VISTO, LIDO E OUVIDO – Duas trincheiras
Criada por Ari Cunha desde 1960
jornalistacircecunha@gmail.com
com Circe Cunha e Mamfil
Que semelhanças e consequências óbvias poderiam existir entre fatos aparentemente distintos e distantes, como são os casos do projeto de desarmamento da população, a possível flexibilização e descriminalização do porte de entorpecentes e os recentes casos que indicam um aumento na letalidade das polícias.
Quanto ao processo de descriminalização do porte de drogas para consumo próprio, levado a cabo, agora, pelo Supremo Tribunal Federal, não deixou os parlamentares à vontade. Uma centelha começa a brilhar indicando mudanças de rumo.
De fato, todas essas adições espetaculares concorrem e nos levam, ao mesmo tempo, para uma questão simples e que diz respeito à vida e à morte de cidadãos. É fato que o desarmamento da população, em um país reconhecidamente violento e onde os índices de criminalidade são os mais altos do planeta, significa, entre outras coisas, que o terreno para o aumento da incursão dos criminosos está sendo facilitado. Como é sabido, o Estado, por mais que queira, não consegue enfrentar as ondas de crimes de igual para igual, sendo tolhido por uma Justiça atrelada aos direitos humanos e que quer parecer pender a favor da bandidagem.
A população tem essa nítida ideia de que o Estado pesa a mão mais para o lado do policial do que do bandido. Engana-se quem acredita que o crime organizado no Brasil age nos moldes amadores. As organizações criminosas, em nosso país, investem muito em armamento e treinamento de pessoal, e poderiam hoje estar classificadas como verdadeiros exércitos paralelos, com tudo o que essas forças dispõem.
A facilitação do porte de drogas vem ao encontro do que desejam as facções criminosas, que passarão a agir com muito mais empenho e lucros no comércio varejista. Para um país como o nosso, onde avança, a passos largos, a liberação dos cassinos, on-line ou físicos, onde o porte de drogas deixa de ser crime, não será demais supor que a polícia terá muito mais trabalho pela frente, com enfrentamentos violentos cada vez mais ocorrentes. Não há no poder quem pense em mais escolas, hospitais ou transporte?
Tristes trópicos esses nos quais o Estado mal dá conta da segurança de seus cidadãos, mesmo com uma das maiores cargas tributárias do mundo, e ainda tem de enfrentar mais e mais desafios.
A facilitação ao crime ocorre com pequenas e seguidas medidas de afrouxamento das leis. Ainda bem longe de resolvermos nossos problemas com uma educação pública de qualidade ou com o atendimento universal na área de saúde, partimos para o vale-tudo. Isso sem comentar a falta de respeito de alunos em inúmeras escolas públicas. Jogam mesas e cadeiras nos professores, xingam, estragam o carro e até matam.
Permite-se a compra de armas para aqueles que só querem defender suas famílias e propriedades, mas nada fazem para acabar com o armamento pesado nas mãos das quadrilhas. Determinam-se o fechamento de manicômios judiciais, soltam-se presos, afrouxam as penalidades com a introdução de regimes abertos e outras medidas, enquanto a população é obrigada a ficar presa em casa, refém da leniência de um Estado indiferente ao cidadão que paga seus impostos em dia.
Querer que todas essas medidas facilitadoras do crime não resultem em maior enfrentamento e maior letalidade dos órgãos de segurança contra a bandidagem é ilusão. Quanto mais frouxas as leis, maiores são os índices de criminalidade. Do mesmo modo, esperar que os policiais ajam de modo calmo ao verem seus colegas de farda e de destino tombarem mortos, friamente, por bandidos que nada têm a perder e tudo podem hoje em dia, é impossível.
Trata-se aqui de uma guerra, como outra qualquer, em que ficam, de um lado, a população de bem junto com a polícia e, em outro, a trincheira, os bandidos e todos aqueles que os apoiam direta ou indiretamente.
» A frase que foi pronunciada
“O ladrão rouba para comprar drogas, mas, então, por que ele não rouba logo a droga? Simples, os traficantes andam armados.”
Enéas Carneiro
Pratas da casa
São inúmeros os funcionários públicos na ativa que passaram de 41 anos de serviços prestados. Ontem, conversamos com o amigo Ciro Freitas Nunes, do Senado. Tão logo completou 18 anos, ele foi conduzido à Câmara Alta. Participou de todo o processo de abertura do regime e viu os primeiros computadores IBM serem descarregados e terminais ligados aos gabinetes. As histórias são muito interessantes.
História de Brasília
Há muitos dados técnicos que poderíamos exibir, mas o que interessa a você, leitor, é isto. Por todo o mês de março, continuará a mesma dificuldade, até que Cachoeira Dourada possa produzir mais, com a baixa das águas. (Publicada em 22/3/1962)