Autor: Circe Cunha
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Não é de hoje que o sistema de freios e contrapesos, contido na Constituição de 1988 e que regula a chamada Teoria da Separação dos Poderes, o que, em suma, visa controlar e equilibrar os poderes, obrigando cada um a controlar e fiscalizar o outro, vem sendo seriamente extrapolado, interferindo na harmonia e independência entre eles. De um modo geral, o que se observa é que a hipertrofia de um poder resulta na hipotrofia de outro, tornando inócuo o próprio sistema de freios e contrapesos.
Quando isso acontece, as crises institucionais são inevitáveis. Em nosso caso específico, o que a população está assistindo é a uma verdadeira guerra entre os poderes, cujas origens estão lá atrás, na judicialização da política e na sua coirmã, a politização da justiça. Querer convencer a sociedade brasileira do contrário não só não ajuda a pôr um fim nessa crise como favorece sua continuidade. Há que encarar o problema.
A política, por sua natureza complexa, tem os próprios princípios, sendo que, entre nós, esses princípios nem sempre vão ao encontro do que deseja a população. A justiça, por seu lado, tem suas regras, todas elas fixadas no papel, sejam na Constituição, nos códigos e em todos os alfarrábios de leis. Ocorre que, quando submetida às altas Cortes, essas leis passam a ganhar também uma interpretação subjetiva, oriunda da cabeça do juiz. E é aí que a situação adquire o gás necessário para fazer mover as crises.
A queda de braço entre Judiciário e Legislativo, que começou mal e prossegue a todo o vapor, pode vir a ter um final ainda pior. Não para seus protagonistas, mas para a nação. O que se quer é juízo e um cessar de exibição de egos. O Poder Executivo, nessa contenda, surge como figurante de terceiro plano, dada a sua natureza instável atual e ao pouco apoio que contabiliza tanto dentro do Congresso como nas ruas.
Antiga tática de guerrilha na selva ensinava que, quando o inimigo avança, a outra força deve recuar. Do mesmo modo, quando o inimigo recua, deve-se avançar e, quando o inimigo para, deve-se igualmente parar. Ao que parece, é essa a tática que vem sendo usada por esses dois poderes em prejuízo de uma República que padece pela ausência de verdadeiros estadistas.
O pacto social defendido pelos pais da teoria tripartite do poder — John Locke e Montesquieu, no século 18 — para organizar a sociedade entre homens livres previa que as leis aprovadas pelos representantes do povo seriam aplicadas por juízes imparciais, com o propósito de manter a harmonia entre os indivíduos. Nesse pacto, o governante seria o executor das vontades do povo. Ao que parece, essas lições básicas, que foram, contudo, inseridas em nosso modelo de governo, estão sendo deixadas de lado.
Querem, com isso, reinventar uma espécie de roda quadrada, cujo bom desempenho só é possível na cabeça daqueles que a conceberam. O pior é que o pobre do cidadão que optar por ficar de um lado ou de outro nessa contenda terá ficado sempre do lado errado. Nessa querela, o único lado certo é aquele ditado pela Constituição quando observada, literalmente, suas linhas pretas sobre o papel branco.
A frase que foi pronunciada:
“A força do direito deve superar o direito da força.”
Rui Barbosa
Mobilidade
Inas Valadares protesta contra o estado das calçadas das superquadras Sul, principalmente entre a 105/305 até a 108/308. Além de ter que desviar dos buracos e estar sempre atenta aos desníveis, há a preocupação com a velocidade dos ciclistas.
Hino à Brasília
Malu Mestrinho está encantada com o maior acervo de Canção de Câmara Brasileira. São mais de 6 mil partituras. O guardião, Hermelindo Castelo Branco, pianista e tenor (1922-1996), tinha a cópia do Diário Oficial com o decreto oficializando o Hino de Brasília, com música de Neusa França. Mestrinho foi à Escola de Música da UFRJ apresentar um trabalho sobre a pianista Neusa França. Veja as fotos a seguir.
Segurança
Faixas de pedestres não estão visíveis. Melhor seria cuidar disso antes das chuvas chegarem.
História de Brasília:
O ministro Alfredo Nasser ainda não tomou nenhuma resolução com referência às duas assembleias legislativas do Estado do Rio. Contemporizando, esperando que as coisas se resolvam por si, o ministro está apenas deixando de lado um assunto que é importante demais. (Publicada em 15/4/1962)
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Avaliação feita nas escolas públicas, em mais de 50 cidades do país, mostra que todas, com nota 10, estão situadas no Nordeste. O levantamento foi feito pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O destaque é o Ceará, onde 20 cidades saíram na frente. Nesse estado, graças à criação de um sistema de repasse de recursos e apoio pedagógico aos municípios, naquilo que os especialistas chamam de incentivos às boas práticas de ensino, foi possível ao Ceará se tornar modelo para todo o país. Há, inclusive, aqueles que acreditam que essas boas práticas políticas em prol da escola pública chamaram a atenção para a gestão do então governador, Camilo Santana, que, hoje, está à frente do Ministério da Educação.
No Centro-Oeste, o destaque ficou com as cidades goianas de Estrela do Norte e Rio Verde. Para os especialistas em educação pública, a aferição feita pelo Ideb, que leva em conta as notas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), bem como a quantidade de alunos aprovados, traduz, com certa exatidão, o principal indicador de qualidade da educação do país. A avaliação do Ideb é feita numa escala de 0 a 10 e é calculada a cada dois anos.
Com esse método, o primeiro lugar ficou com a cidade de Santana do Mundaú, em Alagoas, com nota 9,3, seguida de Pires Ferreira, no Ceará, com nota 9,2. Apenas na vigésima colocação aparece a cidade de Iporã do Oeste, em Santa Catarina. É preciso destacar, nesse ranking, que 21 unidades de ensino público — todas elas no Nordeste — tiraram nota 10 nos anos iniciais do ensino fundamental na avaliação feita pelo Ideb em 2023. Dessas 21, 15 estão no Ceará e cinco em Alagoas.
Outra avaliação foi na Escola Municipal de Inajá, no sertão pernambucano. Segundo o Ideb, esse centro de ensino, mantido, hoje, pela ONG Amigos do Bem, conseguiu elevar sua nota anterior, que era de 3,5, para 9,2, superando a média nacional do ensino público, que é de 6 e superando a própria média do ensino privado que teve nota 7. Esse sucesso possivelmente se deve à entrada dessa ONG em 2017, e não, propriamente, à atuação de órgãos do governo.
De qualquer forma, os resultados positivos, numa região que, historicamente, sempre manteve notas inferiores ao Sudeste e ao Sul, demonstra de modo cristalino que, independentemente, de ser uma região com muitos problemas econômicos, a participação de instituições sérias, distantes do governo, é capaz de fazer a diferença, mesmo que essas vitórias se tornem capital eleitoral aos políticos locais. “Eu sempre digo, ressalta a presidente da ONG Amigos do Bem, Alcione Albanesi, que quem tem fome não é livre, e quem não sabe ler e escrever também não. Sabemos que a única forma de romper o ciclo de miséria secular no sertão é por meio da educação e do trabalho, promovendo a geração de renda e levando oportunidades, vidas”.
Outro dado de suma importância mostra que as escolas que conseguem manter um tempo maior de aulas são também aquelas que alcançaram as melhores notas no Ideb. Nas escolas de tempo integral, com mais de sete horas de aula diária, os alunos apresentam melhores notas em matemática e em outras disciplinas. A maior carga horária ampliada chega a equivaler a um ano de ensino a mais em muitas disciplinas. Notem que a ideia de escolas de tempo integral não é nova, remonta à década de 1950, com o educador Anísio Teixeira, idealizador das escolas parques. Naquela época, há mais de 70 anos, sabia-se que somente escolas com horários corridos de sete ou oito horas diárias atenderiam ao problema secular da má-formação dos alunos brasileiros e da precariedade do ensino público em nosso país. Por diversas vezes, a implantação, em todo o país, de escolas em tempo integral foi tentada. Mas, por motivos diversos, não teve sequência efetiva. Hoje, calcula-se que apenas 33% das escolas públicas em todo o país funcionam em tempo integral. O Paraná é um exemplo de estado que triplicou o número de escolas em tempo integral, o que valeu ao estado um aumento de 0,5 na nota do Ideb. Esse modelo representa um verdadeiro projeto de aprendizado na vida do estudante, beneficiando sobretudo os mais pobres.
Alguns governadores puderam perceber que a melhoria apresentada pelas escolas públicas nos certames do Ideb representa uma excelente vitrine política para suas gestões e passaram a dar maior atenção a esse fato. Não por coincidência, os governadores mais bem avaliados e possíveis puxadores de votos nas próximas eleições são justamente aqueles que dedicaram mais esforços à melhoria do ensino em suas cidades.
A frase que foi pronunciada:
“O essencial, com efeito, na educação não é a doutrina ensinada, é o despertar.”
Ernest Renan (filósofo francês)
História de Brasília
O deputado Neiva Moreira, que, na época, foi quem transferiu o Legislativo para Brasília, escreveu uma carta ao dr. Juscelino pedindo para ele ficar mais tempo na cidade que construiu. (Publicada em 15/4/1962)
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Alguns fatos, por sua evidência cristalina, muitas vezes passam despercebidos para a maioria das pessoas, mesmo estando na ponta do nariz de muitos. Em se tratando do nosso modelo político partidário — uma espécie de protótipo projetado para não atender aos interesses soberanos dos eleitores e, sim, ao apetite pantagruélico dos caciques e donos das legendas —, fica patente que é chegada a hora de a população exigir, pelos meios legais de que dispõe, uma reforma profunda que moralize e racionalize esse sistema o quanto antes, sob pena de conduzir a nação para um tipo inédito de ditadura no qual os desígnios dos políticos suplantarão, em muito, o que esperam os cidadãos de bem.
Nesse ponto, fica demonstrado, na prática, que a existência de uma enorme bancada composta por aproximadamente 200 parlamentares, ou cerca de 40% dos deputados, e que, em muitas votações de interesse, tem mostrado um comportamento disciplinado e coeso, poderia muito bem ser aglutinada em apenas um bloco. O bloco de direita, eliminando, assim, uma dezena de legendas inúteis e dispendiosas para os eleitores. Do mesmo modo, poderiam ficar concentrados num bloco da esquerda todos os partidos que defendem essa ideologia. O restante ficaria distribuído entre os blocos de centro-direita e centro-esquerda, completando, assim, quatro grandes bancadas com assento nas duas Casas do Congresso.
Poderia, ainda, segundo preferência do eleitor, ser formado um quinto bloco, composto por parlamentares avulsos e independentes. A eliminação de dezenas de legendas de aluguel e que só têm servido para onerar nosso já dispendioso modelo de representação, tornando-o disperso e ineficaz, representaria uma economia necessária para o país.
Trata-se de um gasto, muitas vezes, superior ao que é destinado para muitas áreas de interesse imediato da população. O fato é que o nosso modelo de democracia custa muitíssimo ao eleitor, pagador de impostos. O pior é que este é um modelo que, incrivelmente, atende muito mais à classe política do que aos brasileiros e tende a piorar nos próximos anos.
Obviamente que a democracia, como regime político que preza a liberdade e o Estado Democrático de Direito, não pode ser avaliada segundo metodologias de precificação, mas, em se tratando do nosso modelo particular, erigido para enriquecer indivíduos e partidos, estamos falando de um outro preço: o preço da esperteza. A questão é saber até quando os brasileiros estarão dispostos a pagar para ter o atual modelo em mãos?
Em termos comparativos com outros países desenvolvidos e onde a democracia é uma conquista centenária, sabe-se que nosso modelo custa aproximadamente seis vezes mais do que o francês e cinco vezes mais do que o britânico, que existe desde 1689.
Temos uma das eleições mais caras. Com a proibição do financiamento privado, depois dos escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava-Jato, os políticos foram com fome para cima dos cofres públicos, onde, por meio do chamado presidencialismo de coalizão, arrancam, a cada eleição, o que querem de recursos.
Os custos somados dos fundos partidários e dos fundos eleitorais demonstram, na prática, que estamos no caminho errado para a democracia. Não é por meio da tutela estatal da classe política, realizada a fundo perdido, que teremos a democracia a que temos direito.
A frase que foi pronunciada:
“O Senado precisa fazer as pazes com o povo.”
Senador Girão
Atividades
Começou a Quaresma Franciscana de São Miguel Arcanjo, que vai até o dia 29. Veja a programação a seguir.
Novidade
Turistas em passagem por Brasília comentam que sentiram falta de uma placa nas entrequadras com um mapa das lojas/serviços existentes. A ideia é ótima!
Arquitetura
Já com os ingressos à disposição do público, a mostra da última versão da Casa Cor está interessante. A natureza quase sempre presente é uma indicação dessa necessidade humana em respirar o verde. Neste ano, a mostra
vai até 16 de outubro, com 43 ambientes assinados por 71 profissionais, na Arena BRB, no
Mané Garrincha.
História de Brasília
O Dr. Waldemar Lucas tem sido um administrador ideal para Taguatinga. Pegou a cidade sem nenhuma organização, sem lotes
regularizados, com invasões por todos os lados, e está pondo tudo nos eixos. É um elogio a quem merece. (Publicada em 15/4/1962)
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Com a nova configuração estratégica e política do mundo, catalisada pelas guerras que se seguem entre Rússia e Ucrânia e pelo eminente alastramento dos conflitos no Oriente Médio, opondo Israel ao mundo Islâmico, fica cada vez mais nítido que o planeta vai sendo divido entre nações que vivem sob um regime ditatorial cruel e países que ainda respiram liberdade.
Para os mais incisivos, o globo vai sendo cortado em duas metades. Uma dos que acreditam que a herança grega, romana, judaica e cristã ainda é o mais importante pilar a sustentar e trazer razão à civilização Ocidental. Do outro lado, emergem nações submersas por crenças religiosas radicais. Nesse grupo submetido a ditadores, há ainda nações esmagadas por ditaduras ateias, que substituíram as orientações divinas por pastores do comunismo.
Essas nações distantes das ideias democráticas encontram no grupo denominado Brics uma espécie de refúgio em que podem dar vazão ao totalitarismo. De certa forma, o que se assiste é uma reorganização de grupos como havia na Segunda Grande Guerra (1939-1945), opondo o Eixo aos Aliados. Se for esse o caso, estamos de frente à repetição da história, o que pode resultar em uma grande farsa feita às custas de muitas vidas e estragos, forçando o mundo a retroceder.
Ao incorporar países como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã, o Brics vai se tornando cada vez mais parecido com o Eixo da Segunda Guerra. O Brasil, nesse meio confuso, vai se parecendo cada vez mais com o Brasil de Getúlio Vargas. Se for esse o caso, em algum momento, o país terá que pular desse barco furado, pois as consequências por andar em más companhias virão de uma forma ou de outra.
Tomando a realidade fática como elemento condutor da razão, vemos que ainda é válida a tese de que geografia é destino e, sobretudo, futuro. Para aqueles que veem o Brics como um singelo e pacífico bloco devotado apenas às teses do comércio e do desenvolvimento dessas economias, o Brasil estaria em boa companhia. Para aqueles que enxergam mais longe e desconfiam das estratégias laicas de dominação de países como Rússia e China ou mesmo da expansão do Islamismo pelo mundo Ocidental, o Brics podem vir a representar, num futuro não muito distante, uma enorme ameaça aos valores e vida ocidental.
Empurrar essa visão mais pessimista para as proximidades das chamadas teorias da conspiração não resolve o problema, ofusca a realidade e serve apenas para aqueles que estão preparando tranquilamente essa distopia mundial. Há um processo claro em andamento, e isso pode ser observado dentro de nosso país por meio da aproximação cada vez mais nítida entre o governo e o Partido Comunista Chinês.
Não é preciso lembrar que a China apoia a Rússia em sua investida contra a Ucrânia, assim como apoia o Irã em sua movimentação de tropas contra Israel. Para o governo chinês, ver o mundo pegar fogo ajuda em sua tática de anexar Taiwan e ampliar o caminho da seda, que nada tem de maceio e belo. Ao que parece, o Brasil vai incorporando a figura folclórica de país inzoneiro, intrigante, mentiroso, enredador, manhoso e sonso.
A frase que foi pronunciada:
“Se seus parceiros de negócios não estão trabalhando tão duro quanto você, não é uma parceria, é um navio afundando.”
Julian Hall, empresário
Aeroporto
Poucas cadeiras no Aeroporto Internacional de Brasília, no desembarque, mostram que não há preocupação em manter conforto aos idosos, gestantes e obesos.
Evento
Pessoal animado com a iniciativa que acontecerá neste sábado no Gama. Nos 20 anos de comemoração do 20º aniversário da sede da Promotoria de Justiça do Gama, e ao 27º da Promotoria de Justiça de Defesa da Filiação (Profide), o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) providenciou uma equipe em mutirão que trabalhará no reconhecimento de paternidade.
História de Brasília
O sr. Antônio Venâncio da Silva, lançará um novo prédio em Brasília, também no Setor Comercial Sul. É um homem de negócios que não vive em Brasília, mas acredita na cidade e aqui tem feito grandes investimentos, depois de concluir o Edifício Ceará. (Publicada em 15.04.1962)
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Com o avanço das tecnologias e com a contratação de pessoal especializado na movimentação, aplicação e lavagem de dinheiro, as organizações criminosas se transformaram hoje em empresas multinacionais de grande porte, diversificando suas atividades, subornando autoridades e se infiltrando perigosamente na máquina do Estado, dentro e fora do país.
A atuação policial, feita nos moldes antigos, já não consegue reprimir ou acompanhar de perto essas organizações, que parecem estar sempre um passo ou dois à frente. A sofisticação desses grupos ilegais atingiu um tal ponto, que somente podem ser combatidos por meio do uso da inteligência, em investigações que reúnem o que de mais avançado existe hoje para acompanhar não só os caminhos tortuosos do dinheiro, mas toda a movimentação de criminosos dentro e fora das fronteiras.
A existência de países fronteiriços ou próximos ao Brasil, que produzem, em grandes quantidades, derivados de cocaína e maconha, transformaram o Brasil no mais importante corredor mundial para a exportação de drogas. Em se tratando de um produto altamente rentável e que é consumido em larga escala por todo o planeta, não surpreende que as diversas quadrilhas espalhadas por todo o Continente Sul-Americano disputam esse comércio com o auxílio de verdadeiros exércitos paramilitares, munidos com o que há de mais letal em armas e em treinamento de guerrilha.
A situação, por sua gravidade e amplitude, há muito já deixou de ser um problema exclusivamente do nosso país. Os noticiários diários dão conta do avanço paulatino do crime organizado sobre as instituições do Estado e sobre as atividades empresariais privadas. O leque de investimento desses grupos é diversificado e vai desde o transporte público, postos de gasolina, até o financiamento e apoio de candidatos nas eleições tanto municipais como federais.
Nem mesmo o judiciário tem escapado desse avanço do crime, com essas quadrilhas financiando a formação de juízes e de grupos de advogados exclusivamente devotados a proteger suas atividades. Notícia, dessa semana que passou, dá conta de que a Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes do Mogi (DISE) em São Paulo efetuou o bloqueio de mais de R$ 8 bilhões pertencentes a esses grupos, todo esse montante diluído em empresas legais que cuidavam de lavar esse dinheiro. Trata-se de uma quantia enorme, mas que representa apenas uma pequena parte dos recursos que esses bandos possuem distribuídos em diversas empresas e atividades espalhadas por todo o país.
O Centro-Oeste que, até a pouco tempo, encontrava-se fora da ação dessas organizações criminosas, hoje já figura também como região em que esses grupos comandam a distribuição e venda de drogas. Não há praticamente lugar algum dentro desse país em que o crime organizado não esteja presente e fortemente atuante, inclusive em cidades do interior. As regiões Nordeste e Norte do país também já capitularam e se encontram, hoje, dominadas por quadrilhas que obedecem a uma espécie de comando central.
O mais curioso é que grande parte desse suposto comando central do crime se encontra presa em presídios de segurança máxima. Não chega ser exagero, pois, afirmar que o quartel general do crime está localizado hoje, geograficamente, dentro de presídios. São dessas instituições que partem as ordens para a movimentação de milhares de soldados dessas organizações. O entra e sai de informações nesses estabelecimentos prisionais é intenso. Todos conhecem essa realidade. As autoridades parecem nada ver. Há ainda uma vastíssima e complexa rede de informações entre os criminosos, dentro e fora dessas cadeias.
É claro que, para manter todo esse aparato do crime, é necessário também o abastecimento com armas de todos os calibres, munições e até explosivos, que são comprados nas fronteiras do país, sobretudo o Paraguai. A expansão de grupos como o PCC e o CV para além das fronteiras do país, já fez acionar a luz vermelha no Itamaraty, preocupado com os possíveis impactos diplomáticos que a presença de brasileiros ligados ao crime podem gerar nessas relações multilaterais.
Enquanto isso, dentro de nossas fronteiras, a liberação dos jogos e dos cassinos em todo o país está na reta final. Isso porque já é sabido, há muito tempo, que os cassinos lavam mais branco.
A frase que foi pronunciada:
“Se você acredita na sorte, o azar é seu.”
Savanah, esposa de Gilberto Margon que perdeu tudo o que tinha em Cassinos.
História de Brasília
A pista da rampa da Câmara que está interrompida em virtude da construção do anexo será liberada ao tráfego na próxima semana. (Publicada em 15.04.1962)
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Há razões suficientes para crermos que, no cerne de muitos discursos, que abordam o tema família, como sendo um dos fatores a impedir o avanço de certas ideologias políticas, escondem-se estratégias inconfessáveis, que visam, primeiramente, retirar, dos indivíduos, todo e quaisquer traços da figura paterna e sua importância na introdução da lei e da ordem simbólica na vida da criança.
A abolição da família é, antes de tudo, nessas pregações políticas niilistas, a destituição da figura paterna e sua substituição por algo vago e irreal do tipo “pai da pátria”. Há um consenso pacífico, entre psicólogos e psicanalistas, que a função paterna é fundamental para a formação ou estruturação do sujeito. Para justificar o desmonte da família, como sendo, “algo atrasado, que deve ser combatido” para o avanço das ideias progressistas, vale tudo, inclusive alcunhar a família de “burguesa” e perpetuadora da luta de classes. Nada mais irreal.
Nesse combate insano e até mesmo autodestrutivo, vale invocar, como foi feito por uma deputada, o incesto, apenas para desmontar a ordem familiar e, sobretudo, a figura paterna. A ausência paterna, em sentido amplo, induz a problemas na constituição psíquica, contribuindo para a ausência de identificação e outras dificuldades que, na vida adulta, são ainda mais ampliadas, dando margem para a dominação do cidadão e sua submissão a algo etéreo como o Estado.
A criação para o mundo é função do pai. A mãe educa para a vida, o que é outra coisa fundamental. Em ambos os papeis, a figura do Estado é nula. Fôssemos fazer um levantamento em todos os consultórios de psicologia ou psicanálise, sobre que assuntos são tratados na maioria dessas consultas, veríamos que o pai está sempre no centro dessas conversas, quer pelo excesso, quer pelo vazio.
As primeiras e mais fundamentais leis são passadas no seio da família, geralmente pelo pai, que, para isso, estabelece também as primeiras obrigações, sendo, a mais fundamental, o respeito às leis e normas da casa. Num mundo em que a cultura Woke e o feminismo tentam, por todos os meios, destruir a família e, sobretudo, um dos seus alicerces, que é o pai, mostrado aqui como indutor do patriarcalismo, é preciso, com urgência, restabelecer a ordem contra o caos, colocando cada coisa em seu lugar. Para esses movimentos e para os chamados progressistas, é preciso retirar o pai da equação família. Matá-lo simbolicamente, se preciso for. Sem liderança natural, a família está à mercê de outras forças, entregue às vontades de outros líderes externos que, em relação a esse agrupamento, não mantêm qualquer sentimento ou laços afetivos. Ou seja, o que o Estado ideologicamente politizado quer da família é apenas sua força de trabalho, não importando seu destino final.
Diferentemente do pai, que deseja a perpetuação da união desse grupo, pois mantêm com ele laços de sentimentos e tem nessa relação a razão de sua própria existência. Há aqui um embate destrutivo entre a família e o Estado ideologizado, que leva este a desejar o desmanche da família, desconhecendo que, com esse intento, está buscando seu próprio fim, desfazendo com os pés o chão que lhe dá sustento. Nesse caso, buscar um pai, fora da família, como último recurso para a sobrevivência, é o que deseja esse tipo de Estado, ao criar a ideia do pai imaginário ou um pai fantasmagórico. Como recompensa por essa entrega e rendição, o Estado dá-lhes o estritamente necessário para que sobrevivam num mundo de ilusão e renúncias.
A frase que foi pronunciada:
“Não me lembro de nenhuma necessidade da infância tão grande quanto a necessidade da proteção de um pai.”
Freud
Um susto no Lago Norte. Estrondos altíssimos na QL 1, Conj. 8. Era a PMDF que estava no local acionada pelo COPOM (Centro de Operações da Polícia Militar). Um artefato explosivo foi encontrado num depósito. Uma equipe especializada do Bope foi até lá e resolveu realizar a detonação controlada. A Polícia Civil iniciou a investigação sobre os artefatos.
Quase 13
Sexta-feira foi diferente para os moradores da Asa Norte e para quem transitava por lá. Sem luz nas casas, lojas e semáforos, a população se virou como pôde. Pior foram os funcionários da Neoenergia feridos, mesmo com toda a proteção exigida por lei.
História de Brasília
A pista da rampa da Câmara que está interrompida em virtude da construção do anexo será liberada ao tráfego na próxima semana. (Publicada em 15.04.1962)
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Impulsos, taras e desvios sexuais sempre se mostraram mais fortes do que qualquer instituição, lei ou obrigação humana e parecem obedecer a um tipo de comportamento que aproxima e confunde o ser racional com os animais, que agem movidos pelo instinto de sobrevivência ou de preservação. Regras, punições e ameaças, nada parece produzir os efeitos de deter esses impulsos quando eles ocorrem. Com a Igreja Católica, não tem sido diferente.
Os volumosos e rumorosos casos de abusos sexuais que passaram a vir à tona a partir do final da década de 1970, embora revelem uma pequena parte dessa história de horrores que, supostamente, parecem vir acontecendo há séculos dentro de igrejas, mosteiros, orfanatos, internatos e outros lugares, dão uma mostra real de que eles sempre existiram sob o manto de um silêncio que se quer sagrado.
O problema é que encarar o gigantesco desafio de abrir ao conhecimento do público — e, principalmente, dos fiéis — essa torrente de comportamentos repugnantes e criminosos que contamina a Igreja pode também servir de combustível para implodir internamente a própria instituição, destruindo um trabalho de mais de 2 mil anos na propagação do Cristianismo.
As descrições desses desvios de comportamentos, e que a Igreja assinalaria como grande pecado, estão por toda a parte. Depoimentos, livros, filmes, muitos dos quais premiados pela crítica, mostram o enorme desafio que é posto diante do papa Francisco para salvar, livrar e separar a parte boa da Igreja do restante que parece estar irremediavelmente perdida.
Na história da Igreja, nunca houve um escândalo dessa magnitude e que parece estar presente simultaneamente em diversos continentes e com os mesmos padrões de comportamentos, envolvendo centenas de clérigos dos mais diversos estamentos da hierarquia da instituição. O que se sabe agora é que grande parte dessa história de abusos jamais chegará ao conhecimento do grande público, pois ocorreu em épocas remotas, quando o poder da Igreja sobre a sociedade e até sobre os reis era grande e o silêncio, regra geral.
É preciso destacar, no entanto, que esse tipo de prática condenável não está presente apenas na Igreja Católica, mas em praticamente todas as outras instituições religiosas, o que mostra que esse não é propriamente uma condição natural da Igreja em si, mas de parte de seus membros. Onde quer que atue o ser humano, suas impressões e pegadas, para o bem e para mal, estarão impressas também. Mesmo antes de assumir a cadeira de Pedro, Francisco tinha uma noção de que essa seria, ao lado da perda paulatina de fiéis para outras confissões religiosas, o grande desafio de seu pontificado.
O santo padre, com seu conhecimento da máquina da Igreja, à essa altura, já tem a convicção íntima de que esse tema, por seu teor explosivo para a instituição milenar, continuará a sofrer resistências dentro da própria máquina burocrática da igreja, avessa, desde sempre, a tumultos e bisbilhotices mundanas. As recorrentes acusações de que a Igreja vem, há muito, acobertando esses crimes é outro grande desafio para Francisco. O papa também já deve reconhecer que alas dentro da Igreja vão se posicionar incondicionalmente ao seu lado, nem que para isso tenha de cortar na carne a parte podre dessa instituição. Sabe também que esse é um desafio esmagador para alguém com mais de 80 anos de vida. E reconhece, sobretudo, que são necessárias uma resposta interna e providências duríssimas, sob pena de manchar, de forma profunda, sua administração.
Alguns especialistas em assuntos da Igreja reconhecem que essa é, talvez, a maior crise experimentada pela instituição em seus 2 mil anos de história. Na versão mística de alguns fiéis, essa turbulência era prevista pelo santo padre Pio (1887- 1968), que, em uma de suas visões, teria visto o demônio sentado dentro do templo, afirmando que estava ali justamente para semear a futura cisão no seio da igreja e que essa maldição seria devastadora.
Crenças à parte, o fato é que, em muitos países, os tribunais de justiça estão trabalhando a todo vapor para colocar atrás das grades membros da Igreja, inclusive do alto clero. Muitos acreditam que essa é uma grande oportunidade para deputar a Igreja desses maus clérigos, já que entendem que o que faz um Igreja ser mantida em rumo original de pureza e santidade não é quantidade de seus membros, mas a qualidade de cada um e seu compromisso com a fé que abraçaram.
Em 10 anos, a Igreja teria perdido um número de fiéis equivalente à população de uma cidade como Curitiba. Ciente desse e de outros problemas de igual magnitude, o papa Francisco vem diuturnamente trabalhando para colocar sua Igreja nos trilhos traçados pelo próprio Cristo, reduzindo a pompa e a burocracia do Vaticano, seus luxos e ostentações, e trazendo a Igreja e sua mensagem para aqueles cantos esquecidos do planeta, numa espécie de nova catequese nesse século 21.
O sumo pontífice, por meio de um decreto intitulado Vos estis lux mundi (Vós sois a luz do mundo) passou a obrigar que os bispos denunciem todas as suspeitas de casos de abuso sexual dentro da Igreja. No mesmo documento, incentiva os fiéis a agirem de modo idêntico, apontando esses casos diretamente ao Vaticano, para que não passem em branco e severas medidas sejam adotadas contra os abusadores — inclusive punindo todos aqueles que eventualmente prossigam acobertando esses casos.
A frase que foi pronunciada:
“Diante de Deus e seu povo, expresso minha tristeza pelos pecados e crimes graves de abuso sexual clerical cometidos contra vocês. E, humildemente, peço perdão. Peço seu perdão também pelos pecados de omissão por parte dos líderes da Igreja que não responderam adequadamente aos relatos de abuso feitos por familiares, bem como pelas próprias vítimas de abuso. Isso levou a um sofrimento ainda maior por parte daqueles que foram abusados e colocou em risco outros menores que estavam em risco.”
Papa Francisco
História de Brasília
A Graça Couto e a Severo e Villares estão na fase de acabamento de seus prédios no Setor Comercial Sul, em frente à W3. O da Severo já está pondo em experiência o acabamento externo em tom vermelho, e tomara que não seja para contrastar com os mosaicos pretos. (Publicada em 15/4/1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Não é de hoje que aqueles que entendem de finanças públicas pregam a necessidade de criação de um super órgão centralizado e responsável pela distribuição dos recursos resultantes de impostos pagos a cada ano. Na visão desses especialistas, esse novo órgão cuidaria de distribuir aos Poderes da União os recursos captados, sempre de acordo com um minucioso planejamento anual de gastos apresentados por esses poderes, acabando, assim, com o exorbitante orçamento próprio desses entes do Estado e a volúpia incontrolável com que eles gastam esses recursos.
Curioso notar que a autonomia financeira dos Três Poderes contrasta fortemente com a dependência, cada vez maior, de estados e municípios com relação à União. É lá na ponta que os recursos oriundos dos impostos e tributos tão necessários nunca chegam, e, por isso, fazem muita falta. Nesse novo arranjo, caberia ainda um novo modelo aos tribunais de contas, acabando, logo de saída, com interferências políticas no órgão e o levando para a esfera da Receita Federal, que centralizaria, também, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).
A independência financeira dos poderes da União vem se tornando, a cada ano, motivo de escândalos, pois demonstra o grau de descolamento desses entes da realidade nacional. Os caminhos percorridos pelo dinheiro público, desde seu recolhimento na forma de impostos, taxas, tributos e outras cobranças, sofrem enormes e variados desvios e, lá na ponta, mal sobram recursos para as reais necessidades da população.
O desperdício do dinheiro público decorre dessa priorização ao Estado em detrimento da população. Não é por outro motivo que se diz que, no Brasil, o Estado é rico e a população, pobre. Obviamente que esse novo modelo de gestão dos recursos públicos caberia a um governo livre de ideologias políticas e totalmente focado em resultados concretos em benefício do cidadão. No modelo que temos, os estados e municípios simplesmente não existem para a União, que os trata como pedintes. A eles cabe apenas a boa vontade do governo. A situação chegou a um nível paradoxal, com alguns Poderes da União tendo um orçamento anual muito superior à maioria dos mais de 5 mil municípios do país.
Há hoje uma impossibilidade flagrante de crescimento para o que importa, que é o entorno e todos aqueles que estão à sua volta. Portanto, não se pode falar em desigualdade social e de renda sem falar primeiro nessa injustiça na distribuição dos recursos da União e num modelo de Estado que sorve as riquezas da nação.
O Brasil permanece sendo um dos países com maior desigualdade social e de renda do mundo, isso de acordo com estudos feitos, ainda em 2021, pelo economista Thomas Piketty, autor da obra O capital no século 21. Os extremos que marcam essa desigualdade são impulsionados por um Estado que não apenas não sabe administrar os recursos da União, como ainda gasta mais do que deveria em benefício de uma máquina gigantesca que favorece todos aqueles dotados e/ou ligados ao poder.
O patrimonialismo com fortes doses de corrupção ajuda a aumentar essas desigualdades, criando um sentimento geral de que não existem saídas para esses desníveis de renda sem uma reformulação total do Estado. E olhe que, nessas observações, não estão incluídas as estatais, outros sorvedouros dos recursos da população. Para se livrar da pecha de maior protagonista nesses índices de desigualdade de renda, o governo passa a culpa para população com maior renda, acusando-a daquilo que pratica sem o menor remorso.
Não é o cidadão milionário ou bilionário o culpado pela desigualdade social e de renda, é o Estado. É ele o grande ator dessa pantomima e grande gerador dessa mazela persistente. O que ocorre nesse caso de empurrar as responsabilidades para outrem é que muitos empresários, conhecedores dos desmazelos do governo pelos recursos da população, a ele se alinham para também explorar as minas de ouro, que são as finanças públicas.
É esse o grande problema nacional, que, obviamente, não interessa ser resolvido por aqueles que dele se beneficiam. É o Estado, Pedro Bó!
A frase que foi pronunciada:
“O verdadeiro e o falso são atributos da linguagem, não das coisas. E onde não há linguagem, não há verdade nem falsidade.”
Leviatã
História de Brasília
Depois de fazer a cidade mais moderna do mundo, o sr. Oscar Niemeyer construiu uma mansão em estilo colonial, onde está morando atualmente. (Publicada em 15/4/1962)
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Aprender com os erros do passado tem sido a receita de muitos povos, em todo o tempo e lugar, para não repetir os mesmos modelos fracassados de antes. Quando as lições não são devidamente aprendidas e os caminhos corrigidos a tempo, o resultado aprisiona esses povos num ciclo sem fim de caos e decadência. Exemplos desse modo de atuação são demonstrados ao longo de toda a história humana. Para não ir muito longe, ficando apenas num grande exemplo trazido pela história contemporânea, vemos que no regime nazista (1933-1945), a acumulação de erros e estratégias abreviou essa ideologia, que pretendia se estender por mil anos. Mesmo assim, o curto período ativo, com toda a monstruosidade por ele operado, já denotava, desde os primórdios, que esse era um regime fadado ao colapso, tantos foram os crimes cometidos por seus protagonistas.
Demonstra a história que impérios, no caso o Terceiro Reich, que pavimentaram seus caminhos e conquistas com carne e sangue humanos, não avançaram além do que pretendiam seus principais líderes. Ainda assim, ficam as interrogações em forma de espanto. Como pôde um regime e uma ideologia contaminar e controlar toda uma nação que, à época, era a mais desenvolvida e organizada do planeta? Como foi possível a um só homem, dotado de dois olhos, dois ouvidos e uma boca, controlar milhões de olhos, ouvidos e bocas?
A resposta possível é que esse único indivíduo contava para controlar as massas de milhares de ouvidos para escutar os opositores, milhares de olhos para vigiar os dissidentes e outras milhares de bocas para denunciar todos aqueles que se mostravam contrários ao regime. Para tanto, uma ferramenta muito antiga foi posta em prática por toda a parte: a delação.
No regime nazista, as delações foram não apenas uma prática corriqueira, mas uma atitude adotada por milhares de cidadãos e largamente incentivada pelo governo, para que nada fugisse ao controle do regime. Nada naquele período era mais sofisticado e massivo do que o aparelho de propaganda do governo. Tivessem existido, naquela época, as mídias sociais, como a conhecemos hoje, aquele regime nefasto iria durar muito mais do que uma década, pois esses canais de comunicação estariam severamente censurados e usados apenas em benefício do regime.
O regime de Adolf Hitler, como os demais governos totalitários, como é o caso também do regime stalinista na antiga União Soviética, utilizaram-se de um gigantesco sistema de vigilância e controle da população, ao obrigar a própria sociedade a vigiar uns aos outros, criando assim um intrincado e eficaz modelo para os órgãos de repressão agirem pontualmente. Nesse sistema de repressão, que dependia fortemente das denúncias feitas pelos próprios cidadãos, valia todo o tipo de acusação e incriminação, desde vizinhos que se odiavam, até familiares que, por algum motivo banal, desentenderam-se. Todos denunciavam todos o tempo todo e por tudo.
Muitas dessas delações podiam ser motivadas por razões diversas, daquelas buscadas pelo regime, incluindo medo, oportunismo, vingança pessoal ou até mesmo um desejo de mostrar lealdade ao regime. Na verdade, fazer-se de delator era uma maneira de escapar ao regime, mesmo que as custas de outras vidas. Ainda hoje, na Rússia, China, Coreia do Norte, Nicarágua, Cuba e outros regimes totalitários, as denúncias, feitas pela população, servem de lastro para o governo reprimir os opositores e todos que não obedecem ao regime.
No caso do Nazismo, as denúncias eram frequentemente feitas à Gestapo, a polícia secreta do Estado, que investigava e tomava medidas cruéis contra os acusados. As consequências para aqueles denunciados podiam ser severas, incluindo prisão, tortura, deportação para campos de concentração e, em muitos casos, a morte. Obviamente que, nesse ambiente de medo e desconfiança mútua, ninguém confiava mais em ninguém, pois essa ferramenta poderosa para o controle social desestimulava qualquer forma de oposição ao regime.
A delação naquele e em regimes ainda em vigor em nossos dias, mostraram-se uma ferramenta fundamental para a perpetuação do terror e da repressão. Outro aspecto essencial para a manutenção tanto do regime nazista como para outras ditaduras modernas é o estabelecimento da censura à imprensa e aos meios de comunicação em geral, incluindo, nos casos atuais, as mídias sociais. Nesse caso, o Estado passa a alardear a necessidade de que esses novos meios de comunicação sejam regulados de acordo com o que planeja o governo em seus três poderes. Os tempos mudam, mas os modelos de controle dos regimes persistem em variadas formas, inclusive sob uma nova roupagem de manutenção do Estado Democrático de Direito.
Para esses casos, criam-se até número de telefone onde os cidadãos podem denunciar as chamadas fakenews, ou seja, as mentiras ou verdades que o regime não quer ver expostas ao público.
A frase que foi pronunciada:
“Dedo duro é aquele que tem um caráter frouxo e uma vida mole.”
Helgir Girodo
História de Brasília
A Graça Couto e a Severo e VIlares estão na fase de acabamento de seus prédios no Setor Comercial Sul, frente para a W3. O da Severo já está pondo em e experiência o acabamento externo em tom vermelho, e tomara que não seja para contrastar com os mosaicos pretos. (Publicada em 15.04.1962)
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Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Com o avanço da Internet, novos conceitos que, primeiramente, foram aplicados exclusivamente a essa nova tecnologia ganharam vida própria passando a definir também situações experenciadas no cotidiano. Um caso típico se refere a palavra “deletar”, que, no caso dos computadores, tem uma tecla específica que apaga o que foi digitado. No dia a dia, deletar ganhou novo significado nas redes sociais, expressando um movimento que visa apagar, das redes, pessoas que, por algum motivo, contrariam as normas ou pretensões desses grupos. Essa ação de deletar pessoas ganhou ainda maior vigor com a polarização política que parece ter tomado conta do mundo, inclusive do Brasil. Assim, temos que os grupos de esquerda fazem de tudo para deletar pessoas ou grupos identificados como de direita, banindo-os e calando suas vozes e opiniões. O contrário também acontece.
Em nossa sociedade, dita moderna, o sujeito deletado é aquele cuja presença deve ser apagada, não só das redes, mas, se possível, do meio social. Essa situação surreal lembra aquelas fotos antigas, nas quais as figuras tornadas indesejadas eram simplesmente rabiscadas no papel. Nesse novo vale-tudo, vale tudo mesmo, desde de falsas denúncias, calúnias, difamações e todos os truques sujos, criando a imagem de um ser horrendo que merece ser desterrado e punido com o fogo eterno. Infelizmente, essa e outras expressões ganham ainda mais ímpeto, quando são os próprios políticos ou aqueles munidos de responsabilidade pelo voto que açulam essas ideias, ao pregarem a eliminação dos opositores ou, mais precisamente, quando dizem abertamente em público frases do tipo: “precisamos extirpar essa gente”.
Vivemos tempos confusos em que uma nova espécie de eugenia política é alimentada nos palanques e introduzida nas redes sociais, onde passam a ganhar protagonismo feroz. A solução para esse novo tipo de antagonismo midiático é, segundo defendido pela esquerda, regular a mídia. Para a direita, melhor que regular as redes, seria seguir o que diz a Constituição, que regula apenas as responsabilidades, direitos e obrigações individuais de cada cidadão.
Nada é o que é, até que se conclua como sendo o que é de fato. O outro lado desse cancelamento da pessoa e de suas ideias é ainda mais cruel, pois envolve a própria desumanização do indivíduo. Nesse ponto, para entendermos esse fenômeno anti-humano, somos imediatamente lançados ao campo da filosofia política moderna na pessoa de Giorgio Agamber e sua obra, intitulada Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua.
O homo sacer vem de um conceito da Roma antiga e passou a despertar atenção hodierna, pois é, mais do que nunca, um fenômeno atual nesse mundo polarizado e tão cheio de ódio e desencontros. O Homo Sacer, na antiga lei romana, era excluído de todos os direitos civis, uma espécie de santo às avessas, que qualquer um pode sacrificar, uma espécie de Caim, sobre o qual todas as pragas do mundo recaem.
Mais sucintamente, é um excluído e taxado pela sociedade como um ser a quem todos os crimes são imputados, apenas para torná-lo passível de desprezo geral. Não é uma tarefa fácil degredar alguém ou algum grupo à condição de desumanização. Exige todo um trabalho midiático, jurídico, psicológico para convencer a sociedade que esses indivíduos não têm quaisquer direitos, inclusive, o de viver.
Incluem nessa condição, mais comumente, os presos políticos de regimes autoritários, consolidados ou em processo de vir a ser. Para esses homos sacer, não existe direito ao processo legal; à defesa ou ao acesso ao seu processo, que é sempre dificultado, inclusive, com ameaças aos advogados de defesa; a um juiz imparcial. Não têm direito de acesso a suas contas bancárias, seus bens são congelados sem quaisquer propósitos, ficam sem apoio legal, suas vozes são caladas nas redes e, mesmo o acesso de familiares e advogados, a esses presos, é dificultado ao máximo.
Muitos desses presos, transformados agora em homos sacer, passam a cumprir penas em regime diferencial, pois tornam-se figuras de alta periculosidade. A retirada de todos esses direitos é feita mesmo contrariando a Constituição. Os homos sacer são os novos subversivos, a quem todo o castigo é pouco.
A frase que foi pronunciada:
“Um dia a humanidade brincará com a lei, assim como as crianças brincam com objetos fora de uso, não para restaurá-la ao seu uso canônico, mas para libertálos dele para sempre.”
Giorgio Agamben
História de Brasília
Os ônibus JK/W3 desapareceram na sexta-feira da circulação entre 11 e 13 horas, exatamente o horário de maior necessidade. (Publicada em 15/4/1962)