Má gestão leva à crise hídrica

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com

com Mamfil e Circe Cunha

Fôssemos elencar os principais fatores que resultaram na maior crise hídrica de todos os tempos, experimentada agora pelos brasilienses, a questão da má gestão desse recurso preciosíssimo deveria ocupar o primeiro lugar. Por má gestão, incluem-se as de caráter técnico e outras, eminentemente, políticas, mais, precisamente, decorrentes de populismo irresponsável, com forte doses de demagogia e de corrupção.

A falta de água nas torneiras e a ameaça de que o rodízio no abastecimento de água se prolongará por 48 horas seguidas, resultam da mistura desses ingredientes e todos eles decorrem da emancipação política e marota a que a capital dos brasileiros foi induzida a partir da Carta Magna de 1988. Como populismo e planejamento não andam de mãos dadas, o resultado são torneiras secas ou com água cara e de qualidade duvidosa.  Visto pelo lado técnico, o que se pode concluir, logo de saída, é que o crescimento desordenado e explosivo da população não foi acompanhado de um adequado e consistente programa de investimentos, tanto na preservação de nascentes e mananciais quanto na modernização e ampliação dos sistemas de abastecimento, o que fez com que a demanda inflada não acompanhasse a oferta.

Obviamente que fatores climáticos e que fogem da competência direta do GDF tiveram importante papel na crise, mas, de longe, não se configuram entre os principais causadores da escassez crônica de água potável. Nossos políticos locais, embora ainda não dominem a arte da dança da chuva, sabem muito bem como fazer chover em suas próprias hortas, principalmente se essa chuva for em forma de moedas ou de votos.

A transformação das terras públicas em moeda de troca, dentro do princípio “um lote, um voto”, acabou por lançar toda a capital no vale árido e hostil da escassez de água. Durante anos seguidos, essa foi a principal política adotada na capital. A criação desordenada e afoita de enormes conglomerados urbanos, construídos, sem qualquer planejamento, da noite para o dia, ao mesmo tempo em que beneficiavam políticos locais, na consolidação de verdadeiros currais eleitorais, comprometiam seriamente o futuro da cidade e de seus habitantes.

O assentamento de imensas cidades-dormitórios sobre áreas de nascentes e de matas ciliares está entre as causas principais que levaram à atual crise hídrica. Ao contrário do que recomenda o bom senso e a experiência malfadada, a prática ainda é corriqueira e prossegue, apesar das consequências já sabidas.

Um exemplo desse absurdo é constatado na intenção do GDF de implantar a segunda etapa do Setor Habitacional Taquari, na área conhecida como Serrinha do Paranoá. Essa região abriga, segundo os especialistas, centenas de nascentes já mapeadas que alimentam o Lago Paranoá com água de excelente qualidade. Água que pode não carrear votos, mas que vai tornar possível o prolongamento da vida da cidade por mais algum tempo.

 

A frase que foi pronunciada

“A falta d’água pode ser o fim de todas as coisas.”

Filósofo de Mondubim, pensando enquanto lê Tales de Mileto.

 

Muda já!

» Helio Campagnucio nos enviou uma carta que dividimos em notas para resumir a saga que ele e muitos outros consumidores da Caesb vêm sofrendo. Diz o leitor que, há mais de 10 anos, a Caesb cobra 10 metros cúbicos pelo consumo mínimo de água. Mesmo que o consumo efetivo seja de 3 a 4 metros cúbicos. Na maior parte do ano passado, o consumo foi zero, já que a casa ficou fechada. Mas, mesmo assim, foram pagos mensalmente 53 reais para honrar as contas que chegavam .

 

Revolta

» Em julho, inexplicavelmente, veio uma conta de R$ 840, referente ao consumo de 49 metros cúbicos, que, se somado o consumo efetivo de dois anos, não chega a esse patamar. Retiraram o hidrômetro da residência, que nunca teve manutenção em 20 anos, embora fosse cobrada a taxa de manutenção durante anos. A perícia no hidrômetro, sem minha presença, que o hidrômetro está com problema.

 

Abuso

» A empresa monopolista que atua cobrando um consumo mínimo com base em legislação local, o que contraria uma lei federal, vai de encontro ao Código de Defesa do Consumidor,  além de contrariar o Código Civil e outras leis. A legislação que concede a cobrança de consumo mínimo à Caesb não obriga a própria estatal a disponibilizar o total do produto cobrado ao consumidor. Não há boa-fé em se cobrar pelo que não é entregue. Levando em consideração a atual situação de carestia de água, nada mais sensato que cobrar apenas o que for consumido. Correto seria compensar em contas futuras a água não consumida efetivamente.

 

Contraste

» Só em 2017, mais do que os 49 metros cúbicos de água já foram pagos e, agora, cobrados mesmo que não tenham sido consumidos. O patamar de consumo mínimo de 10 metros cúbicos, que são R$ 53, é muito acima do parâmetro da CEB, que cobra por um consumo mínimo de 100KW R$ 15 reais.

 

Para isso?

» Para qualquer consumidor atento a essa situação é desesperador ver a inércia do Ministério Público, a omissão do GDF, do legislativo local e do TJDFT com essa arrogância da empresa e as práticas ilegais, imorais e abusivas. O fim da tolerância chegou quando os salários da Caesb vieram a público.

Filósofo de Mondubim, pensando enquanto lê Tales de Mileto.

 

História de Brasília

Os moradores da 306 (Iapc) estão horrorizados com o que se passa no posto da Texaco, que fica em frente a um dos seus blocos. Brigas, nomes feios, falta de respeito e excessivo barulho são as maiores reclamações. Domingo, ninguém dormiu depois de 4 horas da madrugada, porque dois funcionários estavam brigando.  (Publicada em 3/10/1961)

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