Matemática o trânsito

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Existe uma certeza para a maioria dos urbanistas: quanto mais se ampliam os espaços nas estradas, quanto mais viadutos e pontes são construídos, aumenta, na mesma proporção, o número de automóveis circulando por essas novas vias. Na matemática do trânsito, principalmente nas grandes metrópoles, o alargamento das vias cria mais espaços vazios que são imediatamente ocupados pelos carros, numa conta cuja soma é sempre zero. O fluxo de automóveis em áreas específicas e geralmente congestionadas obedece ao mesmo princípio da água que escorre morro abaixo, ou seja, busca o caminho mais desimpedido e mais fácil. Infelizmente, é o que já está previsto ao término da construção do chamado Trevo de Triagem Norte (TTN) em execução na Ponte do Bragueto.

A obra caríssima e complexa visa aliviar e desfazer o nó do tráfego naquela região nas horas de pico, tanto pela manhã, quanto no fim do dia. É bom lembrar que o aumento repentino de trânsito naquela localidade veio em decorrência da construção, sem planejamento, de uma multiplicidade de novos bairros e condomínios dentro da lógica perversa de muitos políticos irresponsáveis e afoitos, que estimularam a grilagem de terras públicas naquelas bandas, principalmente a partir da emancipação política da capital.

O comércio ilegal de lotes e a ausência do poder público na fiscalização das terras públicas geraram, entre os muitos malefícios para a cidade, o caos também na mobilidade da população. Ao usurpar a função que cabe a técnicos especializados em questões urbanas, o que os políticos deixam como herança para o futuro é o caos generalizado não só no trânsito, mas no atendimento nos hospitais, nas escolas, nas delegacias, na segurança pública e em muitos outros setores fundamentais para a qualidade de vida dos habitantes de uma cidade.

Já foi dito que o progresso é o avanço inevitável da poeira. Nesse sentido, é triste constatar que o pequeno e derradeiro nicho de mata de brejo, próximo à Ponte do Bragueto também está com os dias contados. Os enormes valões abertos em seu entorno para as obras do TTN provocarão o secamento daquele pequeno santuário do cerrado, perdido em meio ao crescimento desordenado da cidade.

Não custa recordar ainda que, graças à construção do Setor Noroeste, um bairro que as empreiteiras anunciavam como o panegírico ecológico sem igual, ocorreu assoreamento criminoso do enorme espelho d’água que existia do lado oeste da referida ponte e que hoje está tomado pelo matagal. Quem conheceu aquela região nos seus primórdios só fica com uma certeza: os malefícios da ação política e sem respaldo técnico sobre uma cidade são para sempre.

A frase que não foi pronunciada

“Todo lesado merece ser lesado.”

Político sem escrúpulo satisfeito com os votos

Flagrante

» Foi um susto enorme tentar pegar um produto de limpeza na prateleira do mercado Super Maia do Lago Norte. Fios elétricos na altura das mãos dos clientes. O gerente ao ser alertado para o perigo, imediatamente tomou as providências necessárias.

Sem governo

» Sem condições de prestar socorro em casos de emergência, o GDF expôs uma fragilidade no episódio do vendaval em Samambaia. O que salvou foi a solidariedade do brasiliense.

Crise

» Jaime Recena, secretário de Turismo, está na mira da população. A curiosidade é se as diárias pagas para a viagem a Las Vegas vão ser apenas ressarcidas ao erário ou vão render o contrato da corrida de aviões Red Bull Air Race.

Sinalização

» Obras da saída norte estão sem sinalização adequada. As reclamações de quem passa por ali à noite são constantes.

Pausa

» Enquanto a Orquestra Sinfônica de Brasília não tem teto, a população não tem arte.

Cuidado

» Penalidade grave para quem exagerar na altura do som em automóvel. Não será necessário o uso de equipamento para medir os decibéis. Basta incomodar a tranquilidade para pagar multa.

História de Brasília

Outra versão é a da irresponsabilidade. Falta de gabarito para o alto cargo, que não devia ter ocupado. Os autores dessa versão acham que o presidente se preocupou demais com os pequenos assuntos, e viu-se naufragando ante os grandes problemas nacionais. (Publicado em 16/09/1961)

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