Jogos de azar e azar da população

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Charge do Orlando

Para um país que não consegue, sequer, debelar o crime organizado, que cresce a cada ano se infiltrando na máquina do Estado, a liberação dos jogos de azar vem para complicar enormemente o problema da criminalidade, facilitando a lavagem de dinheiro e favorecendo a práticas delituosas. Como é de conhecimento da população brasileira, que está cada vez mais desprotegida e entregue à própria sorte. A expansão das organizações do crime dentro do Estado vai sendo revelada dia a dia, como é o caso da exploração de postos de combustível, transporte urbano e outras modalidades, todas voltadas para dar aparência legal ao dinheiro dessas organizações. Pior é que o crime organizado não se contenta apenas com esses negócios aparentes e já investem pesado no financiamento de candidatos a cargos eletivos por todo o país.

A ideia era revogar importantes trechos da Lei de 1946 para liberar bingos, cassinos, jogo do bicho e apostas em corridas. A votação do PL 2.234/2022, do ex-deputado Renato Vianna, que já passou pela Câmara e agora aguarda conclusão no Senado, já recebeu diversas emendas. Parece que a meta é tornar a população, já endividada refém da jogatina, apesar das falsas promessas de fiscalização dessas atividades. O fato é que o Brasil é um país vulnerável, em todos os sentidos, ao crime organizado e à violência dele decorrente.

Embora parte da população diz apoiar a legalização dos jogos de azar, iludida com a possibilidade na criação de mais empregos e sob as promessas de condições regulatórias eficazes, o temor é grande em relação ao uso dessas atividades para lavagem de dinheiro e expansão do crime organizado. Lembremos que, recentemente, foi revelado que, ao menos, 941 postos de combustíveis em 22 estados estão sob suspeita de controle por facções como o PCC, Comando Vermelho e Família do Norte, que operam esses nichos sob o olhar displicente das autoridades, movimentando milhões de reais por dia. A verdade é que o crime organizado tem lucrado mais com combustíveis (R$ 61,5 bi/ano) do que propriamente com tráfico de cocaína, que gira em torno de (R$ 15 bi/ano).

Em operações denominadas “Rei do Crime” e “Boyle”, descobriram-se esquemas sofisticados do PCC para lavagem de dinheiro via postos e distribuidoras de derivados de petróleo. A situação não é nova e desperta grande preocupação da sociedade. Por outro lado, há confirmações de que as redes criminosas têm se infiltrado em empresas de transporte, creches, asilos, lojas etc., criando uma fachada legal para lavagem, e movimentam milhões em eleições e financiamento de candidaturas. A Operação Lava Jato, iniciada pelo “Posto da Torre” em Brasília, mostrou como o crime se valeu do setor de combustíveis para lavar dinheiro e financiar campanhas, envolvendo corrupção em níveis altíssimos. A fórmula é simples: Crime organizado + negócios lícitos = poder institucional.

Estima-se que cerca de R$ 6 bilhões/ano são lavados formalmente no país,  o que enfraquece a própria integridade do Estado. Vemos ainda que o financiamento de políticos e campanhas são cada vez mais comuns. A influência financeira no processo eleitoral é realidade: mafiosos financiam candidaturas, aproximam-se do poder e expandem seu alcance. Com isso, a população não tem a quem recorrer. Ao legalizar jogos de azar sem estrutura robusta de controle eficaz, o que se tem é o uso dos recursos do Bolsa Família direcionados para apostas, agravando o problema da pobreza. Nada menos do que R$ 3 bilhões em agosto de 2024 foram utilizados para esse fim, o que, por sua vez, estimula o crescimento de uso de cassinos clandestinos e sem lei.

Paralelamente, o SUS já enfrenta custos altíssimos com tratamento de dependência de jogos, sem nenhum preparo, nem recursos adequados para isso. A liberação irrefletida dos jogos de azar pode se transformar num acelerador da corrupção e da lavagem de dinheiro. Nenhuma arrecadação fiscal e geração de empregos serão suficientes para a empreitada dos jogos valer à pena.

 

A frase que foi pronunciada:

“Cuida de evitar os crimes, para que não sejas obrigado a puni-los.”

Confúcio

Foto: reprodução da internet

 

Viagem grátis

Mesa para dois. Brasília, nosso patrimônio, com Bárbara Lins. As entrevistas com Liliane Cardoso despertam, nos candanguinhos que aqui nasceram, uma saudade dos tempos em que a capital crescia ao mesmo tempo que aquelas crianças. Numa conversa descontraída, Liliane traz, aos internautas, memórias embrulhadas na história da cidade. É uma viagem no tempo, revigorante. Veja a seguir.

 

História de Brasília

O panorama napolitano de roupas ao vento nas janelas e nos corredores, outrora privilégio das quadras 409-10 já se estendeu à Asa Norte. O Bloco 42 comanda o espetáculo. (Publicada em 05.05.1962)

Erosão

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Ilustração: jusbrasil.com

 

Você parece estar perguntando se organizações criminosas brasileiras como o PCC (Primeiro Comando da Capital), o CV (Comando Vermelho) e outras poderiam vir a se constituir, um dia, como organizações paramilitares ou até políticas — talvez nos moldes de grupos armados ou milícias que, em outros contextos, assumiram papéis de poder institucional ou regional. De fato, isso já ocorre. Organizações como o PCC e o CV, embora não sejam paramilitares no sentido clássico (com ideologia política explícita ou objetivo de tomada formal do poder), possuem, como é sabido, estrutura hierárquica, armamento e controle territorial em favelas e periferias urbanas, tudo muito similar às milícias ou grupos insurgentes em outros países. Afinal, já controlam comunidades inteiras, impõem regras, aplicam “justiça”, cobram impostos (“arrego”) e negociam com políticos e policiais. Em alguns casos, como em partes da Amazônia ou do Nordeste, já há controle de rotas logísticas e até pactos locais de governança informal com elites corruptas ou agentes do Estado. Pior é: e se um dia vierem a se transformar em partidos ou forças políticas oficiais? Financiar candidatos, isso eles já fazem. Mas tudo isso vai depender do grau de deterioração do Estado democrático e do pacto social.

Diferente das FARC na Colômbia ou do Hezbollah no Líbano (que têm discursos ideológicos e legitimidade entre parte da população), o PCC e o CV não possuem, por enquanto, um discurso político claro. São essencialmente organizações voltadas ao lucro, por meio do narcotráfico, extorsão, roubo e outras modalidades de crime. No entanto, não se pode negar que há um histórico antigo de alianças com políticos locais, especialmente em regiões onde o Estado é ausente, e isso, obviamente, pode se intensificar com o tempo. Agora, caso o Estado brasileiro entre em um processo de colapso institucional severo (sendo a corrupção a indutora desse colapso), ou haja um processo extremo de fragmentação federativa, é possível  que esses grupos venham a se institucionalizar, como máfias que se tornaram partidos ou milícias que viraram governos locais. Tudo vai depender da saúde institucional e ética dos poderes. Mas em relação às milícias do Rio, vários indícios e evidências mostram que já têm um pé no mundo político, com vereadores, deputados e até governadores ligados a essas redes. O avanço delas dentro do Estado é mais claro do que o das facções tradicionais.

Nesse sentido, as milícias são, por enquanto, o elo mais visível entre o crime organizado e o poder político institucional no Brasil. Verdade seja dita, o PCC e CV já operam como Proto-Estados paralelos em algumas áreas. A transformação em uma força paramilitar explícita ou política organizada pode ser improvável a curto prazo, mas não inconcebível a longo prazo, especialmente se o que assistimos no dia levar-nos ao colapso institucional do Estado. No entanto, é preciso aceitar que o futuro urbano de grandes metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo diante do fortalecimento do crime organizado é, para dizer o mínimo, nebuloso.

Em São Paulo, o PCC atua com baixa visibilidade e alta organização, quase como uma empresa clandestina com cadeia logística e disciplina interna. O Estado, praticamente “coexiste” com ele. No Grande Rio, há três forças paralelas disputando território: CV, TCP (Terceiro Comando Puro) e milícias armadas ligadas a ex-policiais, que cobram taxa de segurança, vendem gás, internet e fazem justiça à margem da lei. Caso o crime organizado consiga penetrar nas estruturas políticas locais, como vereadores, prefeituras, associações de bairro, a coisa está feita. Pois eles podem facilmente influenciar decisões de urbanização, como transporte, serviços públicos. Além, é claro, de controlar o “voto de cabresto” nas favelas e periferias. O cenário futuro promete o aumento da favelização e de “zonas autônomas” de fato, que são áreas onde a polícia não entra ou entra apenas com operações de guerra.

Entra, ainda nesse rol de infortúnios, a questão da liberação dos jogos de azar, que pode facilitar ao máximo a lavagem de dinheiro. Mas isso depende também do enforcement do Estado ou sua capacidade de ações e procedimentos legais para garantia das leis. Facções e milícias já atuam em bicheiros, caça-níqueis, máquinas ilegais e apostas online. E com a legalização dos jogos físicos, passaram a criar casas de apostas como “fachadas”,  onde declaram lucros fictícios em jogos de baixa fiscalização. Com isso, misturam dinheiro limpo e sujo, dificultando rastreamento. Além disso, se utilizam de “laranjas” e empresas de fachada para abrir cassinos, bingos e plataformas online. É preciso evitar a todo custo a transformação do crime em uma espécie de “capitalismo criminoso sofisticado”. Na questão dos jogos de azar, onde os lucros são bilionários, a corrupção na máquina do Estado favorece, ainda mais o crime. A verdade é que foi dada liberação dos jogos de azar sem uma devida regulação forte. Seria necessário empreender uma colaboração direta entre Receita Federal, COAF, Polícia Federal, MPF e bancos. O que não podemos negar é que cidades como Rio de Janeiro e São Paulo enfrentam uma erosão progressiva da autoridade estatal em muitos territórios populares.

 

A frase que foi pronunciada: 

“Uns venceram por seus crimes, outros fracassaram por suas virtudes.”

William Shakespeare

Imagem: reprodução da internet

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Os pontos de taxis na W-3 estão tomando espaço demais, além do necessário. É um abuso, porque enquanto sobram 10 vagas em cada posto, os carros particulares têm que estacionar longe demais, e às vêzes não há local. (Publicada 04.05.1962)

Mais rápido do que um raio

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Charge do Orlando

 

Todos os meses, os brasileiros torram mais de R$ 30 bilhões em apostas de todo o tipo, sobretudo nas chamadas Bets, que são apostas em jogos de azar, geralmente nos ambientes online, onde os resultados esportivos diversos estão à disposição dos indivíduos, bastando, para isso, um toque de botão ao celular. Longe de se constituir num fenômeno positivo para a sociedade, para as famílias e para o próprio indivíduo, essas apostas vêm arruinando economicamente os cidadãos, transferindo verdadeiras montanhas de dinheiro para os donos desses negócios, sendo que parte dessa dinheirama vai parar, diretamente, nos cofres das organizações criminosas, que, segundo os jornais, usam o artifício para a lavagem de dinheiro.

É o dinheiro do povo financiando e fortalecendo legalmente o crime em nosso país. Talvez, por essa razão é que é possível deduzir que, desde que os sites de jogos e dos cassinos online se espalharam pelo país, curiosamente, tem aumentado também o poderio dessas organizações, que agora se espalham pelo Brasil, de Norte a Sul. A equação é simples: cresce o dinheiro em apostas, cresce a criminalidade ligada a eles. Em resumo, são pouquíssimos ou quase nulos os benefícios gerados pelo setor de jogos de azar. Como o próprio nome indica, o azar fica sempre para quem aposta e a sorte, invariavelmente, vai parar no bolso dos espertalhões, donos desse tipo de negócio, que não passa de mais uma jogada de malandro aplicada contra os incautos de sempre. A diferença é que, agora, o setor da jogatina passou a ser “regulamentado”, depois de sua implementação no começo deste ano.

Se juntarmos a liberação dos jogos de azar a fatores como o tradicional assistencialismo político à moda brasileira, com outros elementos como o Bolsa Família e com a conhecida e nada eficiente fiscalização dos órgãos de Estado, terá, em mãos, a receita ideal para a transferência de renda dos mais necessitados para uma casta de pessoas mal intencionadas, que se perpetuam no topo da pirâmide social. A fórmula vem desde a Roma antiga: dê-lhes pão e circo, torne-os dependentes do poder central e todo o resto seguirá como quer a classe dirigente.

Os recursos oriundos de programas sociais deveriam, dentro do bom senso e da ética, ser utilizados para a compra de alimentos, remédios e outros gastos necessários a uma vida com o mínimo de dignidade. Quando se verifica que esses recursos estão sendo gastos, não para os fins de necessidade, mas para a manutenção de vícios como os jogos de azar, a impressão que deixa no cidadão de bem, que, afinal, é quem custeia esse e outros programas assistencialistas, é que tanto o governo como aqueles que utilizam esses benefícios estão fazendo a população de trouxa.

Aqui também a questão é simples, ou pelo menos deveria ser: o Bolsa Família não pode ser utilizado para fazer apostas online. Mesmo assim, os beneficiários do Bolsa Família continuam apostando nesses sites de azar; para isso, utilizam milhares de estratégias. Somente no último mês de agosto, os beneficiados com esse programa gastaram mais de R$ 3 bilhões em sites e casas de apostas. O governo finge que não vê. As autoridades, idem. Somente os bancos, que nunca perdem dinheiro, conhecem essa realidade e passam a restringir créditos aos viciados em jogos, com medo, óbvio, de calote por inadimplência.

Já foi mencionado aqui, neste espaço, que, em muitas cidades do interior, quem fica com o cartão de benefício são os donos dos botecos mais próximos, que são vistos com frequência nas filas nos dias de pagamento. Há ainda aqueles que defendem que o governo não deveria, de forma alguma, interferir na autonomia dos beneficiados por esses programas, fazendo auditoria nesses gastos.

Já se sabe que as apostas online e outras modalidades de jogos de azar retiram recursos tanto do consumo normal como ainda geram crises e dívidas, muitas delas impagáveis. Muitos economistas chegam a dizer que as Bets estão tirando dinheiro da chamada economia real, impactando as famílias e gerando problemas generalizados de saúde. O mercado bilionário das apostas esportivas diz que tudo isso é fantasia, pois não enxerga a cor do dinheiro, venha de onde vier. A liberação desses jogos, como já era previsto, foi um enorme erro, pois a conta, até aqui, tem sido cara, principalmente para a sociedade e a economia do país. O crime organizado diz que isso é invenção. Esse setor, que nada se diferencia dos prestidigitadores que agem nas ruas, enganando os passantes, teve, segundo estimativas subdimensionadas, mais de R$ 70 bilhões de lucros nesses últimos doze meses.

Liberado desde 2018, sob a promessa de que a regulamentação definitiva viria de imediato, essa, de fato, não aconteceu. Enquanto isso, como sempre, os apostadores continuam na ilusão de ganhar alguns trocados seguindo a antiga fórmula de arruinar a própria vida mais rápido do que um raio.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Se você não consegue identificar o otário na primeira meia hora na mesa, então você é o otário. ”

Mike McDermott

Mike McDermott. Foto: theguardian.com

Armadilhas

A seguir, a imagem de uma grade, talvez da rede fluvial, totalmente danificada. O resultado são transeuntes desatentos quebrando o pé ou colocando pino no braço. O ocorrido é na 214 norte.

 

História de Brasília

Com a inauguração do Hotel Nacional muita gente pensou numa debacle do Palace Hotel, a tradição de Brasília. Mas não houve isto. O Palace é que por conta própria está se suburbanizando. (Publicado em 29.04.1962)

Paraíso online e inferno na terra

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Foto: Bruno Neves / Agora no Vale

 

          Aos poucos, as fichas começam a cair, despertando as pessoas para os enormes malefícios gerados pela liberação desenfreada da jogatina no país. Neste mundo do faz de conta, os cassinos entraram na vida da população para subtrair-lhes a saúde mental e as parcas economias, destruindo pessoas e famílias inteiras, lotando os hospitais públicos com um novo tipo de enfermo: o otário, reduzido agora a um ser paranoico, a quem os espertalhões de sempre depenaram sem dó ou piedade.

          Nesse caso, fazer boletim de ocorrência na delegacia mais próxima de nada adianta, trata-se de um roubo ou subtração legalizado. É a nova modalidade do “conto do Vigário” na forma de um suposto bilhete premiado ou passaporte para a fortuna fácil. O mais patético e até impensável, mesmo para os padrões marotos de nosso país, é que o dinheiro usado para as apostas, nessas casas de jogos online ou Bets, vem também e diretamente do auxílio concedido pelo Bolsa Família, um dinheiro que veio fácil e que do mesmo modo será tungado pelos donos desses cassinos.

         Depois de fazerem de tudo para aplainar as veredas para a volta dos cassinos, permitindo que eles atuem por todo o país, as autoridades ensaiam agora um movimento lento e aparentemente falso no sentido de pôr uma certa ordem nesse banzé.

          O lobby da jogatina é poderoso, dentro e fora das instituições brasileiras, como no Congresso. Mas quando esse tema escala no patamar dos problemas nacionais, transformando-se numa real e complicada questão de saúde pública, não há mais como esconder ou protelar esse verdadeiro crime institucionalizado.

         Atento a esse problema, o Ministério Público Federal (MPF), que até agora vinha se ocupando em reprimir a direita política, parece que estuda a possibilidade de entrar com uma liminar visando interromper o funcionamento de todas as chamadas Bets que atuam de Norte a Sul no Brasil. Segundo as autoridades, mesmo aquelas Bets que foram autorizadas a funcionar pelo Ministério da Fazenda poderão ter seus registros cassados. O mais curioso é que somente agora o governo e o Judiciário se deram conta de um estudo realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, mostrando que as Bets podem causar um prejuízo de mais de R$ 117 bilhões anuais à rede e a estabelecimentos comerciais em todo o país.

         Até mesmo o Banco Central já entrou nessa discussão, mostrando que os recursos mensais arrecadados pelas Bets variam entre R$ 18 e R$ 20 bilhões. Nesse bolo, os beneficiários do Bolsa Família entraram com nada menos do que R$ 3 bilhões em pix para as Bets, só em agosto. É o dinheiro do leite das crianças indo alimentar os gatos gordos da contravenção. Gatunos, que diga-se de passagem, sempre foram inalcançáveis pela justiça. Mesmo a rede bancária nacional parece ter acordado para o problema, já que muitas apostas são realizadas por portadores de cartão de crédito, muitos dos quais já se encontram inadimplentes.

         O mais notável em todos esses novos contos do Vigário é que os perdedores são os de sempre: a população em geral e o país, que arrumou agora mais uma sarna para coçar. Mas, talvez, fique o alento de que o Brasil é, hoje, o primeiro colocado no ranking de usuários de cassinos virtuais e de apostas, superando países com larga tradição nesses assuntos delituosos. Não por acaso, quatro grandes instituições que atuam hoje no mercado brasileiro, como o Itaú, o Assaí, a Tok &Stok e o XP publicaram em seus reportes um alerta sobre os altos níveis de inadimplência de famílias que vêm aumentando de forma assustadora nesses últimos meses e que, segundo afirmam, estão sendo drenados para as casas de apostas online.

         No caso do Banco Itaú, observou-se que até o dinheiro que era guardado em poupança e outras aplicações acabaram sendo desviados para custear as apostas feitas nessas casas de jogos. Essas verdadeiras lavanderias online da poupança nacional irão fortalecer um setor específico e muito particular de nossa economia, representado pelos cartéis do crime organizado, que têm agora, nessas Bets, um paraíso aberto para a prosperidade de seus negócios.

 

 

A frase que não foi pronunciada:

“Se o vício dele não atingisse a família, tudo bem. Mas todo vício envolve a família. Por isso nunca vale à pena começar.”

Dona Dita

Charge do Orlando

 

História de Brasília

Outra coisa: o sr. Laranja, no dia em que aproveitou um bilhete do sr. Paulo Nogueira para saber o nome da Comissão de Inquérito, assinou uma portaria, que foi, depois, nervosamente recolhida da Imprensa Oficial, como foi também recolhida a circulação do Boletim da Companhia. (Publicada em 19.04.1962)