Desde 2000, tem sido essa a estratégia do GDF, em conjunto com a Câmara Legislativa, para proteger e blindar os donos de postos de combustíveis da livre concorrência do mercado. A razão é simples: muito dinheiro. Com a prisão dos membros desse cartel mafioso que, há pelo menos 20 anos, atua na capital, fica claro agora para todo mundo que os tentáculos do grupo só agiam com desenvoltura e por tanto tempo graças à retaguarda oferecida pelo Legislativo e pelo Executivo locais. Em 2000, o delegado da Polícia Federal João Thiago de Oliveira e o superintendente-geral do Cade, Eduardo Frade, pela idade que aparentam, deviam ser adolescentes. Pois bem, graças ao trabalho competente dos dois, a população pôde ver, ler e ouvir o que sempre soube.Naquele mesmo ano, por meio da Lei Complementar nº 294/2000, de autoria do Executivo — projeto assinado pelo então governador, Joaquim Roriz —, que tratava de outorga onerosa, foi introduzido um jabuti ou penduricalho estranho ao documento, redigido pelos próprios donos de postos de combustíveis, que, no parágrafo 3º determinava: “Fica expressamente vedada a edificação de postos de abastecimento, lavagem e lubrificação nos estacionamentos de supermercados, hipermercados e similares, bem como de teatros, cinemas, shopping centers, escolas e hospitais públicos”.A partir desse instrumento, abriu-se a porteira para a prática da concorrência desleal na venda de combustível no DF. Curiosamente, tem-se aqui a introdução, sui generis, da prática de cartel na capital, por meio de documento legal, datado e devidamente assinado. Ocorre que para manter esse status de aparente legalidade, foi preciso ainda contar com a pronta e “desinteressada” colaboração da Câmara Legislativa. Aliás, faz-se aqui parêntese para registrar a falta de serventia dos distritais para a população e o volume constante de escândalos que vem ofertando ao noticiário local, ao longo de todos esses anos, sem o qual a mídia se tornaria excessivamente monótona.Ligações telefônicas reveladas pela Operação Dubai mostram a estreita relação entre os parlamentares do DF e a ação criminosa investigada. São contatos políticos, os quais são prontamente usados em “caso de necessidade”. Pedidos de dinheiro e de combustíveis formavam a maioria dessas conversas pouco republicanas.Os investigadores afirmam, inclusive, que “a influência no meio político seria uma das formas principais encontradas pelo cartel para barrar o avanço de investigações.” Os enormes lucros dessa bem estruturada organização, com seus braços em todos os poderes local, eram diretamente proporcionais ao prejuízo dos milhões de consumidores, ao longo de quase duas décadas. As perdas para a economia da cidade são incalculáveis e, lógico, dificilmente serão ressarcidas.O que fazer agora? Sabe-se que ao longo desse tempo, a cada 50 litros abastecidos, os consumidores perdiam efetivamente R$ 35. Nessa era de megaescândalos, não é de se estranhar que a sede do próprio Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes era utilizada como quartel-general da quadrilha, que comandava dali o assalto à população. Segundo a Polícia Federal, “o sindicato exercia importante papel na manutenção do cartel, ao servir como porta-voz dele, ao mesmo tempo em que perseguia os proprietários de postos dissidentes.”