidades de recuperação do nosso solo. (Publicada em 18.02.1962)