Desde 1960
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com Circe Cunha e Mamfil
Uma coisa vai ficando clara com o andar da reforma política no Congresso e com a decisão que se anuncia de reanálise, pelo Supremo Tribunal Federal, da prisão de condenados por uma corte colegiada antes de sentença transitada em julgado: tudo leva a crer que as pretensões soberanas da sociedade, que é a maior interessada nos dois assuntos, vão ser frontalmente contrariadas e postas de lado, num jogo perigoso, em que a cegueira da realidade e a confiança na inércia popular parecem ser o farol a guiar as decisões dessas autoridades.
O que à primeira vista parecem ser questões díspares em andamentos em tempos e poderes independentes têm, para os cidadãos de todo o país, a mesma importância e a mesma urgência. Entendem os brasileiros de bem que a crise política, econômica e social que aflige a nação tem no modelo político vigente e na impunidade que prevaleceu até bem pouco tempo os principais elementos causais.
Agindo sob os ditames de razões utilitaristas e por motivos que fogem à compreensão comum da sociedade, as lideranças com assento nesses dois poderes máximos do Estado parecem empreender uma espécie de dança ritualística, que busca invocar o deus da permanência e do status quo, frustrando, na undécima hora, os anseios aguardados por longo período pela nação.
Partidos e políticos com identidade íntima com o eleitor e igualdade de todos perante a Justiça representam, para os cidadãos, o ponto de partida para a construção de um verdadeiro Estado Democrático de Direito. Uma reforma política que vise apenas a atender aos interesses de uma classe política em claro processo de descrédito na opinião pública, bem como a perpetuação da impunidade para os poderosos e todos os que podem contar com caríssimos defensores, é tudo o que a nação rejeita.
A esta altura dos acontecimentos, cada brasileiro já pode visualizar muito bem de onde fluem as águas que, há séculos, os mantêm apartados e ilhados dos mais ínfimos direitos de cidadania. Uma análise de perto dos personagens que estão por trás dessa espécie de maquinação política e jurídica pode trazer à luz respostas que expliquem esse movimento de contrarreforma que visa à manutenção de dois Brasis: o oficial e o real.
A nossa história está repleta de exemplos que mostram como foram armados os entraves que retardaram a independência, o abolicionismo, a República. É preciso prestar atenção nas lições do passado para não cair na mesma armadilha no momento presente.
A frase que não foi pronunciada
“Colocando no lápis, vale a pena ficar preso pela Lava-Jato. São poucos anos em relação às cifras subtraídas da verba pública. Agora, se fosse um dia por real surrupiado, daí eu estaria frito!”
Pensamento em alguma cela da Papuda
Divisas
» Um sucesso a safra de grão-de-bico plantado em Cristalina-GO. Mais um produto vendido com preço alto aos brasileiros, devastando terras férteis para ser exportado para a China.
Bom senso
» Faixas por toda a cidade estão quase invisíveis. Melhor momento para o retoque é a estiagem.
Fuga em massa
» Aumenta o número de pedidos de visto de brasileiros para Portugal. Chegou a 50% neste ano comparado com 2016, quando foram emitidos 3 mil documentos. Os novos pedidos ultrapassaram 60 por dia no Consulado de São Paulo. Só no ano passado, 81.251 brasileiros recorreram ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para morar legalmente em terras lusitanas.
Lotado
» Coral do Senado fez memorável concerto no Museu da Casa. O local, carregado de história, abrigou notas de música popular brasileira e a Missa tango de Martin Palmeri, compositor vivo que está nos principais teatros do mundo.
Fim da linha
» Em uma ligação insistente e ao acaso da Claro para uma pessoa, ao atender a cliente disse que estava trabalhando e não queria saber de promoções. A resposta do marketing que talvez não estivesse no script foi: “Se não quer saber, por que atendeu?”
Leitores
» Claudio Ferreira escreve um belíssimo texto sobre o campeão de cartas aos jornais. Roldão Simas Filho. Chama a atenção para a peculiaridade, já que ele escreve sempre sobre assuntos que afetam a comunidade, nunca temas de interesse próprio. Diz Roldão com propriedade: “Noventa e nove por cento das pessoas não acreditam que escrever uma carta vá resolver alguma coisa. E muita gente tem medo de se expor”.
História de Brasília
O DCT (agência do aeroporto) voltou ao seu antigo box, saindo da ala internacional. São acomodações também acanhadas enquanto, em frente à administração do aeroporto, há uma área envidraçada sem uso. (Publicada em 4/10/1961)