Tag: Brasília
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Entre os muitos dialetos técnicos existentes dentro da máquina do Estado, depois do “juridiquês”, falado nos tribunais, por juízes e advogados, o “economês” é também a língua cada vez mais ouvida pelos brasileiros, que desconhecem, contudo, o significado de cada palavra e as repercussões que cada expressão dessas trarão para o cotidiano de cada um. Na verdade, essa “novilíngua” e suas variantes, foram construídas com muito esmero, justamente para não serem entendidas pelo cidadão comum.
Trata-se de uma cartilha, redigida estrategicamente pelos altos burocratas, com vistas a esconder, ou a não tornar claras, o emaranhado de medidas que todos os dias escoam de cima para baixo. De fato, a clareza da linguagem e da comunicação que, em situações normais, serviriam para diluir fronteiras e distancias entre a população e o governo, tornando a transparência dos órgãos públicos algo absolutamente normal, tem nessas linguagens, burocraticamente rebuscadas, um mecanismo de vetar o acesso do povo bisbilhoteiro ao que se passa nas entranhas do Estado
Somado a esse estranhamento na linguagem, ainda há outros empecilhos de ordem puramente formal e que são erigidos com o propósito de manter a distância entre a plebe rude e os altos escalões. Obviamente que sem conhecer a colocação certa de pronomes de tratamento no trato com as autoridades, o leigo se vê impedido até de dizer bom dia.
Esse caso específico, registrado em vídeo e que correu todo o país, ilustra de forma cabal a tentativa de manter o pobre do cidadão numa posição propositadamente inferiorizada, de forma a impor uma hierarquia artificial e odiosa e que em nada contribui para as relações humanas, muito menos em pessoas que se acreditam ilustradas. A liturgia do cargo não pode ser confundida com afagos ao ego. Ninguém deve ser obrigado a isso.
De fato, num país tão surreal como o nosso, um verdadeiro acinte. Escudados por uma linguagem hermética, acessível apenas a iniciados, blindados por todo o tipo de leis que dão a esses burocratas mais intocabilidade que certas castas da Índia antiga, cercados de bajuladores e de mordomias celestiais, o medo e o próprio repúdio das ruas fazem deles pessoas que fluem apenas pelos labirintos e corredores secretos do poder, cercados de um verdadeiro exército de seguranças, prontos para agir e com licença para atirar. Eis aí um retrato acabado e razão maior de nosso atraso histórico.
A frase que foi pronunciada:
“Exigir que as pessoas usem os pronomes de tratamento como Vossa Excelência, por exemplo, é apenas um lapso da consciência de que o você, o Senhor, o Doutor, a Eminência e Vossa Excelência servirão às minhocas do sepulcro exatamente da mesma forma.”
Dona Dita, botando o dedo na ferida das Injustiças Sociais.
Posse
Frei João Benedito Ferreira de Araújo é o novo pároco do Santuário São Francisco de Assis, da Arquidiocese de Brasília. Volta depois de mais de uma década de estudos na Itália. Dom Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília, foi quem celebrou uma bela missa de duas horas, muito concorrida.
Trigo
Por falar em missa, os intolerantes à glúten não podem comungar. O Dr. Juliano Pimentel explica o que deve ser feito, por volta dos 28 minutos e 40 segundos de vídeo.
E-book
Olimpíadas da Língua Portuguesa – Escritos em verso, prosa, memória ou opinião, os textos dos alunos finalistas da 6ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa viraram um e-book recheado de histórias dos lugares onde vivem essas crianças e jovens de diferentes regiões do Brasil. Confira em Escrevendo o Futuro.
Clube da Bossa
Marcar no calendário o Dia Nacional da Bossa Nova e o aniversário de Tom Jobim. O Clube da Bossa leva ao Carpe Diem Garden no CCBB o clima da data. O almoço musical “Bossa Nova Day” com a cantora Lúcia Maria, com direção e violão de Agilson Alcântara, além do baixista Dennes de Sousa e na bateria Pedro Almeida. Couvert R$15, a partir das 11h30 no sábado, dia 25.
Estranho
Um mistério aquela igreja Universal da Entrequadra 514/515 Norte. Ninguém entra, nem sai.
À frente
É bom levar os portugueses a sério. Na Loja do Cidadão, o Na Hora de Lisboa, um aviso aparece no celular de quem pegou senha quando faltam apenas algumas pessoas à frente para o atendimento. Isso permite o deslocamento do local, desobrigando o cidadão a ficar horas aguardando a vez numa cadeira.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
A agência do Núcleo Bandeirante do DCT abre à hora que o chefe quiser. Avolumam-se as reclamações contra aquela repartição. (Publicado em 14/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
É sabido que os extremos, por força de uma repulsão, até imaginária, acabam se tocando. Caso conhecido por nós e por muitos desse fenômeno, que pode até não ter uma explicação racional na física quântica, mas encontra seu exemplo mais perfeito no caso das milícias, formadas por policiais e ex-policiais que passam a agir como justiceiros por conta própria, com seu próprio código de conduta, atuando como verdadeiros criminosos.
Escudados por um corporativismo e com o preparo necessário para enfrentar a bala seus oponentes, esses indivíduos têm por característica o não temor à lei, que conhecem de perto. Principalmente o lado complacente da justiça com esses anti-heróis.
Na escola da polícia com o conhecimento adquirido em preparação, e nas ruas, principalmente com o envolvimento que possuem com autoridades de todo o escalão do Estado, suas fraquezas e culpas, fazem dos milicianos uma tropa mais difícil de combates do que as quadrilhas comuns de criminosos. Uma característica desses falsos heróis e que logo salta aos olhos, é que por sua origem no seio no próprio Estado, fazem com que eles se tornem até mais vis e mais criminosos do que os próprios e tradicionais bandidos.
Esse verdadeiro exército de malfeitores em proliferação, não apenas em regiões do Rio de Janeiro e São Paulo, lembra, para alguns que o antigo Esquadrão da Morte, que atuava na fronteira entre o Estado ditatorial do final dos anos sessenta, gerou outros descendentes, só que muito mais letais e prejudiciais às populações.
Trata-se, na opinião de alguns especialistas no assunto, de um potencial grupo paramilitar que se não vier a ser combatido, na raiz, trará sérios problemas ao país, já atolado na questão da criminalidade. As suspeitas que personagens do alto escalão mantém proximidades com esses grupos, fez acender a luz para o problema.
Pena que o Congresso, tão enredado em problemas pessoais de seus membros com a própria justiça, não possa realizar um profundo inquérito de investigação sobre essa questão, à tempo de colocar toda a sociedade a par de um problema que cresce e que se espalha até dentro do próprio Estado.
Bancadas como a da Bala, em defesa disfarçada, fazem desse grupo também é um assunto da maior importância e que não vem sendo tratado com o cuidado que mereceria. A noção de que esses grupos agem apenas para deter quadrilhas de traficantes e outros bandidos tradicionais, é além de enganosa, uma espécie de antipropaganda que visa angariar apoio popular para suas ações.
Comunidades compostas por milhares de famílias que vivem há anos sob o jugo dessas milícias, sabem exatamente do que estamos falando e sentem, na pele, o domínio ameaçador e violento desses grupos. O medo impera nessas comunidades, quem ousa se opor ao controle desses grupos é ameaçado, forçado a sair da própria casa ou simplesmente morto de morte matada, sendo que as investigações, jamais chegam ao seu curso final. Infiltrados no Executivo e no Legislativo, tanto local como federal esses grupos encontram a simpatia de muitos próceres do governo e mesmo do judiciário. Não por outra razão é possível afirmar que esse é mais um ovo da serpente que vem sendo lentamente chocado no seio da sociedade aos olhos de todos.
Muito mais do que um fenômeno puramente brasileiro, a existência das milícias é mais uma prova da leniência dos Três Poderes em enfrentar uma questão que, mais cedo ou mais tarde, poderá estar fincado em definitivo entre nós. Não se deixem iludir: a questão da violência no Brasil, uma das maiores do mundo, jamais irá recuar pela ação de milicianos ou assemelhados. Pelo contrário, trata-se de mais um fator de insegurança a agravar nosso problema.
A frase que foi pronunciada:
“A invasão de um exército pode ser detida, mas não a invasão das idéias.”
Victor Hugo, romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista francês
Preferido
Curiosamente, o Guinness Book bateu um recorde. É o livro mais roubado do mundo.
Brincadeira
Outra curiosidade que poderia sacudir as feministas é a origem do nome GOLF: Getlemens Only Ladies Forbbiden (Apenas cavalheiros. Damas proibidas.). Seria um escândalo se fosse verdade. Mas não é.
Estocolmo
Um verdadeiro absurdo o preço do material escolar. Em colégios particulares, livros custam uma fábula. Em escolas estrangeiras ou bilíngues, alguns itens são cobrados em dólar. A venda casada também é adotada. Há a opção de os pais escolherem outro estabelecimento, mas se submetem a isso porque o ensino é bom. E é aí que mora o perigo.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
O Deputado Hugo Borghi pediu, ontem, licença à Câmara dos deputados, para fazer uma viagem ao exterior, sem ônus para o governo. Pediu, entretanto, interferência do Legislativo, para facilitar a aquisição de 10 mil dólares. (Publicado em 14/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
É da ineficiência dos órgãos de vigilância, ou mesmo da atenção seletiva de alguns deles na tarefa de proteger o cidadão e os recursos públicos, que o Brasil vai, pouco a pouco, transformando-se, aos olhos de todos, no paraíso das práticas das irregularidades e no mercado de vale tudo, onde prevalece a lei mais forte e poderosa.
Ditado repetido pelo filósofo de Mondubim dizia que “quando os gatos saem, os ratos fazem a festa.” A falta de fiscalização favorece para que todo o país se transforme num inimigo do cidadão, mesmo em Estados comprovadamente evoluídos, como é o caso dos países Nórdicos ou da Suíça, ou mesmo no Japão, que é exemplo de civilidade para o resto do mundo.
Não surpreende que no Brasil, mesmo após a deflagração de operações exitosas como a Lava Jato e outras que poderiam amedrontar muita gente graúda, milhões de reais ou mesmo bilhões desviados dos cofres públicos continuam a voar de um lado para o outro, em malas, meias, cuecas, caixas de papelão ou outros invólucros exóticos e inusitados.
O mais curioso é que, apenas para ficar em eufemismos e não despertar a ira dos cidadãos, esses mesmos órgãos de fiscalização, seja a Receita, o antigo Coaf ou mesmo as agências reguladoras, como a Anvisa ou Anatel, mostram-se exímias e competentes repartições públicas, quando o alvo é o pequeno e displicente cidadão. Todo e qualquer brasileiro se surpreende com a eficiência desses organismos quando o que está em jogo são centavos esquecidos na hora do cidadão prestar contas.
Bilhões passam pelo corredor estreito e expiatório dos fiscais, sem levantar suspeitas. Mas, quando a questão envolve o pequeno e médio contribuinte, o pente fino é rigoroso e cruel. No caso mais recente, divulgado pela imprensa, apenas para ficar em exemplos da hora, nenhum órgão de fiscalização foi capaz de detectar mais de R$ 130 milhões que voaram dos recursos escassos dos hospitais de João Pessoa, na Paraíba, diretamente para o bolso do ex-governador Ricardo Coutinho do PSB.
Essa seletividade, que faz com que os poderosos gozem de blindagem por parte dos órgãos de fiscalização, já é, para o todo e qualquer brasileiro, uma certeza de que vivemos num país imensamente desigual e injusto. Nenhum cidadão, cônscio da realidade nacional, acredita nessa lorota de que todos são iguais perante às leis. O caso de Lula e de muitos de seus asseclas soltos, depois de seguidas manobras da mais alta corte do país, comprova a tese de que a cadeia e a dureza das leis só servem para aqueles que residem no patamar de baixo de nossa pirâmide social.
Essa displicência direcionada de outros órgãos como a Anvisa e outras Agências, criadas para normatizar e fazer valer as leis da ética e do mercado, parecem existir apenas no papel, sem atuação digna de nota. O que fazem os países desenvolvidos serem o que são é justamente a onipresença da lei, de uma legislação enxuta e eficaz, por meio de muitos órgãos de fiscalização, todos devidamente aparelhados, com faro, olhos e ouvidos bem apurados.
Enquanto milhões de reais vão de lado para outro sem chamar a atenção de ninguém, serviços essenciais como planos de saúde, telefonia, luz, água e outros nadam de braçada prejudicando os consumidores ao mesmo tempo que amealham fortunas com serviços de quinta categoria. É nesse banzé, onde as leis valem para uns e para outros não, que o Brasil vem sendo sistematicamente classificado como um dos países com os piores serviços prestados aos seus cidadãos em todo o mundo. Não é fácil!
A frase que foi pronunciada:
“Há dois relógios em todas as esferas do governo. Um que funciona rápido para subir impostos, taxas, “contribuições” e cobrar dos consumidores, e outro, mais devagar, para pagar precatórios, baixar tarifas e reconhecer débitos.”
Dona Dita, aguardando o preço das passagens de ônibus baixar.
Esclarecimento
Em nota à imprensa, a CEB esclarece que o valor de R$600 milhões nada tem a ver com o total desviado pelos supostos criminosos investigados pela operação da PCDF e o MPDFT. Trata-se na realidade, do total histórico de dívidas registradas e vencidas de clientes da companhia. O valor supostamente desviado ainda não foi informado.
Daniela
Uma diferença interessante dos desfiles de beleza entre cadeirantes e não cadeirantes é que quem não pode andar, além de ser escolhido pela beleza é votado pelo engajamento nas causas sociais. Daniela Louvores, miss cadeirante, deu uma entrevista na radio Sinttel sobre o assunto. Veja a seguir.
Falta urbanidade
Comunidade do Lago Norte volta a discutir a necessidade de uma ponte. Interessante notar o argumento da minoria que trata da segurança. Como se ladrão precisasse de ponte para roubar. Por interesse pessoal, não se vislumbra a realidade prática que seria executar o plano já traçado. Foi a mesma coisa quando o hospital Sarah demarcou o terreno. Até gente que já tinha sido tratada no hospital mobilizou mundos e fundos para impedir a obra.
Só a justiça
Empresa que não tiver programa de integridade pode ser preterida pelo GDF. Como dizia o filósofo de Mondubim: “isso é discutir a inflexibilidade do cachimbo de barro.” Não é um pedaço de papel que vai garantir a honestidade. Basta ler as metas e missões de qualquer empresa para se apaixonar na hora! Xilindró é o que resolve.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Grande vitória conseguiram os funcionários residentes em Brasília. O presidente João Goulart assinou decreto prorrogando a “dobradinha” por tempo indeterminado. (Publicado em 14/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Aconteceu, com o já difamado juiz de garantias, o mesmo que aconteceu anteriormente com a proibição de compartilhamento de dados entre a Receita Federal, Bacen, o Coaf e a Polícia Federal e o Ministério Público: ambas foram lançadas na lata de lixo das ideias pré-concebidas, com objetivos escusos, tiradas da cartola para garantir que a justiça não seja jamais aplicada contra os companheiros de triste jornada.
O bom senso, vindo da pressão de juízes de verdade, aprovados em concurso público e que conhecem de perto a dura realidade na aplicação de leis nesses país, prevaleceu sobre estratagemas urdidos em reuniões, realizadas tarde da noite, longe da vigilância da opinião pública.
Apenas seguindo o trajeto e os indícios, vistos, lidos e ouvidos aqui e ali, com o apoio visual de alguns fotogramas que circularam displicentes por aí, é possível juntar os cacos e as pistas que levam a verdadeira origem desse esdrúxulo projeto, apensado de forma clandestina ao pacote anticrime, esse também escalpelado e murcho pelos políticos enredados com a lei.
Nunca a afirmação de Nelson Rodrigues fez tanto sentido como agora. “Consciência social de brasileiro é medo da polícia.” Não precisa ser um grande repórter investigativo, desses que aos poucos vão desaparecendo de cena, para juntar as peças que formam o grande quebra-cabeças que resultou na confecção do pouco engenhoso juiz de garantias.
Dias antes da gestação desse aleijão jurídico, há poucos dias da votação final do pacote anti crime, uma movimentação atípica, seguida de reuniões à porta fechadas entre os altos escalões dos Três Poderes, indicava que muito mais do que parecia transparecer para a imprensa, havia entre esses próceres cavalheiros, um sincero propósito de intercambiar entre os poderes da República, um modus operante conjunto, capaz de reunir toda a munição possível para frear os ímpetos joviais e de justiça por parte dos integrantes da força-tarefa da Lava Jato e de outras frentes de investigação.
Para tanto não bastava apenas a desfiguração do pacote anticrime pelo Congresso. Era preciso ir além, criando mecanismos jurídicos e que não pudessem ser contestados pela sociedade que enfraquecesse o ardor de alguns juízes de primeira instância no cumprimento das leis.
Poderiam, como era desejo de alguns, acabar simplesmente com a primeira instância. Mas isso chamaria a atenção de todos, principalmente de juristas renomados que conhecem esses os ardis e a capacidade dessa gente para manter privilégios.
Nesses conchavos pouco usuais, os Três Poderes se irmanariam para edificar muros legais e outros empecilhos para deter a série de prisões já realizadas e outras que estariam por vir na sequência. A solução encontrada, um tanto em cima do laço e que não despertasse aos ânimos contrários, foi esconder o sapo ou jabuti na viola do pacote anticrime que iria para céu, de modo a apresentar o embuste de uma só vez.
Por alguns dias e em meio ao recesso dos Poderes, o truque deu certo. Só não contavam com astúcia de juízes íntegros e outros brasileiros de bem contra a medida exótica. Para não manchar, ainda mais sua biografia, já por deveras chamuscada, o presidente do Supremo tratou de empurrar o sapo do alto dos céus em direção à terra ou mais precisamente à apreciação do plenário, onde sua culpa pode ser dividida entre onze outros togados.
A frase que foi pronunciada:
“As pessoas costumam dizer: ‘O Tim Maia reclama pra cacete’, mas alguém tem de reclamar.”
Tim Maia, cantor e compositor brasileiro
Lição
Aconteceu em Boston e o fato foi comentado pelo ministro Sergio Moro. Pego com a boca na botija, uma autoridade foi condenada por corrupção. O sucessor tomou posse e por incrível que pareça também cometeu o mesmo crime. Quando o juiz federal Mark Wolf foi comunicado que o terceiro ocupante do cargo inacreditavelmente também cometeu ato ilícito, resolveu aumentar a pena. O próximo pensaria três vezes antes de ir pelo mesmo caminho.
Evasão
O capítulo final do caso da paciente do HRAN com tendência suicida é que por total falta de acolhimento, atendimento adequado e atenção profissional ela resolveu abandonar os pertences na ala 4, para nunca mais se lembrar daquele lugar e fugiu pela porta principal, sem ser importunada ou interrompida. Pelo contrário, quando perguntou para a enfermagem o que aconteceria se ela saísse obteve a seguinte resposta: “Ninguém vai te segurar aqui.”
Novidade
Ainda não funciona, mas a promessa é que as filas acabem para o cadastramento do passe livre. Totalmente digital, mais de 500 mil estudantes serão beneficiados com a medida. Pelo portal do BRB, todas as informações terão espaço para o cadastro. Segundo o presidente do Banco de Brasília, Paulo Henrique Costa, os alunos antigos só precisarão atualizar os dados, já os novos alunos precisam buscar os cartões só para o primeiro registro.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
E não seria diferente, sendo um pedaço do Brasil, vivendo as dificuldades que vive todo o país. No caso de uma cidade como Brasília, resta saber quem pagou o transporte em caminhões. (Publicado em 14/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Nossa imagem e o que pensam da gente aqueles que nos observam de fora e de longe, quase sempre não coincide com aquilo que pensamos de nós próprios. O motivo, dentre vários, é que acreditamos ser o que gostaríamos de ser e quase nunca o que somos de fato. No espelho do ego, nos vemos como nosso ego nos enxerga e não com as diversas fantasias que exibimos para parecermos um personagem aceitável perante a plateia. Assim acontece com o Brasil.
Observado do exterior, ainda é visto como um país tropical, exótico e violento, cheio de contradições, exibindo uma imagem que parece andar na contramão do mundo civilizado. Um país que, desafiando regras e impondo outras que parecem modernas, tenta, desesperadamente, esconder o medo de se mostrar ridículo aos olhos de todos. Também não parece ser exagero, já que muitos reconhecem que possuímos a classe política e dirigente mais cara e corrupta de todo o planeta, ao mesmo tempo em que mantemos os professores mais baratos do mundo e um alunado que dia após dia mantem e confirma sua posição na rabeira dos rankings internacionais que medem a qualidade do ensino público.
Para qualquer setor da vida pública do país que miramos nossa atenção, as contradições e o exotismo estão presentes. Condenamos e prendemos em nossas masmorras indivíduos envolvidos com rinha de animais, mas deixamos à solta criminosos de alta periculosidade. Editamos leis que protegem, dão abrigo e até planos de saúde para cachorros e gatos e desprezamos e condenamos nossos idosos e nossos cidadãos a morrerem nas salas de espera dos hospitais.
Do mesmo modo colocamos na cadeia quem corta uma árvore enquanto deixamos livres conhecidos personagens, madeireiros, garimpeiros e outros profissionais da terra arrasada, ao mesmo tempo em que concedemos a liberdade e o passe livre àqueles que derrubam e incendeiam florestas inteiras, contaminam as águas brasileiras, exterminam nossos rios ou matam nossos indígenas. Nas cidades, multam e prendem quem apresenta carros fora do padrão exigido, enquanto, deixamos de lado quem mata no trânsito. Proibisse fumar em lugar fechado, enquanto o consumo de drogas rola solto em cada esquina. Cracolândias são permitidas, intocadas, onde a cada dia um miserável morre sob os olhos da sociedade, tudo isso em pleno centro de nossas principais cidades. Enquanto isso, quem busca saúde, obrigação constitucional do Estado, morre nas filas e sofre com o mais alto grau de descaso. É justamente nas altas esferas que essas contradições se mostram mais surpreendentes, revelando nosso pendor pelo ridículo, pelo perigoso, pelo incorreto e pelo inusitado.
Os tribunais não se avexam em condenar a anos de prisão quem furta um tubo de pasta de dentes, mas encontra o mesmo argumento jurídico para colocar em liberdade aqueles que desviam bilhões dos cofres públicos. No quesito discriminação, somos imbatíveis.
Aceitamos que se condene ao ridículo, enxovalhe a honra com cusparadas de desprezo, figuras avaliadas como sagradas e veneradas pela maioria dos brasileiros, enquanto repreendemos com falso moralismo, quem ousa fazer pilhérias sobre as ditas minorias. É justamente esse Brasil que é visto e notado do exterior.
Um país em que o comerciante trabalha protegido por grades para não ser assaltado mais uma vez, e em que os criminosos, quando apanhados, passam a receber dos contribuintes um soldo mensal maior do que o salário mínimo. Quem desejar ter uma pálida noção sobre o que os estrangeiros pensam de nós, basta ler a última cartilha distribuída pela Embaixada dos Estados Unidos aos seus cidadãos, alertando para os perigos do Brasil inzoneiro.
Primeiro de tudo, é preciso manter a discrição, permanecer em alerta sobre o entorno, principalmente em locais frequentados por turistas. Para tanto, é preciso que os americanos, que ousem vir para o Brasil, revejam seus planos de segurança. Todo o cuidado é pouco.
A frase que foi pronunciada:
“Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril.”
Millôr Fernandes, escritor, jornalista, cartunista, humorista brasileiro.
Sem comunicação
Sobre o inexistente número telefônico do HRAN, nosso assíduo leitor Renato Prestes esclarece que os telefones dos Centros de Saúde de Brasília não recebem ligações há um ano e meio. Verdadeiro descaso e desrespeito com a população.
Coincidência
Enquanto ouvia a notícia de que havia planos para resgatar Marcola da cadeia em Brasília, e que o PCC comprou várias residências de luxo pelo DF, nosso leitor foi ultrapassado por um carro com a placa PCC0001 em direção aos Jardins Mangueiral, na saída da ponte JK.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Realizou-se a passeata da fome à porta da Câmara dos Deputados. A chuva não atrapalhou. Sabe-se que em Brasília há fome, há desemprego, para os empregados, e há dificuldades para os empreiteiros. (Publicado em 14/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Ler nas entrelinhas é, talvez, o exercício mais preciso e eficaz para entender o que se esconde por detrás de cada declaração política e o que realmente pretende com elas os profissionais dessa arte da prestidigitação das palavras. O que parece, à primeira vista, ser um coelho saído da cartola é, na verdade, um gato que tenta escapar às pressas assim que vislumbra a chance. Os antigos gregos tinham uma palavra precisa para definir essa capacidade falaciosa de hipnotizar as orelhas: demagogia.
Unida à retórica do tipo popular, torna esse ator falastrão num verdadeiro lobo a conduzir ovelhas, capaz, como dizem os sulistas, de levar gato para nadar. É justamente essa capacidade que foi capaz de guindar, ao mais alto cargo do Executivo, um personagem como Lula.
Visto por trás dessa cortina de veludo espesso, trata-se de um personagem, ou como ele costuma repetir, uma ideia. A última proposição desse personagem, que já integra o rol da fama de indivíduos inscritos no folclore político nacional, foi a solicitação para que os petistas criem núcleos evangélicos na maioria dos estados brasileiros, como forma de atrair parte do eleitorado que hoje torce por Jair Bolsonaro.
Nesse ponto é preciso destacar aqui o que poderia ser o utilitarismo da fé, ou retira o que existe de prático no mundo do além. O fenômeno político atual que faz com que boa parte do Congresso Nacional seja dominada por bancadas de orientação religiosa, mormente pelos chamados neopentecostais, despertou no ex-presidiário e ex-presidente a ideia de que um possível retorno ao passado terá que ser necessariamente trilhado pelos caminhos da fé.
Não de uma fé em seu sentido espiritual, mas da fé no poder. Obviamente que essa não é uma ideia brotada originalmente em sua mente, mas possivelmente oriunda da cabeça de seu mentor e estrategista do caos, José Dirceu. Como justificativa de Lula para essa conversão aos caminhos laicos dessa fé, o petista disse: “é preciso aprender com os pastores, eles falam bem e o que as pessoas querem ouvir.”
Num país surrealista como o nosso, não seria extraordinário que Lula transformasse o partido que é seu numa espécie de nova igreja, onde ele seria, necessariamente, o pastor mor. Por certo, Lula e seus sequazes devem sentir uma tremenda inveja dos grandes pastores nacionais.
Milionários e cheios de seguidores, recebem a bênção do Estado, não pagam impostos, não justificam suas fortunas e até podem ser presenteados com isenção nas contas de luz e água, conforme deseja o atual governo. Nesse país que, desde o ano de 1500, busca um rumo, a confusão agora entre religião e política, poder e fé, secularismo e espiritualismo, os horizontes que parecem se abrir à frente, em pleno século XXI, são de uma mistura letal entre igreja e Estado.
Nesse novíssimo país, os cidadãos serão transformados em crentes, os governantes em pastores, as leis constitucionais em dogmas celestiais, criando assim um Brasil onde todas as faltas serão perdoadas e onde a nação deverá render louvores aos seus dirigentes, pois eles passarão a governar por desejo divino. Haverá assim uma direita e uma esquerda religiosa. Talvez até um Supremo celestial, que julgará os casos de heresia e outros atentados à fé cega no Estado. Deus nos livre!
A frase que foi pronunciada:
“Em política, o único verdadeiro é o que não se vê.”
José Martí, poeta, ensaísta, jornalista, tradutor e professor cubano.
Novidade
Senadora Leila Barros apresentou um projeto de Lei que altera o Código Penal que define como crime a prática de perseguição ou assédio de forma insistente, provocando medo na vítima e perturbando a liberdade. A pena que era de dois meses passa para três anos.
Ainda
Mesmo com alternativa de estacionar em local pago, os motoristas preferem parar ao longo do meio fio. A fila é grande e impede o uso das duas pistas.
Chuvas
Em dias de chuva, a engenharia do DER e Administrações precisam sair dos gabinetes para acompanhar os estragos feitos pelas águas. Falta de escoamento e rede pluvial, zonas de contenção de água e principalmente falta planejamento de apoio do governo.
Vale conhecer
Uma beleza a Casa do Cantador na Ceilândia. O prédio foi projetado por Oscar Niemeyer como homenagem aos nordestinos do DF. Conhecido como Palácio da Poesia, o lugar fervilha com a cultura dos cantadores.
Evasão
O capítulo final do “Setembro Amarelo Embuste” é que, por total falta de acolhimento, atendimento adequado e atenção profissional inexistente, uma das pacientes com potencial suicida do HRAN resolveu abandonar os pertences na ala 4, para nunca mais se lembrar daquele lugar, e fugiu pela porta principal, sem ser importunada ou interrompida. Pelo contrário, quando perguntou para a enfermagem o que aconteceria se ela saísse, obteve a seguinte resposta: “Ninguém vai te segurar aqui.”
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
O Serviço de Trânsito recebeu ordens para anotar os carros oficiais que transitam aos sábados e domingos, contrariando ordens do chefe da Casa Militar. Sessenta e dois carros foram anotados, muito embora as providências tomadas daí por diante sejam desconhecidas. (Publicado em 14/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Analisado do ponto de vista do Direito Internacional, ou, mais precisamente, a partir das leis comumente aplicadas nos países desenvolvidos para os crimes comuns, nossos códigos legais parecem saídos de algum planeta distante, tal é a excentricidade e leniência de nossos ordenamentos na punição de criminosos. Se, para os chamados bandidos pé de chinelo, nossas leis já são frouxas e benevolentes, imagina então para os bandidos de alto escalão, também conhecidos como de colarinho branco.
Para o cidadão comum, a impressão é de que as leis, os juízes e os ritos dos tribunais estão sendo concebidos e armados paulatinamente e de tal maneira que a providência última não é a punição do culpado e criminoso, nem tampouco a reparação social do dano ou crime cometido, e sim a tentativa de o mais rápido possível encontrar um meio de colocar o condenado de volta ao seio da sociedade, na vã esperança de que ele venha a se converter, milagrosamente, num cidadão de bem. Todo o arcabouço jurídico induz a pensar que o melhor para a sociedade e para o próprio bandido é encontrar logo a porta de saída da delegacia e voltar aos seus afazeres.
A mais recente dessas esdruxulidades jurídicas, feita sob medida e que parece confirmar a tese de que nossas leis vão se bandeando para favorecer os criminosos, é o tal Juiz de Garantias, uma espécie de quarta instância ou o alargamento das portas de saída das delegacias. São tantos e flagrantes os melindres de nossas leis no abrandamento de crimes, alguns de características claramente monstruosas, que os bandidos perderam, de vez, o medo da polícia e das leis.
Para cada criminoso há um advogado prontamente presente diante do delegado. Para os mais afortunados, ou seja, para aqueles que fortunas desviam para o próprio bolso, uma junta dos mais caros advogados parece de prontidão vinte e quatro horas, dispostos a tudo para impedir que seu cliente seja molestado por delegados e outros inquéritos.
Progressão de pena, com cumprimento de apenas um sexto da pena, regimes semi aberto ou aberto, saidões diversos ao longo do ano, visitas íntimas, ajuda de custo, sigilo entre advogados e presos, proibição de exibição da foto do criminoso, proibição do uso de algemas, intimidação de juízes mais duros pela justiça ou mesmo pelos próprios criminosos, o descontrole das penitenciárias (entregues ao comando das organizações criminosas), penas alternativas para condenados perigosos, desarmamento da população, desvirtuação no Congresso de leis de iniciativa popular e de especialistas no assunto (tornando mais amenas as penalidades aos criminosos) e tantas outras benesses que fazem com que o Brasil seja conhecido em todo o mundo como o país da impunidade e o paraíso para todo e qualquer bandido internacional.
Acostumados a ver tanta impunidade, não chega ser surpreendente que muitos policiais e agentes contra o crime se transformem em justiceiros ou se aliem aos criminosos, o que confere a fama de possuirmos a polícia mais violenta e letal do planeta. O fim da prisão para condenados em segunda instância representa assim uma espécie de cereja do bolo, principalmente para os bandidos de alto coturno.
Tão bizarras têm sido essas situações em favor dos criminosos que são eles os agraciados com a bolsa presidiário e não suas vítimas, que passam a ser apenas mais um número nas estatísticas da violência. Para um conjunto de situações tão surreais como essas, que fazem de nossa justiça motivo de chacota por todo o mundo, os cidadãos de bem já reconhecem que hoje quem efetivamente se encontra preso por detrás de grades de arame farpado e cercas elétricas, escondidos por altos muros e confinados em casa, com medo, é o brasileiro honesto, que não tem a quem pedir socorro.
A frase que foi pronunciada:
“Setembro Amarelo, um embuste.”
Familiar de paciente internado no HRAN.
In loco
Um hospital sem telefone. Assim é o HRAN. Talvez já seja um pedido de socorro para que todos visitem pessoalmente. Sábado, encontro pacientes que tentaram suicídio. Depois de tantos discursos durante as solenidades do Setembro Amarelo, valeria a pena acompanhar o desfecho do atendimento. Registros adequados, política pública envolvida, atenção primária, presença de apoio psicossocial.
Primeira impressão
Primeiro dia, enfermaria em reforma, macas pelos corredores e pacientes completamente largados em cadeiras emendadas para conseguir dormir. O sol castigava. Tudo limpo e constantemente limpado com água e sabão. O corpo funcional fazendo o que podia dentro das precárias possibilidades. Uniforme para médicos e enfermagem não é quesito importante. Talvez para que ninguém saiba quem é quem. Já a nutrição, a segurança e a limpeza, todos são identificados.
Governança
Nada de entrar comida. Bolsas e sacolas minuciosamente revistadas na entrada. Nutrição anotando as particularidades de cada paciente que, vez por outra, eram ignoradas. Intolerantes à lactose ganhavam café com leite, vegetarianos recebiam frango. Apesar do luxo aparente, se não há intenção de atender, qual a razão de um questionário?
Dia a dia
Enfermaria pronta, todos os problemas misturados. Suicidas ao lado de pessoas com disfunção renal, cardiopatas e um mar de gemidos e gritos de dor. Até choro de criança era ouvido. Nenhum atendimento específico para os pacientes em observação. Um remedinho para enjoo que dá sono foi a única coisa prescrita pelo médico. A psiquiatra apareceria na segunda-feira.
Domingo
O relatório do domingo aparentemente melhorou. Diminuíram os internados e o dia se passou sem novidades. Menos barulho durante o dia e um inferno a noite. Seis refeições servidas. Pregão de nomes para entregar o alimento. Pregão de nomes para o atendimento. Poucos pacientes recebem a identificação visual na parede, apenas a pulseira. Aliás, nem o banheiro masculino era diferenciado do feminino. Até que alguém pregou a sinalização improvisada num esparadrapo.
Desespero
Segunda-feira, chega a informação: Dra. Cássia, psiquiatra que daria a alta, está de férias. Não há psiquiatra de plantão. Segue o Setembro Amarelo com Dramin, para dar sono. Não há política pública, nem atenção primária, tampouco presença de apoio psicossocial para as pessoas que mais sofrem com o tabu: os suicidas.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
A numeração dos blocos de Brasília será mudada. Nas superquadras, ao invés de números, os blocos terão letras, para facilitar a identificação. (Publicado em 13/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Pela atual Constituição Brasileira de 1988, em seu art. 19, fica proibido aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento, ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.” Quis a Magna Carta estabelecer, de forma legal e legítima, a separação entre a Igreja e o Estado, conforme, vinha sendo, inclusive, estabelecida, desde o Decreto nº 119-A, depois inserido na Constituição de 1891.
O Estado, dessa forma, é caracterizado como laico. Embora seja facultada a liberdade religiosa, o poder público deve manter equidistância e independência com relação a todos os cultos religiosos e igualmente a igrejas de qualquer credo. Sendo seu dever apenas proteger e garantir o livre exercício de todas as crenças. Essa separação, que de forma alguma significa uma cisão violenta, é garantida por uma espécie de muro legal e abstrato, que é o interesse público. Em outras palavras, isso significa que ao Estado é vedado qualquer tipo de subvenção ou auxílio com dinheiro público à toda e qualquer igreja, seja ela da preferência do presidente da República, dos governadores, prefeitos, deputados, senadores ou outro político no cargo ou função de Estado.
Na opinião de eminentes juristas essa é uma medida essencial e básica para a manutenção da própria democracia e pluralidade de ideias e opiniões. Infelizmente e diversas vezes esse importante quesito legal e constitucional vem sendo desrespeitado desde o primeiro dia da promulgação da Carta de 88, não apenas pelos presidentes, mas por governadores, prefeitos e pela grande maioria de parlamentares. A leitura enviesada e marota do preâmbulo da Constituição que invoca a proteção de Deus, não se refere à esse ou aquele Deus específico, seja de católico ou protestantes, mas ao Deus de todos os crentes.
A experiência ao longo da história da humanidade tem mostrado que as teocracias, nas quais os governos são operados sob o argumento de que essa é a vontade divina e, portanto, indiscutível no plano terrestre e em que os chefes de Estado foram ou são representantes diretos da divindade, são estados ditatoriais e opressores. Nesses países, Estado e Religião formam um único corpo institucional. A cúpula do governo nesses Estados é formada por clérigos, que conduzem com mão de ferro a sociedade, impondo todo o tipo de opressão e sacrifícios, exceto para a alta cúpula, blindada por uma espécie de manto sagrado.
No dizer de Marx Weber, esse tipo de governo utiliza a chamada “ética da convicção” da verdade, contrariamente, as sociedades democráticas são orientadas pela “ética da responsabilidade”, onde toda e qualquer consequência dos atos, das pessoas e autoridades devem ser consideradas e julgadas.
Essas considerações iniciais vêm a propósito das seguidas manifestações do atual governo, que por suas deficiências de leitura da realidade ou do que dizem as leis, vem, em diversas ocasiões manifestando seu apoio, ou mais precisamente o apoio do governo federal à determinadas religiões. Ao afirmar que deseja para a próxima vaga do Supremo Tribunal Federal, “alguém terrivelmente evangélico”, o presidente incorre nesse caso de desobediência à Constituição.
Da mesma forma quando pretende elaborar um decreto concedendo subsídio na conta de luz para templos religiosos, mesmo com parecer contrário do Tribunal de Contas da União, o presidente incorre em descumprimento de preceito constitucional. Do mesmo modo e em igual gravidade, é possível declarar que a formação de uma bancada evangélica, dentro do Congresso Nacional, pressionando e orientando o governo a tomar certas decisões, é uma afronta a esses preceitos trazidos em nossa Carta.
Dizer que o apoio à essa igreja não passa de estratégia política para garantir governabilidade, em nada diminui essa transgressão. O poderio que algumas Igrejas de orientação neopentecostais vêm ganhando no Brasil, principalmente dentro da máquina do Estado, na atualidade, por si só, já deveria ter acendido a luz vermelha dentro do próprio Supremo ou dentro do Congresso, não fosse ele hoje dominado por essas correntes religiosas.
Mais do que fé, no seu sentido estrito, é preciso atenção e reflexão ao que vem acontecendo hoje no mundo em nossa volta. Na Europa, a entrada de grandes massas de refugiados muçulmanos vem acarretando sérios problemas de ordem religiosa, com os forasteiros impondo sua fé pela violência, numa espécie de cruzada às avessas. Muitas Mesquitas têm sido apontadas pelos órgãos de inteligência daquele continente, como sendo centros de treinamento e doutrinação anti Ocidente.
A confusão entre religião e Estado é perniciosa para a sociedade livre, gera conflitos sectários e só servem aqueles que buscam no caos um meio de controlar o Estado. Aqui mesmo no Brasil, a notícia de que o ex-presidente e presidiário Lula, está numa cruzada pelo país em busca de criar dentro das Igrejas evangélicas, núcleos petistas com vista à uma pretensa volta ao poder, revela o poderio dessas confissões religiosas no Brasil atualmente.
Repetia o filósofo de Mondubim: “Um olho no padre e outro na missa”, ou seja, ver e entender as coisas de Deus, mas com um olho no mundo dos homens, suas fraquezas e vícios. O próprio Jesus já ensinava, de forma didática e até profética, já percebendo a grande tribulação que era confundir o Céu com a Terra: à Deus o que é de Deus, e a César o que é de César.
A frase que foi pronunciada:
“A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade.”
Voltaire, escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Vendo esta discussão do sr. Adauto Lúcio Cardoso com o Prof. Hermes Lima, eu me lembrei de uma coisa. Vou perguntar ao dr. Hugo Mósca, que fim levou aquela representação do sr. Adauto contra o então presidente Ranieri Mazzilli e os ministros militares do sr. Jânio Quadros. (Publicado em 13/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Como não poderia deixar de ser, vem aí o novo Bolsa Família. Dessa vez com a cara e a digital do governo Bolsonaro. A fórmula repete a receita que vem sendo feita desde a criação desse tipo de programa social. A cada novo governo o programa ganha as matizes ideológicas juntamente com o conteúdo programático e político do novo ocupante do Executivo.
Apenas por essa faceta, é possível afirmar, entre outras coisas que, o programa social, concebido no governo Fernando Henrique como Bolsa Escola e que visava garantir, por meio de uma renda mínima que crianças e adolescentes não abandonassem os estudos e a escola, fosse sendo mudado, para atender a orientação ideológica de cada governante e não para atender a um problema específico que determinou sua criação.
No governo Lula, que assumiu o poder sem sequer um programa de governo, depois de várias tentativas erráticas no campo social, resolveu absorver o programa e amarrá-los à outros, criando o Bolsa Família, mais abrangente e por isso mesmo, mais interessante aos propósitos daquele governo. Esse foi, sem dúvida o grande “achado” do primeiro mandato de Lula e talvez seu passaporte para mais quatro anos, apesar do mega escândalo do Mensalão. Do mesmo que fizeram com a CPMF, que inicialmente seria para socorrer, por tempo limitado, o caixa do Tesouro, a extensão desse programa, criticado por uns e louvado por outros, foi sendo reeditado para servir de tapa buraco dos cofres públicos. O mesmo parece vai acontecendo com o antigo Bolsa Escola. Chamado, em diversas ocasiões, de programa populista pelo próprio Lula, foi a tábua de salvação de seu governo e da sua sucessora.
Com Dilma instalada no Palácio do Planalto o Bolsa Família foi ampliado até as raias da irresponsabilidade, desde que rendesse dividendos políticos ao grupo no governo. Como ocorre com todo o programa federal, num país continental e onde a fiscalização e a probidade administrativa são sempre exceções às regras, o Bolsa Família se transformou num poço sem fundo, sorvedor de recursos dos pagadores de impostos e um exemplo acabado de irregularidades de todo o tipo, além de ser um cheque em branco entregue nas mãos de maus políticos, para eles arregimentem eleitores com base em critérios subjetivos e utilitaristas.
Em editorial passado foram listados alguns exemplos de mau uso desse programa em todo o país, inclusive apontando casos em que o dono da cachaçaria da esquina ficava, ele mesmo, com o cartão Bolsa Família de alguns de seus frequentes fregueses, como garantia contra calotes. É óbvio que em meio à inúmeras distorções, esse é ainda considerado um dos maiores programas sociais de distribuição de renda de todo o planeta e, por isso mesmo, não pode ser desprezado por nenhum político, principalmente por qualquer candidato e principalmente pelos presidentes da República.
De fato, qualquer político que ouse decretar o fim desse programa, terá que sofrer as consequências dessa decisão. A primeira e mais danosa seria justamente a sua não eleição e condenação política por parte de milhões de brasileiros que vivem sob o abrigo desse programa e não tem nem pressa, nem vontade própria de abandoná-lo tão cedo.
Com Bolsonaro o programa poderá mudar de nome, passando a ser chamado de Renda Brasil. Será, estrategicamente, ampliado também, com a inclusão de vários benefícios, como o décimo terceiro salário (já pago nesse ano) e outros avanços, como um aumento significativo no orçamento do programa. Dessa maneira Bolsonaro pretende atender a mais brasileiros, com vistas a criar também um marco social e próprio ao atual governo, atendendo e atingindo, ainda mais, as regiões mais pobres do país, como o Nordeste, onde o governo não possui ainda uma base política bem assentada e fiel.
Fica, dessa maneira, confirmada a tese de que esse é um programa que veio para ficar, não apenas por sua abrangência e necessidade social, mas sobretudo por sua importância estratégica e política para esse e qualquer outro governo que venha.
A frase que foi pronunciada:
“Começar a trabalhar para perder Bolsa Família? Jamais!”
Entrevistada não identificada na cidade de Buritirama, na Bahia.
Mais empregos
Está prometido e a parceria assinada. Governador Ibaneis se empenha para trazer a CAB Motors, que fabricará o Jeep Stark no DF. A produção é 100% nacional. A Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) de um terreno de 70 mil metros quadrados no Polo JK, em Santa Maria, foi assinada ontem pelo governador em exercício, Paco Britto, e pelo presidente da Terracap, Izidio Santos, no Palácio do Buriti.
Reconhecimento
Faz sucesso a ONG Casa Azul Felipe Augusto. Foi eleita, em 2018, como uma das 100 melhores ONGs do Brasil. Daise Lourenço, abatida pela tristeza da perda do filho, levantou da dor para transformar mais de 33 mil vidas que já passaram por ali desde 1989. Samambaia tem uma dívida de gratidão com dona Daise.
Mau gosto
Interessante o desvirtuamento da discussão sobre o mau gosto de transformar Jesus Cristo em gay. Quem condena essa iniciativa é taxado de homofóbico por não aceitar uma versão homossexual de um Deus. Diz a lei que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, garantida, na forma da lei, a proteção às suas liturgias”. Quando a liberdade de expressão toca na alma de um povo, o “artista” pode até ser enxotado pela porta dos fundos.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
A torre em frente ao Cine Brasília está se tornando uma “obra de igreja”. Nunca vi demorar tanto, e já desmancharam duas vezes. (Publicado em 13/12/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Com relação ao Brasil, dentro da discussão: estatismo versus economia de mercado, é possível, logo de saída, afirmar que continentalidade é destino. Por essa afirmação, entende-se que, no atual estágio de desenvolvimento econômico e social do País, existe há tempos uma ideia, não totalmente errônea, de que o Brasil, por seus recursos naturais e por sua economia pungente, alberga, ao mesmo tempo, um Estado rico, mas que é habitado por uma população, em grande parte, vivendo na faixa da pobreza ou próximo a ela.
Com uma dicotomia dessa natureza, falar em País desenvolvido, sem levar em conta outros aspectos como o Índice de Desenvolvimento Humano ou outros indicadores sociais, torna-se complicado e até injusto. Discussões sobre estatismo ou intervenção do Estado na economia versos liberalismo ou livre mercado, que em muitos países tem sido, há mais de um século, um tema já superado, no Brasil, por suas peculiaridades, como grande extensão territorial, deficiente infraestrutura, desigualdades sociais e regionais, concentração de renda e outros fatores, não é um tema simples e que consiga abarcar todas as variantes do País.
O subdesenvolvimento crônico e persistente está, na visão de muitos analistas, ligado justamente à grande desigualdade social e à alta concentração de renda. País algum logrou atingir o patamar de desenvolvido, deixando para trás o bem-estar econômico de sua população. Evidentemente, há setores que a maioria do empresariado nacional jamais ousou investir, talvez com a perspectiva de um baixo retorno.
Investidores, internos ou externos, preferem escolher áreas onde as aplicações prometem retornos garantidos e a curto prazo. Para complicar uma discussão para lá de complexa, os recentes escândalos envolvendo praticamente todos os membros do governo passado, apanhados em relações promíscuas com os mais altos empresários nacionais, falsamente interessados em investir no País, mostrou que esse problema do livre mercado, ao capturar literalmente o Estado, gera ainda um complicador capaz inclusive de implodir o próprio Estado, de dentro para fora. Foi justamente essa experiência vivida recentemente pelo País que seguramente contribuiu ainda mais para sufocar a economia, levando-a a uma recessão sem paralelo na nossa história.
Deixadas ao Laissez faire, laissez passer, sem regulamentação minuciosa, as empresas privadas brasileiras e mesmo as estrangeiras não teriam temor algum de, em pouco tempo, transformarem-se em agentes predadoras e com alto poder de influência dentro da máquina do Estado. Por outro lado, o modelo de estatismo e de economia centralizada pelo Estado, como tem sido visto nas últimas décadas, mostrou que também o governo é um mau empresário e refém de um corporativismo poderoso que atua abertamente dentro dos Três Poderes, cada um garantindo vantagens e outros ganhos imediatos, mesmo em tempos de crise aguda.
A associação entre a classe política e empresarial tem sido um dos flagelos nacionais e não há no horizonte fórmula capaz de deter essa união, sem uma reforma radical do Estado. De fato, o escândalo do Petrolão trouxe, ao lado dos prejuízos bilionários e quase insanáveis, um conjunto de lições que ainda necessitam ser absorvidas e implementadas e que vão muito além de conceitos como compliance e outros e que se estendem por toda a estrutura histórica do país.
Não aprender com esses erros e crimes, adotando modelos liberais ou estatizantes sem rigorosos critérios e reflexões, é persistir pelos mesmos caminhos que nos trouxe até aqui e de onde ainda desejamos sair a tempo de acompanhar os passos largos deste século XXI.
A frase que foi pronunciada:
“Os jovens estão mais aptos a inventar que a julgar; mais aptos a executar que a aconselhar; mais aptos a tomar a iniciativa que a gerir.”
Francis Bacon (1561 – 1626) político, filósofo, cientista, ensaísta inglês.
Hino
Emmanuelle Coelho, da Agência Brasília, caprichou na matéria sobre a compositora, pianista e professora Neusa França, autora do Hino à Brasília. Veja na íntegra em Um hino que Brasília ganhou na primeira infância. Seria bom o governo estimular a criançada a aprender a cantar o Hino oficial da cidade. Passou da hora de divulgarmos a música de Neusa França e letra de Geir Campos.
Boa
Escola Classe JK, que fica no Sol Nascente/Pôr do Sol, vai ser entregue no início de fevereiro. Mil alunos, crianças entre 6 e 10 anos, serão beneficiados. Está no momento sendo mobiliada graças a uma emenda parlamentar do deputado distrital delegado Fernando Fernandes.
D’além mar
Vila DVO – Projeto Social Escolinha de Futebol Comunitário no Gama é um sucesso. Mais de 300 crianças beneficiadas. Vendo o sucesso do programa, a Escola Americana ofereceu curso de inglês de graça para algumas crianças do projeto. Vantuil, o vigilante foi quem começou tudo. Hoje, um dos meninos que já é rapaz, joga em Portugal.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Para a Procuradoria Geral da República: o governador Ney Braga, do Paraná, ainda tem apartamento em Brasília, apesar de exercer o mandato em seu Estado. (Publicado em 13/12/1961)