Um quinto dos brasileiros convive hoje com os efeitos da estiagem prolongada e chuva insuficiente. A maioria das bacias hidrográficas das regiões Nordeste e Sudeste está sob séria ameaça, com os níveis dos reservatórios abaixo do normal. Trata-se da menor média histórica na quantidade de chuvas. Importantes áreas urbanas, já enfrentam o racionamento.
O comprometimento para a produção de energia elétrica tem estendido os efeitos para a produção industrial e agrícola, ocasionando prejuízos, ainda não calculados, à economia dos estados afetados. No ano passado, 1.280 municípios de 13 estados do Sudeste e do Nordeste decretaram situação de emergência pela falta d’água. Neste ano, o número se repete.
A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil está literalmente inundada com os pedidos de socorro e emergência, vindos de toda parte e ao mesmo tempo. As práticas de pesca e a navegação no Velho Chico estão seriamente comprometidas, trazendo ainda mais problemas para a sofrida população ribeirinha.
O desabastecimento entrou para o vocabulário das autoridades e da população e, em alguns casos, esse fato é inédito. A captação de água nos chamados reservatórios de volume morto está sendo utilizada, alguns pela primeira vez.
O recente acidente ocorrido no município de Mariana, em Minas Gerais, considerado como maior área de mineração do Brasil e um dos grandes mundialmente, ameaça matar o Rio Doce, dizimando espécies animais e vegetais do rio, comprometendo o abastecimento de milhões de pessoas, prejudicando a agricultura e a indústria localizadas ao longo do curso d’água.
Autoridades ligadas ao meio ambiente alertam ainda que as 27 barragens espalhadas pela região comportam ainda 27 bilhões de toneladas de dejetos industriais carregados de produtos venenosos que, por falta de fiscalização adequada, podem simplesmente inviabilizar a permanência de população nas localidades.
Outra ameaça apontada por cientistas ambientais é a possibilidade de mais de 700km do leito do Rio Doce serem cimentados pela lama industrial, liquidando, de vez, com esse importante curso d’água. Caso a previsão venha se confirmar, estaremos diante da maior tragédia ambiental de todos os tempos, com reflexos imprevisíveis para o futuro das populações.
Em visita feita só uma semana depois do acontecido, a presidente mais impopular da história ameaçou com multas irrisórias a mineradora e que não cabe a ela aplicar, apenas na tentativa de se mostrar presente ao problema, esquecendo-se, contudo, de dizer por que os órgãos de fiscalização dessa atividade de alto risco não foram capazes de reconhecer os riscos antecipadamente.
A tragédia em Minas Gerais fez acender o alerta sobre o marco regulatório da mineração que hiberna há anos no Congresso e mesmo reaver o estatuto que regulamenta a extração de minerais, excessivamente permissivo a grandes e riquíssimas empresas mineradoras, cujo o lobby é poderoso e bastante operante em Brasília.