Inferno na terra

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Print de trecho da transmissão ao Vivo durante a Quaresma

 

Não é de hoje que as relações entre política e religião andam de mãos dadas, para o contentamento de uns e contrariedade de muitos.  Em todo o tempo e lugar sempre houve uma certa confluência entre o pensamento religioso e as ideologias políticas de plantão. Mesmo no campo da práxis, existem aqueles que chegam a apontar a religião como um braço de certos credos políticos. No entanto, essa questão passa a ganhar um ponto final quando se estabelece que para a religião importa a fé e o mundo do espírito. Na política a fé se transforma em fanatismo do tipo puramente materialista e utilitarista.

Há aqueles que acreditam que a prática da boa política, isto é, a política que se interessa pelo bem comum e que tem o próximo e suas necessidades como meta, é também uma forma humanizada de religião. Para os puristas, a religião é a política de Deus, ou seja, aquela expressada em seus ensinamentos. O que é de Cézar, é de Cézar. O que é de Deus é de Deus. Jesus, quando num ato de firmeza, expulsou os vendilhões do Templo, de uma certa forma teria expulsado também, todos que ali estavam movidos por outros propósitos.

De uma forma geral não se pode negar certas e enganosas semelhanças entre a pregação política e a pregação religiosa. Sobretudo quando candidatos a cargos eletivos se colocam como merecedores dessa posição por vontade divina. Mesmo antes do aparecimento da Teologia da Libertação, na década de 1960, já havia em outras épocas, aproximações entre o mundo secular e o mundo espiritual e eclesiástico. Houve tempo em que a religião forçou a práxis política a seguir os dogmas religiosos. Ainda hoje é assim nas chamada teocracias, como é o caso do Irã, da Arábia e outros países do Oriente. Houve e ainda existe pelo mundo, religiões que são submetidas obrigatoriamente aos dogmas políticos, ou simplesmente banidas para longe, como é o caso da Nicarágua e outros países.

Pode-se também jogar um balde de água fria sobre todo esse tema, dizendo que tanto a política como as religiões são criações humanas e, portanto, exprimem desejos humanos. Há também aqueles que confundem e enxergam semelhanças entre santos e mártires com líderes políticos. Para os socialistas, Marx seria uma espécie de santo. Da mesma forma há os que vêm em líderes como Padre Cícero ou Antônio Conselheiro, mistos entre santos e políticos.

Nos países da América Latina, o advento da Teologia da Libertação foi capaz de balançar os pilares da Igreja Católica, pois, ao pregar a combinação entre fé cristã e luta pela justiça social e libertação dos oprimidos, forçaria, de certa maneira, a Igreja de Roma a rever seus caminhos, orientando sua pregação para a realidade vivida pelos povos, sobretudo os mais pobres.

Na realidade, não há como dissociar completamente a prática política dos ensinamentos do cristianismo, pois a melhora nos Índices de Desenvolvimento Humano é também uma missão que segue o que aconselham os evangelhos. Não se pode negar também que, em países comandados com mãos de ferro, os religiosos formam o primeiro grupo a ser perseguido. Estudiosos da história das religiões são unânimes na crença de que, mesmo num futuro distante, religião e política ainda encontrarão pontos de convergência, pois o dia em que uma desaparecer do horizonte humano, a outra seguirá o mesmo destino. Mas o fato que chama a atenção nesse momento para o embate entre religião e política, mostrando que ambas ainda permanecem no mesmo ringue de disputas, vem agora do interior de São Paulo por ocasião da live da Quaresma em preparação para a Páscoa, comandada pelo Frei Gilson e que tem reunido, nas madrugadas, mais de 1 milhão de fiéis por todo o país (isso, considerando apenas os números da transmissão pelo seu canal Frei Gilson/Som do Monte, no Youtube; o rosário da madruga também é transmitido pelos seus canais oficiais no Instagram e na rede X, e pela TV Canção Nova, lembrando ainda que, facilmente, mais de uma pessoa pode estar usando o mesmo aparelho, se formos pensar nas orações em família).

Surgida durante a pandemia essas transmissões ao vivo, têm provocado acaloradas discussões tanto no mundo cristão como o mundo político. Para os ateus, trata-se um sacerdote anticomunista, pois prega, “contra tudo aquilo que historicamente os comunistas sempre lutaram”. Em tempos de incertezas, como agora, a defesa da família, das tradições, da religião, da vida e da propriedade ganharam uma espécie de maldição na boca dessa gente. O Frei ao afirmar em uma das suas pregações que os erros da Rússia não venham se repetir em nosso país, conquistou nas redes sociais um séquito de seguidores e de detratores. A coisa toda ganhou uma dimensão que nem mesmo o Frei e seus opositores esperavam. Pudera, nas redes sociais os números são contados aos milhões. Frases como : “livra-nos Deus do flagelo do comunismo”, acendem o rastilho de pólvora. Obviamente não para aqueles que experimentaram na pele o tal flagelo e suas consequências.

Os embates entre esquerda e direita ganharam um novo combustível. Em outras afirmações do tipo: “Para curar a solidão do homem, Deus fez a mulher”, despertou também a ira de um outro puxadinho da esquerda, representado pelas feministas e grupos homoafetivos. Não tardou para que as esquerdas o vinculassem ao grupo bolsonarista. Nada mais falso. Nas redes sociais os xingamentos só são ofuscados pelos dizeres de apoio. O fato é que a cada ataque, mais e mais aumentam os seguidores de Frei Gilson. Não é apenas um milagre, mas a certeza de que muitos vivos sabem que um outro nome para o inferno na terra é comunismo.

 

A frase que foi pronunciada: 

“O problema com o comunismo é que um dia o dinheiro dos outros acaba.”

Margaret Thatcher

Margaret Thatcher. Foto: britannica.com

 

História de Brasília

O empreiteiro que está plantando grama na 105 está sendo sabotado. Agora, recebeu ordens para parar o serviço por falta de irrigação. Isto representará um prejuízo, porque haverá dispensa de pessoal, e, depois, um novo fichamento irá provocar mais demora. (Publicada em 27.04.1962)

A privatização das ruas

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Foto: Mariana Lins

 

Um dos requisitos principais para uma capital que tem a responsabilidade em hospedar, em seu território, todas as representações diplomáticas do globo, onde estão situadas também as sedes do governo federal, além das dos poderes Legislativo e Judiciário, é que essa capital possua uma excelente força de segurança, capaz de fazer frente a quaisquer situações que coloquem em risco essa atribuição.

Pelo que se sabe, a questão da segurança deve ser sempre vista pelo lado da prevenção. É com prevenção e vigilância que se pode fazer uma segurança eficaz. Tendo essa premissa como balizadora da questão, o que se pode notar, logo de saída, é que, com exceção da Península dos Ministros, no Lago Sul, e de pouquíssimas outras áreas dentro do Distrito Federal, como a Residência do Governador, o Palácio do Alvorada e do Jaburu, o restante da cidade se encontra entregue à própria sorte, à espera de algum acontecimento ruim, que, cedo ou tarde, poderá ocorrer.

É sabido também que Brasília, mesmo contrariando o parecer de inúmeros experts no assunto segurança, passou a ser sede de um presídio de segurança máxima que tem albergado boa parte dos mais perigosos líderes de facções criminosas do país. A transferência desses líderes para as proximidades da capital trouxe uma significativa leva de outros criminosos que passaram a residir nas áreas do entorno, onde comandam o banditismo local. Além disso, é praticamente impossível a um cidadão circular com segurança em todas as áreas do Plano Piloto, principalmente à noite.

Não é segredo para ninguém que, não somente a área tombada, mas todo o Plano Piloto o Plano Piloto hospeda hoje uma multidão de pessoas em situação de rua, e alguns passam o dia e a noite toda dando trabalho e intimidando abertamente os moradores. A polícia conhece essa realidade e pouco faz ou pode fazer contra essa situação. Os assaltos, furtos e roubos tornaram-se uma rotina. O consumo de drogas se espalhou por toda a área central da cidade. Os lojistas sofrem com a falta de segurança. As ligações pedindo socorro entopem as centrais de telefonia da polícia. O atendimento às muitas chamadas é feito de maneira seletiva, por falta de pessoal ou de combustível. A noite não se vê um policiamento sequer.

O fato é que, a poucos metros da Praça dos Três Poderes, um outro poder vai ganhando força. O poder do crime tem mostrado sua face bem no coração da cidade, que é a Rodoviária. A segurança da capital, que deveria ser uma obrigação primordial dos governos distrital e federal, parece aquém de suas responsabilidades.

O certo seria que o governo local cuidasse o mais rapidamente possível de cadastrar cada uma dessas pessoas em situação de rua com fotos e impressão digital, como é exigido hoje de qualquer cidadão. É preciso que o GDF e o governo federal conheçam quem são esses indivíduos que lotam os espaços públicos. Também é preciso confeccionar documentos para cada um deles, saber suas origens, seus problemas de saúde. Enfim, ter em mãos um registro oficial dessa população de modo a garantir um mínimo de informações, dando aos moradores da cidade uma certeza de que as autoridades conhecem essa população, sabem por onde transitam, o que têm feito.

Entre esses moradores de rua, encontram-se indivíduos com débitos com a Justiça, dependentes químicos, pessoas com enfermidades sérias. A situação já escalou para um patamar de grande aflição, com a população achacada e com medo de sair às ruas. Nada, nem ninguém está seguro. Tudo o que é possível carregar é levado, desde vasos de plantas, fraldas, bicicletas ou o que quer que seja. Áreas, como as 700 da W3 Norte, vivem sob ameaças constantes. As quadras perto do parque Olhos d’Água têm os moradores em constante aflição.

Quando a madrugada chega, bebedeiras, drogas e arruaças são comuns. Latas de lixo são reviradas na rua, pichações e vandalismos são perpetrados sob o olhar de pavor dos habitantes locais. Quem mais sofre com essas hordas de vândalos à solta são os mais idosos e as crianças. As vias públicas de Brasília tornaram-se propriedades privadas desses indivíduos.

Aos pagadores dos mais altos impostos de taxas do planeta resta se esconder desses bandos. As autoridades fazem cara de paisagem para essa calamidade, pois, nesses tempos sombrios, não é politicamente correto incomodar pessoas em situação de rua mostrando a presença e a vigilância do Estado. Será?

 

A frase que foi pronunciada:
“A população que não pode andar tranquilamente nas ruas é a mesma que paga altos impostos para que os necessitados possam ter atendimento digno em educação e saúde. Mas eles não têm.”

Dona Dita

 

História de Brasília

A Novacap está limpando a Superquadra 306, para urbanizá-la o quanto antes. A seguir, o trabalho se estenderá à 305, desde que o IAPI entregue a área livre de construções. (Publicada em 27/4/1962)

Vida e morte da cidade

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Imagem: Esboço do Plano Piloto de Brasília — Foto: Arquivo Público do Distrito Federal/Fundo Novacap

 

Consequências são tudo o que vêm depois. Assim ensina a prudência. No caso do respeito às normas do planejamento urbano, essencial para a existência de uma metrópole dentro dos limites do bom senso, as consequências da má ingerência e da politização no trato das questões urbanas são o que pior pode acontecer para uma cidade. Até mesmo cidades que foram arrasadas por bombardeios, durante as guerras, possuem muito mais capacidade de se reerguerem do que aquelas que foram lentamente deturpadas por intervenções urbanas fora dos limites do planejamento urbano. Vejam o caso, por exemplo, das grandes capitais da Europa, praticamente postas abaixo pela I e II Grandes Guerras. Com o fim dos conflitos, a quase totalidade delas foi sendo reconstruída com o mesmo esplendor do passado. O motivo: o respeito pelo passado e uma estrita observação dos parâmetros do urbanismo.
Ao observar fotos antigas das cidades de São Paulo ou do Rio de Janeiro, das décadas 40 ou anterior, a primeira coisa que chama a atenção nessas imagens é que tudo parece estar no seu devido lugar. As ruas estão limpas, as calçadas são largas, o trânsito flui com ordem, as pessoas parecem caminhar com tranquilidade e há toda uma ideia de harmonia e conjunto. Nos parques públicos, o paisagismo se mistura com monumentos e esculturas por todo o canto, ladeando jardins bem desenhados. Há chafarizes e pequenos lagos a enfeitar os ambientes e uma perfeita sincronia entre o bucólico e o espaço comercial e residencial. Os edifícios, formados por casarios que juntam a arquitetura neoclássica com o estilo colonial, estendem-se por ruas bem arborizadas, que convidam o público ao passeio e desfrute de um ambiente bem pensado.
No caso de Brasília, as fotos e imagens antigas do começo das décadas de sessenta e setenta mostram uma capital onde se podia observar, com exatidão, quais eram as  propostas do projeto urbano original para a cidade. Lúcio Costa, o idealizador desses espaços, conhecia bem as necessidades de uma cidade e sabia da importância em agregar espaços vazios e cheios, áreas verdes e áreas construídas. Dosando seu projeto de sons e silêncios, vitais para uma grande sinfonia arquitetural. Pena que, hoje em dia, muitos habitantes e administradores, que para cá vieram tardiamente, não tenham a clara percepção da importância, ou mesmo a sensibilidade, em manter as raízes do projeto original. A necessidade em preservar o original é para que Brasília não se transforme numa cópia mal feita das muitas metrópoles brasileiras.
As cidades, assim como as pessoas, possuem vida própria, mas precisam, antes de tudo, serem bem encaminhadas, para que não se percam nos descaminhos da vida. Infelizmente é isso que vem ocorrendo com a capital ao longo dos últimos anos. Depois da emancipação política de Brasília, num processo em que se visava apenas a criação de uma instância política e burocrática, para atender parte de uma elite de forasteiros local, a capital passou a sofrer um processo desordenado de crescimento, com ocupação irregular de imensas áreas públicas, com a criação de enormes bairros, na maioria sem qualquer planejamento ou previsão, levando a cidade a um inchaço populacional, sobrecarregando toda a infraestrutura existente e criando os mesmos problemas já presentes em outras cidades brasileiras.
Desde o início, essa coluna se posicionou contra as interferências políticas e ocasionais ao projeto original da capital, pois já previa que a cidade, desejada e cobiçada pelos políticos, distanciava-se milhões de léguas daquilo que pretendiam seus idealizadores originais e mesmo pela parcela dos candangos que para aqui se transferiram nos anos sessenta. A descaraterização da cidade é hoje um fato que vai sendo materializado aos poucos, bem debaixo de nossos olhos. Hoje, as centenas de barracos de lata, instaladas em todo o Plano Piloto, inclusive nas paradas de ônibus, ao longo das Avenidas W3 Sul e Norte, mostram que o processo de envelhecimento precoce da capital já foi iniciado. A ocupação, cada vez mais atrevida, dos carros sobre as áreas verdes, com a criação de estacionamentos irregulares, também vai se fazendo lentamente, prejudicando os espaços bucólicos que são de todos.
Não se iludam: essas pequenas e, aparentemente, inocentes, descaracterizações da cidade, marcam um prenúncio da decadência geral que virá a seguir e que, em pouco tempo, decretará a morte dessa senhora de pouco mais de 60 anos, por falência múltipla dos órgãos. Quando isso acontecer, nenhum dos personagens que colaboraram, direta ou indiretamente, para esse acontecimento virá se sentar no banco dos réus.
A frase que foi pronunciada: 
“Deus está nos detalhes.”
Ludwig Mies Van Der Rohe
Ludwig Mies van der Rohe. Foto: archeyes.com
História de Brasilia 
É que os deputados não se negam a assinar, e , enquanto isso os funcionários vão pedindo para ser requisitados. Uma boa medida seria o comissionamento sem vencimentos para receber na repartição que passa a servir. (Publicada em 27.04.1962)

Plantar árvores

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Foto: Divulgação

          A ideia não é nova no mundo, mas é sempre bem-vinda e necessária, em qualquer tempo e lugar, por onde tenham passado homens com sua sede permanente por riquezas. Quem, por acaso, tenha lido o livro de Jean Giono (1895-1970), “O homem que plantava árvores”, de 1953, por certo, deve ter se deparado com a frase: “…Os homens poderiam ser tão eficazes como Deus em algo mais que a destruição.” Com isso o autor quis dizer que os homens poderiam, se assim dispusessem, imitar o Criador, erguendo e cuidando de todas as formas de vida sobre a Terra, e não destruindo e reduzindo à cinzas como faz a morte, ao deixar escombros e aridez por onde passa.

          A observação de Jean veio a propósito da incansável atividade de Elzéard Bouffier, o personagem principal, que, durante a maior chacina de nossa história, representada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), continuava, dia após dia, plantando carvalhos numa região agreste dos Baixos Alpes Franceses, já abandonada pela população local, devido ao desmatamento secular promovido pelos carvoeiros naquela região. O contraste entre quem cuidava de recuperar a vida da região e o morticínio irracional da Guerra de 14/18 é flagrante e mostra, de forma crua, como os homens podem, ao mesmo tempo, abandonar de lado a vida em sua plenitude e seguir os passos da morte, mesmo sabendo dos resultados dessa opção.

         O texto, que chegou ao Brasil, em forma de desenho animado, há poucos anos, sendo posteriormente publicado em livro, parece cada vez mais atual, justamente por mostrar a capacidade do ser humano em mudar o mundo ao seu redor, tanto para o bem, como para o mal. Nesses tempos, em que o nosso planeta experimenta, através do fenômeno do aquecimento global, o que talvez seja o seu maior desafio de todos os tempos, e que pode pôr um fim à existência da própria espécie humana na Terra, nada mais hodierno e premonitório do que as mensagens contidas nesse texto escrito ainda no século passado.

         Buscar o exato significado para as árvores, num tempo em que ainda se acredita não existir nenhum, é uma tarefa e um desafio que pode nos colocar hoje entre permanecer por essas paragens ou ter que sair de fininho para outros mundos para não perecer.

         O desafio gigante que, na obra, é realizado por um só homem, durante mais de 30 anos em que plantou naquela região milhões de árvores, pode ser uma das respostas para esse dilema da atualidade. Embora pareça uma tarefa impossível, essa de recuperar o planeta da degradação imposta pelas consequências da Revolução Industrial em sua ânsia por adquirir matérias-primas, o livro mostra que bastou a persistência de apenas um indivíduo para mudar a realidade local. “Um único homem, reduzido a seus recursos físicos e morais, foi capaz de transformar um deserto em uma terra de Canaã”, diz o autor.

         O que conhecemos hoje, por meio da palavra muito em moda como resiliência, que é capacidade de resistir e se adaptar às mudanças, tanto pode ser aplicada ao homem como à própria natureza, desde que lhes sejam ofertadas as oportunidades. A esse fenômeno, que muitos classificam como um sinal e uma semente da própria vida, é que pode estar a redenção, ou não, da humanidade. Obviamente que os exemplos a seguir não devem se resumir a uma obra de ficção. Mas pode nela se inspirar para promover as mudanças necessárias e urgentes que o momento exige. Toda grande obra pode ter seu início apenas movida pela inspiração trazida pelos belos exemplos, sejam eles reais ou não. O primeiro passo é o das ideias, dado ainda no mundo abstrato dos projetos mentais. Pode vir a ser realidade concreta, pelo esforço físico, o que é uma mera consequência da capacidade de pensar.

          Nesse caso, pensar num mundo em que a vida seja ainda uma possibilidade real e que valha a pena. Da África, talvez o continente mais economicamente sofrido e espoliado na história da humanidade, vem um dos muitos e bons exemplos que precisamos para nossa salvação futura. Na Etiópia, um dos países mais populosos e pobres daquele continente, o governo empreendeu uma jornada na qual, em apenas 12 horas, uma força-tarefa, atuando em mais de mil áreas daquele país, conseguiu a façanha de plantar mais de 350 milhões de árvores. Um recorde mundial. Também a Índia, castigada pelos desflorestamentos, vem empreendendo um grande esforço para recuperar, ao menos, um pouco de suas florestas. Na última empreitada, 800 mil voluntários plantaram mais de 50 milhões de árvores em 2016 e prossegue plantando. Na China, parte ociosa do que seria o maior exército do planeta, tem sido deslocada para a mesma tarefa no Norte do país. São mais de 60 mil soldados empenhados nessa tarefa. Os fuzis cedem lugar às ferramentas agrícolas. A intenção do governo é criar uma nova floresta na região de Hebei, numa área de mais de 84 mil quilômetros quadrados. Para todo o país, a meta atingiu uma cobertura de mais de 23% daquele grande continente até o final desse ano. São esforços pontuais, mais que podem fazer a diferença num futuro não muito distante.

         Cientistas acreditam que, pelo estágio atual de degradação do planeta, será preciso, ao menos, o plantio de mais de 1,2 trilhão de novas árvores, apenas para arrefecer a Terra e livrá-la dos efeitos maléficos do aquecimento global, que já está atuando entre nós. A situação, que é bem do conhecimento dos técnicos das Nações Unidas, tem estimulado ações dessa Organização, com vistas a um projeto, já em andamento, cuja meta é plantar 4 bilhões de novas árvores nos próximos anos.

         Por todo o mundo, projetos semelhantes estão em andamento, uns ambiciosos e outros mais modestos, mas já são de grande valia em seu conjunto. De todos os projetos de plantio de árvores pelo planeta, nenhum é mais ambicioso do que o que vem sendo erguido nas bordas do grande deserto do Saara, também na África. Em nenhum lugar do planeta, as mudanças climáticas são mais impactantes do que as que ocorrem nos países margeados por esse grande deserto. O deserto vem aumentando de área num ritmo assustador nos últimos anos. Com ele, vem o clima cada vez mais inóspito à vida. Com temperaturas que ficam numa média próxima aos 50 graus centígrados.

          Com esse fenômeno, vem também a escassez de água, cada vez mais assustadora e já motivo de conflitos permanentes na região. Financiado pelo Banco Mundial, a União Europeia e as Nações Unidas, projeto unindo vários países locais, visa erguer uma gigantesca barreira verde de árvores, que irá cobrir uma área de mais de 8 mil quilômetros, atravessando todo o continente africano na parte sul do deserto do Saara, formando uma enorme muralha para conter o avanço da areia. A meta é erguer essa Grande Muralha Verde até 2030, cobrindo com reflorestamento uma área de 247 milhões de acres ou, aproximadamente, 100 milhões de hectares.

 

A frase que foi pronunciada:

“É apenas uma questão de tempo, até que a economia abra espaço para a natureza.”

Frank Ramsey

Frank Ramsey. Foto: Cortesia de Stephen Burch

 

História de Brasília

A atual direção da Novacap está enfrentando uma dificuldade. Mais de dois mil funcionários estão à disposição de outras repartições e avolumam-se agora, os pedidos de requisições para as Comissões Parlamentares de Inquérito. (Publicada em 27.04.1962)

Não conheço nenhuma delas

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Apoiadores de Trump na Flórida celebram a vitória após anúncio do canal Fox News – Foto: Jim Watson / AFP

 

Digam o que quiserem sobre a eleição presidencial dos Estados Unidos ou sobre a vitória de Donald Trump depois de quatro anos de perseguições e de uma tentativa de assassinato em um comício de campanha na Pensilvânia. Muitos podem não gostar da figura pessoal de Trump, arrogante e altivo, principalmente os chamados globalistas de esquerda, dentro e fora dos Estados Unidos. O que é fato inconteste é que ele foi eleito por uma votação limpa e esmagadora, que praticamente cobriu todo o mapa dos EUA com as cores dos republicanos.

O povo soberanamente escolheu quem achou que iria reverter a guinada silenciosa dos EUA rumo a uma espécie de socialismo tardio, infectado ainda pelos ventos dos movimentos Woke e Queer, que hoje minam a Europa e ameaçam afundar economica, social e politicamente toda a União Europeia.

A eleição naquele país deixou claro, pela diferença de votos, que os americanos apontaram a direção que desejam seguir. E mais do que isso, rejeitaram a direção errada que estavam seguindo. Para reforçar esse retorno às ideias liberais, os mercados americanos e principalmente os papéis na Bolsa registraram recordes de valorização, mostrando que o capitalismo, que enriqueceu dos Estados Unidos como nenhum outro país, estava de volta.

No cumprimento das promessas de campanha, Trump lembrou, em seu discurso no Congresso em 5 de março, que logo nas primeiras semanas de governo mais de 100 ordens foram assinadas, juntamente com 400 outras ações executivas com vista a restaurar o que o presidente chamou de bom senso, segurança, otimismo e riqueza. Para Trump, o povo americano o escolheu para fazer justamente esse trabalho. Mesmo medidas que são criticadas por muitos países, como o controle rígido sobre as imigrações, a população americana demonstrou total apoio, pois vinham a inquietando.

Como bem lembrado por Trump, nada do que ele poderá fazer e fará irá alegrar os democratas. Logo de cara, o presidente eleito fez o que a população pedia, que era o congelamento de todas as novas contratações federais, congelando também todas as novas regulamentações e ajuda externa. Acabei, disse ele, “com todo o ridículo esquema verde”, retirando seu país do Acordo Climático de Paris, que custava trilhões de dólares aos americanos e não era pago por outros países. Trump destacou ainda que retirou seu país da “corrupta Organização Mundial de Saúde”, se afastando também do Conselho de Direitos Humanos da ONU pelo seu reiterado antiamericanismo.

Também foi destacado o trabalho feito na eliminação de regras e regulamentos desnecessários, simplificando normas. Outra medida que teve o apoio da população, mas que foi logo reprovada pelos democratas, foi a ordem para que todos funcionários federais retornassem aos escritórios, sob pena de serem imediatamente afastados de suas funções.

Trump anunciou que deu fim também ao chamado governo armado, instrumento que permite que qualquer presidente em exercício possa processar ferozmente seus oponentes políticos. Ao mesmo tempo, deixou claro que pôs fim a todo o tipo de censura, além da volta da liberdade de expressão, que, na avaliação dele, vinha sendo limitada nos governos dos democratas.

Outro ponto destacado em seu discurso foi a decisão de acabar de vez com as políticas de diversidade, equidade e inclusão em todo o governo federal, no setor privado e nas forças armadas. “Trabalhadores devem ser contratados ou promovidos com base na habilidade e na competência e no mérito, não de acordo com a raça ou gênero”, disse ele, lembrando que essa medida teve o apoio total da Suprema Corte americana. “Removemos o veneno da teoria racial crítica de nossas escolas públicas, e eu assinei uma ordem tornando política oficial do governo dos EUA a existência de apenas dois gêneros: masculino e feminino. Também assinei uma ordem executiva para proibir os homens de praticar esportes femininos”, seguiu o presidente.

Na economia, Trump destacou sua luta para tornar o principal insumo, que é o do alto custo da energia. Para tanto, mandou reabrir mais de cem usinas de energia que haviam sido fechadas, declarando uma política de emergência energética nacional. Lembrou ainda que fará tudo para acabar com o desperdício de dólares dos contribuintes, dando todo o apoio ao Departamento de Eficiência Governamental (Doge), chefiado pelo bilionário Elon Musk. Apresentou também uma extensa lista de altos gastos impostos do Tesouro americano que vão do fornecimento de carros gratuitos para estrangeiros ilegais até milhões de dólares gastos em favor do empoderamento de povos indígenas e afro-caribenhos. Para ele, esses gastos eram verdadeiros golpes aplicados em cima dos contribuintes. Com essas e outras medidas Trump, espera reaver os bilhões de dólares desviados do tesouro e que se esvaem em meio a complexa máquina pública americana.

Ele ressaltou que, somente na área de Seguro Social, havia uma lista com milhões pessoas de 110 a 119 anos de idade e outras listas de beneficiários com pessoas de 120 a 129 anos de idade. Outras com listas de milhões de pessoas com 130 a 139 anos de idade, e outras milhões de pessoas com idade entre 140 e 149 anos. “Não conheço nenhuma delas”, disse.

 

História de Brasília

Apesar de inaugurado o telefone público, os do aeroporto estão na mesma. Eram quatro. Um foi retirado, dois não funcionaram e um funciona mal. (Publicada em 27/4/1962)

Controle de pragas

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Imagem: reprodução da internet

 

Navios graneleiros, quando não servem mais para o transporte de grãos, por fadiga de material ou outros motivos, seguem para os portos da Ásia, onde vão ser retalhados para a reutilização dos metais. Antes disso, passam por um processo de dedetização completa para eliminar ratos e outros bichos. Nesse momento que antecede a morte da grande nave, milhares de ratos, baratas e outros insetos põem-se a correr afoitos por todos os lados, fugindo desesperados da morte certa. É nesse momento que a tripulação do graneleiro descobre que havia a bordo uma imensa e antiga tripulação de bichos, que viviam escondidos, alimentando-se dos grãos transportados pela nave. Formavam, assim, uma espécie de subtripulação escondida, por décadas, nos porões escuros, reproduzindo-se e vivendo às custas do trabalho de outras pessoas. Essa tripulação clandestina causou ao longo dos anos enormes prejuízos econômicos aos transportadores, além de transmitir doenças fatais diversas.

Numa analogia ligeira, poderíamos comparar esses enormes navios graneleiros aos estados, sobretudo àqueles que endossam políticas do tipo estatizantes, nas quais o maior empresário é ninguém menos do que o próprio Estado e, obviamente, todos aqueles que vivem próximos ao poder. Hoje, a esse fenômeno que faz com que existam, simultaneamente, dois Estados convivendo ao mesmo tempo numa só figura jurídica, foi dado o nome de “Deep State”, ou Estado Profundo.

Esse termo vem ganhando cada vez mais atenção dos estudiosos e tem entrado também nas discussões políticas dentro e fora do país. O termo parece ter surgido na Turquia para descrever uma espécie de governo ou rede paralela, que, mesmo operando de maneira oculta, envolvia agentes do governo e muitos outros grupos de interesse.

Existe, sim, um sistema subterrâneo que controla, ou influencia, as decisões políticas do Estado e do governo. Na sua maioria, é formado pela própria elite de um país, que age como passageiros clandestinos nesse enorme navio que é o Estado.

Ações de dedetização, como no caso da Operação Lava-Jato, têm efeitos curtos para eliminar a totalidade desses ratos de duas pernas que operam nas sombras. A população em geral não faz a mínima ideia da existência desse tipo de Estado profundo, pois muitos partidos políticos e as grandes e múltiplas corporações cuidam para que todo e qualquer escândalo seja logo abafado e não venha à tona.

O combate ao “Deep State” exige grande dose de poder de decisão e de vontade de eliminar, pelas raízes, esse mal, que acaba sempre afetando negativamente a vida da população, pois esse Estado das profundezas, poderíamos classificá-lo dessa maneira, exerce grande influência para moldar e mudar a agenda política e econômica de um país. Essa é, justamente, a grande batalha que vem sendo travada nos Estados Unidos pelo novo governo americano.

Pelas suas repercussões e pelo alarde e pânico que têm provocado, vê-se logo que as ações de Trump contra esse verdadeiro hospedeiro danoso estão atingindo áreas antes intocáveis e de muito poder. Trump está mexendo com um verdadeiro vespeiro, contrariando a mídia e as grandes corporações que, por décadas, usufruem de um poder paralelo às custas do contribuinte americano. São bilhões ou talvez trilhões de dólares que são sorvidos pelo “Deep State” a cada ano, sem fiscalização e às escondidas da população.

Os seguidos ataques que vêm sofrendo de todos os lados, inclusive, com atentado à bala contra sua vida, evidenciam que essa é uma guerra interna de grandes proporções. Engana-se quem pensa que a existência de um Estado profundo ou das profundezas é coisa de outros países. Por aqui, a história se repete, potencializada pela inoperância e leniência da Justiça e pela certeza de que as penalidades nunca alcançarão os poderosos.

Embora opere nas sombras, não restam dúvidas de que a ação de um “Deep State” em nosso país tem contribuído enormemente para a erosão da confiança do cidadão nas instituições, criando ainda um ambiente nefasto de polarização social e política, ao excluir grandes parcelas da população dos ganhos econômicos. Trata-se, assim como nos Estados Unidos, de um processo de dedetização que, mais cedo ou mais tarde, teremos que enfrentar, caso haja o sincero objetivo de evitar que o enorme e infestado graneleiro, que é o Brasil, não venha a pique.

 

A frase que foi pronunciada:

“Invista na saúde, na sua empresa e no bem-estar da sua família. Elimine as pragas.”
Mote de uma dedetizadora

Charge do Cazo

 

História de Brasília

Um pequeno lembrete à Câmara dos Deputados, quando for distribuir subvenções: a Vasp anunciou no seu balanço de 1961 o lucro de 118 milhões de cruzeiros. (Publicada em 27/4/1962)

Penas ao vento

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Charge do Cazo

 

         Acreditem: a polarização política, por seu poder dissipador e insidioso da cizânia, uma vez inoculada aos quatro ventos, torna-se impossível regredir. É como o fofoqueiro da aldeia, que, arrependido de suas intrigas, foi se consultar com o sábio local para tentar reverter o mal que tinha causado às pessoas por sua língua cheia de veneno. Ciente de que esse era um caso sem solução, o sábio sugeriu, ao consulente, que pegasse um grande travesseiro de pena de beija-flor e fosse ao mais alto monte do lugar e sacudisse-o durante uma tempestade de vento. Depois de seguir os conselhos do sábio, o fofoqueiro voltou para saber dos resultados de sua penitência. Volte lá, disse-lhe o sábio, e recolha cada uma das penas de beija-flor espalhadas.

         Ficasse restrita apenas na esfera política, a polarização extremada faria seus estragos apenas entre os políticos, não trazendo seus malefícios para o mundo exterior. Ocorre que a política, por sua necessidade vital nas relações humanas, permeia toda a vida em redor. Não há um lugar sequer onde os ventos da política não soprem de uma forma ou de outra. A política, uma vez infectada com o veneno da discórdia, produz seus efeitos por toda a parte, não respeitando nem mesmo os laços familiares e as amizades fraternas de longo tempo.

          Trata-se de um veneno deletério ao próprio espírito humano. Quantas e quantas vidas não foram ceifadas ao longo da história humana, apenas tendo leit motif à polarização política. A questão a intrigar a todos é saber por que, até hoje, não encontramos antídoto para esse mal, se conhecemos seus efeitos, suas causas e, sobretudo, de onde partem e com que intenção são criados.

         Não somos imunes à polarização da mesma maneira que não somos imunes ao mal. Talvez, isso se deva ao fato de que tenhamos, interiormente, o mal instalado dentro de alguma parte de nós. O que talvez sirva de consolo para alguns é que, diante do fato de termos adentrado milhas adentro nessa selva incivilizada, já nos encontramos, todos, igualmente perdidos. Queira o céu que, nessa luta pela sobrevivência, não tenhamos que repetir o que aconteceu na história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, que caiu na Cordilheira dos Andes, em outubro de 1972, com 45 pessoas a bordo, sendo que, dessa tripulação, apenas 16 sobreviveram comendo a carne dos mortos nessa tragédia. Observem que o fenômeno do canibalismo não é desconhecido dos homens, acompanhando-o desde as cavernas.

         A polarização política exacerbada, fosse apenas uma espécie de canibalismo circunspecta à classe política, não teríamos queixas maiores. Só que essa fome pelo outro extrapola o ringue das radicalizações, atacando também o entorno com toda a ferocidade. Hoje, são raros, tanto em nossa sociedade, como em outros lugares pelo mundo, infensos ao mal dos extremismos políticos.

         O século XXI, que seria o da vitória da tecnologia e da modernidade, tem aliado os avanços da ciência com o que de mais primitivo existe na índole humana. Em nosso tempo, homens têm sido mortos como moscas, por diferenças religiosas, culturais e outras escolhas. À sentença fatalista “está tudo dominado”, junta-se agora à outra: “está tudo polarizado”. Em nosso caso particular, a coisa toda ganha ainda mais dramaticidade quando verificamos qu em nossa aldeia, o sábio que deveríamos consultar para sanar parte de nossas culpas pela cizânia, também já foi contaminado pelos ventos funestos da polarização e, portanto, torna-se impedido de proferir nossas penitências ou absolvição.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Nada mais cretino e mais “cretinizante” do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.”

 Nelson Rodrigues.

Nelson Rodrigues em 1949. Foto: Carlos Cedoc/Funarte.

 

Leitura

Um deleite correr os olhos pelas linhas do “Lumiar de Lamparina”, um livro de memórias de Luiz Bezerra de Oliveira. Ora sorrindo, ora enxugando as lágrimas, o livro é um exemplo da riqueza de vida de tantas pessoas que atravessaram as maiores privações para alcançar a vitória nos estudos e no trabalho, com os pés no chão.

 

 

História de Brasília

A minha terceira atividade é publicidade, mas quando recebo dinheiro dou recibo, o que nem todos fazem na nossa profissão, infelizmente. (Publicada em 27.04.1962)

A borduna e o tacape

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Foto: Brian Snyder

 

Tempos de crise sugerem, logo de saída, que as armas da diplomacia não estão resolvendo as questões. Há muito se sabe que política e diplomacia devem caminhar de mãos unidas. O que não se pode admitir é que a política, com suas várias faces ideológicas, acabe contaminando os objetivos da diplomacia, fazendo-a agir de modo titubeante e parcial. Pois, a diplomacia induzida por víeis político acaba transformando a virtude em vício e o entendimento em confronto. Hoje, é mais do que necessário que o mundo faça uso das armas inteligentes da diplomacia. Não aquela acordada em bebidas alcoólicas e rega-bofe, mas aquela estabelecida por horas e horas nas mesas de negociações, sem fanatismos e sem covardias.

Ceder para conquistar. Em vista dessas premissas, o que se pode observar acerca dos últimos acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo é que, sem a diplomacia, estamos todos nus e perdidos em selva inóspita. No caso recente do encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, o mínimo que se pôde observar da conversa, transmitida ao vivo pelas televisões diretamente do salão Oval da Casa Branca, é que faltou diplomacia ao chefe americano. Não se faz negociação de paz, ainda mais nesse caso de agressão da Rússia contra um país soberano, sob pressão ou intimidações. Aceitar as condições apresentadas por Trump, que aliás coincidem com as condições do ditador russo Putin, equivaleria no caso de Zelensky, a uma capitulação, desonrando seus compatriotas vivos e os que tombaram defendendo seu país.

O big stick policy, ou a diplomacia da força iniciada por Roosevelt no início do século XX, parece estar de volta aos Estados Unidos. Só que os tempos são outros. É certo que os contribuintes americanos não querem mais destinar seus impostos para a continuação de uma guerra que parece que não terá um fim próximo. Mas daí a querer encostar o líder ucraniano contra a parede, exigindo uma paz imediata, mostra que a diplomacia americana está vivendo as mesmas agruras e desprezo que a diplomacia de outras partes do mundo, sobretudo, em nosso caso, a diplomacia brasileira.

Também por aqui se assiste a colocação da diplomacia de nosso país a reboque dos interesses políticos e ideológicos do atual governo. Tanto é assim que o chanceler de fato desse governo é o Celso Amorim e não o oficialmente indicado Mauro Vieira. No caso do chanceler Mauro Vieira, é até um alívio que ele não tenha que suportar o vexame de estabelecer conversações com a maioria dos ditadores do mundo, nem tenha que aparecer em fotos ao lado dos maiores e mais procurados terroristas da atualidade.

Mas ainda assim, a pasta que ele chefia, segue sempre em segundo plano dentro do atual governo, sobrando apenas assuntos de menor interesse ou as batatas quentes difíceis de ser negociadas. É o caso aqui do pedido do Supremo Tribunal Federal para que o Itamaraty entre na questão envolvendo essa Corte e os Estados Unidos com relação à censura imposta às big techs. Outro caso emblemático da falta que a diplomacia faz para aplanar os caminhos da paz e da concórdia é a recente nomeação da deputada petista Gleisi Hoffmann para ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência, no lugar de Alexandre Padilha. Para quem não sabe, essa pasta cuida, essencialmente, das relações entre o Executivo e o Legislativo, para o estabelecimento de pontes de entendimento político. Para quem sabe também, a nomeação de Gleisi tem sido, até agora, criticada por cada nove entre dez políticos, inclusive da própria legenda do atual presidente. O próprio José Dirceu, a eminência parda do PT, afirmou que a colocação de Hoffman na pasta da SRI vai ser um desastre. Disse ele: “ vai dar Dilma”.

Não é de hoje que as relações institucionais entre o Congresso e o Palácio do Planalto deixaram de lado a diplomacia política e passaram a ser feitas na base da liberação ou não das emendas secretas, hoje, manipuladas diretamente pelo Supremo. É o mundo do tacape, da borduna e das malas cheias.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Mesmo na guerra, há regras… Esses caras não têm regras”.

Volodymyr Zelensky, durante uma entrevista referindo-se à Rússia.

Volodymyr Zelensky. Foto: Getty Images

 

Livro

Um deleite correr os olhos pelas linhas do “Lumiar de Lamparina”, um livro de memórias de Luiz Bezerra de Oliveira. Ora sorrindo, ora enxugando as lágrimas, o livro é um exemplo da riqueza de vida de tantas pessoas que atravessaram as maiores privações para alcançar a vitória nos estudos e no trabalho. Sem pé de meia, com os pés no chão.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

História de Brasília

A minha terceira atividade é publicidade, mas quando recebo dinheiro dou recibo, o que nem todos fazem na nossa profissão, infelizmente. (Publicada em 27.04.1962)

A esperança de um Amor Maior

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Foto: vaticannews.va

 

Em meio às notícias controversas sobre a última internação hospitalar do Papa Francisco, quando sua situação de saúde parece ter piorado muito, a ponto de preocupar o Vaticano e os fiéis, mais uma vez, reascenderam, em todo o mundo, os palpites sobre os possíveis nomes para substituí-lo no comando da Igreja.

Em tempos de Internet, os boatos correm e se espalham por todos os cantos com a velocidade da luz. Desse modo, quando notícias passam a dar conta da fragilidade de saúde de algum Pontífice, tão depressa a imprensa católica e leiga passa a divulgar a lista com respectivos currículos dos candidatos. É a vida que segue dentro e fora da Igreja.

O que chama atenção nesse ritual que agora ocorre, de forma apressada, é que a mídia, em geral, passou a dar importância maior a determinados elementos da biografia dos possíveis candidatos, que antes não despertavam interesse. Para os fiéis em geral, o que sempre importou na escolha de um Papa é a vida de pastor e de santidade do candidato, sua dedicação à igreja e ao rebanho de Deus.

Com o advento das mídias sociais, esse tipo de acontecimento ganhou uma amplitude jamais vista, mas de forma alguma,nisso deve influenciar a escolha de um futuro nome para esse posto. Tanto é assim que ninguém conhecia Jorge Mario Bergoglio antes da fumaça indicar o cardeal eleito. Mesmo com as notícias mais recentes dando conta da melhora de saúde do Papa Francisco, os rumores sobre seus sucessores não foram interrompidos. Não há dúvidas que, dentro dos muros do Estado do Vaticano, rituais como a substituição de um Papa são feitas quase que exclusivamente por critérios políticos/religiosos. É que alguns chamam por clericalismo político, dado através de uma autoridade do tipo divina.

No entanto, é preciso lembrar que a governança da Igreja Católica é feita pela ação humana e não há como comandar um portento como o Vaticano, com cerca de 1,5 bilhão de crentes, por meio apenas da providência divina. Não chega a ser estranho pois que, dentro do Vaticano, as articulações e os conchavos políticos também existam quando o assunto é a escolha de alguém para chefiá-lo.

Um outro aspecto interessante é notar que tão logo um novo Papa passe a assumir a cadeira de São Pedro, mais do que depressa, ele passa a perceber que, nessa nova função, ele não pode tudo. Há regras e limites. Na verdade, a figura de um Papa é quase como a de um presidente num regime parlamentarista. Representa o Estado, mas, na prática, não chefia o governo da Igreja. Curioso também é saber que a chegada do atual Papa Francisco ao Vaticano trouxe, para a Igreja, de um modo geral, ares de certo liberalismo político e de quebra de paradigmas e de ortodoxia. Pelo menos, é essa a imagem que é projetada para fora do Vaticano. Internamente, diz-se que ele não é nem liberal, nem conservador, pois o Vaticano sempre sinaliza que, dentro da Igreja, essas divisões do mundo secular não se aplicam.

Comparado ao Papa João Paulo II, as diferenças de matizes ideológicos ficam mais evidentes. O fato é que o Papa, seja qual for sua preferência política, é visto pelos olhos do mundo e estes olhos são humanos e, portanto, cheios de dúvidas e certezas. Mas há um fato que parece unir a todos dentro do Vaticano, e esse fato é a diminuição de fiéis pelo mundo, que passaram a migrar para outros credos. Na visão interna, o que se enxerga é que o Mundo Ocidental parece ter escolhido viver e se estabelecer sobre o planeta sem a presença de Deus. Para os clérigos, esse tipo de mundo, onde Deus parece ter sido exilado da paisagem, é um mundo de escuridão, de mentiras e egoísmo, com a sociedade perdendo, pouco a pouco, o prazer simples de trazer crianças ao mundo, talvez como modo de preservá-las de um mundo cheio de feridas.

Sem Deus, a sociedade vai criando um ambiente onde já não existe respeito com idosos, com as pessoas se isolando cada vez mais na tristeza, na depressão e no medo do futuro. É um mundo onde, para além do materialismo consumista, nada mais resta para oferecer, a não ser o vazio e o nada. A própria existência torna-se um fardo diário. Para a Igreja então, a missão maior é mostrar e incutir, nas pessoas, a esperança de um Amor Maior, Salvador do Mundo, de nome Jesus. E essa é a única pregação do tipo política e evangelizadora que cabe ao Papa.

 

A frase que foi pronunciada:

“Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados.”

Papa Francisco

Foto: Paul Haring/CNS.

 

Desrespeito

Equipes do GDF precisam atualizar os dados de todas as instituições do governo na Internet. Números de hospitais não atendem, números informados de emergências não funcionam, escolas, postos de saúde… nada funciona.

Palácio do Buriti. Foto: Francisco Aragão/Agência Brasília

 

História de Brasília

Quanto ao meu emprêgo na Prefeitura, não é bem emprêgo. Sou contratado, e aceitei porque vi uma oportunidade de servir à minha cidade. Sôbre emprêgo público, posso lhe dizer que fui, uma ocasião, (sem saber) tesoureiro de um Instituto, e depois de nomeado, rejeitei a oferta. (Publicada em 27.04.1962)

O bom combate

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Imagem: Shutterstock.

 

Desde sempre, soubse que tempos difíceis ajudam a forjar homens fortes. O que pouca gente sabe é que, somente em tempos de guerra, é que é possível conhece-los em carne e osso. São heróis do nosso tempo. E é quando o som dos morteiros começa a troar que, no horizonte, o cheiro da morte a se espalhar por todos os cantos que eles surgem.

Enquanto alguns tremem na base, fogem e se escondem, ou ainda procuram se aliar ao inimigo para salvar a própria pele, indivíduos, escolhidos a dedo pelo destino, permanecem de pé. A guerra, e isso já foi dito também, é o caminho do engano, mas é por essas trilhas que as vezes é preciso seguir, mesmo conhecendo a superioridade da máquina de guerra do inimigo.

Desde a Segunda Grande Guerra, há exatos 75 anos, o mundo não ouvia mais falar em heróis.  Pessoas que entregam a vida em defesa de seu povo, da sua terra e da sua cultura, movidos pela noção de que lutavam o justo combate, foram transformadas em lenda. Mas, foi a partir de 24 de fevereiro de 2022, ocasião em que a Rússia deu início a invasão da Ucrânia, pensando que essa atitude de pura agressão a um país soberano, seria como um passeio tranquilo ao redor de suas fronteiras, que o mundo passou a conhecer a figura do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky (1978-), político, ator, roteirista e diretor de teatro e televisão.

O pecado de Zelensky foi o de rejeitar as más influências de Moscou em seu país e seguir, como era o desejo majoritário da população, se integrando ao mundo ocidental e à União Europeia. Quem diria que um ator e comediante, estreante na política de seus país, viria a ser um comandante supremo de seu exército, se transformando numa espécie de marechal de guerra, temido e respeitado até pelos experientes oficiais russos.

Para o autocrata e eterno presidente russo, a modernização proposta por Zelensky para a Ucrânia e seu afastamento da área de influência de Moscou era inaceitável. A sua aproximação do Ocidente e com a Organização do Tratado do Atlântico Norte, deu a Putin as razões que queria para invadir a Ucrânia. Logo, nos primeiros meses da guerra, ficou claro para o exército ucraniano que seu país enfrentava um inimigo para quem os tratados e as convenções de guerra, capaz de dar algum sentido humano ao que não é humano, eram totalmente desprezados por Putin.

Moscou colocou para combater ao, seu lado, um exército de mercenários e criminosos de guerra, conhecido como Grupo Wagner e que já possuía um vasto currículo de sangue pelo mundo. Por diversas vezes o governo de Moscou tentou simplesmente eliminar Zelensky, que escapou de alguns atentados, graças ao seu serviço de informações.

Com a guerra em andamento, diversos líderes mundiais, diante da possibilidade de Moscou usar inclusive armas nucleares, ofereceram abrigo a Zelensky, acreditando que sua saída do país poderia abrir caminho para o fim das hostilidades russas. Em resposta Zelensky teria dito: “A luta é aqui em Kiev; preciso de munição, não de uma carona”.

Com essa atitude corajosa Zelensky ganhou ainda mais apoio interno. Não é por outra razão que a guerra, que para Moscou, deveria durar apenas 96 horas já se estende por 3 longos anos, com os ucranianos defendendo cada palmo de terra.

Para os analistas desse conflito contemporâneo, a guerra entre esses dois países já contabiliza um número superior a um milhão de mortos de ambos os lados. A carnificina prossegue com Moscou contando agora com a ajuda militar da Coreia do Norte. Mesmo em se tratando de uma luta de forças desiguais, a Ucrânia, sob Zelensky segue nos campos de batalha, resistindo à um inimigo traiçoeiro e capaz de qualquer manobra para vencer. Talvez por sua bravura em comandar uma guerra tão prolongada, contra os belicosos e imprevisíveis russos, é que Zelensky tem sido reconhecido por diversos países do Ocidente como um grande e bravo comandante, sendo por diversas vezes condecorado e saudado como herói de guerra. Ao mesmo tempo pesa sobre Putin um mandado de prisão, expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) que o acusa de crimes de guerra.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O presidente não pode mudar o país sozinho. Mas o que ele pode fazer? Ele pode dar um exemplo.”

Volodymyr Zelensky

Volodymyr Zelensky. Foto: Getty Images

 

História de Brasília

“Quanto ao fato de o senhor achar humorística esta coluna, é uma alegria para nós. Pena que nem todos concordem.”.  (Publicada em 27.04.1962)