A barbárie nossa de cada dia

Publicado em ÍNTEGRA

ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com;

com Circe Cunha e Mamfil

Foto: domtotal.com - Câmara realiza sessão solene em homenagem à Marielle Franco, executada no Rio (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: domtotal.com
Câmara realiza sessão solene em homenagem à Marielle Franco, executada no Rio (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

         Desmobilizada pela imposição dos fatos e da ética, a esquerda, ou pelo menos o que parece ter sobrado dela, encontrou agora no cadáver da vereadora do PSol, Marielle Franco, mais um palanque de onde pode esbravejar contra a intervenção militar na área de segurança do Rio de Janeiro, já transformada, desde o primeiro momento, em bandeira de muitos oportunistas contra quaisquer ações do Estado, sejam elas corretas ou não.

         A questão central aqui é aproveitar qualquer boia flutuadora para manter essa turma respirando na linha d’água. Pelo o que se tem ouvido, visto e lido até aqui, nos diversos discursos que ganharam vida com o crime hediondo, o tiro que ceivou a vida da parlamentar partiu da linha de frente dos interventores fardados.

         Deputada por Brasília, que tem chamado a atenção mais por seus discursos panfletários e sem lógica do que pela atuação profissional equilibrada em favor dos brasilienses, não perdeu a oportunidade, com a plateia formada, afirmou, sem constrangimento: “eles apontaram os fuzis para Marielle Franco”, numa clara alusão aos militares.

         Obviamente que quando os verdadeiros culpados vierem a lume, será preciso buscar, em nossas tragédias diárias, novos culpados pelo naufrágio moral das esquerdas. De certo que a situação de extrema violência, diuturnamente experimentada pela população do Rio de Janeiro, ainda está longe de ser resolvida, e não se podendo descartar o recrudescimento das ações militares, tão logo comecem a tombar os primeiros recrutas fardados, vítimas de emboscadas e outras armadilhas montadas pela bandidagem.

         Enquanto se buscam os responsáveis onde, de antemão, já se sabe, não estarão, as forças do crime organizado, formado falanges que englobam traficantes, milícias, contrabandistas, organizações e cartéis do crime, espalhados por todo o país e pelas fronteiras, prosseguem e intensificam a cada dia suas ações vis.

         Agem, favorecidos tanto pelo vácuo de reações mais duras por parte do Estado, como pelo conluio silencioso de muitas autoridades. Nessa guerra insana, em que até ideologias políticas são lançadas, sem pudor, no campo de batalha, o inimigo real se fortalece com a cisão de todos e prossegue avançando. A execução de um político, em pleno exercício do poder e de posse de mais de 40 mil votos, expõe e estende esse atentado para além das ocorrências formais da polícia e passa a exigir uma investigação federal que, pelo menos, esclareça se esse crime representa ou não uma escalada desses grupos de bandidos rumo ao controle de parte do Estado. Caso essa hipótese venha a se confirmar, não será exagero dizer que estamos entrando em outro patamar de conflito que pode nos igualar à países do Continente, envoltos em longos conflitos com grupos guerrilheiros.

         Em texto claro e incisivo, Fernando Gomide, da Associação Brasiliense de Amparo ao Fibrocístico, aborda os episódios de manifestações contaminadas pela divisão político-ideológica que tem dominado o país. Além de muitos outros aspectos, que merecem uma análise muito mais profunda, Gomide aborda os direitos humanos, um tema absolutamente relevante, que tem uma imagem distorcida pela maioria das pessoas, sendo essa desinformação explorada política e eleitoralmente.

         Os direitos humanos, defende Gomide, não podem ser capturados nem pela direita nem pela esquerda. São na realidade uma conquista, um processo marcado por avanços históricos na evolução de todas as sociedades, a construção da consciência coletiva na luta pela liberdade e da dignidade como valores inalienáveis da humanidade. Assim, neles estão englobados não apenas “os direitos dos bandidos” como querem fazer crer alguns, seja por ignorância seja por oportunismo. São humanos não apenas o direito de não ser torturado ou morto, seja qual for o crime supostamente cometido, mas também é direito humano o acesso à saúde, a educação, a moradia e ao trabalho digno.

         É sintomático e também preocupante o conceito de direitos humanos a ativistas de esquerda. Essa impressão ajuda a construir o estereótipo igualmente equivocado de que a direita é representada por uma gente elitista insensível e que só pensa no próprio umbigo.

         O fato é que a violação a estes direitos, continua Gomide em sua missiva, especialmente tortura e assassinatos, acontecem com devastadora frequência entre a população mais pobre. Marielle, moradora da Favela da Maré, foi apenas uma das milhares de pessoas que convivem diariamente com essa realidade.

         Enquanto isso, outra parcela da população, pressionada pelo medo da violência que a cada dia chega mais perto de sua sala de estar, prefere a solução mais fácil: a de que bandido bom é o bandido morto. “Que nos inspire não apenas no combate ao crime e à violência, mas à compreensão dos perigos do caminho que estamos trilhando, nos tornando uma sociedade cada vez mais dividida e intolerante”. Termina Gomide em sua correspondência sintonizada com esta coluna.

A frase que foi pronunciada:

“Nunca ouvi falar de nenhum outro país onde juízes ou parlamentares tenham feito uso de sua posição a este nível, para beneficiar a si próprios e enriquecer.”

Göran Lambertz, da Suprema Corte sueca.

FMA

Hoje começa em Brasília o 8º Fórum Mundial da Água (FMA). O evento é organizado pelo Conselho Mundial da Água. As expectativas são altas. Esperam-se 40 mil visitantes e sete mil congressistas de diversos países. Veja a programação completa buscando no Google, Blog do Ari Cunha.

Link para o site: http://www.worldwaterforum8.org/

Leitor

Hermes Albuquerque registra seu apreço e apoio total à ministra Cármen Lucia. Diz na mensagem: Presidente do Superior Tribunal Federal, Sr.ª Carmen Lúcia, Vossa excelência tem apoio irrestrito de 90% dos brasileiros. Sua firme posição nos honra. Que seus adversários tenham em mente que “Guerreiros só se curvam para cumprimentar”.

Receita

Deltan Dallagnol dá o recado. Avisa que o período após as eleições também promete ser conturbado, com o risco de políticos aprovarem uma anistia de última hora. Contudo, o maior desafio ao povo brasileiro é escolher deputados federais e senadores que estejam comprometidos com a mudança desse quadro. Após quatro anos, o voto consciente é nossa melhor chance de virar o jogo contra a corrupção.

Charge: avozdocidadao.com.br
Charge: avozdocidadao.com.br

Sem proteção
Um posto policial inaugurando no CA do Lago Norte, com pompa e circunstância, não  foi capaz de capturar os ladrões que assaltavam a QL 1 na sexta-feira. Há 4 minutos do local, os policiais só apareceram 40 minutos depois.

Pior

Moradores lembram como era difícil o atendimento no Hospital do Gama e pensam que eram felizes e não sabiam. Agora, se quiserem ser atendidos precisam despencar para o Goiás.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

A notícia confirmando a nomeação do cel. Dagoberto Rodrigues para a direção geral do DCT é uma esperança de melhor organização para a mais desmoralizada repartição do Brasil. (Publicado em 17.10.1961)

It's only fair to share...Share on Facebook
Facebook
Share on Google+
Google+
Tweet about this on Twitter
Twitter
Share on LinkedIn
Linkedin