Mea-Culpa

Publicado em Íntegra

“Quia peccavi nimis cogitatione verbo, et opere” Nas democracias atuais, a força da opinião pública, expressa pelo poder das mídias sociais ligadas em rede e reverberada pela imprensa, demonstra que o senso comum da sociedade requer, cada vez mais, que os governos adotem posições imediatas e claras sobre quaisquer problemas de Estado que afetem direta ou indiretamente o cidadão. Graças a essa combinação entre sociedade em rede e imprensa livre, capaz de elevar a força da opinião pública a alturas nunca vistas anteriormente, é que os poderes do Estado vêm saindo da tradicional posição de conforto e lentidão, sendo obrigados, doravante, a atender os reclames de todos a tempo e a hora.

No Brasil, muito mais do que os 200 milhões de eleitores, são os 400 milhões de olhos e ouvidos prontos ver, ouvir e ler o que se passa dentro da máquina pública. Qualquer político que almeje o futuro da carreira tem que ficar ligado ou on-line. Não foi por outro motivo que o Senado, instigado pelo Supremo, enveredou pelo caminho do voto aberto, confirmando a prisão de um dos seus pares. Ambos, Judiciário e Legislativo, por mais que neguem, sentem a força amplificada da opinião pública.

Nesse sentido, soa oportuno o discurso da senadora Rose de Freitas (PMDB-ES). Em tom de mea-culpa, a parlamentar considerou que a invasão do STF sobre as atribuições do Congresso se deu por culpa exclusiva do próprio Senado, que abriu espaço à intromissão ao deixar de cumprir sua missão, entregando a função de legislar para a Justiça.

“Hoje, a todo momento, em qualquer lugar, sentado aqui ou ali, nós nos deparamos com alguém que está sendo indiciado, exatamente por usar o poder a favor de si ou de circunstância que lhe favoreça”, confessou a senadora, para quem os representantes do povo não têm sequer a preocupação de propor saídas para a crise atual, de ajudar o povo brasileiro.

“Votamos quando achamos que devemos votar, empurrando a pauta prioritária, quando achamos que queremos empurrar, nós estamos errados”, disse. Ao confessar sua vergonha com o quadro atual político, Rose de Freitas avaliou que é chegado o momento de rever tudo o que acontece no Senado Federal.

“Mesmo destacando o bom trabalho de alguns daqui, esta Casa não tem como olhar no olho de um brasileiro… Esta casa que recebe estes parlamentares, que recebe o sagrado voto popular, que jura esta Constituição que eu ajudei a escrever é capaz de se envolver em um episódio dessa natureza… Ninguém cuida de proteger o Senado com os atos, com as atitudes, com as decisões.” Qualquer caminho que aponte para solução sincera e objetiva deve partir primeiro do ato de penitência e de reconhecimento da culpa. Parabéns, senadora.

Ar preso

Publicado em Íntegra

É uma tristeza a violência de afastar as crianças dos pilotis. Em tão pouco tempo, os grupinhos em biblicletas e patins contornavam as quadras, havia o pique-esconde, bete, finca, bola de gude, carniça, e tantas outras brincadeiras. Hoje o computador e a tevê tomaram o lugar da vida ao ar livre.

Porta voz

Publicado em Íntegra

“Nós temos uma presidente, mas não temos uma governante”, criticou a deputada Geovania de Sá, de Santa Catarina. Ela deu a declaração depois de os dados do Datafolha revelarem que 65% dos entrevistados defendendo a abertura do processo de impeachment pelo Congresso Nacional. “Tudo o que a população esperava do seu governante, não encontra na presidente Dilma”, arrematou.

Serenata

Publicado em Íntegra

Mantida a tradição da Serenata de Natal, criação do Fred Brasiliense. Hoje são mais de 150 voluntários que, com velinhas e sininhos, convidam os moradores a descer do apartamento para curtir a cantoria. Além disso, há o momento de arrecadação de alimentos não perecíveis que são entregues em creches e asilos.

Intolerância

Publicado em Íntegra

Caso fique demonstrado pelo laudo da perícia dos Bombeiros e pelas investigações da polícia que o incêndio no terreiro Axé Oyá Bagan foi ato criminoso, Brasília perderá, de vez, aos olhos do mundo, a condição de capital do ecumenismo religioso, que ainda é uma de suas boas bandeiras.

A intolerância religiosa é tão antiga quanto a própria religião e, por muito tempo e em muitos lugares, vem deixando rastro de destruição e morte. É a verdadeira religião do ódio. Ódio às diferenças. Ódio disfarçado de fé que em nada diferencia das barbáries perpetradas ao longo da história da humanidade contra cristãos, judeus, espíritas e religiões afro-brasileiras em todo o planeta.

Coincidência ou não, a ocorrência sistemática desses ataques vem se dando de forma crescente à medida que se expandem desordenadamente pela capital as religiões tipo caça-níquel, que, sob o manto da orientação neopentecostal, incentivam abertamente nos cultos a destruição de imagens e, principalmente, a perseguição, sem tréguas, ao candomblé e à umbanda. A pregação do ódio contra religiões que são, na grande maioria, bem mais antigas do que o próprio Brasil, se esconde por trás de interpretação sectária e criminosa das escrituras sagradas, estratégia bem arquitetada de expansão ilimitada do poder dos novos templos.

O verdadeiro revival dos pogroms deu mostras do que é capaz. Incêndio das imagens na Praça dos Orixás, o apedrejamento de uma criança vestida com trajes tradicionais das mães de santo, o chute do pastor da Universal na imagem de Nossa Senhora Aparecida na mesma data em que se comemorava o dia da padroeira. Esses e outros episódios de intolerância, vandalismo e vilipêndio clamam por uma postura firme das autoridades judiciais enquanto ainda é possível deter a sanha dos falsos profetas.

Assistir à destruição continuada das religiões de matriz africana equivale a assistir passivamente à grande queima de livros realizada pelos nazistas na noite de 10 de maio de 1933 em praça pública em nome da “limpeza da literatura”. É justamente esse ovo da serpente que precisa ser extirpado do meio de nós antes que seja tarde.

Tão logo soube do crime, o governador Rodrigo Rollemberg foi ao local e determinou que o diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, criasse uma delegacia especializada em crimes de racismo e intolerância. Esteve no local e agiu pensando no futuro da capital.

A queima dos templos dos orixás equivale à destruição de nossa própria raiz cultural, do que somos. A repetição dos casos mostra que adentramos um caminho sem volta: ou se colocam imediatamente na cadeia os autores desses atos e seus instigadores, ou teremos inaugurado a temporada sem volta dos conflitos religiosos do tipo que assolaram a Irlanda no século passado. Ao romper, de forma bruta, o ambiente do sagrado, o que vamos assistindo, em slow motion, é desprezo por nós mesmos e pelo que somos como nação.