O fim da história no Brasil

Publicado em Íntegra

Desde 1960

com Circe Cunha e MAMFIL

colunadoaricunha@gmail.com

Fukuyama, filósofo e economista nipo-americano autor do polêmico best-seller O fim da História e o último homem”, em que apontou a queda do Muro de Berlim como marco que deu início ao fim dos processos históricos de mudanças, que seriam substituídos pelo liberalismo e pelo triunfo da democracia liberal, em recente entrevista, teceu comentários instigantes sobre a crise brasileira, cujos desdobramentos vem acompanhando de perto com lupa de estudioso dos problemas humanos.

Em sua avaliação, o momento brasileiro está repleto de vantagens únicas e de grandes desafios, principalmente no âmbito político, em que se anunciam transformações significativas. No entanto, para o cientista, é preciso evitar que o combate necessário à corrupção seja arrastado para o campo ideológico, como bem pretendem os personagens envolvidos nesses casos que estão, portanto, na mira da Justiça.

Entende Fukuyama que há, em nosso país como de resto em toda a América Latina, um complicado entrelaçamento entre a elite política e empresarial, ambos acostumados historicamente com as benesses advindas da corrupção. O que destaca o Brasil nesse cenário é a existência de uma imprensa livre e independente, aliada a sistema judicial atuante e a uma sociedade civil mobilizada, que, de certa forma, impedem que os maus-feitos sejam varridos para debaixo do tapete como era feito no passado.

Nesse ponto, Fukuyama se diz preocupado com a possibilidade de o combate à corrupção, que era consenso político da sociedade, ansiosa pela melhora nos serviços públicos, se transformar em batalha ideológica entre a esquerda e a direita. Para ele, esse impasse seria ruim tanto para um lado como para o outro, prejudicando a sociedade como um todo. Nos Estados Unidos, lembra, a sociedade civil teve que se esforçar por décadas, a partir do século 19, para modernizar os serviços públicos, acabar com as indicações políticas e com a corrupção.

O estudioso considera ainda: “É preciso desalojar os velhos atores e dar lugar aos novos. Sistemas corruptos não se consertam sozinhos. O Brasil precisa de nova geração de políticos que não esteja atrelada ao velho jeito de fazer as coisas, mas empenhada em agir de modo diferente. Não acho que isso seja impossível, mas exige tempo”. Para tanto, é necessário impor limites ao capitalismo, criando uma rede de segurança social para proteger as pessoas do mercado. “Não é desejável que o capitalismo faça tudo o que quer, aconselha, mas também não se pode politizar qualquer tomada de decisão econômica”.

Na avaliação do economista e professor da Universidade de Stanford, o combate à corrupção não é questão fundamentalmente cultural, mas de expectativas, ou seja, é preciso que ocorram sérios reveses com quem pratica a corrupção, para que as pessoas entendam que esse não é o caminho. “As normas sociais só mudam com regras melhores e pressão social”, enfatizou.

 

A frase que não foi pronunciada

“O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza. O roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.”

Padre Antonio Vieira

 

Release

» GDF organiza leilão de bens inservíveis no dia 22, às 10 horas, no SOF Norte, Quadra 1, Conjunto A, Lote 8. Os interessados podem ver a mercadoria entre 10 e 21 de julho. Entre os objetos à venda, estão móveis, eletrônicos, eletrodomésticos e veículos. Quaisquer reparos que os aparelhos necessitem para funcionar e o transporte dos itens são de responsabilidade do comprador.

 

Foco

» Mais direitos para quem tiver 80 anos de idade ou mais. Foi inserido no Estatuto do Idoso que, “entre os idosos, é assegurada prioridade especial aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades sempre preferencialmente em relação aos demais idosos”.

 

Como funciona

» Ministério da Saúde anuncia investimentos de R$ 1,7 bi. É preciso que a população tenha em portais de transparência a oportunidade de acompanhar o trajeto da verba. Diz-se que será empregada em capacitação e compra de 9 mil ambulâncias. Onde? Quem receberá? Qual o valor da divisão? O que é necessário para receber? Há obrigatoriedade de prestação de contas?

 

Realidade

» A propósito da nota acima, em maio deste ano, o Ministério da Saúde anunciou o repasse de R$ 20,5 milhões para hospitais universitários do Centro-Oeste, e a situação precária é a mesma.

 

Pé firme

» Moradores do Lago Norte andam com o artigo 28 da Lei Federal nº 6.766/79 no bolso. “Qualquer alteração ou cancelamento parcial do loteamento registrado dependerá de acordo entre o loteador e os adquirentes de lotes atingidos pela alteração, bem como da aprovação pela Prefeitura Municipal, ou do Distrito Federal quando for o caso, devendo ser depositada no Registro de Imóveis, em complemento ao projeto original com a devida averbação.”

 

História de Brasília

Com a concorrência na mesma praça feita pela Willys, a Vascal fechou as portas. Agora, a oficina da Willys, que está em lugar irregular, não pode dar a mesma assistência aos carros de sua linha e, para encurtar a conversa, se o serviço não piorou, melhorar mesmo é que não melhorou. (Publicada em 30/9/1961)

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