Desde 1960
com Circe Cunha e MAMFIL
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Haveria alguma relação visível entre o modelo de educação pública seguido pelo Brasil nos últimos tempos e o alto grau de comprometimento das grandes empresas nacionais em práticas de corrupção, mostrado pelas investigações correntes do tipo Lava-Jato?
Se, à primeira vista, essas questões parecem dissociadas uma da outra, observadas mais de perto, o que se verifica é que, na origem dos modelos do comportamento reprováveis seguidos pelas empresas e por suas lideranças, se acham enraizadas também posturas e arquétipos herdados lá trás, ainda nos primeiros anos de escola.
Não que o modelo de educação tenha contribuído, de forma ativa, para formar cidadãos insensíveis às boas práticas. Mas o modelo de educação seguido em nossas escolas, de alguma forma, tem sido, para usar uma expressão corrente, leniente nos assuntos relativos à formação ética, deixados de lado e suplantados por outros aspectos de natureza mais informativa. Em outras palavras: nossas escolas têm dado relevo e ênfase apenas aos conteúdos relacionados na grade curricular, relegando a segundíssimo plano a parte formativa relacionada diretamente ao comportamento humano, baseado nos princípios da ética e das boas práticas.
Ensinam matemática, mas fecham os olhos para os deslizes de comportamento dos alunos no dia a dia e ainda acabam por estimular as más condutas ao não exercerem, de fato, a autoridade e a disciplina, assuntos que, nos dias correntes, se transformaram em verdadeiros tabus.
A falsa crença de que liberdade total serve aos propósitos de uma escola moderna tem mostrado seus resultados. O crepúsculo paulatino da autoridade do professor, como indutor principal do processo educativo, acabou por ceder lugar a modelo de escola em que os alunos passaram a ser considerados atores soberanos e únicos de seus destinos.
A partir desse ponto, já se prenunciavam tempos difíceis à frente. As revelações trazidas à tona pela sequência de investigações da polícia e do Ministério Público e, posteriormente, a implementação da Lei Anticorrupção, de 2014, estão forçando agora as empresas a se ajustarem a novo tempo em que a transparência e as boas práticas, não só nas relações humanas, mas inclusive com o próprio meio ambiente, são elementos fundamentais para se manterem vivas no mercado.
A adoção tardia do modelo de compliance nas empresas, obrigando-as a agirem em conformidade com as normas da ética e da transparência, reflete o descaso com que nosso sistema de educação e ensino tem tratado, até aqui, assuntos dessa natureza. É possível que o corrupto de hoje, flagrado e algemado pelas autoridades e exposto à humilhação pública, tenha sido outrora um bom aluno em matemática ou biologia. Mas é quase impossível que tenha sido educado para assuntos básicos, como respeitar o próximo e o que pertence a cada um. O que operações como a Lava-Jato têm demonstrado, na prática, é que nossas elites dirigentes podem ter frequentado escolas de ponta, mas não aprenderam nada, não esqueceram nada.
A frase que foi pronunciada
“Dinheiro é mansão no bairro errado, que começa a desmoronar após 10 anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém de pé por séculos. Não respeito quem não sabe distinguir os dois.”
Do personagem Frank Underwood, de House of Cards
Celestial
» Cheio do lenga-lenga dos fiéis, o papa Francisco adotou uma placa “proibido reclamar” e justificou de forma enriquecedora: “Para dar o melhor de si, tem que se concentrar em seu potencial, não em seus limites”.
Remuneração
» Ricardo Barros, ministro da Saúde, anuncia biometria para médicos contratados pelo serviço público. Na capital do país, alguns profissionais da saúde conseguiram reduzir a carga horária para 20h semanais.
Fora da lei
» Nem a capital do país foge da desatenção à penitenciária. Por causa da falta de higiene e cuidados médicos, quase 700 detentos foram infectados por bactérias. Quem deu o alerta foi o Ministério Público do DF.
Gangues
» Inacabada, uma ponte em construção no Trevo de Triagem Norte está completamente pichada.
Manutenção
» Por falar em ponte, esta coluna sempre alertou para o perigo constante da Ponte do Bragueto, que não foi projetada para o peso e o movimento atuais.
História de Brasília
Estamos fazendo um levantamento sobre o que ocorreu, de fato, com relação aos postes de iluminação do pátio do aeroporto. Em duas oportunidades, foram de uma necessidade extraordinária e não funcionaram. (Publicada em 30/9/1961)