Desde 1960
colunadoaricunha@gmail.com
com Circe Cunha e Mamfil
Uma coisa é certa: muita água ainda vai rolar sob a ponte da Operação Lava-Jato. A razão é simples e se prende ao fato de que ainda navegamos por rios desconhecidos. O instituto da delação premiada, que tantos benefícios tem trazido para o clareamento das investigações, principalmente sobre a atuação delituosa de pessoas e grupos poderosos dentro da República, ainda pode ser considerado um mecanismo pouco conhecido, porém, eficiente para a revelação do intrincado modus operandi dessas quadrilhas e a participação de cada pessoa nesses organogramas do crime.
Nesse sentido, as novas conversas entre membros da JBS, e que jogam mais lama no ventilador do país, precisam ser analisadas com o máximo de cuidado, para não pôr a perder todo o exaustivo trabalho que vem sendo realizado ao longo desses últimos anos pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.
Um ponto parece claro para quem acompanha com apreensão esse megaescândalo. À medida que são expostos nomes e respectivos delitos, a tendência e a torcida de todos os envolvidos nesses imbróglios, corruptos, corrompidos e seus respectivos e caríssimos defensores são que as investigações esbarram em filigranas jurídicas que impeçam ou anulem o prosseguimento das operações, pondo a salvo todo esse grupo de bandoleiros.
Procuradores e investigadores têm caminhado, nesses casos, como sobre o delicado e fino papel de arroz, se esforçando, ao máximo, para não danificar as apurações, não deixando brechas para irregularidades. O que as novas gravações deixam patente e à mostra é que essa gente não descuida um só instante de maquinar estratégias para encurralar a Justiça. O que ainda surpreende é que esses indivíduos ainda sejam apanhados pela tecnologia dos gravadores. Para muitos, no entanto, é preciso todo o cuidado com tudo o que é ouvido e falado e, sobretudo, com tudo o que é gravado.
A estultice e o profissionalismo dessa gente ficaram comprovados mais de uma vez, e não seria de todo surpresa se algumas dessas gravações, simplesmente, tiverem sido pré-elaboradas na tentativa esperta de lançar iscas falsas pelo caminho, principalmente visando desestabilizar a atuação dos homens da lei, levando o público a acreditar que todos são farinha do mesmo saco.
A afoiteza, ou talvez a ganância, com que o antigo auxiliar Marcelo Miller passou de um posto na Procuradoria da República, onde trabalhava ao lado de ninguém menos do que o próprio Janot, para ir servir diretamente e num átimo no escritório que cuidava dos processos de leniência dos principais personagens dessa trama, é talvez o ponto sobre o qual ainda pairam incertezas. À primeira vista, pelo que foi revelado nas gravações, o poder do dinheiro desses açougueiros profissionais tornou possível, ainda, a captura e abdução de uma figura estratégica, dentro da própria PGR, visando, num esquema preconcebido, a obtenção não só da liberdade e isenção para os muitos crimes desse grupo, mas induzir ao descrédito todo o trabalho de Janot, frente à PGR.
Nesse momento de agravamento da crise política e policial, e em que se anuncia uma mudança no comando da PGR, todo o cuidado com o andor das investigações é pouco. Por isso, devagar que o santo é de barro.
A frase que foi pronunciada
“O falso amigo e a sombra só nos acompanham quando o Sol brilha.”
Benjamin Franklin
Lição
» Agnes Heller, filósofa nascida na Hungria, diz que a Europa é hoje melhor, mas que o nacionalismo ainda impera. Perguntada se o Ocidente foi tolerante com o extremismo por muito tempo, ela responde: “É um problema das democracias liberais. Acreditam que todos compartilham a mesma visão. Vou dar um exemplo da minha juventude. Vamos para Munique em 1938. Pense no (primeiro-ministro britânico Neville) Chamberlain, que veio para a cidade alemã com um pedaço de papel no qual pedia que Hitler renunciasse ao uso da força. Foi entregue e assinado. E Chamberlain vendeu como uma vitória. As democracias liberais podem ser ingênuas, acreditam que uma assinatura em um papel ou uma declaração da ONU significa algo”.
Sucesso
» Lá estavam no meio da rua em Curitiba. Caixotes abarrotados de dinheiro cinematográfico. Começa a exibição do filme Polícia Federal — A Lei é para Todos, de Marcelo Antunez. Uma pincelada sobre a Lava-Jato. Assim como Tropa de Elite adiantou tomadas de decisões da polícia, é uma posição para o público do que foi estabelecido na história do Brasil.
Futuro
» O governador e o prefeito de São Paulo querem trabalhar. Imprensa cria factoides para atrapalhar. Vamos ver onde está a verdade. O importante é que tanto Alckmin quanto Doria fazem mais do que falam.
Incrível
» Todo o dinheiro de Geddel que estava no apartamento é exatamente o mesmo valor do orçamento anual do Cade.
História de Brasília
As associações de classe de Brasília, destacando-se o Rotary, Lions, o Juniors e a Associação Comercial, cumpriram com a sua missão no encaminhamento do caso da Prefeitura do Distrito Federal. (Publicada em 5/10/1961)