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com Circe Cunha // circecunha.df@dabr.com.brDesde 1960
Desde que a frota de Cabral aqui aportou em 1500, o Brasil nunca experimentou uma verdadeira revolução, no sentido de transformação profunda e radical dos costumes. Do ponto de vista dos índios que habitavam essas paragens, a chegada do branco europeu inaugurou a temporada de invasores que viriam na sequência em grande número, pondo fim definitivo ao paraíso de Pindorama. Para eles, talvez, tenha havido uma revolução, no sentido negativo do termo.
Seguimos assim, meio adormecidos e desanimados durante todo o período colonial. Da mesma forma, continuamos lerdos ao longo da fase de império. Novidades, quando havia, chegavam com meses de atraso e não animavam o grosso da população. Prosseguimos, igualmente, deitado eternamente em berço esplêndido ao longo dos período republicano.
Seguimos assim, meio aparvalhados durante a primeira década do século 21, incorporando pequenas mudanças, mas sem o ímpeto para sacudir a poeira de 500 anos de história. O tamanho territorial do país e a miscigenação inédita de povos de três continentes conferiram à nossa personalidade traços de comportamento que oscilam entre a abulia profunda e os píncaros da ansiedade. Seguimos assim, meio Pedro Malasartes, meio Macunaíma.
O homem cordial e inzoneiro, propenso a substituir as regras do manual pelo jeitinho fácil. Não fossem os avanços da tecnologia da comunicação, prosseguiríamos esquecidos e felizes nesta parte do planeta, alheios ao restante da humanidade. Talvez tenha sido justamente essa interação com o restante da espécie humana que tenha reacendido nos jovens o desejo de sacudir a poeira. Lampejos dessa inquietação repentina foram propiciados pelas gigantescas manifestações de rua que varreram um governo que se propunha a permanecer para sempre no poder.
No futuro, quando os pesquisadores se debruçarem sobre a história dos brasileiros, o curto período que marca as recentes manifestações de rua merecerá detida análise, justamente por marcar um acontecimento sui generis na nossa trajetória como nação. Nossa revolução popular contra a indiferença secular das autoridades foi propiciada pelas facilidades cibernéticas e arregimentação das pessoas, trazidas pela tecnologia dos celulares e pelas redes sociais interligadas à internet, mesmo que a limitem propositadamente.
Sem esses recursos da ciência moderna, dificilmente haveria as grandes manifestações de ruas. Indiretamente, também, o governo Dilma foi apeado do poder pela tecnologia. Deve-se também aos avanços da tecnologia o nível de informação factual da atual geração, que toma conhecimento dos fatos, em tempo real, diminuindo assim o período de resposta.
A despeito desses avanços, nossas escolas permanecem relegadas ao passado de atraso, alheias ao progresso e presas a métodos de ensino que já não empolgam e atraem os mais jovens. Os mesmos movimentos de rua que expulsaram Dilma e sua turma do Palácio do Planalto ameaçam agora sacudir as escolas de todo o país com a tática de ocupar esses espaços até que autoridades adotem medidas moralizadoras e de transparência na gestão dos recursos públicos. Os escândalos refentes aos desvios de recursos da merenda escolar, como ocorridos em São Paulo, poderão se alastrar por todo o país a um clique do celular ou do computador.
O que começou como um caso de corrupção ganhou pauta mais atualizada e mira agora na precariedade física de nossas escolas e na forma atrasada como ainda lidamos com a educação de jovens. Passados esses instantes de interinidade do governo Temer, essa poderá ser a nossa segunda revolução e a que, sem dúvidas, trará maiores benefícios futuros para a nação.
História de Brasília
Ausência marcante: ministros militares. Quando se formava no pátio de manobras a guarda de segurança do sr. João Goulart, os ministros militares, da Marinha, Exército e Aeronáutica, tomaram um avião da FAB e rumaram para o Rio. (Publicado em 6/9/1961)