Desde 1960
com Circe Cunha e MAMFIL
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Se existe uma área no governo brasileiro que nunca funcionou a contento, sem dúvida, é a de planejamento e projetos. Pior: a deficiência é histórica e tem acarretado prejuízos incontáveis aos contribuintes. Falar em projeto executivo em todas as etapas de uma obra exigiria, no mínimo, prever todos os custos até o último parafuso. Mas isso é coisa de outro mundo para nossos governantes. Planejamento com esse nível de detalhe nunca foi realizado. O resultado é que o custo final da obra seria suficiente para erguer duas ou mais construções. Vale lembrar que às obras abandonadas não faltaram recursos públicos para as empresas responsáveis.
De certa forma, isso denota também um tipo muito peculiar de corrupção e que, obviamente, acaba debitado na conta dos pagadores de impostos. Não se conhecem ainda estudos que mostram a correlação entre a falta de projetos detalhados e os prejuízos decorrentes para os brasileiros. Todavia, à guisa de exemplo, tome-se duas situações bem atuais ocorridas aqui na capital que demonstram o quão carente ainda somos quando o assunto é planejamento.
Apenas nos últimos anos, o Distrito Federal deixou de receber do Fundo Constitucional (FCDF) R$ 480 milhões justamente por não ter realizado os projetos destinados à segurança da capital. Dessa forma, o dinheiro, que poderia ser utilizado para atender demandas do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da Polícia Civil, não pôde ser empregado nessas áreas, embora sejam mais do que conhecidas as carências em segurança.
O pior é que a falta de projetos e de transparência na utilização de recursos obrigou o Tribunal de Contas da União (TCU) a retirar do GDF a gestão desse Fundo. Noutro caso, o GDF deixou de receber R$ 415 milhões, que seriam destinados à compra de 10 trens para a Linha 1 do Metrô-DF, mais 10 veículos leves sobre trilhos (VLTs), além de finalizar as obras das estações 104, 106 e 110 Sul.
Os dois valores somam R$ 1 bilhão, desperdiçado pela falta de projetos e de documentação necessária. Trata-se de uma incompetência difícil de ser aceita para uma cidade carente de segurança, de transporte de massa e, sobretudo, de recursos. Não tem explicação.
A frase que foi pronunciada
“É bom temer os profetas e aqueles que estão dispostos a morrer pela verdade, pois farão morrer muitos outros juntos com eles, ou no lugar deles.”
Umberto Eco, escritor italiano
Prêmio
» A Vale recebeu neste mês um prêmio na Indonésia por Gestão Ambiental em Mineração em 2016. O Prêmio Adhitama (Ouro) foi dado pelo Ministério de Energia e Recursos Minerais (ESDM) da Indonésia. A Vale foi considerada a única empresa com a melhor prática de gestão ambiental. Quem recebeu o prêmio foi o diretor-presidente da Vale na Indonésia, Nico Kanter.
Declaração
» “Os prêmios são um reconhecimento do nosso desempenho ambiental e, ao mesmo tempo, indicadores para melhorarmos o nosso trabalho. Para nós, uma boa gestão ambiental não é uma opinião, mas uma responsabilidade”, disse Nico Kanter.
Na realidade
» Por falar em Vale, o rio Doce continua, depois de um ano, mergulhado na lama. A situação dos atingidos permanece dramática. A Samarco, empresa controlada pela Vale e pela multinacional BHP, foi capaz de destruir um rio brasileiro, cuja ressurreição está longe de acontecer.
Lava-Jato
» Daniel de Saboia Xavier, coordenador geral de Estratégias de Recuperação de Créditos da PGFN, deu uma entrevista ao Estadão com uma visão sensata do que está ocorrendo. Bandidos maus e bandidos bons são diferentes dos contribuintes que cumprem o dever como cidadãos. Por isso, se alguém merece benefício, com certeza, não são os bandidos.
Sinalizar
» Homens de preto que estacionam os carros de clientes do comércio nas entrequadras precisam de coletes refletores. Inúmeras vezes motoristas são surpreendidos com a correria dos profissionais por uma vaga. Passam por trás dos automóveis, atravessam a rua repentinamente e correm sério perigo.
Muda já
» Quem vê as festas mais caras da cidade não imagina como funciona a parte que cabe aos empregados. Muitas noivas pagam para os empregados também fazerem refeições, mas os bufês não alimentam a equipe que trabalha. Os próprios garçons se sentem diminuídos tendo que servir os trabalhadores. É uma questão cultural de corrupção e preconceito à vista de todos, mas poucos enxergam.
História de Brasília
Ainda não foi escolhido o novo presidente do Banco do Nordeste. O presidente já teria recebido uma lista de candidatos, mas, pelo que se sabe, há muitos nomes que não suportariam o menor exame. (Publicado em 21/9/1961)