A marcha da humanidade

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Em tempos passados, as eleições norte-americanas não ocupavam muito espaço na mídia brasileira. Vivíamos num mundo disperso e as ideias de globalização eram ainda apenas ideias na cabeça de alguns pensadores e teóricos. Nosso interesse no grande irmão do Norte se prendia ao cinema, moda, novidades no mundo automobilístico e coisas do gênero. Com o processo de interação mundial, provocada pela globalização dos mercados, com a consequente formação de grandes blocos comerciais, a interdependência econômica entre os países se transformou numa realidade presente e inescapável. Países que, a princípio, rejeitavam a ideia de uma Aldeia Global, foram levados pela correnteza de um mundo em rápida transformação. Também a emergência de uma nova tecnologia, interligou todo o planeta de modo instantâneo, encolhendo distâncias geográficas e temporais.

Hoje, tudo interessa a todos e a todo momento. Isso porque o que ocorre a milhares de quilômetros daqui interfere no nosso dia a dia. Nesse sentido, é possível inferir que a chegada do novo presidente nos EUA, com um conjunto de promessas de campanha flagrantemente protecionista e xenófobo, e com um perfil pessoal, para dizer o mínimo, discutível, trarão consequências para o Brasil. Em primeiro lugar, porque os EUA representam o segundo mercado para as exportações brasileiras.Também é sabido que naquele país residem mais de um milhão de imigrantes brasileiros, em sua maioria, em situação irregular. De toda forma, se fôssemos estabelecer um ranking para aferir quem mais perdeu com a eleição de Donald Trump, talvez venha a ocupar o topo da lista os analistas políticos, que em sua grande maioria, e até o último minuto, acreditavam na derrota do candidato fanfarrão.

Colhidos de surpresa, muitos ainda estão zonzos, procurando uma explicação racional para o acontecimento. Ainda assim, fica evidente para muitos que dentro do ritmo constante, da sístole e diástole que leva o mundo a período de maior e menor fechamento econômico, o que se assiste parece ser um retorno às teses do protecionismo antigo, associado à uma onda crescente de xenofobia, que passa a enxergar no imigrante, principalmente aqueles vindos de países pobres, uma causa para a recessão econômica mundial e, por tabela, para o próprio processo de globalização que passa a ser repensado.

Numa coisa todos parecem concordar: não se trata de ascensão da direita no mundo, como muitos creem, já que a escolha por lideranças nacionalistas, em parte do Ocidente, foi feita livremente pela própria população desses países, cansada da política tradicional. O que parece é que o mundo começa a reagir de forma uniforme, optando por caminhos ainda pouco claros. É marcha irrefreável da humanidade por trilhas que parecem ainda obscuras. Pelo sim, pelo não, melhor acender uma vela para iluminar esses caminhos.

PEC 241

» Em conversa no corredor das Comissões, Maria Lucia Fattorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida, colocou suas ideias sobre alguns pontos ainda obscuros para a opinião pública sobre a PEC do Teto, PEC 241. Primeiro esclareceu que a oposição ao projeto é técnica e não ideológica como tentam colocar para fechar de imediato a discussão.

Autoridade

» A ex-auditora da Receita, convidada pelo Syriza para analisar a dívida grega, esclarece que os senadores brasileiros estão votando a PEC do Teto enganados. Eles não sabem tecnicamente o que essa PEC trará como consequência. Despesa primária é a chave mestra para o entendimento. Os juros ficam de fora. O teto é apenas para as despesas primárias e juros não são despesa primária.

O que é

» Fattorelli diz ainda que essa PEC só tem um objetivo. Colocar um teto, uma amarra nas despesas primárias. Prende o nosso desenvolvimento econômico por 20 anos. É o que diz o texto que está mudando a Constituição. Infelizmente, não trata da corrupção que corrói a pouca verba que ainda existe; não trata de gestão, contrapartidas, auditorias. Ela congela o volume de recursos e permite daqui para frente será só o IPCA.

Como será

» Despesas primárias são tudo menos as despesas financeiras. Acabou investimento em ciência e tecnologia. Tudo o que o país vier a crescer só vai poder ser destinado para as despesas não primárias por 20 anos. Tudo o que a União arrecadar só vai poder ir para despesas não primárias. Nossos senadores não sabem o que estão votando, porque não entendem. Agora vai ser Constitucional destinar dinheiro para tudo isso enquanto a Saúde e Educação, Ciência e Tecnologia vão penar por falta de verbas, conclui Fattorelli

Denúncia

» Emendas para controlar os juros, limites para os juros, limites para as empresas estatais não dependentes que estão sendo criadas como uma praga pelo país. Em Porto Alegre, está sendo criada a Investe POA. A PEC deixa livre, fora do teto. Recursos para empresas estatais não dependentes. É preciso urgência na distinção de empresas estatais não dependentes legítimas, que atendem aos pressupostos do art. 173 da Constituição e das empresas fraudulentas, com maracutaias. Isso aqui é muito grave, e só estará aberto a mudanças daqui a 10 longos anos.

Sem esclarecimentos

» Essa dívida nunca foi auditada. Há centenas de denúncias de fraudes, ilegalidades e inconstitucionalidades. Sindicatos, parte do judiciário, instituições sérias estão tentando chamar a atenção das autoridades para o que está acontecendo, mas todos fomos bloqueados. A imprensa não comprou a briga. Nas audiências públicas o governo não enviou representantes, reclama a auditora.

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