Muda Brasil, surda Brasil, cega Brasil

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

jornalista_aricunha@outlook.com

com Circe Cunha e MAMFIL

Entre o que deseja a sociedade e o que quer a classe política dominante no Brasil, existe uma distância imensurável e que parece aumentar a cada dia. O fosso que vai se abrindo entre os representantes políticos e os cidadãos, ganhou maior amplitude com as investigações da Operação Lava-Jato.

No Brasil, como em parte do mundo Ocidental, sociedade e elite política vivem não só realidades diferentes, mas em mundos antagônicos. Qualquer pesquisa de opinião demonstra que a classe política é mal avaliada. Pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas, neste ano, mostrou que apenas 5% da população confia nos partidos políticos. Trata-se do mais baixo índice de todos os tempos. A falta de confiança nesse patamar contamina os mecanismos da própria democracia.

Vivemos num labirinto onde, para manter a aparência de Estado democrático de direito, somos obrigados a conviver com leis que não servem para a realidade. Uma lida na Constituição brasileira é uma viagem ao desconhecido. Como acreditar no Brasil quando um juiz aceita receber R$ 600 mil mensais como remuneração?

Com relação à organização política, o que a sociedade anseia é pelo fim dos privilégios, a começar pela prerrogativa de foro. Aqui em Brasília, a população assiste, a cada dia, à sequência ininterrupta de denúncias, envolvendo os deputados distritais nas mais cabeludas transações. A situação chegou a tal ponto que o Tribunal de Justiça do DF determinou o afastamento de toda a Mesa Diretora da Câmara Legislativa, a começar pela própria presidente da Casa. Acéfalo, os distritais tiveram que encontrar, às pressas, novos membros para comandar o Legislativo local, não sem antes se certificar de que os novos ocupantes da Mesa se manteriam fiéis aos colegas defenestrados pela Justiça.

Desde que foi fundada, a CLDF vem brindando a população de Brasília com escândalos de toda a ordem. Não surpreende, pois, que, duas décadas depois de sua criação, a Justiça venha determinar que polícia empreendesse buscas e apreensões dentro do Poder Legislativo, tal e qual é comumente realizado nos covis do crime organizado. É a desmoralização completa. Pior de tudo é a população constatar que as suspeitas da polícia são de que os recursos públicos foram desviados justamente da área de saúde, onde é comum encontrar cidadãos morrendo à míngua nas portas dos hospitais.

É preciso lembrar ainda que um ex-presidente dessa mesma Casa cumpre pena pesada num presídio de Curitiba. Os brasilienses já perceberam que, em termos de representação política, estão sós e entregues à própria sorte. O que parece mais estranho é a coragem de votar em figuras que mais adiante subtraem não só o que poderia estar na carteira, mas a própria dignidade.

A frase que foi pronunciada

“Se, por vezes, o juiz deixar vergar a vara da Justiça, que não seja sob o peso das ofertas, mas sob o da misericórdia.”

Miguel de Cervantes

Tristeza

» Asta Rose Alcade, a dama da ópera de Brasília está hospitalizada. A cidade está triste.

Alegria

» Ex-alunos do Colégio Rosário estão organizando um encontrão no local. Sábado, 10 de dezembro, durante todo o dia.

Release

» Na peça Infinito vazio, o universo feminino é trazido com sua delicadeza que nos ensina a ser mais afetuosos, explicam os diretores Valdeci Moreira e Ricardo César. Esse espetáculo poético-musical já passou por Goiás e Minas, estará em Ceilândia, hoje, e em Samambaia, em 1º e 2 de dezembro. A peça ganhou o Prêmio Sesc de Teatro 2013 e, agora, o projeto é patrocinado pelo FAC/DF, trazendo elenco formado apenas por oito mulheres.

Aposentadoria

» Solange Calmon apresenta o último programa INCLUSÃO transmitido pela TV Senado. Sábado, às 20h, e domingo às 8h e 16h. Com a sensação de missão cumprida, essa profissional da notícia coleciona na bagagem muitos amigos e gratidão profunda de tanta gente que teve espaço para se expresser depois de passar toda uma vida sem ter sido ouvida.

Agora vai

» A verba para o combate ao mosquito da dengue passaram de R$ 924,1 milhões para R$ 1,29 bilhão em 2015. Neste ano, o aporte foi de R$ 580 milhões, chegando a R$ 1,87 bilhão. Além disso, o Ministério da Saúde contou com apoio extra do Congresso Nacional, por meio de emenda parlamentar, no valor de R$ 500 milhões.

Consumidor

» Na lanchonete da escola do Sesc, não é permitido comprar um ou quatro pães de queijo. Só a porção estipulada. Isso pode, Arnaldo?

História de Brasília

Diversões e transportes são outros problemas. A população viver servida por apenas dois cinemas, enquanto a Concha Acústica, um espetáculo de obra, está abandonada, não utilizada. Os ônibus da TCB estão sempre ausentes, sempre que alguém os espera. (Publicado em 17/9/1961)

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