Para onde vai a educação?

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

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com Circe Cunha e Mamfil

colunadoaricunha@gmail.com;

Foto: agenciabrasil.ebc.com.br
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         No domingo, o caderno Cidades do Correio Braziliense estampou em sua manchete, sob o título “Para onde vai a UNB”, a questão da crise que assola a principal Universidade de Brasília. Posta, em números, a questão do déficit nas finanças da instituição por conta do aumento no custeio de R$ 800 milhões, verificado a partir de 2013, para os atuais R$ 1,4521 bilhão, que poderia ter um equacionamento mais racional, já que as receitas no mesmo período variam para cima, indo de R$ 1,2 bilhão para R$ 1,7 bilhão.

         Seu prestigiado departamento de economia, por onde vagueiam cérebros treinados e aparentemente ociosos nas artes do balanço contábil, poderiam se debruçar sobre o assunto e, nesse caso, não surpreenderia que a UnB viesse a constatar a existência de inúmeras saídas sensatas para o vermelho nas contas, sem a necessidade de empurrar a instituição ladeira abaixo no quesito respeitabilidade pública, item importantíssimo quando se trata de um centro de estudo e pesquisa, vital para o desenvolvimento da sociedade.

         Só que, por detrás desse pano, aparentemente atropelado por números, se esconde um problema muito maior, até que a própria instituição, e que, nesses dias conturbados, vem permeando não só as instituições de ensino público em todo o país, mas a própria estrutura organizacional do Estado, colocando em risco a sustentação do principal pilar que escora toda a República.

         Para além de uma crise financeira, o que a UnB e outras universidades do gênero vêm experimentando na pele decorre da corrosão provocada pela ausência do cimento da ética, o que tem levado a nação ao mergulho no seu mais tenebroso momento. É sob a esteira desse imenso triturador de moral que foi ardilosamente organizado no andar de cima do governo e que tem levado dirigentes importantes a conhecer, por dentro, o sistema carcerário, que a UnB vê seu antigo prestígio sendo levado aos poucos de roldão.

          Mesmo as questões relativas aos debates ideológicos, tão necessários numa casa do saber, perdem importância e substância filosóficas e racionais quando se assiste a cada dia a transformação dessa universidade num ambiente em  que a erudição e o saber perderam espaço para hostilidades primitivas que, ao fim ao cabo, revelam o despreparo intelectual de professores e alunos, com muitas exceções, para os grandes debates nacionais, acabando também por colocar essa instituição na mesma vala comum onde hoje jazem as principais lideranças do país.

         Permitir, nessa altura dos acontecimentos, que a UnB adentre por atalhos rumo a uma anacrônica revolução gramsciana, visando a hegemonia do pensamento, como demonstra a apatia cúmplice de sua reitoria frente à crise, é decretar a morte da instituição e confiná-la embalsamada no mesmo mausoléu de vidro onde repousa hoje a figura sinistra de cera de Lenin.

          Para os pagadores de impostos, já demasiadamente arrochados pelo fisco, interessa uma instituição que possa pensar e apontar caminhos para o país. É justamente em prol dos muitos que jamais terão oportunidade de acesso a esse time de elite que a UnB tem que trabalhar, pondo suas tropas bem fornidas em campo.

A frase que foi pronunciada:

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”

Paulo Freire

Tirinha: gazetadocerrado.com.br
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Participação

“Criou-se no Brasil a falsa necessidade de privatização da Eletrobrás e suas subsidiárias para, aparentemente, fazer com que um patrimônio, com valor da ordem de R$ 300 bilhões, gere lucros privados. Nesse processo, o Estado receberia irrisórios R$ 12,2 bilhões e os consumidores brasileiros seriam os reféns geradores dos lucros privados, a partir do aumento da tarifa de energia elétrica.”

Raul Bergmann

Charge: tijolaco.com.br
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Incompreensível

Eucaliptos italianos que davam graça à paisagem da entrada do Pontão e que ficavam na pista oposta foram todos derrubados.

Gana

O parque, que era cercado na entrada do Lago Norte, já não possui limites. É fácil a Câmara Legislativa mudar a destinação de um parque para moradia. Principalmente se a população interessada não ficar de olho ou não reagir.

Preleção

Na pizzaria Dom Bosco, da Asa Sul, uma discussão sobre política terminou com a conclusão de que tinham que acabar com o Congresso. O orador deve ter esquecido que quem faz as leis recebeu voto da população. Com uma urna segura, a escolha pode mudar.

Charge: artesmendes.wordpress.com

Mais uma

Um dos balconistas da Dom Bosco, o William, Marcão ou Rodrigo, indagou: “Já reparou que as leis de arrecadação são certinhas? Água, Luz, IPTU, IPVA, até as multas de trânsito funcionam? Já os investimentos na saúde, educação, transporte e segurança não seguem a mesma rigidez.”

Charge: desafiosensino.blogspot.com.br
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Manutenção

Por falar em Asa Sul, os viadutos entre as 207/107 estão com o teto despencando.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Enquanto isto, os moradores que sofram lama, poeira, barulho de gerador, mosquitos e toda sorte de desconforto. (Publicado em 20.10.1961)

O não lugar

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ARI CUNHA

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Foto: institutofecomerciodf.com.br
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      Não há ainda um levantamento, nem minimamente preciso, sobre o número de imóveis desocupados ou simplesmente abandonados em todo o Distrito Federal, em razão da crise que os brasileiros só começaram a descobrir no início de 2014. Naquela ocasião, com a quantidade de lixo varrido para debaixo do enorme tapete da república, já não podia mais esconder tamanho volume de sujeira acumulada ao longo de mais de uma década.

         Ocorre que ao lado das malfeitorias e da péssima administração do Estado, legada pelos últimos governos eleitos democraticamente, a crise econômica, classificada como a maior e mais duradoura recessão já experimentada pelo país ao longo de toda a sua história, veio a bater de frente com o advento das novas tecnologias digitais, o que provocou rápidas e inesperadas mudanças nas relações comerciais, principalmente quanto à alocação de imóveis para setor de serviços.

          Ao lado dos mais de 18 mil imóveis que a União possui desocupados, por diversos motivos em todo o território nacional, que geram prejuízos anuais da ordem de quase R$ 2 bilhões ao ano, o DF vive sua crise particular com uma queda acentuada na procura por locação de espaços comerciais.

        As perspectivas de que a crise econômica não vai ser sanada nem a curto e médio prazos afastam os interessados e isso ocasiona reflexos diretos na construção e oferta e novos espaços para a venda e aluguel.

           Pesa, além dos encargos e custos necessários a locação de imóveis comerciais, o fato de que a internet, aliada à rede mundial de computadores, abriu possibilidades infinitas para que profissionais, liberais, como arquitetos, advogados, contadores e muitos outros pudessem exercer seus ofícios em qualquer ponto do globo, conectado, em tempo real com seus clientes, com todas as facilidades facultadas pelas novas tecnologias.

           Dessa forma, quem no passado necessitava de uma sala exclusiva para receber seus clientes e fechar negócios hoje vê essas mesmas possibilidades ofertadas por um simples laptop, que pode ser aberto e acessado a partir de uma mesa de um café ou em casa.

       Com isso, o chamado home office vem ganhando espaço, não só nas atividades comerciais privadas, mas também, e sobretudo, no desempenho de muitas funções dentro do serviço público. Os congestionamentos no trânsito, o transporte coletivo sem qualidade e o longo tempo gasto no caminho de casa para o trabalho e vice-versa são fatores que reforçam o novo tempo. Isso, além da economia em luz, papel, cafezinho, elevadores, água e outros, tem, cada vez mais, induzido as autoridades a adotar o modelo do home office para se adequar ao teletrabalho.

     Mesmo que a crise econômica venha a ser totalmente debelada nos próximos anos, a tendência da descentralização dos serviços, com as mesmas funções sendo desempenhadas diretamente da casa do servidor, parece ser uma tendência que veio para ficar e para se expandir ainda mais.

         Se no setor público esse novo modelo pode ser rearranjado a curto prazo, com benefícios para todo mundo, principalmente para o pagador de impostos, o mesmo não pode ser facilmente obtido pelo setor privado, onde as novas tecnologias parecem ter criado uma espécie de não lugar.

           A transformação de um simples laptop num escritório, com mais possibilidades, inclusive, de mobilidade e de agilidade nos serviços, parece ser um modelo que veio para revolucionar esse tipo de mercado. É claro que o setor de locação e mesmo as empreendedoras irão buscar meios de contornar esses imprevistos, dando vida nova ao setor.

         A chegada do chamado “coworking”, em que profissionais passam a alocar ou mesmo comprar espaços próprios para exercer suas atividades em conjunto, dividindo despesas e racionalizando o uso de espaços, vem surgindo no rastro dessas novas tecnologias e parece, até o momento, uma solução para os imóveis desocupados.

           Outra tendência que vai aparecendo nesses novos tempos é a transformação dos espaços comerciais em áreas residenciais do tipo apart hotel, com rotatividade de locação e preços mais em conta do que nos hotéis tradicionais. O desaparecimento de antigos modelos não deve, contudo, ser motivo de preocupação para o setor. Tratam-se de mudanças inevitáveis que irão permitir que outras surjam no lugar.

         O importante é agir e não permitir que setores imensos, como é o caso dos setores comerciais Sul e Norte, venham a se transformar em áreas degradadas, com milhares de imóveis desocupados a convidar os muitos movimentos de invasão que se espalham pelo país e venham transformar essa situação em caso de polícia, com prejuízos para todos, principalmente para os moradores do DF.

A frase que foi pronunciada:

“Nos próximos anos, o automóvel será tão proibitivo quanto o cigarro.”

Jaime Lerner

Charge: blogdaluauto.blogspot.com.br
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HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Sabe-se, também, agora, a razão pela qual o IAPFESP criou tantas dificuldades para que a NOVACAP não urbanizasse as duas quadras. É que continuando como está, em estado de bagunça total, seria mais fácil para os desmandos que estão sendo praticados. (Publicado em 20.10.1961)

Master chefe político

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ARI CUNHA

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Charge: padretelmofigueiredo.blogspot.com.br
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         Para um país cuja parcela expressiva da população ainda ronda os limites do mapa da fome soa um tanto quanto surrealista que os diversos grupos que ora se engalfinham em disputas políticas recorram justamente aos nomes de alguns alimentos típicos para dirigir ofensas e impropérios uns aos outros. Na batalha que antepõe pretensos grupos de esquerda e de direita, como se isso contivesse algum sentido claro para esses grupos e para a maioria dos brasileiros, coxinhas e mortadelas se reúnem em seus exércitos distintos e, ao chamado de suas lideranças fantoches, dão início as batalhas campais pelo país afora.

         Nessas refregas sobra bordoada até para a bandeira nacional, tornada, não se sabe exatamente por que, um símbolo que demarca e identifica os pelotões dos coxinhas. Os mortadelas exibem estandartes rubros, bem condizentes com a iguaria feita de embutidos de carne de boi e de porco. Observando na segurança bem armada dos palanques, os generais que comandam esses motins a distância não escondem sua aversão a ambas iguarias, preferindo o canapés fino servido em lautos banquetes e restaurantes requintados.

         Nessa nossa revolução às avessas, os novos sans-culottes, à falta de brioches, vão de sanduíches de mortadela regado a tubaína. Curioso e sintomático também que essa guerra de baixa culinária tenha justamente como chamamento as panelas que retumbavam uníssonas nos centros urbanos sempre que Dilma, a “generala” que rendia saudações à mandioca, aparecia na televisão.

         Aliás, nesse nosso “master chefe” político, as predileções culinárias e etílicas sempre serviram como fronteiras a demarcar territórios e personagens, identificando cada comandante pelo gosto a um acepipe próprio. Mas não se iludam! O consumo de bebidas e guloseimas para esses marechais da política só se realizam diante das luzes das TVs e em meio ao grande público.

         Essa lição foi dada por Jânio Quadros numa época em que o marketing era ficção científica. Naquela ocasião, o candidato histriônico desfilava pelos palanques, carregando, vistosamente, um sanduíche no bolso do paletó, para mostrar sua identificação com o populacho. Engana-se também quem crê que Lula seja um consumidor de cachaça barata. Quem conviveu com o ex-presidente e conhece a variedade de sua polêmica adega sabe que os preços e as marcas de sua coleção etílica é coisa só para grã-fino.

          Enquanto a população perde a cabeça e o estômago numa batalha vã em favor de um e de outro desses glutões políticos, na retaguarda, outros representantes da nação não se acanham nem um pouco em desviar recursos públicos, duramente destinados pelos pagadores de impostos para a compra de merenda escolar. O mais extraordinário nessas pelejas de coxinhas contra mortadelas é que essas batalhas culinárias podem vir a ter um desfecho melancólico com a prisão, que vai se consumando, da maioria desses maestros ou maîtres do atraso.

         Mais curioso ainda é observar que no catre, onde muitos foram e vão parar, as quentinhas servidas aos presos foram também superfaturadas e, portanto, são de baixíssima qualidade. Lição aprendida.

A frase que foi pronunciada:

“Eleições 2018. Cardápio sem suculência.”

Dona Dita

Charge: correiobraziliense.com.br
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SOS

Está instituído o selo MOLA, pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. O Selo MOLA se apresenta como reconhecimento formal concedido às entidades sociais, empresas, entidades governamentais e outras instituições que atuarem em parceria com o Hospital São Vicente de Paulo-DF no desenvolvimento de ações que agreguem forças à sua revitalização, impulsionando a melhoria da oferta de assistência em Saúde Mental do Distrito Federal.

Memória

Talvez ninguém lembre do PL transformado na Lei 8.985, sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em fevereiro de 1995, concedendo anistia aos 16 parlamentares, candidatos às eleições gerais, condenados por terem usado a gráfica do Senado ilicitamente com fins eleitorais. Houve a anistia e o mais importante: o ressarcimento aos cofres públicos.

Vale a leitura

Sivirino Com “I” e o Deus da Pedra do Navio, da Editora Chiado. Novela do paraibano-brasiliense que põe o personagem principal discorrendo, nordestinamente, os ensinamentos de deuses, profetas e mestres. Mangar do nome estranho nunca baixou a auto estima. É a fortaleza comum do Nordeste.

Imagem: saraiva.com.br
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Intocáveis

Talvez seja o encontro do Mercosul, mas o fato é que carros pretos, com placas normais e alguns com luz circular no capô voam pela cidade sem respeitar qualquer pardal. Na quinta-feira, por volta das 18h40, foram vários correndo e cortando os outros carros na L4. Na sexta-feira, por volta das 11h55, outro descia a W3 em direção à Bragueto. A velocidade perto do pardal da parte inferior da ponte não foi respeitada. Veja a foto no blog do Ari Cunha.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Agora se sabe porque os moradores do IAPFESP (104 e 304) nunca terão suas superquadras urbanizadas. O Delegado dr. Aracaty foi quem autorizou a construção de casas de alvenaria no canteiro de obras. (Publicado em 20.10.1961)

Fome de política pública que dê autonomia

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ARI CUNHA

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Charge: blogdozebrao.com.br
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         Entre as contradições e singularidades próprias de um país desigual como o nosso, nenhuma característica parece ser mais impactante e escandalosa do que o fato de nos colocarmos hoje na posição de celeiro do mundo, fornecendo quantidades recordes de alimentos para a população do planeta. Ao mesmo tempo assistimos, de mãos atadas, ao regresso de parcela significativa dos brasileiros ao mapa da fome. Segundo o IBGE, em 2017, 25,4% da população do país vivia na linha de pobreza, com menos de US$ 5,5 por dia, que é o valor que o Banco Mundial adota para definir o grau de pobreza de um indivíduo. Nem mesmo a surpreendente produção de 241 milhões de toneladas, atingida agora pelo país, foi capaz de minorar o problema histórico da fome e que deixa mais de 7 milhões de brasileiros sem ter absolutamente nada o que comer e outros 30 milhões em estado de subnutrição crônica.

             Alguns especialistas consideram que a questão central nesse dilema não está na capacidade de produção e sim no acesso, restringido pela baixa renda da população, pelos preços altos de alguns itens da cesta, listados como commodities e cotados em dólar.

        Outros analistas do problema enxergam nessa contradição a comprovação mais sólida de que o chamado agronegócio, responsável direto pela produção surpreendente de grãos e proteínas, é, por excelência, um setor concentrador de renda, enriquecendo apenas aqueles indivíduos que dominam esse negócio. Ressalta-se que foi apenas em 2014 que o país conseguiu sair oficialmente do mapa da fome, quando já ostentava, perante o mundo, sua condição de celeiro da humanidade. Indiferentes da realidade de pobreza e fome que assola parte do país, políticos de todas as matizes ideológicas vêm por anos explorando essa situação, não em busca de soluções para o problema, mas tão somente visando tirar proveito próprio de uma e outra situação.

Charge: flogao.com.br
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           Nesse ponto, tanto a bancada ruralista como aqueles que se opõem ao agronegócio falam de um Brasil muito distante de seus gabinetes e que só entram em contato às vésperas das eleições.

          Guaribas, no Piauí, foi o primeiro município do país a receber o Bolsa Família e onde o proselitismo petista armou seu mais vistoso palanque intitulado Fome Zero. Uma década depois, a cidade vive unicamente dos recursos do Bolsa Família e da pouca movimentação do seu comércio local, movido também às custas do crédito que a população local recebe do programa.

         Incrivelmente, a riqueza que sai dos campos em forma de alimentos não foi capaz de alterar o quadro de pobreza que assola as populações vizinhas. 80% da pobreza no país está, segundo o IBGE, concentrada justamente nas áreas rurais, principalmente próximas aos estados do Maranhão, Alagoas, Piauí e Amazonas.

             Mesmo cidades do Sudeste, como Japeri, na Baixada Fluminense, por onde correm os oleodutos da Petrobras, com seu ouro negro, a situação é calamitosa. 90% da população local não possui emprego fixo e vive de pequenos bicos.

A frase que foi pronunciada:

“Essas crianças estão nas ruas porque, no Brasil, ser pobre é estar condenado à marginalidade. Estão nas ruas porque suas famílias foram destruídas. Estão nas ruas porque nos omitimos. Estão nas ruas e estão sendo assassinadas.”

Betinho

Charge: humorpolitico.com.br
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Insegurança

Está tudo tão mudado e violento que uma leitora conta ter recebido um telefonema de uma ordem missionária oferecendo a visita de Nossa Senhora na residência. Ela paga um carnê e foi através dessa ajuda mensal que a freira fez o contato. A resposta foi firme: “Não precisa trazer a imagem. Muito obrigada. Nossa Senhora já está aqui.”

Guará em festa

Tudo certo para a alegria no Parque Ezechias Heringer, no Guará. Liberados os R$75 mil para a festa entre promoção da educação ambiental e ações sustentáveis além do concerto do projeto Parque Cultural, com a Orquestra Sinfônica Itinerante do Teatro Nacional Claudio Santoro, sob a regência do maestro Claudio Cohen. Nesse sábado, a partir das 8h.

Link para mais informações: Projeto Parque Cultural no Parque Ecológico Ezechias Heringer – Guará

Perícia

O Batalhão de Aviação Operacional da PMDF irá receber um boroscópio. O aparelho é importantíssimo e a inspeção de motores de aeronaves exige uma perícia cirúrgica do operador. Trata-se de um aparelho parecido com o usado em endoscopia ou laparoscopia.

Foto: pilotopolicial.com.br
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Hermenêutica

Uma injustiça: estagiários não poderem ter dias de folga concedidos pelo TSE por trabalharem nas eleições. O argumento de que o estágio não gera vínculo empregatício é falho. A folga deve ser dada a quem ajudou o Brasil. Isso sim!

Competência

Volta hoje, da Cidade do México, o coronel George Cajaty Braga, do Corpo de Bombeiros. Ele proferiu palestra no Fórum Undertanding Risk. O militar, que representou o Distrito Federal e o Brasil, tem como bagagem um pós-doutoramento em Tecnologia de Combate a Incêndio, feito no Building and Fire Research Laboratory do National Institute of Standards and Technology, NIST/EUA, e Doutoramento em Física de Estado Sólido, pela Universidade de Brasília.

Foto: bombeiros.go.gov.br
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HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Os moradores do Setor de Residências Econômicas continuam apelando, agora não se sabe mais para quem. Mas é isto: não há um ponto de táxi, não há comércio, não há assistência médica, não há nada. As cobras estão soltas, e ninguém acode a população daquele bairro. (Publicado em 20.10.1961)

Datacracia, os olhos do grande irmão

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ARI CUNHA

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com Circe Cunha e Mamfil

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Charge: ambientelegal.com.br
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         Especialistas e pesquisadores de todo o planeta e do Brasil, que ultimamente vêm analisando as possibilidades geradas pelo advento do mundo digital na organização das sociedades, vislumbram, por detrás do enorme sinal de interrogação que vai escondendo a realidade atual, a possibilidade de o mundo atual estar caminhando, a passos largos, ao encontro do Grande Irmão onisciente, conforme delineou George Orwell no romance 1984.

         Para países dominados ainda por um fortíssimo e antigo sistema burocrático, como é o nosso caso, comandado pelo Estado, com o auxílio de cartórios e outras instâncias que sobrevivem justamente da complicação nos trâmites de documentos e processos, a possibilidade de estarmos rumando em direção à uma nova e inusitada forma de governo do tipo Datacracia parece cada vez mais real e inexorável.

         A transformação paulatina da gestão pública em algo tecnocrático, impessoal e dominado por nova burocracia digital, ao dificultar o acesso direto dos cidadãos aos responsáveis pelo governo, poderá retirar dos gestores públicos a responsabilidade por suas ações. Nesse caso, as responsabilidades por qualquer ato lesivo ao cidadão, decorrente da labiríntica burocracia, poderão caber unicamente ao “sistema”, ou seja, a um “ser” virtual, impossível de ser levado fisicamente aos tribunais.

         Para um país como o Brasil, atalhado por uma burocracia endêmica, herdada ainda da fase colonial, as ameaças desse processo de digitalização são ainda maiores e mais preocupantes do que em outras partes do mundo. O antropólogo francês Lévi-Strauss costumava dizer que o Brasil era um caso único de país que passou diretamente da barbárie à decadência, sem conhecer a civilização.

          No nosso caso, apanhados de surpresa por um mundo em processo rápido de informatização digital, corremos o risco de adentrarmos, totalmente despreparados, numa nova era, comandada por programas de computadores, sem antes termos resolvidos o problema histórico da burocracia onerosa. E para não renunciarmos nem uma coisa, nem outra, ao invés de eliminarmos, pura e simplesmente todo e qualquer traço de burocracia, vamos em busca de digitalizar a burocracia existente, dano nova vida e nova dinâmica aos diversos cartórios. Com isso, estamos turbinando uma atividade predadora que já deveríamos ter eliminado há muito tempo, dando nova vida a um sistema parasitário que se beneficia há séculos do descaso do Estado, de quem é sócio na criação de dificuldades e na venda de facilidades.

      A datacracia, que seria um governo comandado das profundezas do oceano digital, aliada aos traços, já conhecidos de casos sequenciais de corrupção avassaladora, poderia produzir entre nós uma espécie de Frankenstein tão sui generis com extremo perigo para os cidadãos.

         Aliás, o próprio status de cidadão com todos os seus direitos e deveres, conforme conhecemos hoje, deixaria de existir, substituído por um código sequencial de algoritmos, só inteligível por máquinas sofisticadas, instaladas nas nuvens distantes. Nesse caso, nada, nem as leis, de nada serviria.

A frase que foi pronunciada:

“Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário.”

George Orwell

Charge: anf.org.br
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Chão batido

Em 1969, a campanha em Brasília era para que cada morador contribuísse com o jardim da quadra. Hoje não aparece um deputado distrital com a ideia de transformar em lei a obrigatoriedade de cada quadra, cada condomínio ter uma horta e um pomar. Pelo contrário. Quando os moradores se reúnem para uma iniciativa como essa, aparece um síndico como o da 216 norte e cimenta tudo.

Foto: xapuri.info
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Absurdo

Cidade administrativa, Brasília é movimentada por concursos públicos. As bibliotecas da cidade são uma vergonha. Estacionamentos sem segurança, furtos dentro das próprias salas de estudo são comuns. A biblioteca da UnB, a mais procurada, continua fechada.

Foto: crb1.org.br (Felipe Menezes)
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Xô

Por falar nisso, os alunos do “Baixo IRA” (Índice de Rendimento Acadêmico) da UnB, que gostam de paralisações, levaram um susto no Departamento de Agronomia. Foram escorraçados de lá pelos estudantes do “Alto IRA” que estão ali para estudar.

Foto: facebook.com/studentsforlibertybrasil
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Que bom

No Mangai do Shopping ID, turistas saíam com altos elogios ao atendimento da Érica e do Rafael.

Foto: ryqueza.com.br
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SMLN

Região com o valor do IPTU altíssimo não tem retorno pelo alto preço dos serviços. A água chega com a cor de lama, e a energia desaparece no meio da tarde sem qualquer explicação. Verificar se há descontos nas contas pelo ocorrido é perda de tempo.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Caixa Econômica o que, Pedro. O dr. Felinto foi da Casa da Moeda! Corrija, Arnaldo, por favor. Saiu toda errada, a notícia de ontem. Não precisa repetir. (Publicado em 20.10.1961)

    Vaidade. Tudo é vaidade

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aricunha@dabr.com.br

Com Mamfil e Circe Cunha

Fosse analisado apenas à luz da psicanálise, o parecer apresentado agora pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, para deferir, num voto de minerva, o pedido de habeas corpus, apresentado por José Dirceu, revelaria, por trás das falsas filigranas jurídicas, um juiz , cujo narcisismo e o ego gigante, o faz crer estar no mais alto das colinas, de onde contempla a humanidade que vaga no escuro da ignorância.

Ninguém deve se atrever a desprezar o impecável currículo do magistrado. Mas há algo no meio jurídico onde os responsáveis não são os mestres.

Ao se referir ao trabalho dos Procuradores da República como “brincadeira juvenil”, feita por “jovens que não tiveram a vivência institucional” ,Gilmar Mendes criticou, num discurso de fundo moralista, a insistência a com que o procurador Deltan Dallangnol vem atuando para manter no cárcere criminosos contumazes . “Se cedêssemos a esse tipo de pressão, deixaríamos de ser o STF”, disse o ministro, para quem “ o Supremo deu uma lição ao Brasil”.

A pressão ao qual o ministro se refere é, no mínimo, a mais legítima e legal das pressões, já que emana também de um braço da Justiça. Justamente aquele que mais a fundo , conhece por dever de ofício investigativo , as atividades criminosas e as ardilesas de José Dirceu, o verdadeiro cérebro por trás do lulopetismo.

Causa estranheza para muitos que às vésperas de fechar as negociações para um possível acordo de deleção premiada, o ex-homem forte do governo Lula, tenha conseguido um relaxamento de sua prisão. O que não causa surpresa alguma é a atitude adotada pelos ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli a não se declararem impedidos de votarem no processo por suas ligações históricas e mesmo subalternas ao Partido dos Trabalhadores.

O que fica evidenciado neste julgamento, mesmo para os mais leigos dos cidadãos, é que já não é mais possível aceitar pacificamente que os membros do STF sejam escolhidos diretamente pelo Presidente da República. Este modelo, pelo que se tem visto desde os julgamentos do mensalão, e pelo que vai se anunciando nos escândalos em curso do petrolão, tem, insistentemente, se mostrado parciais e tendenciosos.   Justificativas jurídicas para este ou outras decisões e comportamentos polêmicos, sempre se acharão no oceano das leis. O que nunca haverá de se achar é a sintonia do que pensa e acreditam os cidadãos e as discutíveis decisões de muitos juízes, aprisionados entre o que desejam os brasileiros que lhes garante os proventos e aqueles políticos que lhes franquearam o alto cargo.

 

A frase que não foi pronunciada:

“ Caráter é adquirido  com experiência no STF?

Pergunta da senhora Democracia

 

Cuidados

O que alguns síndicos não sabem é que reformas na fachada faixa deve ser comunicada ao arquiteto autor da obra. Se em Brasília alguém se interessar por esse tema, terá material farto. O Código Civil dita no artigo 1336: “São deveres do condômino: III – não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas”

 

Alfinetada

Novamente denúncia de assédio sexual no metrô. Lembro da Júlia ensinando a filha Rosana a espetar com alfinete de fralda qualquer tarado que se atrevesse a encostar nela. Deu certo. O intento era bruscamente interrompido com uma literal alfinetada.

 

Registros

Brotam  a todo momento comentários na Internet sobre o STF . Homer Itaquy observa: Realmente os “meninos”de Curitiba não têm a experiência que um membro do STF tem.

 

Em boa hora

Empresas em débito tributário terão chance de regularização. Uma Medida Provisória foi aprovada no Senado criando o Programa de Regularização Tributária para empresas em débito.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Ademais, o edifício para onde se mudaria o Ministério, é de propriedade da Comissão do Vale do Rio Doce, que é subordinada ao Ministério das Minas e Energia. Não tem água, luz, esgotos nem telefones. Como está, a própria Prefeitura não poderá dar o “habite-se”. (Publicado em 27/09/1961)

Racionamento por falta de planejamento

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Circe Cunha e MAMFIL

No fim do ano passado, quando o diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), Paulo Salles, declarou que a população precisava rezar para chover, estavam aparentemente lançadas, segundo seu entendimento técnico, todas as condições necessárias para que os reservatórios que abastecem a capital com água tratada voltassem aos níveis normais, evitando, assim, que o racionamento rigoroso fosse decretado pelas autoridades.

Fosse simples assim, bastaria entregar a pasta a algum padre ou pastor, que a situação estava resolvida. Bastaria a população sair em procissão pelas ruas, com velas, entoando cantos religiosos ou quem sabe por meio da convocação de povos indígenas para a realização de antigos rituais invocando as águas do céu.

Não querendo entrar no mérito da eficácia desses métodos, que têm explicação no plano da metafísica, o problema diz respeito à confluência de um complexo conjunto de causas, muito humanas, que remontam à história recente de Brasília e do Entorno. Anteriormente, as desculpas se resumiam a atribuir aos imponderáveis caprichos da natureza pela falta de água. Rezar é bom e alivia a alma, que não necessita desse tipo de água para viver. A fonte da vida é outra.

Obviamente, não cabem à Adasa, da qual a população desconhece a existência, todas as responsabilidades pela escassez de água. A parte que lhe diz respeito diretamente vem exatamente do aparelhamento político imposto pelos governos passados, das agências reguladoras, com a substituição de técnicos especializados e renomados, por apadrinhados políticos, sem qualificação específica para a função. Numa escala de responsabilidades, cabe, primeiramente, à classe política os infortúnios vividos pela população. A transformação das terras do DF em moeda de troca política permitiu que imensas áreas, muitas, comprovadamente de proteção ambiental, com importantes nascentes, está em uma das raízes do problema.

Com a farra dos loteamentos irregulares, construídos da noite para o dia, veio o inchaço populacional desordenado. Uma vez estabelecidas, as invasões eram imediatamente equipadas com redes de água e luz, mesmo antes de qualquer planejamento urbano técnico , consolidando o problema e empurrando a solução para um futuro que, agora vemos, chegou com a conta nas mãos.

A falta de planejamento de longo prazo e de uma política permanente de educação sobre o uso correto desses recursos finitos vem em seguida. A transformação do cerrado em extensas áreas de monocultura para a exportação, com a destruição da vegetação nativa, ao destruir o ecossistema da região, considerado o berço das águas, fez o resto.

É importante observar que, ao longo da história da humanidade, nenhuma civilização foi capaz de prosperar e mesmo sobreviver sem os recursos hídricos necessários e essenciais. Muitas cidades importantes na antiguidade simplesmente foram deixadas para trás, quando a água secou. O exemplo permanece. Portanto, debitar nas contas, já volumosas de Deus e da administração celeste, as causas pelo esgotamento hídrico, não convence, mesmo aos mais crédulos.

A frase que foi pronunciada:
“Esse estádio monstrengo é a prova de que nunca faltou dinheiro para atender pacientes com dignidade nos hospitais públicos. Faltou mesmo foi sensibilidade e humanismo.”
Paciente na emergência do Hran

Notas
» Sob o argumento de superlotação, o Hospital do Paranoá suspendeu, temporariamente, o atendimento a todos os pacientes que procuram a unidade. Essa situação inusitada revela e expõe a falência da estrutura de saúde no DF. Já o Hran, na madrugada de ontem, tinha enfermeiras e médicos de plantão. Só que o atendimento na emergência só começou na troca de turno.

SOS nojo
» Por falar em Hran, no orelhão do PS perto da chefia de enfermagem, havia uma cadeira onde alguém com diarreia sentou. Com a espuma alta, cada um que sentava ali, para amenizar a exaustão da espera, levantava com a surpresa desagradável.

Vermelho
» Não é de hoje que pacientes que necessitam de atendimento de urgência, em todo o DF, só têm acesso ao interior dos hospitais e, portanto, aos cuidados médicos, se derem entrada nos estabelecimentos, deitados em macas e transportados pelas unidades dos Bombeiros e das ambulâncias, de preferência prontos para morrer.

Ver para crer
» E mesmo quem dá entrada é atendido de forma precária. Sem limpeza, sem lençóis, sem a menor dignidade. E justiça seja feita: falta dignidade para os pacientes e para os que optam por trabalhar sem o mínimo básico necessário para exercer a profissão. Os médicos enfermeiras, técnicos, que batem ponto e trabalham, merecem todo o respeito da população. O governador Rollemberg poderia ir a qualquer hospital público de madrugada disfarçado, sem estafe. Alguma coisa mudaria.

Realidade
» Devido a carências no setor, as brigadas do Corpo de Bombeiros foram transformadas em serviço de atendimento de emergência de saúde, transportando pacientes de todo o DF para os hospitais depois de um atendimento preliminar. São heróis que também lutam com condições que poderiam ser melhores.

História de Brasília
Como não há exceção, caiu o decreto das corridas de cavalo, e as determinações sobre o uso de carros oficiais foram desrespeitadas, mas nessa mesma edição há uma carta do chefe da Casa Militar da Presidência, general Amaury Kruel, a respeito. (Publicado em 21/9/1961)

VISTO, LIDO E OUVIDO – ARI CUNHA com Circe Cunha colabora MAMFIL

Publicado em Íntegra

Desde 1960

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha // circecunha.df@dabr.com.br

                                                               Ovo não fecundado

                Com a forte rejeição ao nome e ao partido, divulgada por recente pesquisa, o lulismo caminha trôpego para o colapso final. O símbolo da sigla partidária, representada pela estrela vermelha solitária, numa referência a seu único nome de peso, amarga um entardecer melancólico.

                Aquele tempo do agitar as bandeiras sem pensar em pagamento se foi. Até artistas se envergonham de ter bradado por um Brasil que seria diferente. Irene Ravache declara que o PT foi a maior decepção da vida dela, e Regina Duarte permanece na elegância de quem sempre soube das coisas.

                Com a saída de Lula, dono da bola e do campo petista, o jogo para a legenda murchou. A ideia de refundação do partido, levantada em outras ocasiões, permanece de pé. O brasileiro já sabe que isso não vai resolver. Quantos nomes teve a LBA? O rótulo nunca muda o conteúdo.

                Refundado ou não, resta ao PT colher os frutos de sua lavoura nesses 13 anos. À medida   que as investigações vão cavando e revelando os cadáveres escondidos, aumenta também, na mesma proporção, o fosso que separa o partido e seu dirigente da sociedade brasileira. Se vencer a tese da refundação, o único caminho razoável será extirpar da sigla toda a antiga direção, inclusive o próprio Lula.

                Aliás, qualquer refundação pra valer terá de que ser feita com gente nova. O estatuto do partido, que até aqui tem dado total proteção para acusados e condenados pela Justiça, terá que ser reescrito. Dada a pouca chance desses fatos ocorrerem, fica a impressão de que ou não haverá refundação ou a sigla rachará, a exemplo do que ocorreu com o brizolismo e a sigla do PTB, ocasionando o nascimento do PDT.

                Desacreditado e com discurso esvaziado, restará ao PT se conformar com a nova estatura de anão político. A outra saída será se unir ao PSol e ao PCdoB, formando esquerda tipo maionese, onde ideários copiados do bolivarismo venezuelano, vãose misturar à nostalgia cubana dos anos 1960, com pitadas do Foro de São Paulo, num sarapatel requentado e até mesmo hilário. A foice deixou de eliminar a corrupção, o martelo bateu no dedo, a estrela é lixo celestial e o picareta, em alusão ao dono da bola, serão fundidos. Dessa amálgama nascerá um ovo. Um ovo choco.

 

 

 

A frase que não foi pronunciada

“Uma democracia sem corrupção é reconhecida pela coragem da oposição.”

Livro imaginário Antes do inteiro 13 e depois do partido 13

No tribunal

                Em um caso em que a lei deixou escapar a previsão, o advogado perguntou ao juiz de onde ele tirou a ideia, onde estava escrita. Sabiamente, fazendo o papel que lhe cabe, o juiz respondeu: “No bom senso”.

Segurança

                Um cargo na diretoria de sindicatos rende 72 meses de emprego garantido. Ninguém vai demitir sem justa causa e ressarcir essa enormidade de tempo.

Trabalho

                Fiscais do Trabalho precisam sair no horário de almoço para dar uma volta no Senado, na Câmara e nos ministérios. Os terceirizados que cuidam da limpeza não têm onde descansar. Almoçam sentados no meio-fio, deitam-se na grama ou em calçadas. As condições de descanso nos intervalos precisam melhorar.

Memorável

                Quem comentou sobre o encontro com Claudio Coletti foi Helival Rios. Estava realmente emocionado quando voltou ao túnel do tempo e viu como foi a participação de toda a turma para a imprensa brasileira.

Legis

                Pegando carona nas leis, a Editora Saraiva está legislando. O Vade Mecum volta e meia apresenta algumas correções incabíveis ou omissões inadmissíveis.

Saída

                Para o governo Rollemberg, a situação é insustentável. A saída foi inteligente. Para espaços públicos como a Torre de TV, parques e zoológicos, entre outros, a solução será a parceria com empresas privadas.

De graça

                Inspirada na tragédia Otelo, de Shakespeare, a Cia. Face e Carretos Alegre (RS) traz a temática do ciúme manipulado pela inveja e, com ela, constrói drama fantástico, em tom surrealista na peça O monstro dos olhos verdes, ou por quem morrem as pombas? Amanhã e quinta-feira, às 20h, no Teatro Plínio Marcos.

 

 

 

História de Brasília

Observância ao Plano Piloto. Na W3 há diversas oficinas, principalmente de automóveis (Folks, DKW, Willys) tudo isso irregular. No Setor Escolar há uma estação de rádio. Em frente à Novacap, residências são transformadas em casas de comércio, e os cartórios dão mau exemplo. No SCL, a área de trânsito público é ocupada por bares, com mesas ao ar livre. (Publicado em 17/9/1961)